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História Memórias Rasgadas - Capítulo XXVII


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada mais uma vez pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham a fic!

Referências musicais durante a festa de aniversário.
BTS - Spring Day
Opening de Fruits Basket
BTS - Fire
Troye Sivan - Talk me down

Capítulo 27 - Capítulo XXVII


Capítulo XXVII

 

Desde da última vez que viu Levi em casa, Eren não ouviu mais nada sobre o outro, exceto que aparentemente, teria tirado uns dias para descansar e ficar com Bianca. No entanto, a mente dele desde desse dia tinha dificuldade em concentrar-se só na busca por um novo trabalho. Não parava de rever na sua cabeça a lembrança de ter aberto a porta só de toalha e ter pensado momentaneamente que acabaria por causar alguma reação da parte de Levi, mas este apenas desviou o olhar na direção do segurança para fazer algum sinal. Depois disso, veio claro o momento em que encontrou o dormitar no sofá. O moreno que se preparava para oferecer um café para que o clima não ficasse estranho ou silencioso entre eles, deparou-se com aquele cenário que não esperava.

Eren parou por mais tempo do que gostava de admitir na frente do sofá, observando o respirar constante e tranquilo do outro que deixava a cabeça pender ligeiramente para um dos lados, deixando bem evidente a pele alva que em tempos pôde tocar e até mesmo beijar. Porém, não tratou como deveria, não foi além daquele desejo físico que sempre escondeu mais qualquer coisa dentro dele e isso acabou por ser uma das muitas razões para perdê-lo.

Esse tipo de pensamento parou a tempo a mão dele que estendeu quase por instinto, mas parou a escassos milímetros de tocar os fios negros que deslizavam com suavidade pelo rosto do outro. Ao aperceber-se que teria tocado nele sem autorização, criou distância de um modo tão abrupto que quase caiu e nem sabe ao certo como Levi não acordou quando tropeçou. Com receio de abusar da sorte, decidiu entrar na cozinha e tentar concentrar-se no café que tencionava preparar acompanhado de torradas, antes da chegada daquela visita imprevisível. Eren já devia esperar que Levi despertasse antes que Bianca regressasse, mas diante da apreensão, cansaço e visível dúvida quanto ao que teria acontecido naqueles dias com a filha, o moreno não suportou aquela desconfiança. Acabou por confrontar o outro, colocando uma expressão desafiadora, mesmo quando o coração parecia querer sair pela boca quando esteve olhos nos olhos com Levi. Teve a sensação de que não seria o único incomodado, mas as palavras que o outro lhe dirigiu mesmo antes de sair na cozinha, magoaram-no por dentro. Era legítimo que Levi ainda fosse bem cuidadoso em torno dele, mas chegar ao ponto de nem acreditar que os ciúmes eram verdadeiros, deixava-o ferido por dentro. Ele tinha estragado tanto as coisas que nem mesmo nisso, o outro era capaz de acreditar.

Eren perdeu a conta de quantas vezes recordou aquele encontro e aquela troca de palavras. Queria ter feito alguma coisa diferente e não sabia o quê.

– Terra chama Eren.

– Ah, desculpa. – Forçou um sorriso.

– Estás com a cabeça nas nuvens há dias e acho que não é só preocupação por não encontrar trabalho. – Apontou Armin que ao lado do moreno, ajudava a levar os sacos de compras.

– Sim, tens razão. Não é só isso.

– Se não quiseres falar, tudo bem. No entanto, tenho que confessar que eu e a Annie estamos a ficar com alguns ciúmes da Nina. Ela conseguiu mudar um pouco o teu estado de espírito. – Sorriu.

– É um bocado difícil ficar indiferente perto dela, mesmo assim isso não significa que esteja a passar vocês os dois para segundo plano, mas…

Diz-lhes a verdade, Eren mesmo que seja uma coisa que já suspeitem ou até saibam, fala. Eles vão acabar por sentir-se melhor. Mais vale a verdade do que alimentar paranoias que mais tarde podem transformar-se em mal entendidos’.

– Eren?

– Pensei que seria melhor que não se preocupassem comigo e interferisse o menos possível na tua vida e na de Annie por aqui em Sina, até mesmo as pessoas com quem te relacionas, podem ditar o teu sucesso aqui. – Falou, decidido a seguir o conselho de Nina. – Convenci-me que não ia ficar aqui convosco. Aliás nem queria ter vindo e não era só pelas palavras que a Hanji me disse há uns anos atrás, mas também porque achei que reaproximar-me novamente do Levi, fosse acabar por prejudicá-lo de novo. Como sabes, nunca nada de bom aconteceu, sempre que estivemos perto um do outro.

– E ainda pensas que isso é verdade?

– Sinceramente? – Atirou a pergunta ao ar. – Não sei e isso deixa-me com medo de fazer a coisa errada.

Armin que tinha escutado por fim palavras honestas por parte do amigo desde que chegaram a Sina refletiu por alguns momentos. Agradecia em silêncio a Nina por ter conseguido quebrar aquela barreira que Eren colocava entre ele e qualquer pessoa que tentasse perceber o que havia por detrás daqueles sorrisos mais forçados e palavras que queriam reconfortar os outros e não a ele mesmo. O loiro e a namorada falaram bastante antes da ida de para Sina, pois sabiam perfeitamente que mais do que eles, Eren não tinha esquecido as palavras ameaçadoras de Hanji e muito menos tudo o que houve entre ele e Levi. Portanto, mudarem-se para Sina, embora pudesse trazer melhorias em termos de condições de vida materiais, podia ser um grande erro. Mesmo com Levi a garantir que não havia qualquer problema e que os ajudaria em tudo o que precisassem, mas havia uma coisa em que o CEO da Survey Corporation não podia fazer e era prever o impacto que isso teria na vida de Eren. Os loiros eram conscientes das consequências. As coisas podiam evoluir positivamente e o moreno sair da rotina, dos medos que o aprisionavam e libertar-se dos fantasmas ou afundar-se novamente naquela cidade que plantou nele as piores coisas que podia haver dentro de uma pessoa.

O primeiro teste foi o reencontro entre Eren e Levi no evento e tornou-se evidente que um deles parecia mais afetado. O amigo de olhos verdes ainda forçou um sorriso, dizendo que tinha sido bom reencontrá-lo, mas nada tão natural como Levi fez quando lhe foi colocada a mesma questão.

Desde do olhar, à postura, à forma de falar e ver a vida, Levi estava bem mais liberto do passado e finalmente, rodeado daquilo que toda a vida tinha merecido. Quanto a Eren por muito que a visão da vida tivesse sido alterada, ele fechou-se para muitas coisas e nunca superou verdadeiramente, tudo o que aconteceu. Portanto, ver como Levi parecia ter sido capaz não só disso, mas também de amar outra pessoa e ter uma família, causou um impacto bem maior do que Annie e Armin tinham previsto.

A partir do momento em que os dois reconheceram isso, ficaram sem saber quais seriam as palavras certas a dizer. Consideraram até a hipótese de deixar Sina com Eren, pois vê-lo forçar sorrisos dia após dia, estava a tornar-se doloroso para todos. Pouco importava se iriam voltar a viver os três num apartamento pequeno. Estavam dispostos a fugir com ele de Sina, se chegasse a esse ponto e por isso, quando Nina pediu para trocar umas palavras com os dois acerca de Eren, os dois começaram a perceber como é que aquela mulher, além de Hanji, conquistou um lugar especial do lado de Levi.

– Obrigado por teres partilhado isso comigo, Eren. – Disse Armin, parando de andar.

Isso fez com que o moreno também parasse para olhar para o amigo.

– Fui um bocado idiota por esconder isto, não é?

– Todos nós temos esses momentos em que achamos melhor não contar aquilo que nos aflige por dentro com aquele receio infundado de que vamos incomodar os outros com os nossos problemas. Muitas vezes, o que acontece é que os teus amigos estão à espera que partilhes os teus problemas porque pelo menos, podemos dividir a carga, não achas?

Eren sorriu.

– Então, suponho que vocês os dois também andassem preocupados por minha causa.

– Vamos deixar-nos disso, pode ser? É mais cansativo do que parece e mesmo com horários que me permitem por exemplo, sair contigo para ir às compras, prefiro dormir descansado de noite.

– Ok, ok. – Concordou, acompanhando o amigo que entretanto, tinha recomeçado a andar.

– Quanto aos teus receios pela proximidade do Levi, vou dar-te um conselho que te fará questionar a minha sanidade e quem sabe, até mesmo a Annie não concorde. – Viu o moreno olhar para ele com curiosidade. – Deixa de te esconder, Eren. Mesmo que isso gere algum mal-estar como vi naquela última vez em que pareciam ter estado a falar na cozinha. Mesmo que acabem por discutir, não te cales, entendes? O que quiseres dizer diz. Não escondas o que estás a sentir. Às vezes, digo que és impulsivo de mais, mas neste caso, isso pode ser o melhor porque se calhar, o que precisam é de deitar tudo para fora. Tudo o que querem realmente dizer e não aquelas conversas civilizadas.

– Realmente, acho que tanto eu como a Annie diria que estás a aconselhar colocar mais combustível num incêndio. Por que achas que isso vai ajudar?

– Porque têm que aceitar que podem e devem recomeçar do zero. – Parou novamente de andar.

– E se ele não quiser?

– Não, Eren. Disposto a recomeçar, o Levi está porque foi nessa pessoa que se transformou, mas da forma como estás a agir em torno dele, penso que o estás a colocar também numa situação delicada porque o que tu queres, até mais do que recomeçar de novo, é ver se os sentimentos dele por ti ainda existem. – Disse Armin, olhando o amigo nos olhos. – E isso, qualquer pessoa teria medo tendo em conta, o vosso passado. Nesse caso, eu não te posso assegurar que as coisas saiam como gostavas.

– Então, na tua opinião, achas que… – Ia perguntar num tom desanimado.

– A minha opinião não é a realidade, Eren. O que quero dizer é que mesmo que esses sentimentos ainda existam, podes ter que te preparar para possibilidade de que ele não queira dar uma nova oportunidade. Ele está no seu direito e isso assusta-te, Eren. Assusta qualquer pessoa saber que estás numa posição em que alcançar o que gostavas, não está só nas tuas mãos mas depende também de outra pessoa. De qualquer das formas, é muito cedo para prever ao certo qual será o resultado, mas o importante é deixares essa impulsividade jogar também a teu favor.

– Isso nem sempre resulta muito bem.

– Sim, mas a vida está cheia de oportunidades pelas quais muitas vezes tens que arriscar, mas apesar destas palavras, lembra-te de ter sempre em consideração o lado dele. Às vezes, há coisas que não estão destinadas a acontecer, mas… outras vezes, só ainda não encontramos a forma certa de as tornar realidade. – Sorriu. – Espero que independentemente do resultado de tudo isto, consigas ser feliz e que te lembres que podes sempre contar comigo e com a Annie.

Os dois recomeçaram a andar e o caminho de regresso a casa teria continuado sem interrupções, se do carro que parou perto deles, não tivesse saído uma voz que Eren dificilmente não reconheceria, apesar das poucas vezes que se cruzou com aquela pessoa.

– Tive que parar para confirmar que eras mesmo tu e não apenas uma piada nova que andava a circular por Sina.

– Zeke… – Murmurou o moreno ao ver o meio-irmão fazer sinal ao motorista do carro para aguardar um pouco.

– Eren ouvi dizer que estiveste no grande evento e eu não te vi. – Sorriu de lado. – Não que eu tenha muito hábito de olhar para a cara dos empregados que servem as mesas.

– Aposto que não. O teu ego não te deixa ver muita coisa.

– O Dr. Arlert devia andar melhor acompanhado. – Disse Zeke, olhando para o loiro que olhou para o outro com um ar pouco amigável.

– As minhas companhias não lhe dizem respeito, Dr. Jaeger. – Respondeu Armin num tom seco.

– Queres alguma coisa, Zeke? Ou isto é só para te ouvires a falar? – Perguntou Eren.

– Por que voltaste para Sina? Porquê agora? Tiveste a oportunidade de voltar antes, fazer um bom casamento e quem sabe, ser reconhecido pelo nosso pai, mas nem para isso demonstraste inteligência.

– O que eu faço ou deixo de fazer não é a da tua conta. – Ripostou Eren.

– Não, mas estou curioso por que razão alguém voltaria para aqui sem ganhar nada em troca. Nem parece coisa tua. Julgava que eras minimamente inteligente para não voltares sem alguma carta na manga. – Continuou com o tom provocatório. – Sabes quantas pessoas já comentaram que já te viram na tua nova fase triste da vida? Eu tinha que ver isto ao vivo. – A expressão indicou que se recordou de alguma coisa. – A propósito é quase o teu aniversário, não é? Sabes como me lembro? Porque pensava que esse seria o dia que o pai se iria ausentar para estar com a família de segunda categoria, mas no fim de contas, parece que eu lembrava-me mais dessa data do que ele. Devias agradecer-me pelos presentes que recebeste nessa data. Com certeza, não foi ele que se lembrou da tua existência e sim eu que tive alguma pena.

– E ainda te perguntas por que é que a tua mulher te deixou e quer arrancar até a última moeda que tens? – Respondeu Eren. – Eu faria o mesmo depois de viver contigo.

– De facto, eu também já o teria mandado à puta que pariu há muito tempo, assim como estou a fazer agora. – Disse Armin, erguendo o dedo na direção de Zeke e puxando Eren. – Vamos embora. Não quero que pense que estávamos a dar-lhe atenção.

– Não imaginava que tivesse esse nível, Dr. Arlert. – Ouviu Zeke dizer.

– Infelizmente, tive que descer para corresponder ao seu, Dr. Jaeger. – Respondeu e quando estavam mais afastados, acrescentou. – O comentário acerca da ex-mulher dele foi bom, mas podias ter feito melhor e eu iria apoiar com todo o veneno que pudesse. Ele merece. Quem é que pensa que é? “Olha para mim, sou Zeke Jaeger, caiam aos meus pés e cheirem o meu cu”.

A voz mais fina e expressão estranha conseguiram arrancar uma gargalhada de Eren.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

As unhas pintadas com um rosa subtil tocavam num ritmo um pouco impaciente sobre a mesa de vidro. O computador ligado com várias páginas e emails diferentes garantia um dia bem atarefado. Ela estava com um auricular a ouvir mais um cliente que tinha dispensado toda a formação necessária para usar o novo software e como seria de se esperar, agora estava com dúvidas e queria os problemas resolvidos o mais rapidamente possível. Problemas que não eram reais, ou seja, nada tinham a ver com o funcionamento do software e sim porque havia quem quisesse poupar na formação e depois por não saber trabalhar com a nova tecnologia, pensavam que era mais fácil culpar a empresa do que a própria burrice.

– Compreendo a urgência em solucionar essa questão, no entanto, devo recordar que de acordo com nossos registos, não existe qualquer defeito no programa atualmente em funcionamento na sua clínica. – Começou por dizer e antes que o homem pudesse interromper, prosseguiu. – O que acontece é que como dispensou a formação necessária para o bom uso do software, encontra-se com algumas dúvidas. Já enviei um técnico que deve chegar em breve.

– Com os custos cobertos pela vossa empresa, espero eu.

– O nosso técnico e formador será remunerado de acordo, com o tempo que dedicar na vossa clínica. A assistência técnica só é gratuita quando se trata de um erro da nossa parte e aplicável também nas cláusulas que lhe foram explicadas previamente. Neste caso, será cobrado o custo da deslocação e de uma formação que se tivesse sido realizada antes, não levantaria estas questões. – Explicou calmamente. – Caso entremos em desacordo neste ponto, teremos que reconsiderar o contrato e não penso que lhe interesse ficar de fora desta nova era tecnológica.

A conversa durou apenas mais alguns minutos, mas com Isabel a conseguir o que pretendia e desligando a chamada pouco depois, diante do olhar de admiração de Petra.

– Fantástico. Não sei como consegues lidar com todas estas coisas.

– Prática. – Respondeu a ruiva. – Há empresários ou diretores que ligam e só sabem reclamar, mas não entendem que se insistimos na formação é porque já sabemos por experiência, que haverá sempre alguém que irá culpar o programa em vez de admitir que não o sabe usar. Esses estão à procura de defeitos para poder ter um desconto e descredibilizar o nosso valor no mercado. O que não falta é desta gentinha mesquinha e invejosa, mas o segredo é deixar bem claro que estabelecemos um nome no mundo dos negócios por várias razões, sendo uma delas a confiança em tudo aquilo que produzimos.

– Ah, como gostava de aprender a ser confiante como tu és. Fazes parecer fácil, mas não é.

– É uma questão de tempo. Quando lidares com idiotas suficientes, há um dia em que subitamente entendes que não te podes desculpar pela idiotice alheia. – Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

– O teu anel é lindo. Sei que já disse, mas não me canso de dizer.

Isabel corou um pouco e respondeu rapidamente a um novo email.

– Não pensava que ele tivesse jeito para escolher estas coisas.

– E eu que pensava inicialmente que eram casados.

– Eu sempre fui muito cautelosa com estas coisas de casamentos. O Farlan é mais romântico nesse aspeto. Ele pensa mais em casamento e família do que eu.

– Mas não disseste que estavas contente com o anel e o noivado? – Perguntou Petra surpreendida.

– E estou. – Admitiu com um sorriso, mas logo suspirou. – Mas quero que ele leve as coisas com calma.

– Vocês não namoram há anos?

– Sim, mas… eu sou complicada, só isso. – Forçou um sorriso. – Por falar em coisas complicadas, nunca chegaste a dizer o que aconteceu no teu fim de semana com o Levi. Chegaste muda e a mudar de cor cada vez que falava no nome dele, como estás a fazer agora.

– Deus… que vergonha. Menos mal que ele tirou estes dias, se não nem sei como iria olhar para ele.

– O que aconteceu? Estou curiosa. – Insistiu Isabel.

– Isabel, eu fui até ao quarto dele, completamente bêbada e dormi lá. – Disse com o rosto bem corado e encolhendo-se na cadeira.

– Dormiste com ele?! – Perguntou Isabel, fechando sem querer um dos programas do computador.

– Huh? Não, não! Não foi isso que aconteceu! Ele deixou-me dormir lá e nem ficou na cama dele. Acho que dormiu no sofá que havia no quarto. Se é que dormiu… – Suspirou.

– Por momentos, pensei que tivesses despertado o hétero que há nele. – Riu um pouco. – Ah, e ainda bem que tirou estes dias. Ele precisava.

– Sem dúvida, a última vez que te ouvi conversar com ele parecia bem melhor.

– Sim, ele sempre melhora quando passa tempo com a filha. – Sorriu e olhando para Petra, continuou. – Pronto e agora com esta conversa fico a saber que és do tipo de bêbada divertida.

– Não há nada de divertido no que aconteceu naquela noite, Isabel. – Disse emburrada, fazendo a outra rir mais um pouco.

As duas ouviram umas batidas na porta e movendo o dedo no ecrã do computador, viu pelas câmaras de segurança de quem se tratava.

Será que já estava aí há muito tempo? Bom, também não estávamos a falar nada de importante”.

– Entra, Tiago. – Disse Isabel, vendo o jovem entrar com uma bandeja com dois cafés.

– Com licença, meninas. – Cumprimentou com a boa disposição que todos estavam habituados a ver. – Hora do café.

– Obrigada. – Agradeceram Petra e Isabel em uníssono.

– Se puder ajudar, é só dizer. Sei que as coisas sempre ficam um pouco mais caóticas quando o Lev… digo, o Sr. Smith não está.

– Mais caóticas, mais solitárias. – Comentou Isabel com um meio sorriso na direção de Tiago que ainda assim, manteve o sorriso cordial. – Ele só tirou esta semana, portanto, para a semana tudo volta ao normal.

– Assim tanto a Isabel como a Petra podem descansar um pouco. – Apontou Tiago.

– Sim, e já não terás que te preocupar tanto com o nosso café e sim com o café de outra pessoa. – Disse Isabel que recebeu outro sorriso antes que o funcionário saísse.

– Foi impressão minha ou estavas a provocar o rapaz? Coitado, ele parece sempre tão dedicado no que faz. – Comentou Petra.

– É, não imaginas o quão dedicado ele é, mas sim, ele tem ajudado nesta semana caótica. Suponho que posso controlar os meus comentários. – Respondeu Isabel.

Essa Petra é tão inocente que até mete dó”, Tiago distanciou-se da porta, continuando a andar pelo corredor, “Sei que a Isabel é outra que não aprova que esteja com o Levi, mas além dos comentários não faz mais nada. Às vezes, não sei o que espera que responda e gostava de poder responder como merece, mas…” olhou para o próprio reflexo na porta de um dos escritórios, “Mas infelizmente, não tenho autoridade suficiente aqui dentro para isso”.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– O Eren vai gostar, não vai pai? – Perguntou enquanto limpavam a cozinha suja de farinha e outros ingredientes que tinha utilizado para fazer algumas bolachas com formas de estrelas e animais.

– Claro que vai. – Respondeu Levi e ao seu lado também Hanji ajudava a limpar.

– Pai posso ir ver se está pronto? Quero um embrulho bem bonito.

– Queres ajuda?

– Não, pai. O Berth ajuda. – Sorriu e saiu com passos rápidos da cozinha.

Passaram parte da manhã e início da tarde a fazer bolachas e pequenos bolos para levar. A festa surpresa iria realizar-se na casa de Nina. Pelo menos nisso, Levi tinha conseguido negociar com a filha que não desistiu a ideia, mas aprovou que não fosse em casa deles com a ajuda das sugestões de Nina.

– Obrigado pela ajuda, Hanji. – Disse, acabando de limpar a cozinha. – Surpreende-me que tenhas ficado.

– Surpreende-me que tenhas concordado com isto e até pareças contente a fazer bolos.

– É impossível não ser contagiado pela alegria da Bia. – Comentou e depois de passar o pano húmido por água mais uma vez, guardou-o. – Mas por outro lado, nunca tive a oportunidade de festejar tantos aniversários como desde que vim para Sina e não daqueles aniversários em eventos sociais, mas destes assim… com bolos, surpresas, doces.

– Eu tentei festejar antes, mas tu…

– Eu sei, Hanji. O primeiro aniversário do género que festejei aqui foi da Bia e na altura, estava com medo de não ter nada que dizer ou sugerir. – Disse pensativo. – Tive que ser sincero com o Erwin. Eu não sabia muito bem o que se fazia nas festas de crianças porque não as tive em casa.

 

Flashback

– É uma festa de aniversário, não é um mistério, Levi.

– Eu sei. – Respondeu com um dos enfeites em forma de estrela que ficaria na sala. Olhou para a pequena estrela brilhante, erguendo o braço como se a imaginasse já colocada num ponto da sala. – É só que nunca tive uma em casa e as poucas que me deixaram ver na escola, quase foi por obrigação porque não podiam encontrar uma desculpa para tirar-me da sala de aula. Ou pelo menos, não nas primeiras vezes. Os enfeites, os brilhantes, os desenhos, tudo era tão alegre. Cheguei a imaginar como seria se alguma vez chegasse a casa e houvesse uma festa à minha espera. – Esboçou um sorriso um pouco triste na direção de Erwin. – Estupidez, não é? Vamos deixar as coisas deprimentes de lado e… – Não teve tempo de concluir a frase, pois foi envolvido por um abraço forte. – Erwin? Hei, o que foi?

Fim do Flashback

 

– Ainda recordo com clareza a forma como me abraçou naquele dia e as festas que preparou como se eu fosse uma criança. – Riu um pouco. – Sempre me disseram que o Erwin era frio, distante, um autêntico monstro no mundo dos negócios, mas essas pessoas não viram como ele era de verdade.

– Era como um urso de peluche enorme que adorava dar abraços a um certo baixinho. – Provocou Hanji, fazendo o amigo corar ligeiramente.

– Ele é uma das razões para olhar para as datas de aniversário desta forma e não quero perder essa magia que sempre trouxe a dias como este. – Disse e surpreendeu-se com o abraço de Hanji.

– E eu quero ver-te feliz, só isso. Vamos fazer desta festa de aniversário mais um dia para recordar.

– Obrigado, Hanji por estares sempre aqui. – Murmurou.

 

Flashback

– Erwin? – Chamava ao caminhar pela casa escura. – Por que é que a merda das luzes não acendem? Erwin! Se isto é uma brincadeira e eu cair, aconselho-te a correr antes que me levante.

Ouviu alguns risos abafados e repentinamente, as luzes acenderam-se e além dos amigos, viu também o esposo com a filha nos braços. Todos com pequenos chapéus coloridos daqueles que se usavam em aniversários de criança, juntamente com dezenas de pequenos papéis que foram lançados na direção dele enquanto todos desejavam um feliz aniversário. A sala estava completamente colorida, assim como os bolos que decoravam a mesa. Havia até balões na sala e umas letras penduradas que formavam o nome dele.

– Mas hoje não é…

– Ficámos a saber que não festejámos o teu aniversário como deve ser, mas como é no Natal e nós não nos queremos intrometer demais… – Começou Isabel.

– Decidimos que iríamos comemorar mais do que uma vez por ano. Um aniversário com a tua família e outro que inclua também os teus amigos. – Complementou Nina.

– Saímos todos a ganhar porque há o dobro da comida! – Disse Sasha sorridente e os outros riram.

– Parabéns pai! – Dizia Bia, batendo palmas.

– Erwin isto é…

– A festa de aniversário que devias ter tido desde do princípio. – Disse, aproximando-se de Levi que ainda observava todo o cenário que tinham preparado na ausência dele. – Quero que datas como esta não sejam mais do que boas lembranças para ti.

– Não tinhas que fazer isto. – Murmurou um pouco ruborizado.

– Tinha sim porque não é uma estupidez. É só mais uma das coisas que prometi dar para te fazer feliz. Para que de agora em diante, sejam estas as lembranças que vais guardar.

Fim de Flashback

 

– Lembraste uma coisa boa, pai? – Ouviu a voz da filha chamá-lo de volta para a realidade.

– Sim, lembrei-me do primeiro aniversário que tu e o pai Erwin prepararam para mim. – Respondeu.

– Ah, gostava de lembrar também! Foi bom? Estavas contente?

– Estava muito feliz. Foi a melhor festa que tive. – Respondeu com um sorriso, acariciando os cabelos da filha que ia sentada ao lado dele no banco detrás do carro, à medida que Reiner tentava concentrar-se na condução com Hanji a falar sobre mil e uma coisas ao lado dele.

Bianca fez mais algumas perguntas acerca da festa de aniversário que o pai tinha recordado na viagem rumo à casa de Nina. Ao lado da pequena estava um embrulho que Bertholdt tinha ajudado a preparar. Aquele segurança era bem mais silencioso e recatado que os outros, mas a expressão mais séria sempre se alterava quando estava com Bianca, acabando por sorrir e sentar-se com a criança no chão enquanto dedicavam-se a alguma atividade. Usualmente, trabalhos manuais, visto que Bertholdt parecia ter uma aptidão para isso e aparentemente, segundo Reiner, também era um ótimo atirador. O que devido à sua estatura, fazia com que passasse a maior parte do tempo a tentar tornar-se o mais invisível possível perante os outros. O que não devia ser uma tarefa fisicamente fácil, mas apesar da altura impressionante, nem mesmo Levi às vezes tinha a certeza, onde o segurança estaria.

– Mas Sr. Smith…

– Vou estar na casa da Nina, Reiner. Dificilmente alguém virá para este condomínio fechado e já com segurança própria. Aproveita para sair um pouco com o Bertholdt.

– Ouve o meu pai, Reiner. Vai namorar com o Berth.

O loiro corou ligeiramente e Hanji gargalhou, tomando a pequena nos braços e esfregando o rosto contra os cabelos negros da criança que começou a rir, dizendo que a tia estava a fazer-lhe cócegas.

– De manhã digo qualquer coisa, mas hoje quero que aproveites para relaxar um pouco e namorar, se for esse caso. – Disse Levi.

Reiner suspirou.

– Como quiser, Sr. Smith. Amanhã entro em contacto ou aguardo que me diga alguma coisa para o vir recolher.

– Bom descanso. – Disse Levi, acenando ao segurança.

Reiner era o segurança de maior confiança de Levi, mas também era o que mais dificilmente queria aceitar os dias e horas de descanso que lhe eram devidos. Portanto, mesmo que não gostasse de falar num tom de ordem, acabava por ter que forçar o loiro a descansar e dar a vez a outros colegas. Até porque além dos jornalistas intrometidos, que tentavam conseguir informação sem autorização e por isso, tentavam segui-lo, não havia muito com o que se preocupar.

Contudo, sobretudo após a morte de Erwin, os seguranças apertaram o cerco, mesmo que a causa de morte estivesse relacionada com um acidente e consequente complicação de uma infeção, que ocorreu já em terreno hospitalar. Ao que tudo indicava, Reiner não acreditava nisso. Chegou a conversar sobre isso com Levi, mas o mais baixo dizia que não existiam provas do contrário e que não podia apontar uma arma a todos os que invejavam a família Smith. Sem qualquer prova, aquilo não passava de especulação e era como encontrar uma agulha num palheiro.

Além disso, nem mesmo Erwin fez qualquer comentário nesse sentido. Se desconfiasse, teria dito. Afinal de contas, ainda puderam conversar nos últimos dias que lhe foram dados. Puderam despedir-se e seria lógico que Erwin dissesse qualquer coisa, mas apenas falou no infortúnio que os separava, entre outras coisas nas quais preferia não pensar para que o clima de alegria onde iria entrar, não se manchasse com a dor de ter perdido o loiro.

 

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Eren estava a pesar os prós e os contras de bater nos dois loiros que praticamente estavam a empurrá-lo para andar mais rápido. Depois de ter passado mais um dia numa busca sem resultados por um trabalho, o moreno já esperava que os amigos quisessem festejar o aniversário dele em casa. O que ele não considerou é que Nina insistisse num jantar de aniversário em casa dela e que mesmo sendo um dia de semana, os amigos estivessem livres do trabalho. Se bem que usualmente, em datas como aniversários, todos fizessem um esforço para que ao menos uma das refeições fosse feita entre os três.

Contudo, mesmo toda essa boa vontade dos amigos não justificava porque estavam a empurrá-lo a cada passo que dava. Tudo porque aparentemente, não estava preparado quando devia e por isso, atrasou o jantar.

– A Nina não me disse uma hora certa por isso, não precisam de continuar a empurrar-me. – Relembrou o moreno que desde que os dois amigos tinham chegado a casa e encontraram-no a tomar banho, não paravam com aquela insistência do atraso. Ao que tudo indicava, os loiros esperavam que ele estivesse pronto para sair e isso agora resultava em todos aqueles empurrões.

Quando chegaram diante da porta de Nina, ia tocar à campainha quando notou que a porta estava encostada e não fechada. Um pouco confuso e lançando um olhar na direção dos dois amigos que o incentivaram a entrar com mais um pequeno empurrão, o moreno avançou para o interior da casa de luzes apagadas e estranhamente silenciosa.

Será que…?”, ia questionar-se, quando as luzes se acenderam repentinamente e várias vozes, além da dos amigos que estavam atrás dele, soaram e desejaram-lhe parabéns pelo aniversário.

A insistência dos amigos finalmente fazia sentido e ver Bianca correr na direção dele, fez com que se recordasse da pergunta supostamente inocente da pequena, acerca do seu aniversário. Ele abaixou-se para pegar nela ao colo e ouvir mais um “parabéns” de bem perto e teve direito também a um abraço, enquanto surpreso ainda via o que tinham preparado. Se bem que mais do que perplexo com o cenário de festa que incluía uns pequenos chapéus coloridos típicos de festa de criança, Eren nem queria acreditar na presença de Levi e muito menos de Hanji. Aliás, até compreendia que Levi estivesse presente por causa da filha, mas a mulher de longos cabelos castanhos? Essa sempre fazia questão de deixar claro o quanto não o suportava e agora, encontrava-se igualmente sorridente.

Nina foi a segunda pessoa a abraçá-lo, dizendo que estava contente por ter aceitado o convite. Recebeu também um aperto de mão de Mike que mais uma vez, fez aquela coisa estranha que o arrepiou de um modo perturbador da primeira vez. Por alguma razão, o Mike gostava de cheirar as pessoas e Nina considerava aquilo completamente normal. Ou a julgar pelo ar nada incomodado dos restantes, toda a gente considerava normal. E quem eram os restantes? A ruiva que tinha sido a responsável pelo primeiro trabalho que teve em Sina e que se chamava Isabel que estava ao lado de um loiro que acenou na direção dele e que se apresentou como Farlan. Este último disse que Sasha e Connie não estariam presentes desta vez porque com a filha pequena a assumir prioridades, queriam aproveitar mais tempo juntos, mas que viriam numa próxima.

– Gostaste da surpresa, Eren? – Perguntou Bia que o moreno acabava de pôr no chão.

– Foi ideia dela e eu achei fofo demais para recusar. – Acrescentou Nina.

– Obrigado, Bia. – Sorriu na direção da menina que abriu mais um sorriso. – Está uma festa bem bonita.

– Com o atraso do aniversariante, suponho que já podemos começar a comer. – Levi comentou, aproximando-se da mesa.

– Estás a assumir o lugar da Sasha? – Perguntou Hanji divertida.

Com um pequeno isqueiro na mão, Levi acendeu as duas velas.

– Tenho direito a ter fome. – Respondeu, encolhendo os ombros e olhou na direção de Eren. – Vá, anda para aqui para podermos cantar.

– Ah, sim. – Disse ainda um pouco envergonhado com os olhares atentos nele.

– Um sorrisinho, Eren. – Dizia Annie com o telemóvel na mão com o qual devia estar a gravar.

– Posso ajudar a soprar as velas, Eren? – Pediu Bianca.

– Não, estas são dele. – Disse Levi e colocou a pequena nos braços.

– Mas eu queria… – Disse emburrada.

– Eu não me importo. – Esclareceu o moreno, fazendo a pequena sorrir.

– Mas ele tem que pedir o desejo antes de soprar. Tem que ser ele.

– Eu não sou uma criança, Levi.

– Eu não perguntei se eras uma criança. São as regras. – Argumentou o outro, fazendo com que alguns risos se ouvissem.

– Nem vale a pena argumentar, Eren. Alinha e recorda um bocado o que é ser criança. Nós todos já fizemos o mesmo. – Falou Farlan divertido. – A partir de agora, estando connosco é o que podes esperar dos teus aniversários.

– Vamos começar a cantar. – Anunciou Isabel.

A música a desejar-lhe os parabéns foi entoada por todos, deixando Eren naquela situação comum de aniversariante que não sabe muito bem o que fazer quando estão todos a cantar. Sorriu na direção de Annie que filmava e pedia também uma expressão menos desconfortável para tirar fotos. O moreno reparou que Levi não saiu do lado dele durante a canção dos parabéns, cantando com a filha nos braços. Se bem que ele desconfiava que isso aconteceu porque o outro queria assegurar-se que ele não se esquecia de pedir o desejo antes de soprar as velas. Mesmo que quisesse esquecer, o olhar das trevas que recebeu antes de soprar, fez com que pensasse rapidamente em alguma coisa.

Depois disso, Levi começou por se servir de algum sumo para ele e para a filha antes de começar a comer um dos doces da mesa. Não olhava na direção do moreno, conversando com Farlan, Isabel e Mike. Esses três juntamente com Bianca pareciam atrair toda a atenção dele.

Nina tratou de distribuir as fatias de bolo de chocolate e manter a atenção do moreno de olhos verdes na comida e na promessa de uma noite bem divertida. Depois da comida, vieram os presentes e mais uma vez, Eren surpreendeu-se ao receber um presente de Hanji que parecia bem mais civilizada do que esperava.

– Talvez não devas abrir o presente dela agora. – Aconselhou Farlan.

Eren parou de tentar abrir a caixa embrulhada com um papel preto e uma fita vermelha.

– Pois, acho que todos conhecemos esse papel de uma certa loja. – Comentou Mike num tom divertido. – Melhor quando não houver crianças presentes.

– O que é pai? Eu quero ver! – Disse Bianca amuada.

Levi suspirou.

– Não é nada de importante. A tua madrinha é louca, apenas isso.

– Vocês é que não sabem apreciar os meus presentes. – Defendeu-se Hanji.

– Abre o nosso, Eren. – Interveio Annie, entregando uma pequena caixa juntamente com Armin.

À medida que foi abrindo os presentes, o moreno foi encontrando uma caixa de madeira com uma garrafa de uísque acompanhada de uma gravata e uns óculos de sol, presente de Isabel e Farlan. Seguiu-se uma camisa branca com mais uma gravata de parte de Annie e Armin. Quanto a Mike e Nina ofereceram-lhe um relógio e um vale para ir ao salão de…

– Tens um salão?

– Sim. – Respondeu Nina. – Não te disse, mas sou cabeleireira e no meu salão além de poder cuidar desses teus cabelos selvagens e atraentes, também há outros tratamentos estéticos. Quero que passes lá um dia para aproveitar esse vale que te dá direito a um dia super relaxante.

– Vais gostar. – Comentou Isabel com um sorriso.

– Este é o meu presente, Eren. – Anunciou Bianca, mantendo a expressão alegre e entregou a Eren, que estava sentado no sofá a abrir os presentes, um embrulho repleto de listras verdes e pretas.

O moreno retirou o papel em pouco tempo, pois nunca foi muito paciente com os embrulhos, mas não esperava um pequeno quadro com uma moldura prateada. O desenho pintado com tinta que parecia ter acabado de secar recentemente mostrava um céu estrelado.

– Foste tu que pintaste? – Perguntou boquiaberto com o presente.

– Sim, gostas? – Apontou para uma das estrelas que parecia ter sido mais trabalhada. – Assim não esqueces que a tua ‘vó está lá e que por isso, deves sorrir sempre. Pus o meu pai Erwin aqui também para que ela não esteja só com pessoas que não conhece.

Havia um sorriso que contagiava a todos na sala, perante a inocência da criança e após a surpresa que sentiu ao receber um presente que tinha sido feito a pensar nele, o moreno também sorriu e afagou os cabelos negros da criança.

– Obrigado, Bianca. É o melhor presente que recebi.

– Viste pai? Ele gostou!

Levi apenas sorriu e Eren agradeceu mais uma vez pelos presentes antes que Nina resolvesse dar continuidade à festa com algo mais do que comida e algum convívio.

– Está na hora do karaoke, não acham? – Questionou. – O que são as nossas festas de aniversário sem música?

Por que é que acho que isto não vai incluir nenhuma música habitual?”, pensou Eren enquanto retiravam a mesa de centro do meio da sala para haver mais espaço e Levi ajustava a televisão para transmitir as letras das músicas, assim como também testava o som.

Farlan e Armin foram os primeiros a cantar e como já esperava, o moreno ouviu a primeira de várias músicas sul-coreanas. A primeira canção Spring Day era relativamente nova, mas quase todos pareciam saber a letra com a exceção de Eren, Mike e Isabel. Podia ver de soslaio, Bianca sentada no colo de Levi a entoar a canção baixinho com o pai enquanto os dois loiros davam espetáculo.

Num determinado momento, Bianca quis participar além de Farlan e Armin que pareciam querer cantar o resto da noite. Assim que os primeiros acordes da música começaram, Eren após a surpresa inicial, sorriu e acompanhou baixinho e desta vez foi Levi que olhou na direção dele.

 

Totemo ureshikatta yo / kimi ga warai kaketeta (Eu era tão feliz, quando tu rias)

Subete o tokasu hohoemi de (Com um sorriso que derretia tudo)

Haru wa mada tookute / tsumetai tsuchi no naka de (A primavera ainda está longe, dentro da terra gelada)

Mebuku toki o matte ita 'n da (À espera do momento para desabrochar)

Tatoeba kurushii kyou da to shite mo (Por exemplo, mesmo que hoje seja doloroso)

Kinou no kizu o nokoshite ite mo (E amanhã as feridas ainda continuem aqui)

Shinjitai / kokoro hodo ite yukeru to (Quero acreditar que posso libertar o meu coração e seguir em frente)

 

A voz doce e suave combinava perfeitamente com a vocalista da música que Eren escutou diversas vezes nos dias em que Bianca esteve com ele, Armin e Annie. O moreno podia só conhecer a parte inicial da música, pois era a que dava sempre no começo de cada episódio que assistiu, mas aprendeu a apreciar a canção e mesmo o anime em questão pela história que contava. A letra, os acontecimentos que viu e quem sabe muito do que foi dito, acabou por mexer com ele num bom sentido e por isso, não se arrependia daquela sessão quase forçada.

– Surpreende-me que conheças a música. – Comentou Levi.

– Eu não conhecia o anime e a Bianca disse-me que não podia ser e por isso, fizemos uma direta durante dois dias a ver os episódios. – Respondeu Eren.

Hanji riu que estava próxima a Levi riu.

– É mesmo coisa da pequena.

– Foi por isso que estavas de toalha quando cheguei na segunda? Não dormiram de noite?

– Ela dormiu, eu nem por isso.

Levi passou a mão na cara.

Mais um que não sabe dizer que não às coisas dela e disseram o Armin e a Annie que tudo correu bem. Claro que omitiram a parte em que foram obrigados por uma criança a ver anime… não que seja uma coisa má, mas que eles não dormissem… tch, afinal quem eram os adultos naquela casa?”.

– E se aproveitarmos a próxima música, Levi? – Sugeriu Hanji. – Não achas que está na hora de cantar um bocadinho?

– Eu concordo. – Disse Nina.

– Eu preparo-me para gravar. – Ofereceu-se Mike.

– Depende da música. – Comentou Levi. – Não vou cantar nada estranho, Hanji.

– Preferes cantar ou falar sobre teres visto o aniversariante de toalha? – Provocou Nina.

– Tch, vamos cantar assim que a Bia acabar. – Respondeu, ignorando a provocação.

– BTS e uma música conhecida de todos, pode ser? – Pediu Annie.

Dope ou Fire? – Perguntou Isabel.

– Fire. – Votou Nina.

– Os vizinhos vão adorar o barulho. – Comentou a ruiva divertida.

– Ainda é cedo. Se alguém reclamar é inveja. – Respondeu Nina.

Eren também conhecia a música, mas assim que Bianca acabou a canção, veio na direção dele e pediu para sentar no colo dele. Mais uma vez, assim como parecia ser um hábito, a pequena levava sempre uma pequena mochila nas costas. Era assim ou estava com aquele tablet que não largava por nada. Sempre o mantinha por perto.

– Ainda te lembras da música, Eren. – Disse ela sorridente já sentada no colo do moreno.

– Cantámos tantas vezes naquele fim de semana que agora não esqueço. – Respondeu enquanto via quase todos a irem para o centro da sala para o karaoke que em que à exceção deles os dois e Mike, o resto parecia ir participar.

– É uma música bem bonita, agora tens que aprender toda e não só aquela parte.

– Ok, fica prometido. Tens que me ensinar, pode ser?

– Pode! – Assentiu de imediato. – E não vens cantar com eles? Ou cantamos aqui com o tio Mike para ele não ficar sozinho?

– Cantamos aqui para que não fique sozinho. – Respondeu Eren e recebeu um sorriso de Mike que ajustava as definições da câmara do telemóvel antes de colocar a gravar.

Bultaoreune… – Murmurou Armin antes que a música soasse bem alto por toda a sala e todos em coro cantavam o início da música: Fire Fire Fire Fire!

Eren começava a entender o comentário de Isabel acerca dos vizinhos, dado que estavam todos a cantar com vontade e sem conter a voz. Ainda assim, o que surpreendeu o moreno foi ver que tanto Farlan como Hanji puxaram Levi um pouco mais para a frente, pois pelos vistos eles conheciam parte da coreografia da música.

Abismado, o aniversariante viu como afinal aqueles três conheciam a coreografia e improvisarem algumas partes o que estava a causar sensações contraditórias nele. Por um lado, testemunhar olhares e gestos sensuais da parte de Levi eram um ponto mais do que positivo, mas por outro lado, aquele Farlan parecia bem à vontade perto dele. Chegavam a brincar com o outro durante a coreografia e enquanto cantavam em sintonia perfeita, sem nunca interromper um ao outro, a letra da canção.

Nos últimos segundos da canção, Bianca animou Eren a cantar juntamente com todos e a essa altura, era impossível que os vizinhos não os estivessem a ouvir a ecoar bem alto.

– O meu pai dança muito bem, não achas?

– Sim… – Murmurou Eren em resposta enquanto via Farlan com um braço sobre os ombros de Levi conversar animadamente com ele e com Hanji.

– Agora tens que cantar uma também, Eren. – Disse Bianca.

– Sim, tenh… huh? Não, eu não sou muito de karaokes. Gosto de ver, mas…

– Não, não, Eren. – Insistiu Bianca. – Tens que fazer parte. – Saiu do colo do moreno e correu até Hanji e Nina dizendo que tinham que ajudar Eren a escolher uma música.

– Eu sei de um cantor que ele gosta. – Armin interveio, procurando a música na longa lista disponível de canções que havia no ecrã.

– Cantas com o Eren, pai? Ele tem vergonha e se estiveres aqui, ele fica com menos vergonha.

– Ah… por mim não há problema. – Passou a mão nos cabelos da filha que sorriu e acenou ao moreno.

– Anda, Eren! O pai vai cantar contigo!

E foi dessa forma que tanto Eren como Levi acabaram quase lado a lado a olhar para o ecrã e cada um com o respetivo microfone na mão.

– A escolha da música romântica foi intencional? – Perguntou Hanji, olhando de soslaio para Armin.

– É apenas uma das músicas favoritas dele e minha também. – Respondeu o loiro com um sorriso que tentava mostrar inocência.

– Ah, deixa ver que tal se saem os dois. – Interrompeu Nina. – A música é linda sim e há algum tempo que não ouvimos a voz do nosso baixinho numa música assim mais calma.

Entretanto, Levi pausou por momentos a música antes de murmurar:

– Duas frases cada um? Exceto na parte de número ímpar em que cantamos os dois.

– Eu sei lá qual das estrofes é de número ímpar. – Comentou Eren, não acreditando que o outro realmente esperava que conhecesse a música ao ponto de a dividir por estrofes. Tudo bem que gostava da música, mas como sempre, Levi levava as coisas a outro nível.

So come over and talk me down. – Esclareceu o mais baixo. – Essa é a linha que terá que ser em coro.

– É karaoke, não tem que ser perfeito.

– Eu não me engano nos karaokes. – Retrucou o outro, colocando a música a rodar.

Perfeccionista até nos karaokes”, pensou o Eren e antes que Levi pudesse continuar a “mandar” no rumo do karaoke, tomou a iniciativa de começar a música, apanhando o outro desprevenido.

I wanna sleep next to you (Quero dormir ao teu lado). – Começou o moreno com um meio sorriso ao ver que o outro se preparava para cantar aquela parte, mas parou a tempo.

But that's all I wanna do right now (Mas é tudo o que quero fazer agora). – Continuou Levi, revirando os olhos.

Eren perdeu a conta de todas as vezes que escutou aquela música. Fosse a caminho do trabalho ou mesmo quando estava deitado na cama. A letra trazia inevitavelmente a memória de Levi em todas as vezes que ouviu aquela letra e a vontade de o ter ali para dizer-lhe algumas daquelas coisas. Recordou todas as vezes em que estendeu a mão e esperava poder tocar no rosto do outro, mas tudo não passava de uma ilusão da cabeça dele. Uma miragem cruel que sempre o recordava aquilo que tinha perdido e o que poderia ter acontecido, se ele fosse diferente.

Quando se apercebeu, cantava sem ter dado atenção se era ou não a vez dele. A voz escapava da boca do moreno que foi também incapaz de desviar os olhos enquanto cantava.

 

But I wanna sleep next to you (Mas eu quero dormir ao teu lado)

And I wanna come home to you (E quero voltar para casa, para ti)

 

Como doía dizer aquilo e saber que os olhos à sua frente não acreditavam numa só palavra. A voz tremeu ligeiramente antes de continuar sem dar a vez a Levi, que parecia ter também perdido a noção de quem seria a vez de cantar os seguintes versos. Eren não permitiu que retomasse e disse mais aqueles dois versos com a voz um pouco afetada pelo que dizia.

 

I wanna hold hands with you (Quero segurar as tuas mãos)

I wanna be close to you (Quero estar perto de ti)

 

E assim que disse a última palavra daquela estrofe, Levi desviou o olhar e concluiu com a parte da canção que restava. Sorriu na direção da filha que parecia bem contente com o desempenho dos dois assim como os amigos, mas os olhos cinzentos não voltaram a olhar para Eren o resto da noite.

Num determinado momento, Farlan e Isabel foram os primeiros a ir embora e só aí viram como o tempo tinha mudado para uma chuva intensa acompanhada de vento forte. Vendo isso, Nina ofereceu a casa para que eles pudessem ficar, mas com o trabalho no dia seguinte, os dois acabaram por ir embora. Levi também teria ido embora, mas Bianca insistiu em ficar a dormir na casa da tia e Hanji disse que infelizmente também precisava de ir, devido ao trabalho no dia seguinte que não queria atrasar.

 

Reiner – Mensagem:

A esta altura, já deve ter reparado na chuva que está lá fora. Se quiser posso ir buscá-lo, caso contrário aconselho-o a ficar em casa da família Zacharias. É perigoso que saia com esse tempo, não só para si como também para a menina Bianca.

 

Levi suspirou, acabando por concordar em ficar na casa de Nina porque realmente, não queria sair com aquele tempo e conduzir com a filha no carro. Não era uma distância muito longa, mas os outros condutores conduziam como pessoas loucas, independentemente das condições meteorológicas e ignorando as regras básicas do trânsito. Além disso, Bianca parecia bem animada, pois já há algum tempo que não dormia na casa da tia.

 

Levi – Mensagem:

Vou ficar na casa da Nina e do Mike. Podes ficar descansado e só aparecer de manhã. Boa noite.

 

– Nós chamamos um táxi, Nina. – Dizia Annie, tentando convencer o casal de que os três já tinham aproveitado bastante da hospitalidade deles.

– Nós temos outro quarto. – Disse Mike.

– Não quero que saiam com este tempo. Amanhã saímos todos depois de um belo pequeno-almoço preparado por mim. – Insistiu Nina.

– Estou cansado. Vou subir com a Bia que também já devia estar na cama. – Falou Levi, recebendo palavras para uma boa noite da parte do casal que eventualmente, acabou por convencer os amigos a ficar no outro quarto.

Tornou-se evidente para o moreno que após aquele momento de karaoke, o outro nem ao menos queria fingir cortesia e por isso, ignorou-o o resto do tempo. Aquela desculpa do cansaço para se deitar sem querer permanecer mais tempo, indicava de que a ideia de ficarem debaixo do mesmo teto também não lhe agradava. Até podia imaginar que ao acordar na manhã seguinte, Levi já tivesse saído com a filha.

Deitado numa cama improvisada no quarto com Armin e Annie, o moreno não conseguia deixar de pensar que talvez tivesse afastado mais Levi.

Talvez até seja melhor assim…”, dizia a si mesmo, tentando convencer-se disso.

Entretanto no outro quarto ao fundo do corredor, o dono dos olhos cinzentos mantinha-se acordado com os olhos fixos na chuva que batia contra uma das janelas do quarto. A filha dormia deitada ao lado dele, escondendo o rosto contra o peito dele enquanto ele distraidamente passava uma das mãos nos cabelos dela.

Pensava que era capaz de lidar com isto de o ter por perto, mas ele não tem o direito de olhar para mim daquela forma, nem dizer aquelas coisas quando tudo o que sempre fez, foi mentir-me nos piores momentos”, cobriu o rosto com o outro braço, “Não tem o direito de voltar para brincar de novo até porque…”, desviou o braço dos olhos.

– Não sou tão ingénuo como antes e se quer aprender isso às custas dele, então que assim seja. – Murmurou.

Na manhã seguinte, quando acordou de uma noite mal dormida, Levi olhou para as horas no relógio que tinha deixado pousado sobre a mesinha de cabeceira. A filha ainda dormia profundamente e beijou os cabelos negros, antes de deixar a cama e desistir de continuar a tentar dormir. Iria preparar qualquer coisa para comer e chamaria o Reiner em seguida para voltarem a casa.

Todavia, a ironia do destino não deixava de se fazer notar e por isso, assim que entrou na cozinha encontrou Eren a beber café e este também parecia surpreendido por vê-lo ali.

– Espero que não tenhas feito de propósito para estar aqui tão cedo. – Falou Levi incapaz de esconder uma certa aversão por ter encontrado o moreno ali.

– Achas que me levantei cedo por tua causa? – Questionou perplexo.

– Que eu me lembre não tens o hábito de levantar cedo. – Apontou o homem de olhos cinzentos.

– Nunca gostei, mas como deves saber, tive que trabalhar e isso fez com que os meus hábitos tenham mudado um pouco quanto às horas de sair da cama. – Respondeu Eren. – Portanto, não, não fiz de propósito para te encontrar agora de manhã.

Levi foi até à cesta de frutas de onde retirou uma maçã vermelha que começou a comer em silêncio. A última coisa que queria era ter encontrado a razão para ter dormido mal de noite. Estava tão frustrado com as próprias reações que não conseguia controlar, que estava a ser mais desagradável do que tencionava. Mas o que devia fazer? Fingir que estava tudo bem? Que o outro não teve o descaramento de tentar fazer uma declaração através de uma música? Ele não conseguia fingir que nada tinha acontecido.

– Menos mal que o teu amigo Farlan não deixou que abrisse o presente da Hanji na frente de todos. – Começou Eren.

Um de nós sempre foi melhor a fingir que está tudo bem”, concluiu Levi com uma certa amargura.

– Ninguém no seu juízo perfeito abre os presentes da Hanji em público sem receio de passar vergonha. – Comentou, decidido a não dar o braço a torcer e ver até onde o moreno iria com aquela conversa.

– Pois, mas não sei o que é mais surpreendente, o facto de eu não entender o presente ou ela ter-me dado o presente quando é óbvio que me odeia. – Bebeu mais um pouco de café.

– Não sabes o que ela te deu? – Perguntou Levi, deixando-se levar pela curiosidade, mas um pouco cético quanto àquela afirmação. – São sempre brinquedos de uma sexshop qualquer, onde ela tem todos os cartões de desconto por motivos que desconheço.

– Eu percebi que era um brinquedo desses, só não percebo que tipo brinquedo é.

Continuando a comer a maçã, fez um ar pensativo.

– É assim tão estranho? Nunca viste antes?

– Tinha uma cauda de gato e… – Fez um ar igualmente pensativo. – Não abri totalmente a caixa, mas acho que na lateral, dizia qualquer coisa como butt plug.

Levi parou para olhar para Eren antes de dar mais uma dentada na maçã que estava quase acabada e arqueando uma sobrancelha, perguntou:

– E tu não sabes o que é?

– Se soubesse, não teria começado esta conversa. – Acabou de beber o café e lavou a caneca.

O outro sentiu vontade de rir, abanando a cabeça e foi até ao caixote do lixo, deitar o que sobrava do fruto vermelho fora.

– É exatamente o que diz o nome. A cauda é só mais uma característica de fetiche, mas tirando as dimensões um pouco mais reduzidas, vai entrar no mesmo sítio que outro brinquedo que tu já deves conhecer. – Comentou, passando ao lado do moreno. – Quando usares, mia. Há quem goste.

Eren quase por impulso colocou a mão sobre o ombro de Levi que parou. Porém, antes que este olhasse para o moreno para dizer que tirasse a mão dele, ouviu bem perto da sua orelha a tentativa do outro de miar. Tinha sido tão inesperado que sentiu a pele arrepiar-se e o rosto um pouco quente. Não deve ter sido nada tão visível, mas o moreno de olhos verdes estava próximo para notar essa reação e sorriu.

Irritado com a própria reação e a atitude de Eren, agarrou os colarinhos da camisa azul escura, empurrando o moreno até uma das paredes. De olhos fixos no ar abismado do outro, Levi disse:

– Posso saber o que estás a fazer?

– Era uma brincadeira.

– Como tudo o que sempre fizeste na tua vida. – Retrucou. – Portanto, não quero que voltes a repetir o que fizeste a noite passada.

– Cantar?

– Não te faças de inocente, Jaeger.

– Não estou a fazer-me de inocente, mas tu também estás a fazer-te de desentendido ou pensas que não reparo na respiração que tens cada mais agitada por estar assim perto de mim. – Provocou Eren e esperava que isso voltasse a colocar distância entre eles, mas tal não aconteceu.

– Então é isso? – Quis saber Levi, colocando uma das mãos no queixo do moreno para manterem os olhos fixos um no outro. – Estás à espera que satisfaça alguma frustração sexual da tua parte? Recorrer a romance para ter sexo, não parece ser uma coisa tua. – Passou o dedo indicador no lábio inferior do outro.

– Não… – Queria negar aquela acusação, mas a proximidade e o dedo a passar no lábio dele estavam a distraí-lo e a colocar um rubor no rosto dele.

– Continuas interessado no físico, como sempre. – Murmurou, escolhendo passar o dedo indicador e arrepiou-se, quando o moreno mordeu de leve e passou a língua. – Há coisas que não mudam.

Quando Levi entrou na cozinha, apanhando-o de surpresa, aquele não era o rumo que tinha previsto. Esperava uma conversa um pouco menos tensa, mas o outro nem sequer escondeu que não estava contente em vê-lo. Portanto, para não deixar escapar aquela oportunidade de pôr as coisas em pratos limpos, manteve-o na cozinha com aquela conversa acerca do presente estranho da Hanji. Só que repentinamente, perdeu o controlo dos acontecimentos quando Levi o empurrou contra a parede e manteve-se a falar bem perto dele. A intenção deveria ser ameaçadora, mas perante os olhos verdes aquilo soava só como provocação e por isso, não resistiu aos dedos tão próximos da boca e mordeu, deixou a língua tocar neles.

Por momentos, pensou que o outro fosse distanciar-se, mas em vez disso após observá-lo por alguns instantes sem se mover, em seguida empurrou os dedos para dentro da boca dele. O clima tenso estava a transformar-se em algo que o queimava por dentro enquanto lambuzava os dedos de saliva diante dos orbes cinzentos. Havia luxúria neles.

Tenho que parar... tenho que parar… puta que pariu, ele continua tão atraente com estes olhos repletos de desejo fixos em mim. Gostava de o ter de joelhos, mas assim… assim cedo ao jogo dele e isso é algo que não vai acontecer”, Levi retirou os dedos da boca do moreno e puxou-o novamente pelos colarinhos, desta vez para ficarem à mesma altura.

Agora era o momento em que o deixaria com aquele rubor atraente e respiração errática, sozinho naquela cozinha. Levi queria fazer isso. Devia dizer-lhe que estava a controlar a situação, devia dizer-lhe que nada voltaria a acontecer entre eles e no entanto, estava tão próximo daquela boca. Como se o corpo queimasse na presença dele e queria quebrar aquilo que os separava. Aqueles lábios provocantes que queria contra os dele estavam tão próximos, que começava a nublar o certo ou errado daquela situação.

Subitamente, o som de passos nas escadas fizeram com que o bom senso regressasse à sua mente e Levi distanciou-se com rapidez. Mais um pouco. Se não ouvisse os passos de alguém que já teria acordado, podia ter cometido um erro. Podia ter-se deixado levar pela situação e isso fez com que saísse com passos rápidos da cozinha. Passou ao lado de Nina que com um ar ensonado, tentou falar na direção do amigo, mas este parecia-lhe completamente absorto nos próprios pensamentos.

– Estás aqui, Eren. Bom dia. – Cumprimentou Nina, entrando na cozinha e não fazendo qualquer comentário sobre o fato do moreno estar completamente ruborizado.

Porra… devia ter esperado mais um pouco antes de vir à cozinha, mas ouvi tudo tão silencioso que pensei que ainda estivessem todos a dormir”, pensava a mulher um pouco desapontada, “Mas parece que estava a acontecer qualquer coisa a julgar pelo aspeto dos dois. Parece que vou ter que compensá-los por isto noutra ocasião… falta saber como”.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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