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História Memórias Rasgadas - Capítulo XXXV


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos o que acompanham a fic!

Desculpem pelo atraso na atualização mas essa semana não deu mesmo. Tinha até uma oneshot planeada, mas a falta de tempo e este tempo bipolar em Portugal em que eu não sei que estação do ano estou vivendo, acabaram me deixando também um pouco doente.

Referência musical: Opening de Sailor Moon na versão de Portugal

Capítulo 35 - Capítulo XXXV


Capítulo XXXV

 

Após um momento que envolveu gemidos bem intensos, o corpo feminino perdia forças e caía sobre o parceiro. Ambos em busca de recuperar o fôlego, ambos mais uma vez saciados.

A mão masculina percorria as costas da loira a um ritmo lento e apreciado pela companheira.

– Queria passar o resto do dia aqui contigo, Armin. – Murmurou a loira, deitada sobre o corpo do namorado.

– É uma ideia tentadora, mas tenho que sair e acho que já vou chegar uns minutos atrasados. – Dizia, acariciando os fios loiros e desalinhados.

– Mas valeu a pena? – Perguntou, erguendo o rosto para poder ver o rosto do médico.

– Sempre vale a pena. – Beijou-a e num acordo silencioso entre os dois começaram a sair da cama. – Não sei se tenho tempo para repetir o duche.

– Queres ajuda? – Provocou a loira que acabava de encontrar o sutiã no chão.

– E chegar ainda mais atrasado? Não acho que seja uma boa ideia. – Respondeu num tom divertido enquanto retirava algumas roupas limpas e caminhava na direção da casa de banho.

Annie acabou por juntar-se ao namorado, mas deixou-o à vontade no box enquanto ela optava por encher a banheira e deitar-se na água. Ela queria relaxar e manter-se no mesmo estado em que o companheiro a tinha deixado, mas agora que a mente dela estava distante dos pensamentos luxuriosos, veio novamente à memória o pequeno-almoço com Eren pela manhã. Ele sorriu e conversava o necessário para tentar disfarçar, mas era evidente que havia qualquer coisa que o amigo não estava a contar.

– Achas que estamos a fazer bem em dar espaço ao Eren? – Teve que perguntar ao ouvir que o namorado acabava de desligar a água.

– Também reparaste, não é? – Perguntou o médico recém-formado ao sair do box de toalha na mão, enxugando o corpo. – Ele estava a fazer um esforço para manter a normalidade, mas se tu também reparaste, então há qualquer coisa de errado.

– Ele às vezes tinha estas fases em que se sentia mais em baixo, mas eu pensava que as coisas estavam a ir bem com o Levi. – Comentou Annie, olhando para o outro que começava a colocar roupa. – Será que discutiram? Será que deixar que eles se reaproximem, é mesmo o melhor para o Eren? Se as coisas não derem certo entre eles, o Levi irá ultrapassar isso de uma forma mais positiva do que o Eren. Por muito que tente dizer-nos o contrário, ele não está bem. Nunca ficou depois do que aconteceu com… o Jean. – Não conseguia dizer aquele nome sem sentir nojo.

Já de boxers e camisa vestida, Armin decidiu que não podia deixar aquela conversa para mais tarde.

– Acho que não somos os únicos a pensar que ele não está bem. Encontrei um cartão do Mike no quarto do Eren quando fui roubar um bocado do perfume dele.

– Tens que parar de fazer isso ou pelo menos comprar-lhe um perfume novo. – Disse a loira, abanando a cabeça. – E achas que ele já falou com o Mike?

– Não. Sei que não falou.

– Perguntaste? – Quis saber a loira curiosa.

– Não ao Eren. – Passou a toalha nos cabelos molhados. – Na verdade, liguei ao Mike que no início, começou com aquela coisa de confidencialidade e que mesmo que o Eren fosse lá, ele não poderia falar sobre isso. Confidencialidade entre paciente e médico.

– Mas então ele foi lá?

– Não. – Respondeu desanimado. – Aquele aviso é só uma coisa que o Mike tem que deixar claro e até me ofereci para ajudar a pagar as consultas, se esse fosse o problema.

– Mas ele simplesmente não quer ir lá, não é?

– Até ao momento, o Eren ainda não disse nada ao Mike ou sequer apareceu lá. Não acho que ele seja consciente do quanto precisa de falar com um especialista. – Armin suspirou. – Sei que se tentarmos tocar no assunto, a reação dele pode não ser a melhor. Sinceramente, não sei o que devemos fazer. Não o podemos obrigar a ir.

– Mas penso que é o nosso dever como amigos convencê-lo a procurar ajuda. – Falou Annie. – Nós tentámos fazer a nossa parte, mas não foi o suficiente, não é suficiente e eu não quero que… eu não quero que ele viva o resto da vida a pensar que tudo o que tem que fazer é fingir que está tudo bem só para não nos preocuparmos com ele.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Eren observava a menina de cabelos negros ao seu lado que movimentava as pernas e as mãos, indicando que apesar da última experiência positiva, Bianca continuava a mostrar sinais de nervosismo. Ela esteve animada a manhã toda enquanto brincavam em casa, mas o moreno sugeriu que saíssem de tarde até ao parque e ainda que tenha recebido uma aprovação da parte da menina, esta continuava a não ser capaz de esconder a ansiedade que sentia.

Naquele dia, Bianca levava um laço azul que prendia os cabelos dela num rabo-de-cavalo, um top vermelho com várias estrelas brancas e umas letras também dessa cor que diziam “Free to Sparkle”. Os calções azuis com um laço na frente, faziam com o que o conjunto terminasse com umas pequenas sandálias que se dividiam entre o vermelho e azul.

Quando a viu logo de manhã, Eren elogiou como sempre as roupas que não podia evitar como sempre a deixavam com um ar bem adorável. E se não recebesse um elogio, a própria não perdia a oportunidade de questionar o moreno sobre o que achava, pois segundo Bianca, ela tinha roupas bonitas porque Farlan ajudou a decorar várias delas.

– Achas que hoje os meninos também vão querer brincar comigo? – Perguntou, apertando o tablet contra o peito.

– Claro. – Assegurou Eren. – Um está garantido, aliás dois. O Eduardo disse que ia estar lá com o Nelson e que trazia uma surpresa para nós.

– Sério? – Perguntou mais animada. – Sabes o que é?

– Não, ele só disse que era uma surpresa e que contava connosco para não deixar o Nelson comer nada estranho. – Disse um pouco divertido.

– Por que é que o Nelson come coisas estranhas, Eren?

– Porque é um retard… ah. – Parou a meio da frase, apercebendo-se que quase repetia uma das palavras que Eduardo lhe dizia nas mensagens, mas que não seria correto dizer isso na frente de Bianca. – Porque tem uns… gostos especiais? Não tem a noção do perigo? Nós temos o que ajudar a entender que isso não se faz, pode ser? Vais ajudar-me a mim e ao Eduardo?

– Claro e tu também vais ficar mais contente, Eren? – Perguntou Bianca, surpreendendo o moreno. – Tem dias que pareces mais triste. Hoje o Kuro não saía do teu colo e ele nunca sai quando quer mimos ou quer dar mimos.

Eren sorriu ao recordar-se da forma como Kuro basicamente passou a manhã toda no colo dele e só tentou arranhá-lo quando Eren tentou tirá-lo porque precisava de ir à casa de banho. Ele também queria ter abraçado o animal, mas não quis testar mais a sorte e por isso, já se sentiu bastante feliz por ter o gato a ronronar no colo dele.

Isso deixou-o com disposição suficiente para decidir que fossem ao parque de tarde em vez de optar por ficar só em casa. Dessa forma, também esperava que Bianca se habituasse a brincar com outras crianças.

– É verdade, mas graças a ele e a ti já estou a sentir-me bem melhor. – Assegurou Eren com um sorriso e viu a menina passar a mão no ecrã do tablet.

– Vamos cantar, Eren?

– Podemos cantar. – Disse apanhado um pouco de surpresa. – Alguma abertura de Fairy Tail ou outro anime que eu conheça? – Perguntou, pedindo em silêncio que fosse algum que conhecesse. Se bem que depois das várias sessões com Armin e Annie, dificilmente encontraria algum desconhecido até porque a criança não tinha vivido o suficiente para ver tantos. Já ele não podia dizer o mesmo. As sessões de “cinema” tornaram-se um hábito e devia admitir que gostou bem mais do que admitiu aos amigos.

– Ó esse é antigo. – Comentou Eren, espreitando para o ecrã, mas satisfeito porque Annie cantou demasiadas vezes aquela música para que ele não se recordasse dela.

– Estou a ver agora com o pai. – Disse Bianca, aumentando o volume. – Também podes cantar, Berth.

O segurança deu somente uma resposta curta sobre não saber a letra da canção.

– Então aprende comigo e com o Eren. – Disse sorridente.

– Vive a vida como uma festa! – Cantou o moreno. – Sou o vento da floresta!

– Lua navegante segue o teu rumo. Vai em ti a paixão do meu destino. – Cantavam os dois ao mesmo tempo, vendo as imagens nostálgicas no ecrã. – Com o teu poder e a tiara!

Eren fez o gesto como se estivesse a atirar a tiara da cabeça e Bianca riu abertamente com ele.

– E com o meu gato Luna, vamos vencer as batalhas dessas causas esquecidas! – Continuou Eren, fazendo uma voz mais fina e a criança gargalhou outra vez. – Luna, luna conto contigo nestas lutas contra o inimigo! Monstros, sonhos são lendas ou imaginação? Luna, luna vem, lutar pelo bem!

– Tu sabes mesmo a música! – Disse Bianca ainda divertida.

– A Annie sentiria orgulho deste momento. – Falou Eren animado. – Ela cantou isto demasiadas vezes e o Armin também com algumas poses. Um dia tens que lhes pedir para cantar e dançar isto à tua frente. Acho que vais gostar.

– Vou pedir, eu não esqueço! – Disse de imediato. – Vamos cantar outra vez? Assim o Berth aprende.

– Ah… – Eren viu que o segurança não parecia interessado nesse plano. – Se calhar, cantamos outras. Assim vemos se eu também não preciso de aprender alguma.

Cantar foi a estratégia certa para eliminar a ansiedade de Bianca que mesmo após sair do carro não deixava de sorrir e cantar ao lado do moreno. Quando entraram no parque, Eren enviou uma mensagem a Eduardo, dizendo que estavam a chegar e assim como tinha dito, lá estava o outro acompanhado de Nelson e um bloco de desenho bem grande e duas caixas ao lado deles.

Nas caixas havia lápis e canetas de várias cores e isso deixou Bianca ainda mais animada com a ideia de Eduardo, que disse que tinha reparado em como ela gostava de desenhar e por isso, decidiu que era isso que fariam. Não demorou muito para que as crianças que estavam em baloiços ou outros brinquedos se quisessem aproximar e Eduardo simplesmente, espalhou mais folhas para que outros pudessem participar.

Para surpresa de Eren, Nelson veio sentar-se no colo dele e por isso, Eduardo disse que seria ele o mais próximo para salvar a vida do pequeno, caso ele decidisse comer algum lápis.

– Ele está concentrado no desenho como os outros. – Disse o moreno não conseguindo parar de rir com os comentários do outro.

– Parece que gosta de ti. – Comentou o Eduardo. – A vida dele está nas tuas mãos.

Eren arqueou uma das sobrancelhas e recebeu um puxão na t-shirt. Nelson pedia a ajuda dele para terminar o desenho. Eduardo tinha dado uma ideia para que todos fizessem um pedaço de uma história, que depois iam juntar no fim.

– O que é isso? – Perguntou o dono dos olhos verdes a Eduardo que tentava ajudar um dos meninos a desenhar.

– É um senhor de chapéu. – Respondeu Eduardo com um certo orgulho.

– Isso parece tudo menos um senhor de chapéu, mas isto não era um conto de fadas qualquer? – Perguntou com vontade de rir.

– Ó Eren, tu não tens imaginação. Isto pode ser o que tu quiseres, mas no fim eu e tu vamos contar-lhes a história que estão a fazer.

– A ideia foi tua por isso, estás por tua conta. – Apontou Eren.

– Não me abandones, Imhotep! – Disse em tom dramático.

– Talvez o nosso amor não seja assim tão eterno. – Ironizou o moreno.

– Feres o meu pobre coração. – Disse no tom falsamente dramático que acabava por fazer as crianças e também Eren rir.

O certo é que com aquela ideia, Eduardo conseguiu atrair as outras crianças apesar dos olhares pouco amigáveis de mães e baby-sitters. Elas não tinham uma boa razão para chamar as crianças de volta, dado que estavam à vista de todos só a desenhar.

Bianca não podia estar mais radiante, pois aquela era uma atividade de que gostava bastante e fazer isso com outras pessoas por perto, parecia fazê-la ainda mais feliz. Eren sorriu na direção da pequena várias vezes, vendo como tudo corria com naturalidade e eram exatamente mais experiências positivas como aquelas que fariam a pequena perder o medo de estar com meninos e meninas da idade dela.

Nelson tentou comer um dos lápis, mas Eren viu a tempo e além de explicar que era errado, decidiu dar-lhe algumas das bolachas que trouxe numa pequena mochila. O menino pareceu contentar-se com isso e enquanto desenhava, ia explicando a Eren a parte da história dele. O moreno escutava e ajudava a pintar algumas partes. Via também como Eduardo fazia o mesmo com as outras crianças e parecia ser quase natural para ele conseguir com todos se juntassem em torno dele.

Eren nunca perguntou, mas será que Eduardo teria irmãos mais novos? Explicaria a paciência e capacidade de integrar-se tão facilmente entre as crianças.

– Então, tens dois papás? – Perguntou um dos meninos com uma expressão confusa e isso chamou a atenção de Eren.

– Sim. – Respondeu Bianca, continuando a desenhar. – Agora só um. O papá Erwin está com as estrelas, mas não tenho mãe. Só papás. – Disse, parando de pintar. – Porquê?

– É estranho. – Disse outro.

– Homens não podem ter bebés. – Disse outra.

– Homens não sabem cuidar de bebés.

– E quem disse uma coisa dessas? – Interrompeu Eduardo. – As vossas mamãs, as baby-sitters que estão ali naquele canto sem fazer nada? Será que eu sou uma mulher?

Alguns riram a dizer que não.

– Então, qual é o problema? – Perguntou Eduardo. – Acho que nesta história não quero só a príncipe a salvar a princesa. Quero um príncipe a salvar outro príncipe ou uma princesa a salvar outra princesa. As meninas não acham que são fortes?

– Somos sim! – Disse uma delas.

– Então, será que também uma princesa pode salvar o príncipe? Quem me viria salvar se eu precisasse de ajuda? – Fez um ar dramático. – Pobre de mim, que não tenho quem me salve.

– Não, a gente salva-te!

– Eu vou, Edu!

– Eu também!

Ainda estava distraído a ver como Eduardo juntava quase todas as crianças em torno dele, quando Eren sentiu um toque no ombro e viu Bianca.

– Queres ir para casa, princesa?

– Não, mas… podes dar-me o tablet? Se calhar se virem, eu não sou tão estranha.

– Tu não és estranha. – Tranquilizou-a Eren. – Os pais destes meninos é que não ensinaram as coisas como deve ser.

– Os teus papás gostam de ti? – Perguntou Nelson, chamando a atenção tanto de Bianca como de Eren.

– Sim. – Respondeu Bianca.

– Gostam um do outro?

– Sim. – Confirmou novamente.

– Então, tens sorte. A mamã não tem ninguém assim. Por isso que ‘tou sempre com o Du. – Disse Nelson e Eren sorriu, passando a mão nos cabelos do menino.

– E agora estás connosco também. Tens gente que gosta de ti e essas pessoas estão aqui.

– Também gosto de ti, Eren.

O moreno sorriu.

– E eu também gosto do Edu. – Bianca disse com um sorriso. – Também tens muita sorte, Nelson.

Em seguida, Eren viu como Bianca mostrava a algumas das crianças as fotos com os pais. Mesmo os que tinham achado estranho, acabaram por ficar interessados e aproveitando esse novo clima, Eduardo reaproximou-se de Eren e Nelson.

– Fico ofendido que nenhum de vocês se tenha oferecido para salvar-me.

– Acho que já tinhas muitas pretendentes. – Comentou Eren.

– Eu salvava! – Disse Nelson.

– Sei bem que sim. – Estendeu os braços na direção do pequeno, que foi para o colo dele.

– Tens imenso jeito com as crianças. – Disse o moreno de olhos verdes. – Nunca perguntei, mas tens irmãos mais novos?

Eduardo continuou com Nelson nos braços e apesar do bom humor, o moreno notou que aquela pergunta teria algo de errado. Só que antes que pudesse dizer outra coisa qualquer, o outro sorriu e disse:

– Já tive, mas é uma conversa para uma outra ocasião, pode ser?

– Desculpa, eu não…

– Nada de errado na pergunta, aliás eu percebo. Que pessoa mentalmente sã consegue divertir-se tanto com crianças que gritam e choram por qualquer coisa? – Baixou o tom de voz. – E ainda tem paizinhos que os ensinam a ser uns homofóbicos retardados.

– Não devias dizer a palavra retardado perto deles. – Disse Eren, tentando segurar a vontade de rir. – Além disso, acho que o Nelson está a ouvir.

– O Nelson é boa gente. Nunca repete nada do que digo em casa e mesmo que dissesse, a mãe tem a cabeça ocupada com outras coisas. – Revirou os olhos. – Há uma amiga minha que se formou em educação infantil e antes disso, fazia o mesmo que nós. Eu tive que ajudá-la muitas vezes e por isso, acho que aprendi a dominar a coisa. Além disso, não sei se já reparaste mas gosto de falar com toda a gente. Até falaria ali com aquelas coisas. – Referindo-se às mães e baby-sitters que olhavam com desagrado na direção deles. – E tentei, mas elas continuam a achar que devo ser algum abusador de crianças ou coisa pior.

– Pior?

– Sim, pobre.

Desta vez, Eren não aguentou e riu alto.

– Ó meu Deus, tu um dia vais preso.

– Acredita, esse dia já esteve mais longe. – Disse Eduardo também a rir. – Se calhar, vou fazer amigos lá. Gente com sentido de humor. Ouvi falar maravilhas sobre a hora do banho, sobretudo quando cai o sabonete.

– Shh, olha as crianças. – Disse o Eren, tentando segurar o riso.

– Sou tão incompreendido. – Queixou-se no seu tom falsamente dramático e voltou-se para as crianças. – Então meninos e meninas, a história está perto do fim? Eu e o Eren vamos interpretar a história e vamos precisar da opinião de todos.

Por muito que quisesse manter-se à margem de interpretar uma história feita por crianças, Eren não teve escolha senão juntar-se a Eduardo e de alguma, fizeram com que aquilo tivesse algum sentido.

Foi uma das tardes em que o moreno de olhos verdes sentia até dor no rosto de tanto sorrir e rir. Pensando para trás, ele percebeu como há muito tempo não tinha momentos assim. Não pensou que isso pudesse acontecer rodeado de crianças, mas ali estava ele sem o julgamento de ninguém. Simplesmente a rir e a fazer rir. A pintar, a cantar e contar histórias.

Quando Eren viu as horas, teve que chamar Bianca mas ainda assim, quis ajudar Eduardo a arrumar todas as coisas.

– Eren amanhã vai haver uma festa na faculdade para comemorar o fim dos exames. – Disse o outro na direção do moreno que lhe entregava alguns dos lápis de cor. – Queres vir comigo? Apresento-te aos meus amigos. Eles estão curiosos em saber quem é que eu chamo de Imhotep.

Aquele convite apanhou o moreno desprevenido e a tentação de dizer que não era muito forte. Afinal, o hábito de ir a muitas festas no passado nunca trouxe nada de bom na vida dele. Passou a frequentar muito poucas e apenas quando era arrastado por Annie e Armin. Evitava locais em que o álcool e as ofertas fáceis estivessem ao seu alcance. Só que Eduardo não estava a falar em beberem até cair para o lado. Queria apresentá-lo aos amigos, o que também o deixava apreensivo porque não sabia qual seria a reação dos outros. Quer na frente de Eduardo, quer pelas costas.

– Eu não sei… – Murmurou.

– Fazemos assim, se concordares comigo ficamos só na primeira hora na festa a conviver um bocado e depois plano B vamos para um local mais sossegado. – Disse animado, mas ao perceber o que tinha acabado de insinuar. – Não! Espera! Não foi isso que quis dizer! Quis dizer um sítio sem música! Podemos parar na frente de uma esquadra, se desconfiares de mim e assim podes chamar a polícia.

Eren riu com o nervosismo do outro.

– Vou pensar.

– A sério, queria passar mais algum tempo a conversar e de preferência a fazer com que tenhas mais momentos em que te queixas que estás a rir demais. – Disse, coçando um pouco os cabelos. – Sei que não nos conhecemos assim tão bem para aceitares sair comigo e nem tens que sentir obrigação nenhuma. Podemos só ver-nos às vezes no metro ou aqui no parque e continuar a trocar mil e uma mensagens que nos vão levar para o inferno.

– Porquê, Eduardo?

– Huh?

– Por é que te interessa tanto que continue a rir desta forma?

– Não quero parecer intrometido e podes dizer que estou a pisar o risco, mas às vezes… – Hesitou um pouco. – Às vezes pareces muito triste e eu não gosto de ver os meus amigos assim. Não se eu puder fazer qualquer coisa. Nem que seja enviar-te mensagens insanas.

– Sou assim tão mau a disfarçar?

– Eu sou mais observador do que pensas e além disso, tenho que confessar mais uma coisa. – Disse, vendo que Bianca e Nelson estavam a ver qualquer coisa no tablet. – Tens um sorriso bonito. Devias mostrá-lo mais vezes.

Um pouco sem jeito Eren aclarou a garganta.

– Bom, acho que eu e a Bia vamos andando para casa.

– Claro, claro. – Eduardo sorriu, vendo o outro virar-lhe as costas. – Hei, Eren?

– Sim? – Olhou para trás.

– Eu também tenho um sorriso espetacular, não achas que vou fazer sucesso na prisão?

Eren riu de novo.

Era tão fácil regressar ao normal. Nada permanecia tenso ou estranho com Eduardo por perto e Eren gostava disso. Gostava da forma espontânea e simples como o outro encarava tudo. 

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Senta-te, Petra.

– Os relatórios já foram enviados para o email.

– Não quero falar dos relatórios. – Disse Levi num tom cansado. – Juro que não queria ter esta conversa, mas como estou a lidar com uma insana e uma romântica, não penso que tenha escolha. – Sentando-se na frente da secretária, suspirou. – Tu e a Hanji já conversaram?

– Eu…

– Ok, a resposta é não. – Concluiu o empresário. – Vou já esclarecer que não quero que penses que a Hanji esteve a usar-te, mas como ela não tem relacionamentos duradouros, às vezes não se expressa da melhor forma. De qualquer maneira, eu aconselho-te a ser honesta com ela sobre o que aconteceu, sobre a confusão que sentes e o que gostavas que resultasse daí. Seja continuarem como amigas ou arriscar em algo mais sério.

Petra levou as mãos ao rosto.

– Deus, tenho tanta vergonha. Não sei o que fazer ou pensar. – Retirou as mãos do rosto, olhando para o homem de cabelos negros. – Penso que ainda não falei com ela porque também não sei o que dizer, nem o que pensar sobre o que aconteceu. Nunca…

– Nunca te tinhas envolvido com uma mulher antes. – Concluiu.

– O álcool também não é o melhor conselheiro nessas alturas. – Acrescentou Petra. – E se não for nada sério? Quer dizer, imagina que estou a ver coisas onde elas não existem. Eu e ela somos bem diferentes. Ela é um génio e eu sou simplesmente uma…

– Isso para ela não significa nada. Essas coisas não separam vocês as duas. – Interrompeu Levi. – Compreendo as dúvidas e tudo mais, mas devias ser honesta com ela. A Hanji pode ser muito inteligente, mas nestas coisas, ela nunca vai saber como te sentes se não lhe disseres. Ela não vai saber se estás confusa, se queres só amizade ou algo mais. Isto que estás a dizer-me, deste desabafo devias fazê-lo na frente dela.

– Não sei se tenho coragem…

– Tens sim, Petra. Confia em mim, as coisas vão ficar menos estranhas e tensas quando falares com ela. A Hanji pode ter bastante insanidade, mas não é insensível aos sentimentos dos outros. – Sorriu um pouco. – Acontece que às vezes, ela precisa que lhe digam o que se passa realmente na nossa cabeça para que ela saiba o que fazer a seguir.

Apesar de ter tentado escapar daquela conversa, Petra teria que confessar que estava mais aliviada depois de Levi a ter praticamente obrigado a ter aquela troca de palavras. Se havia pessoa que conhecia Hanji era o melhor amigo dela por isso, a secretária concluiu que não podia estar a receber conselhos de uma pessoa melhor.

Conversaram mais alguns minutos antes que batessem na porta e um pouco curioso porque não esperava ninguém, Levi disse para entrar. Os olhos espelharam espanto, mas alegria ao ver de quem se tratava. A ruiva retribuiu o sorriso e foi até ao amigo, abraçando-o.

– Fizeram boa viagem? – Perguntou Levi, vendo que Farlan também entrava, cumprimentando Petra.

– Sim. – Confirmou o loiro. – A Isa já sentia saudades do stress do trabalho.

– Para dizer a verdade, não aguentava guardar mais esta novidade. – Disse a ruiva, dando espaço ao amigo para se olharem de frente. – Obrigada por estes dias de que precisávamos mesmo e quero fazer-te um convite.

– Um convite? – Perguntou Levi confuso e viu Farlan aproximar-se da noiva, colocando o braço sobre a cintura dela e Petra juntou as mãos com os olhos brilhantes, prevendo o que se seguiria.

– Que sejas o nosso padrinho no nosso casamento. Eu e a Isa decidimos finalmente, dar o passo no altar e com todas aquelas coisas melosas de que eu gosto e a minha ruivinha também, embora não admita. – Falou, vendo a noiva corar um pouco antes de beliscar o braço dele.

– Parabéns. – Falou Levi com um sorriso. – Fico muito feliz pelos dois e claro que aceito o convite.

– Quero a Bia como a menina das alianças mais linda de todas. – Disse Isabel devolvendo o sorriso e em seguida, recebeu um abraço de Petra.

– Muitos parabéns e felicidades para os dois!

– Obrigada! – Agradeceu a ruiva. – Também estás convidada para o casamento obviamente. – Acrescentou. – Precisamos de todas as candidatas ou candidatos possíveis para apanhar o meu buquê de flores.

Farlan piscou o olho a Levi que arqueou uma sobrancelha, antes de dizer:

– Sendo assim, convido os dois a jantar lá em casa hoje. Vou convidar a Hanji, a Nina, o Mike e ver se a Sasha e o Connie podem sair de casa com a pequena. – Pegou no telemóvel para enviar várias mensagens.

– Não vais chamar o Eren? – Perguntou Farlan mais discretamente.

– Ah, claro e também a Annie e o Armin. – Disse, continuando a escrever as mensagens.

– Há novidades sobre ti e o Eren? – Perguntou o loiro discretamente com um meio sorriso e Levi recusou-se a olhar para o amigo.

– Dispenso os sorrisinhos, Farlan. – Murmurou Levi entre os dentes.

Depois de receber várias mensagens a confirmar a presença no jantar, o empresário estranhou que precisamente Eren fosse dos poucos que não tivesse respondido. Sabia que Mike responderia mais tarde assim como Hanji que só quando desviasse a atenção do trabalho, acabaria por confirmar que também estaria lá. Isso se não acontecesse, encontrá-la antes que ela lesse a mensagem. Algo que era bem frequente.

Para poder deixar o trabalho um pouco antes para ter tempo de preparar o jantar, Levi teve que concentrar-se nas tarefas a realizar naquele dia e por isso, olhou poucas vezes para o telemóvel. A confirmação de Mike veio mais tarde e até de Hanji, mas…

 

Eren – Mensagem:

Hoje preciso ir para casa, mas divirtam-se :)

Assim que sair, envio SMS ao Farlan para lhe dar os parabéns.

 

Levi – Mensagem:

Ainda vais estar aí quando chegar a casa?

Sei que tenho pedido que fiques muitas vezes depois do trabalho :/

Mas é só um jantar para comemorar. A Nina também vai estar lá.

 

Eren – Mensagem:

Saio depois de chegares a casa e não te preocupes.

Quando fico em tua casa depois do trabalho, não fico a trabalhar e sim a ver séries ;)

O convívio fica para uma próxima.

 

Levi resolveu não insistir mais, pelo menos não por mensagens e esperou até chegar a casa. Porém, assim como tinha dito, assim que o empresário chegou, o moreno saiu pouco depois e já com Hanji e Petra por perto, esta última ainda com receio de ficar a sós com a investigadora, ele não teve oportunidade de falar muito com Eren. Nem chegou a trocar muitas palavras uma vez que Bianca também estava bastante entusiasmada a contar-lhe as novidades daquele dia. Pelos vistos, regressaram ao parque e além de outras crianças, o nome de Eduardo repetiu-se novamente.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

O moreno tinha pensado em ir para casa e passar a noite na companhia dos amigos. Não tinha previsto o regresso de Farlan e Isabel com a novidade acerca do casamento. Ele ficava feliz por eles e acreditava que sobretudo da parte do loiro tivesse existido um convite, mas apesar do dia divertido, não queria mais nada a não ser ficar por algum tempo sozinho. Também não queria arriscar a sensação de sentir-se deslocado daquela comemoração. Desejava-lhes felicidade, mas não se sentia parte dela para que isso lhe desse o direito de estar lá, apenas por cortesia. Mesmo que todos pudessem conversar, rir com ele, Eren sabia que viria de novo aquela sensação de não pertencer aquele grupo de amigos e família que se construiu ao longo dos anos e parecia tão feliz.

Não queria ter que explicar porque queria sair e por que razão os sorrisos ficariam mais forçados. Não queria ter que explicar aquela sensação de sentir-se um invasor num meio que viveu muito bem sem a presença dele.

Por não querer dar satisfações acerca disso, também não voltou para casa assim que saiu da residência de Levi e Bianca. Sabia que Armin e Annie dificilmente aceitariam uma resposta negativa e por isso, assim que saiu, entrou no metro ao acaso. De telemóvel na mão pesquisou alguns locais de preços acessíveis e discretos para poder comer qualquer coisa e depois pensaria no que fazer a seguir.

Com efeito durante o jantar num pequeno café que ainda assim, não escondia as luzes e luxo de Sina no exterior, Eren viu as várias mensagens dos amigos. Respondeu somente uma vez para dizer que estava bem, mas que tinha outros planos e por isso, não estaria presente no jantar.

– O que é que queres, Thomas? – Perguntou num tom cansado ao optar por atender aquela chamada. – Não achas que chega de mensagens e chamadas?

– Só quero falar contigo.

– Para quê? Nós não podemos ser só amigos porque tu não és capaz de manter uma conversa normal por mais de dois minutos. – Disse, levantando-se da mesa depois de deixar o dinheiro sobre a mesa e sem vontade que curiosos ouvissem a troca de palavras dele ao telemóvel.

– É difícil para mim esquecer-te, Eren.

– Vês? A tua segunda frase e eu já tenho vontade de desligar. – Saiu do pequeno café rumo à estação de metro.

Provavelmente, a Annie e o Armin ainda estão no jantar. Não quero continuar a andar por esta cidade, onde parece que se lembram de mim sempre pelas piores razões”.

– Desculpa, mas é mais forte do que eu e apesar de dizeres que não tens tempo para mim, a verdade é que até jantaste sozinho e podias-me ter chamado. – Ouvir Thomas dizer isso, fez com que parasse de andar subitamente. – Eu gostava de poder ter feito companhia.

– Como é que tu sabes que eu jantei sozinho? – Perguntou, olhando para trás e também para os lados, sentindo o coração quase sair-lhe pela boca com a possibilidade de estar a ser vigiado.

– Só te vi entrar para o café, mas não fiquei. Vês? Respeitei o teu espaço, mas estava à espera que me chamasses.

– Onde é que estás? – Perguntou o moreno.

– Queres que vá ao teu encontro? – Questionou o outro animado.

– Não! Deixa-me em paz, Thomas! – Falou mais alto antes de colocar o telemóvel no bolso e correr até à estação de metro.

Eren não conseguia deixar de pensar que o outro podia estar a persegui-lo como fez, logo que terminaram a relação que os dois tiveram no passado. Foi necessário ameaçá-lo com a polícia para só aparecer de vez em quando e parar com o número perturbador de chamadas e mensagens.

Não queria passar por isso de novo. Chegaram a dizer-lhe na polícia que possivelmente, ele fizesse algo de propósito para atrair esse tipo de pessoas. Sim, os agentes da autoridade riram na cara dele. Fizeram o trabalho deles, mas não sem antes rir e ele não queria passar por isso de novo.

Assim que chegou à estação, Eren entrou no primeiro metro que viu parado. Àquela hora não havia muita gente, mas as poucas que havia, olharam de lado para o moreno que ofegava. Porém, logo optaram por ignorá-lo enquanto Eren tentava acalmar-se e notou que o telemóvel vibrava no bolso dele. Thomas não sabia quando parar e cada vez mais irritado e com receio de o encontrar no metro ou a caminho de casa, resolveu atender.

– Eu juro, Thomas se te vejo aqui ou perto de casa, vais perder os dentes!

– Hum… ah, Eren? Está tudo bem?

Seguiu-se uma pausa.

– Eduardo? – Perguntou.

– Sim, ah… tinha uma mensagem tua e depois uma chamada que não tive tempo de atender porque estava a dormir. – Explicou.

Sim, ele tinha enviado uma mensagem pela qual se recriminou em seguida porque Eduardo tinha-lhe dito que ia aproveitar o resto do dia para dormir e finalmente, ter o descanso merecido depois de semanas de estudo. Contudo, quando pensou que precisava de uma distração, Eren acabou por enviar aquela mensagem por impulso para pouco depois recordar-se que não devia e como não teve resposta, concluiu que felizmente não teria acordado o estudante de medicina dentária.

– Desculpa… devo ter feito a ligação por engano. Não devo ter bloqueado o telemóvel e… desculpa, sei que precisas de descansar.

– Não há problema, mas precisas de alguma coisa? Ainda pareces agitado e nervoso. Queres que te vá buscar a algum sítio? Que te leve um copo de água? Um chocolate?

Eren sorriu um pouco.

– Não, obrigado. Vou ficar calmo… estou a ir para casa, podes voltar para a cama.

– Para o sofá, queres tu dizer. Cheguei a casa e fiquei aqui. – Ouviu o outro bocejar. – Se tens a certeza que estás bem, eu vou tentar ficar mais descansado. Não devo mesmo preocupar-me com esse… Thomas?

– Não. – Murmurou. – Apenas um ex-namorado insistente.

– Hum… fazemos assim, se ele aparecer, tu dizes-me onde e eu apareço vestido de mulher e seduzo-o.

O moreno riu.

– Como é que te lembras de dizer essas coisas?

– Resultou, certo?

– Os meus amigos ficam pelas ameaças de morte e tu dizes que te vais vestir de mulher? De onde será que tu saíste?

– De um sítio bem divertido como podes imaginar. – Respondeu. – Podemos ficar a falar até chegares a casa? Só para eu ficar descansado, ok? E contactar a CIA e o FBI, caso precises.

– Obrigado, mas acho que…

– Não estás a incomodar e eu vou dormir melhor depois de saber que estás em casa a ressonar e a babar sobre a almofada.

– Eu não ressono. – Apontou Eren, optando por sentar-se e deixar escapar um suspiro de alívio.

– Não há argumentos relativamente à baba? – Perguntou o outro divertido.

O moreno revirou os olhos, mas à medida que iam conversando, sentiu-se mais relaxado. Portanto, mesmo que tivesse sido por engano, ele estava contente por Eduardo ter decidido ligar e assegurar-se que estava tudo bem. Além disso, o outro não pediu explicações de nada quando percebeu que Eren não queria falar exatamente do que tinha acontecido.

Quando estava a ver a própria casa, o dono dos olhos verdes disse que Eduardo podia voltar a dormir. Despediram-se e já bem mais calmo, caminhou na direção da porta. Porém assim que estava a poucos metros da porta, ouviu passos e sentiu-se gelar. Parou de andar e susteve a respiração. Será que Thomas o teria seguido até casa? Não seria a primeira vez. Ele fez isso muitas vezes no passado. Todos os comportamentos estranhos surgiram sobretudo após o fim do relacionamento e comprovaram a teoria de que nem toda a gente mostra as suas verdadeiras cores.

– Eren?

Ao reconhecer a voz, veio um suspiro de alívio enquanto se virava na direção de quem tinha falado. Não, não era o Thomas. Era uma pessoa que não esperava ver ali, mas mil vezes a presença dele do que o loiro.

– O que estás a fazer aqui?

– Saí do jantar por alguns momentos para convencer-te a vir comigo, mas quando cheguei, as luzes estavam todas apagadas e deduzi que não estivesses em casa. Tentei ligar, mas dava sempre ocupado. – Explicou.

– Sim, eu estava a falar com o Eduardo. – Voltou-se para a direção da porta, abrindo-a. – Não devias ter vindo até aqui, Levi. Não vais convencer-me. Só quero ir para a cama e dormir.

– Estou preocupado, Eren. – Admitiu o outro. – A Bia disse-me que estiveste bem durante a tarde, mas… escuta, será que podes olhar para mim enquanto falo?

O moreno olhou para o outro.

– Por favor, não insistas. Quero mesmo deitar-me e descansar. Não quero…

– Sentir como se não pertencesses àquele convívio? – Deduziu e ao ver alguma surpresa nos olhos verdes, o empresário sorriu com alguma tristeza. – Não devias surpreender-te, Eren. Quantas vezes pensas que tive esse tipo de pensamentos? Quantas vezes achas que convenci-me que a minha presença provavelmente iria estragar tudo? Que eu não pertencia a um meio onde os outros eram felizes. Tudo isso são coisas bastante familiares e essa é a razão para não te obrigar a acompanhar-me. Não o fizeram comigo e eu não vou fazer isso contigo. Às vezes sim, vou convidar-te, mas quero que venhas por iniciativa própria e não porque te querem obrigar. – Aproximou-se do moreno que tinha desviado o olhar. – Eren… – Colocou as duas mãos no rosto do moreno. – Gostava de poder ajudar, gostava que me deixasses e se por alguma razão, não consegues aceitar ajuda da minha parte, peço-te que deixes alguém estender-te a mão. Não feches todas as portas que te vão mostrar. Arrisca, Eren. Mesmo que não acredites como eu não acreditava antes, faz como eu e arrisca. Agarra uma das mãos que vão na tua direção. Uma delas é suficiente. Se não for a minha, arrisca a de outra pessoa e quando não te sentires culpado, eu vou continuar aqui para o que precisares. Talvez seja porque tu e eu temos um passado, que seja mais difícil para ti aceitar ajuda da minha parte, então o único que te peço é que numa dessas mãos que se estendem na tua direção, agarres uma delas. És persistente, és um lutador, não desistas sem esgotar todas as possibilidades. Aliás, só está na nossa cabeça que as possibilidades se esgotam porque na realidade, elas são infinitas e espero que um dia possas ver o mesmo que eu. Consigas ver um mundo onde temos tanto por onde escolher, tantas portas para abrir… arrisca numa delas. Só uma delas pode mudar tudo. Só uma dessas oportunidades pode ser o início para mudar tudo. Eu não acreditava, Eren mas é real.

– Eu queria… eu queria acreditar… – Murmurou, deixando cair uma lágrima.

– Então da próxima vez que vier a tentação de dizer que não, de fugir, de ter medo, passa por cima disso e arrisca. – Afagou o rosto do moreno.

Os olhos verdes fecharam, deixando escapar um suspiro.

– Sei que é um pedido egoísta, mas será que podes ficar mais um pouco antes de voltares para a festa em tua casa?

– Tens direito a pedidos egoístas. – Levi sorriu, distanciando-se um pouco e pegou no telemóvel para enviar mais uma mensagem para avisar que demoraria um pouco em regressar a casa. – Fico o tempo que precisares. 

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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