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História Memórias Rasgadas - Capítulo XXXVII


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham a fic!

Capítulo 37 - Capítulo XXXVII


Capítulo XXXVII

 

– Ah… – Outro gemido que tentava abafar contra a almofada. As mãos amassavam os lençóis desorganizados da cama que rangia com os movimentos cada vez mais fortes. As pernas tremiam devido ao cansaço e também pelos sinais de um clímax cada vez mais próximo. Os braços já tinham perdido as forças e por isso, mal podia dizer que estava apoiado sobre os cotovelos.

As mãos fortes prendiam a cintura dele sem deslizarem, apesar do suor que havia nos corpos que unidos caminhavam rumo a um orgasmo cada vez mais eminente. O choque entre os dois ecoava pelo quarto juntamente com os gemidos e grunhidos de ambos e o primeiro em quebrar, era o que gemeu alto contra a almofada, sentindo o corpo todo estremecer. O companheiro não tardou em partilhar da mesma sensação e exaustos, os dois ouviram durante longos momentos somente as respirações agitadas um do outro.

Depois um deles levantou-se, deitando no lixo entre outras coisas, a embalagem de lubrificante vazia. Feito isso, juntou-se novamente ao companheiro ainda exausto que tinha a cabeça deitada na almofada e que observava os movimentos, tentando não cair do sono antes do retorno do outro.

– Devíamos pedir que os nossos dias de folga coincidam mais vezes. – Comentou o loiro, passando a mão nos cabelos escuros do outro.

– És tu quem não gosta de largar o trabalho. – Ripostou o outro.

– Hum, outra vez com ciúmes do meu trabalho, Berth? – Brincou, beijando o rosto dele.

– Não deixa de ser mentira que sou eu quem às vezes, tem que fazer um esforço extra para que estejas comigo.

– Eu sei… desculpa, mas já te expliquei antes que não é só uma promessa que fiz ao meu outro patrão, eu realmente não quero correr o risco de que nada aconteça com o Levi ou a Bianca. – Disse, trazendo a cabeça do outro para que se apoiasse no peito dele.

– À exceção dos jornalistas intrometidos não vejo muita razão para tanta preocupação. – Argumentou Bertholdt.

– Não estás connosco há tanto tempo, mas devias ser consciente que a família Smith tendo o poder económico e de estatuto que tem, coleciona tanto admiradores como invejosos e nesse segundo grupo, há sempre alguém que se pode tornar um problema. – Explicou Reiner e viu o outro erguer o rosto para olhar para ele.

– Em momentos como este, fico a pensar que não me estás a contar tudo.

– Por que razão pensas uma coisa dessas?

– Pensei que confiasses mais em mim, Reiner. Se fosses um pouco mais honesto comigo, quem sabe também pudesse fazer um trabalho melhor ou ajudar-te mais, se for esse o caso.

O loiro sorriu um pouco antes de erguer um pouco a cabeça e beijar os lábios do outro.

– Tens feito um excelente trabalho. Não precisas de te preocupar com nada. Bom, talvez…

– Talvez?

– Talvez seres menos intimidante perto do Eren. – O loiro riu. – Acho que ele pensa que tu o odeias.

– Sabes que não sou muito conversador, mas é verdade que não morro de amores por ele. – Deitou a cabeça novamente sobre o peito de Reiner.

– Também não gostava especialmente dele no início, mas isso é porque não vou com a cara da família Jaeger em geral. Só que ele tem mostrado ser gente boa, a Bianca gosta dele, o patrão também. – Sorriu. – Até mesmo a Dra. Zoe não me tem pedido mais para manter os olhos abertos com ele por perto.

– Hum, não faço promessas mas vou tentar ser menos desagradável quando ele estiver por perto.

– Não muito porque não quero que ele veja em ti o mesmo que eu.

Bertholdt revirou os olhos.

– Fica descansado. – Respondeu, abanando a cabeça.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Um erro. Sei que era errado e mesmo assim….”, bateu com uma das mãos no ecrã e o segurança que conduzia o carro ao seu lado, olhou de soslaio e optou pelo silêncio.

Gunther notou que o dono da Survey Corporation parecia alterado por alguma razão e apesar de sempre educado e de ambos manterem conversas durante as pequenas viagens que realizavam, o segurança não se sentia com intimidade suficiente para interferir nos problemas pessoais que o patrão pudesse ter.

No entanto, não deixava de refletir sobre qual poderia ser a razão, dado que as sextas-feiras eram por norma, dias em que Levi estava ainda de melhor humor. Isso acontecia porque eram aqueles dois dias em que ele poderia passar com a filha por perto e não era segredo para ninguém como ele adorava a Bianca. Aliás, esse motivo era um dos temas de conversa que os dois normalmente tinham. Só que naquele momento Gunther não pensava que mesmo isso pudesse servir como um bom tema de conversa. Concluiu que se calhar o melhor naquele momento, fosse deixar Levi com os seus próprios pensamentos.

Pese embora o mau humor, assim que chegaram à residência Smith, o homem de cabelos negros agradeceu a Gunther mais uma vez pelo trabalho.

Para Levi era uma sexta-feira rara no seu calendário, pois além de saber que não teria muito trabalho para levar para casa e interromper momentos do fim de semana, também era uma daquelas sextas-feiras atípicas em que tinha saído mais cedo. Não exatamente porque devia ter saído cedo, mas porque sentiu que não podia continuar lá. Precisava sair, refrescar um pouco as ideias e ver a família, a filha que nunca falhava em melhorar o dia fosse qual fosse a circunstância.

Contudo, mal entrou em casa, estranhou o silêncio. Mesmo que tivesse chegado mais cedo que o normal, àquela hora Bianca costumava já estar acordada depois da sesta da tarde. Viu alguns lápis de cor pela sala, portanto, havia sinais de que tinha estado por ali. Colocou o computador que trazia debaixo do braço sobre a mesa da sala e saiu em busca da filha ou mesmo de Eren de quem também não ouvia qualquer ruído. Chegou a encontrar o moreno algumas vezes a aproveitar que a filha estava a dormir para preparar qualquer coisa na cozinha, mas também essa parte da casa estava vazia.

Procurou na outra divisão mais óbvia que seria o quarto usado sobretudo para brinquedos, mas não havia sinal. Pensou em subir até à área dos quartos, mas reparou que a porta de acesso ao jardim na parte detrás da casa estava aberta.

Estão lá fora?”, questionou, estranhando ainda assim o silêncio.

Não teve que dar muitos passos até ver que perto da piscina, numa parte com sombra, estava Eren deitado com uma das mãos na água e Bianca dormia sobre ele com um chapéu a tapar o rosto dela e também uma pequena toalha. Os dois deviam ter estado na piscina e perdido a noção do tempo, daí que a pequena estivesse a dormir a uma hora diferente do habitual.

Um pouco dividido sobre se devia ou não acordar os dois, Levi entendeu que o melhor seria que os dois se quisessem dormir, que o fizessem num local mais adequado.

– Bia, é o pai. – Disse, tocando no ombro da filha e desviou o chapéu do rosto dela.

Os olhos azuis começaram a aparecer por detrás das pálpebras ao mesmo tempo que Eren notou algum movimento da criança e também começou a acordar.

– Que horas são? – Perguntou o moreno um pouco desorientado.

– Horas em que não esperava ver os dois a dormir. – Respondeu Levi que então viu um sorriso rasgado da pequena que depressa procurou o colo do pai. – Estás um pouco fria nos braços. É melhor irmos para dentro, princesa.

– Mas estava calor e eu e o Eren brincámos muito na água. – Disse, bocejando um pouco.

– Sim, mas o pai não quer que fiques doente. – Colocou a toalha sobre ela e olhando para Eren que via o resultado de ter adormecido com uma das mãos dentro de água. – Não achas que hoje não era um bom dia para a piscina?

– Huh? – Ainda estava meio ensonado. – Estava calor e ela insistiu…

– Para a próxima vez, prefiro que perguntes.

– Foste tu que disseste que não precisava estar sempre a perguntar sobre estas coisas. – Retrucou o moreno. – Nem estivemos assim tanto tempo na água e eu tive cuidado com o protetor solar, com o tempo que estávamos ao sol ou na água.

– Seja como for daqui em diante, prefiro que perguntes. – Respondeu, caminhando com a filha nos braços até entrar em casa.

– O Eren não tem culpa, pai. Fui eu que pedi muito. – Disse Bianca. – Estás chateado comigo?

– Não.

– E com o Eren?

– Também não. – Respondeu, levando-a para o quarto para trocar de roupa.

Ao fim de alguns minutos, os dois regressaram e Eren já não estava só de calções, mas também já tinha voltado a vestir uma t-shirt de cor escura com duas listras amarelas na vertical. O moreno dedicou o tempo em que pai e filha estiveram ausentes para fazer um pequeno lanche.

Durante aqueles minutos em que esteve com Bianca, Levi chegou à conclusão que talvez tivesse sido mesmo um pouco mal-humorado demais na direção de Eren. Daí que tenha decidido conversar com ele e para tal, deixou a filha a comer na cozinha enquanto via algum desenho animado no tablet e pediu ao moreno que saísse com ele para o jardim.

– Desculpa se pareci um bocado brusco há bocado, mas…

– Mau dia no trabalho? – Deduziu Eren.

– A sério, eu prefiro não falar do assunto. – Disse Levi com um tom cansado.

– Não eras tu que dizias que falar sobre os problemas ajuda? – Ironizou o moreno.

– Aparentemente isso não se aplica entre nós os dois. – Respondeu num tom mais seco do que pretendia.

– Era uma piada. – Disse Eren. – E o que é que queres dizer com isso de não se aplica entre nós?

– Vais ficar cá hoje para vermos alguma coisa? – Perguntou, tentando mudar de assunto.

– Não estás a responder à minha pergunta.

– Tu também não. Tens alguma coisa combinada? – Questionou. – Talvez com outra pessoa.

– O que é que se passa? – Perguntou Eren cada vez mais confuso. – Achas que eu tenho que responder às tuas perguntas, mas tu não queres contar o que aconteceu. Se calhar, eu não posso ajudar ou nem dizer nada que te faça sentir melhor, mas eu gostava de… – Fez uma pausa. – Eu gosto tanto de ti que não quero ver-te assim.

– Pára, não digas isso! – Falou um pouco mais alto.

– Levi?

– Não quero ouvir. Acredita é um péssimo dia para…

– Será por que alguém te disse algo parecido e agora estás com algum peso na consciência?

O tom acusatório tinha sido repentino e a expressão de Eren não melhorou ao ver como ele olhava para ele. A razão era simples, não devia ter sido capaz de disfarçar a surpresa. Como é que o dono dos olhos verdes tinha chegado àquela conclusão? Como é que podia saber? Quer dizer, talvez na ideia dele aquilo fosse pior do que pensava.

– Espera não é o que estás a pensar.

– Não? A tua cara diz outra história, Levi. – Respondeu e virou as costas, passando a mão pelos cabelos. – Sou um idiota, não é? Tu disseste-me que aquela história com o Tiago tinha terminado e eu como otário, acreditei.

– E acabou, Eren.

– Não, não acabou se bem que pensando bem, tu não me deves justificações de nada. Afinal, tu sempre deixaste bem claro que não sentias o mesmo que eu e que eu sou o único a fazer esta figura de palhaço a declarar-me!

– Não, Eren. Não penso isso e nem estou a pisar nos teus sentimentos, mas também não posso ser injusto com ele. Isto também não é fácil para mim que estou no meio desta merda!

– Estar no meio dos sentimentos dos outros é uma merda, não é? Pensei que depois do que aconteceu entre nós… essa coisa de ter sexo sem compromisso não funciona muito bem, pois não? Eu posso ter muitos defeitos, Levi mas aprendi isso, mas tu… – Olhou-o de cima abaixo. – Caíste no erro de novo e agora queres que simplesmente, faça o quê? Tenha pena? Te dê apoio porque tu não aprendes? Eu não pensei que fosse dizer isto, mas sinceramente se alguém me dá pena nessa história, é o Tiago. – Virou as costas e foi na direção do portão.

– Espera, Eren!

– Bom fim de semana, não te preocupes não vou virar as costas em definitivo. A Bianca não tem culpa e eu aprendi a ser responsável para não deixar um trabalho assim sem mais nem menos. Fora isso não venhas falar comigo ou encher-me de esperanças quando tu não sabes o que queres.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Eren – Mensagem:

Sei que deves ter planos mais emocionantes de sexta à noite

Mas será que podemos sair para um café?

 

Eduardo – Mensagem:

Meu Deus egípcio <3

Hei, iria tomar todos os cafés que quisesses, mas estou a preparar a minha mala agora ;)

 

Eren – Mensagem:

Vais viajar? :o

 

Eduardo – Mensagem:

Viagem pequena ;)

Só o fim de semana, mas quero chegar lá hoje à noite e por isso, saio mais daqui a bocado.

Desculpa se não responder a sms e coisas assim, mas lá não há rede :/

Na verdade, queria convidar-te mas achei que agora com as consultas e tal, não quisesses sair.

 

Eren – Mensagem:

É longe de Sina?

 

Eduardo – Mensagem:

Longe deste túmulo de cores e chiquezas. É na costa :)

Estás a pensar em vir? *-*

Mesmo que assim uma coisa em cima da hora?

Eu não me importo mas olha que posso não ser a melhor companhia de sempre. Eu distraio-me muito por lá.

 

Eren – Mensagem:

É melhor do que ficar cá agora. Preciso de respirar ares e depois de dizeres que é na costa, acho que já me convenceste :)

Achas que te posso fazer companhia?

 

Eduardo – Mensagem:

Isso nem se pergunta, Imhotep <3

Claro que podes. Espero que eu consiga ser uma boa companhia :D

Passo para te buscar? Preciso de pedir uma autorização da Sargento Annie e do Comandante Armin?

 

Eren – Mensagem:

Estou a ir para casa agora, mas eu despacho-me rápido. Fico à tua espera ;)

E não te preocupes com as autorizações. Os meus superiores hierárquicos serão avisados ;)

 

Eduardo – Mensagem:

Se é assim, até já <3

 

Eren não queria voltar para casa e passar aqueles dois dias a dar tempo à sua cabeça para se prender a todos os maus pensamentos que podiam e provavelmente, iriam surgir depois daquela conversa com Levi. Parece que apesar de algumas coisas boas pelo meio, havia sempre algum acontecimento cuja intenção parecia ser mergulhá-lo no negativismo e culpa.

Porém, por muito que Levi e ele não tivessem uma relação, o moreno não podia negar que se sentia magoado ao constatar que não tinha sido só uma suspeita. Algo teria acontecido entre o homem de olhos cinza e Tiago. Um deslize. Uma chantagem emocional. Um erro. Não importava o quê exatamente, mas ele sentia que não merecia aquilo. Mesmo que Levi nunca correspondesse aos seus sentimentos, pelo tempo e momentos que passaram juntos recentemente, esperava que isso tivesse algum tipo de significado.

Talvez tenha e seja só para mim”.

Ao sentir aquele aperto no peito, Eren sabia que ficar sozinho em casa ou rodeado das questões de Armin e Annie não ajudaria. Armin podia até concordar que não existia uma relação entre ele e Levi, mas assim como Annie não iria querer deixar aquilo passar em branco. Já conseguia vê-los a querer tirar satisfações com Levi e o moreno não queria isso. Os amigos fariam isso com a melhor das intenções, mas numa das coisas em que Mike tinha razão, era aquilo. Agir com base na raiva, ressentimento e conflito não trazia nada de bom. Eren era obrigado a concordar com isso. Por experiência própria, ele sabia que isso era verdade.

Quem sabe Levi também precisasse de colocar as ideias no lugar e esses dois dias sem se verem ou falarem, seriam bons. Não para esquecer, mas pelo menos para acalmar aquele tumulto de sentimentos que corria neles.

Se a minha mãe pudesse ouvir este tipo de pensamentos, provavelmente pensaria que se tinham enganado no filho dela”, sorriu com alguma tristeza enquanto arrumava as coisas dentro de uma mochila que levaria com roupa, entre outras coisas, “E quem sabe, a minha avó conseguisse orgulhar-se de finalmente ver que estou a tentar seguir uma das várias coisas que tentou ensinar-me”, olhou para o cartão de Mike sobre a mesinha de cabeceira ao lado da cama, “Parece que o Eduardo podia ter razão… talvez ter uma perspetiva diferente, ajude em alguma coisa”.

Eren ainda tinha dúvidas sobre até que ponto iria ajudar. Houve vários momentos em que entrou em conflito com as palavras de Mike e tentou discutir, mas o psiquiatra nunca elevou o tom de voz ou se mostrou impaciente. Podiam não ter concordado em tudo, mas…

As coisas não vão mudar da noite para o dia e se quero tentar manter-me pelo menos à tona da água, acho que me posso permitir fazer estas coisas. Ir para um lugar calmo onde posso afastar-me um pouco de tudo por algum tempo”.

– Eren? – Era a voz de Annie na porta. – Onde vais?

– Passar o fim de semana com o Eduardo. – Respondeu sem rodeios.

– Hum, há alguma coisa que me queiras contar? – Perguntou a loira com um meio sorriso.

– Não é nada disso, Annie. – Revirou os olhos ao ver a expressão da amiga. – Escuta, sei que tínhamos combinado passar o fim de semana a fazer alguma coisa os três, mas quero que peças desculpa ao Armin por mim e também peço a ti, mas… preciso disto, ok? É importante.

– Posso concordar com uma condição. Preciso que me respondas honestamente, aconteceu alguma coisa hoje? O Thomas apareceu?

– Não, eu instalei aquela aplicação que o Armin disse para bloquear números e chamadas e desde então, não tenho sido incomodado por ele quer pelo telemóvel, quer pessoalmente. – Respondeu e após refletir um pouco sobre se devia ou não responder com sinceridade às perguntas, optou pela verdade. – Sim, aconteceu qualquer coisa. Nada de grave. – Apressou-se a explicar. – O Mike disse que não era bom ceder tantas vezes à vontade de fechar-me em casa ou ficar deitado na cama e tenho a impressão que isso vai acabar por acontecer. Então, estou a tentar sair. Afastar-me um pouco disto tudo nem que seja só durante este fim de semana e se tudo correr bem… voltar melhor do que estou agora.

– Ok, se achas que é o melhor a fazer, não te vou impedir e vou explicar a situação ao Armin. – Disse a loira com um pequeno sorriso. – No fundo mesmo que não seja comigo e com o loirinho, eu fico contente que estejas a procurar outra forma de lidar com as coisas.

– Obrigado Annie. – Abraçou a amiga que retribuiu o gesto. – Estás descalça outra vez? – Acrescentou ao afastar-se da loira que abanou a cabeça.

– Por favor, tu e o Armin vão deixar-me louca. Está calor e esta casa está imaculadamente limpa. Além disso, não mudemos de assunto. – Disse, vendo o amigo voltar para arrumar a mochila. – O Eduardo é divertido, é atraente. Em outros tempos em que não estava comprometida, pelo menos era do tipo a quem eu piscaria o olho.

Eren sorriu um pouco divertido.

– Pronto, admito que ele entra na categoria do cómico que me faz rir com facilidade.

– E?

– Em outros tempos definitivamente também chamaria a minha atenção.

Annie riu.

– Ah finalmente, alguma sinceridade. Eu acho que se fosses metade do frontal que eras antes, ele teria uma síncope, mas agora acho que não precisarias de muito espetáculo para que ele se interessasse. Isto se já não estivesse interessado.

– Somos amigos, Annie.

– Dois amigos sozinhos durante um fim de semana. – Cantarolou.

– Estás impossível. Ainda não é cedo para teres mudanças de humor por causa da gravidez? – Perguntou e não teve tempo de escapar da sapatilha que havia perto da porta e a loira atirou. – Hei, violência!

– Merecida. Mais piadinhas sobre mudança de humor e não terás o míni Eren para te acompanhar no fim de semana.

– Não é assim tão…

– Sabes por que razão as mulheres têm mudanças de humor? – Perguntou.

– Ah… – Hesitou com medo da reação e pensou bem na resposta, optando pela ignorância. – Não.

– Vocês, homens são a razão. – Explicou antes de sair do quarto.

Algum tempo depois ouviu a buzina do jipe no exterior e Eren despediu-se de Annie antes de ir ao encontro de Eduardo que estava de chinelos, calções pretos e uma camisa havaiana com motivos florais bem coloridos. Algo que o moreno não conseguiu deixar de comentar e ao que o outro respondeu que apenas ele conseguiria manter um ar heterossexual, usando uma camisa daquelas. Algo com que Eren não concordava, mas decidiu não questionar mais a escolha de roupa porque teve que começar a questionar as músicas que tocavam dentro do jipe.

Definitivamente sair de casa naquela pequena viagem com o outro tinha sido uma boa ideia, pois não foram precisos muitos minutos para que se sentisse bem mais relaxado e sem vontade de ficar a remoer sobre o que tinha acontecido antes.

– Eu nem perguntei onde íamos ficar, mas estás a usar algum site de aluguer tipo Airbnb? – Perguntou o moreno, procurando alguma rádio onde a música decente.

– Não, até podia ser mas neste caso, é uma casa de praia que os meus tinham e ainda têm… eu é que fiquei com a chave porque felizmente, a minha mãe convenceu o meu pai a não vender a casa. Era uma casa onde ia passar férias quando ainda tinha os meus irmãos. Agora só eu é que lá vou. Às vezes levo companhia de amigos, mas já me disseram que ignoro toda a gente quando lá estou.

– Por alguma razão em especial?

– Vais ver. – Garantiu. – Pode ser que te interesses também. – Olhou para uma das placas da estrada. – A propósito ainda temos que fazer uma paragem algures para comprar coisas para comer porque como te disse, aquilo é um bocado isolado.

– Então nesse caso, pago eu quando formos comprar as coisas.

– Nem pensar. – Retrucou de imediato. – Estás como convidado aqui.

– Eu fiz-me de convidado. – Argumentou Eren. – Além disso, é justo que colabore com alguma coisa. Sei que não vamos pagar pelo alojamento, mas quero ajudar pelo menos com a comida.

Quando pararam num pequeno supermercado, após uma discussão em frente à senhora de idade do caixa que não escondia a impaciência, os dois acabaram por dividir a conta final. A viagem prosseguiu sem sobressaltos com espaço para bastante conversa até que finalmente, era visível ao fundo onde o horizonte não eram planícies ou montanhas, mas sim o movimento das ondas.

Apenas nesse momento, os dois ocupantes do jipe passaram a ficar silenciosos. Um pouco mais adiante no caminho, Eren não se devia ter surpreendido quando Eduardo adentrou por um trilho onde claramente, só ele arriscaria passar por ali. O facto é que depois o veículo ficou estacionado num local com sombra e bastaram poucos metros para colocarem os pés no areal. Uma pequena casa que parecia de certa forma, misturar-se com a paisagem, tornou-se logo visível.

Eren ainda estava a processar toda aquela paisagem iluminada apenas com a luz da lua, quando repentinamente viu uma peça de roupa cair sobre o areal e enquanto retirava os calções, Eduardo corria na direção da água. Aliás ainda chegou a desafiar o moreno para uma competição sobre quem chegaria primeiro à água. Contudo, Eren foi apanhado de surpresa de tal modo que não teve reação por vários momentos. Eduardo não só chegou à água como adentrou nela até ao ponto em que conseguiu mergulhar. Desapareceu por segundos até regressar à superfície e berrar o entusiasmo que lhe corria por dentro naquele momento.

– A água está ótima, Eren!

Após a surpresa inicial e perante a alegria do outro, o moreno de olhos verdes decidiu retirar também parte da roupa e partilhar daquele instante.

A água fria contrastava com a temperatura corporal dele, mas não causava os arrepios desagradáveis e sim, arrepios da euforia. Aquela sensação com quem se encontrava tão pouco na vida dele. Antes para experienciar algo semelhante, teria que recorrer a substâncias ilícitas ou ao prazer de desfrutar de atitudes erradas.

Não obstante esse passado, ali estava ele a vivenciar a euforia num estado que teria que classificar como genuíno. Sentia como se naquele momento, qualquer coisa que não era capaz de explicar, o preenchia por dentro.

Com aquela água fresca a tocar na pele dele e aquele luar extraordinariamente belo na sua frente, qualquer coisa dentro dele fazia sentido. Aquele episódio na vida dele mais do que sentido, merecia ser vivido. Valia a pena ser vivido e isso fez com que compreendesse um pouco das palavras do rapaz que tinha mergulhado de novo naquelas águas calmas. Possivelmente existissem acontecimentos no futuro, episódios como aquele que valiam a pena ser vividos.

Quando por fim, os dois conseguiram sair do mar, a exaustão da viagem tornou-se mais evidente, sobretudo quando era visível a limpeza que teriam que fazer na casa. Eduardo insistiu e conseguiu convencer Eren a ficar no quarto mais limpo que seria aquele onde ele normalmente ficava quando ia para ali. O jovem de mexas loiras no cabelo também explicou que usualmente era ele que acabava ali sozinho porque os pais nunca mais deram uso à casa e como ele passava a maior do tempo no mar, as limpezas não eram uma prioridade.

No dia seguinte, Eren entendeu a razão para que Eduardo falasse tanto em passar tempo no mar. O estudante universitário era um surfista apaixonado pelo mar e por isso, assim que o dono dos olhos verdes acordou, Eduardo já não estava na casa, mas de volta às ondas do mar que depois da calma da noite anterior, pareciam ter-se animado para criar as condições ideais para surfar.

Bom dia, Imhotep! Voltei ao mar. Deixei-te aí o pequeno-almoço preparado para compensar o facto de não estar aí quando acordares. Tenta avisar-me quando estiver perto da hora do almoço. Também quero ajudar :)”.

Depois de ler essa nota sobre a mesa, Eren também notou que o outro teria limpado um pouco mais do que tinham feito na noite anterior. Por uma das janelas podia ver o estudante sobre as ondas e tendo em conta as horas, decidiu que não o chamaria para preparar o almoço. Afinal de contas, ele ainda queria compensar Eduardo por este ter decidido que não havia problema em acompanhá-lo.

Assim depois de mais alguma limpeza e de espreitar algumas das fotografias antigas em que via Eduardo com a família há vários anos atrás e outras mais recentes que mostravam o amigo desta vez acompanhado de amigos, Eren preparou a refeição e só então saiu para ir de encontro ao mar e chamar o outro.

– Podias ter chamado. Queria ter ajudado. – Disse Eduardo, bebendo um pouco de água. – Mas está ótimo.

– Massa à bolonhesa não tem muito mistério, mas obrigado. – Eren sorriu um pouco, continuando a observar a tatuagem que cobria o ombro e parte do braço do outro. O que tinha visto naquela noite eram algumas aves no céu, mas o resto era uma imagem daquele local. O mar de fundo, as palmeiras, o areal, o jipe com a prancha de surf encostada. Ele tinha retratado nele, o seu local favorito com uma das coisas que mais gostava de fazer.

– Gostas da tatuagem?

– É a tua cara. O desenho parece quase tão real como isto tudo que aqui está.

– É verdade, a Ymir é bastante boa nisso mas isso significa que não posso usar mangas muito curtas quando tiver o meu consultório. Não vá algum futuro paciente meu, pensar que está a ser tratado por um delinquente.

Eren riu um pouco.

– Acho que seria mais grave se tivesses uma caveira ou algo meio satânico.

– Não duvides da estupidez alheia. Um dos meus professores já comentou sobre a importância da aparência e bla bla bla… – Revirou os olhos. – Basicamente se traduziria por: “Não invistam na vossa individualidade, sejam iguais a toda a gente”.

– É verdade que tens menos problemas.

– Sim, mas tornas-te um reprimido que nunca vai aproveitar a vida como se deve e tendo em conta que só temos uma, devíamos desfrutar das coisas enquanto podemos. – Continuou a comer. – A sério, isto está mesmo bom.

– Obrigado. – Agradeceu de novo, ficando um pouco pensativo.

– Alguma coisa em mente?

– Achas que me podes ensinar?

– A fazer o quê? – Perguntou Eduardo confuso.

– A surfar e em troca…

– Ensinas-me a cozinhar? – Pediu divertido.

– Podia ser, mas isso devias aprender por necessidade e não por negociação comigo mas eu estava a pensar em ensinar-te outra coisa.

– Hum, tanto mistério mas estou curioso. – Admitiu. – O que é?

– Se até ao fim do dia conseguir ficar de pé em cima da prancha sem partir nada, ficas a saber.

– Temos negócio, mas atenção que sou um professor exigente.

– Não espero outra coisa. – Respondeu Eren divertido.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Escuta, Armin não precisas de mentir e dizer que ele não está em casa. – Disse Levi, vendo que Annie levava Bianca para brincarem para a cozinha, onde a loira parecia estar a preparar alguma coisa.

– Podia ser plausível que estivesse a mentir, não é? Mas o facto é que não estou. Ele foi passar o fim de semana fora com o Eduardo e tendo em conta, a tua expressão culpada, penso que o terá feito por boas razões.

– Ele interpretou mal uma coisa que lhe disse.

– Interpretou mesmo ou tu estás envergonhado de alguma coisa que fizeste? – Acusou o loiro.

– Pensava que estavas a favor de…

– Estou a favor de ver o Eren feliz. – Interrompeu Armin. – Portanto, eu vou sugerir que digas o que aconteceu porque eu vou saber de uma forma de outra e se calhar, é melhor que seja através de ti, não achas?

 

Flashback

– Podemos acrescentar essa cláusula, mas confirmo depois de falar com o departamento jurídico acerca disso. – Dizia, vendo o funcionário entrar na sala dele com o café habitual. – De qualquer modo, vamos encaminhar mais dois técnicos para analisar a questão. Sim, não se preocupe com isso. Claro, entrarei em contacto assim que possível mas até lá, a Isabel deve adiantar-lhe parte da informação. Sim, claro. Nós agradecemos a preferência. Com licença. – Assim que desligou a chamada, viu que apesar de já ter entregado a bebida com cafeína, ele ainda continuava na sala. – Aconteceu alguma coisa?

– Não podemos conversar um pouco?

– Sim, mas não podemos tornar isto um hábito. – Respondeu o empresário, saindo da cadeira e indo até uma das janelas para puxar uma das persianas, de forma que o sol não o incomodasse tanto.

– Não dizias isso antes. – Argumentou Tiago.

– Antes… escuta, não podemos confundir as coisas. Eu quero ajudar-te no que puder, mas nós já conversámos sobre o que deixou de haver entre nós. – Disse Levi, reaproximando-se do outro.

– Mas não és justo comigo. – Disse o outro. – Chegas sempre aqui e impões as regras. Tenho que aceitar sempre, mesmo que isso…

– Sei que não agi bem, Tiago mas isto entre nós terminou e eu preciso que aceites isso.

– Não pensei que fosse capaz, mas… – O jovem hesitou porque até se sentia como uma outra pessoa ao ser consciente do que iria dizer, do que queria dizer. – Eu gosto tanto de ti… como nunca gostei de outra pessoa e dizer-me para simplesmente ignorar isso, não é justo.

Levi sentiu uma pontada de culpa por ter deixado que um sentimento daqueles surgisse, embora também soubesse que os sentimentos não são racionais, logo não são controláveis. Ainda assim, não podia deixar de experienciar algum choque perante aquela confissão porque Tiago já tinha admitido sentir atração. Aliás, ambos admitiram isso e era o mais normal e comum de acontecer, mas Tiago não parecia ser o género de pessoa que se declarasse. Quando o conheceu, diria mesmo que o jovem era bastante cético quanto a sentimentos amorosos e por isso, causava-lhe espanto que as coisas tivessem evoluído até àquele ponto. Só que infelizmente, não retribuía. Infelizmente, o jovem que decidia expor os seus sentimentos daquela forma não teria os seus sentimentos correspondidos e Levi sabia disso.

Não se comparava ao que sentiu por Erwin ou até mesmo ao frio na barriga que algumas das declarações de Eren lhe provocavam. Não havia ligação, comparação possível e isso deixava claro, que por mais que magoasse Tiago não podia sequer alimentar uma coisa daquelas.

– Tiago, eu…

O jovem encurtou a distância entre eles e inesperadamente, encostou os lábios aos do empresário. Tiago sabia o que viria daquela expressão culpada e que o observava com pena. Não queria aceitar uma coisa dessas. Não queria torná-la real ao escutar as palavras que o cortariam por dentro. Quis silenciá-lo e desejou mudar o rumo daquela conversa.

Quando Levi colocou uma mão no ombro dele com o intuito de afastá-lo e tentou falar ao separar os lábios, Tiago insistiu mais uma vez e passou a língua entre os lábios entreabertos. O homem de cabelos negros gemeu com a surpresa do momento, mas o jovem apenas interpretou aquilo como um sinal de que ainda existia qualquer coisa entre eles. Uma lágrima caiu pelo rosto dele.

O dono da Survey Corporation sentiu aquela lágrima tocar o rosto dele. Os sentimentos de culpa, o não saber o que fazer para aliviar aquela dor, fizeram com que se envolvesse por mais um pouco naquele beijo. Acariciou o rosto, limpando a lágrima e em seguida, também os fios de cabelo do outro antes de finalmente, quebrar o contacto entre eles.

Vendo o rosto do jovem à sua frente, os olhos lacrimejantes e rosto ruborizado, Levi sabia que tinha cometido um erro em não cortar aquele beijo logo de início. Podia até ter piorado a situação e complicado mais as coisas.

– Isto não vai acontecer de novo. – Afirmou.

– Como é que podes dizer uma coisa dessas depois de me beijares?

– Não, Tiago. Foi um erro. – Disse, distanciando-se mais. – Isto tudo está errado. Isto não pode acontecer de novo e nem vai. Vou pedir que te transfiram para outra secção ou até mesmo devias considerar em procurar trabalho em outro sítio. Eu tenho contactos por isso, posso…

– Passei a ser um incómodo para ti? – Interrompeu sem esconder a mágoa na voz. – Fiz tudo como tu querias, mas não foi suficiente, não é? Cumpri todas as tuas regras, mesmo quando tu as quebraste várias vezes! Por que razão fizeste isso? Já pensaste que é por tua culpa que estou a sentir isto?! Se tivesses feito o mesmo que eu e seguido as tuas próprias regras, talvez nem estivéssemos a ter esta conversa! Por que é que quiseste ficar ao meu lado quando eu estava sozinho?! Por que é que me disseste que podia contar sempre contigo, se não tinhas intenção de ficar?! Por que é que me fizeste acreditar em ti? Confiar em ti? Porquê? Que mal é que eu te fiz para tu brincares comigo desta forma?!

Fim do Flashback

 

Levi não conseguia tirar da cabeça a mágoa e dor que viu nos olhos do jovem que nunca tinha falado com ele daquela forma, mas fazia-o com razão. De facto, ele tinha cometido vários erros e agora estava a querer atirar as consequências todas apenas para um lado e seguir a vida dele como se nada tivesse acontecido. Isso não era certo, mas também não tinha a certeza de como devia reagir naquele caso.

– Confesso que mesmo passados todos estes anos, eu nunca te esqueci e que ainda sofro pela forma como as coisas terminaram entre nós.

Levi foi incapaz de esconder a expressão de choque ao escutar aquelas palavras provenientes do loiro e teve até mesmo que olhar para a porta da cozinha e confirmar, que nem Annie nem Bianca estariam por perto naquele momento. Sentia um nó na garganta e ergueu-se do sofá ainda perturbado com as palavras e expressão do outro.

– O que estás a dizer? – Conseguiu dizer por fim.

Armin suspirou.

– Podia ter chorado um pouco, mas penso que fui suficientemente convincente para deixar claro que continuas com esse complexo de Messias de que podes salvar toda a gente. – Afirmou o loiro, apoiando o queixo sobre a mão com um ar pouco impressionado. – Quando te envolves com alguém corres sempre o risco de magoar ou sair magoado da relação. Dás um pouco de ti e recebes também da outra pessoa. Pensei sinceramente que depois do teu passado de relações curtas e baseada nas coisas erradas, não caísses novamente no mesmo erro, mas enganei-me.

– Tu estavas a mentir? – Perguntou Levi ainda receoso.

– É claro que estava. – Confirmou com naturalidade. – Aceito o que aconteceu entre nós e os erros que foram cometidos, mas sou apaixonado pela Annie e não a trocaria por nada nem por ninguém.

– Por que raio brincaste com uma coisa dessas?!

– Ora porque preciso de te abrir os olhos. – Retrucou o loiro. – O Tiago pode sim ter muitas razões para estar no estado em que está e até ter razão em várias coisas que disse, mas isso não significa que devas viver em função dos teus sentimentos de culpa pelo que aconteceu. Deves ser homem para tomar uma decisão definitiva acerca disso para não complicares desnecessariamente a tua vida e muito menos, envolveres outras pessoas nas tuas merdas. Não vais poder proteger toda a gente do sofrimento, vais cometer erros como toda a gente mas devias aprender com eles. Se ainda vais refletir sobre o tema, então sugiro que não alimentes esperanças com o Eren. Se vais insistir que tens que salvar o mundo, então podes deixar o Eren seguir a vida dele e deixar que outra pessoa o faça feliz porque tu a pensar dessa forma… não serves para ele e sinceramente, não serves para ninguém.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Tens a certeza que não queres aproveitar melhor o tempo? – Insinuou Thomas, colocando uma das mãos sobre as pernas de Tiago que o empurrou à medida que limpava as lágrimas. – Vá, não sejas tão difícil agora. Ali o nosso amigo concorda connosco. – Referia-se ao outro que estava encostado à mesa da sala.

– Pensava que tinhas vindo aqui porque estavas preocupado. – Dizia Tiago entre lágrimas.

Thomas riu.

– A sério? Eu é que pensei que tivesses algo de jeito para contar, mas já se viu que desperdiçaste mesmo a oportunidade enquanto tiveste tempo. Tiveste o viúvo bilionário nas mãos e deixaste-o fugir porque quiseste. – Ergueu-se do sofá. – Nem acredito que vim aqui para isto. Para te ver chorar sobre merdas que podias ter evitado. Agora vais-te foder porque com certeza, vai-te recambiar para outro lado qualquer.

– A culpa também é tua que não soubeste manter aquele Eren longe!

– O Eren vai voltar para mim, mas tu putinha barata, perdeste a sorte grande quando te disse tudo o que devias ter feito para agora teres uma vida de luxo. – Encolheu os ombros. – Volto quando estiveres menos dramático porque sou tão teu amigo que ainda te quero ajudar a cravar o dinheiro de alguém… pensa que nesta cidade o que não faltam são velhos pervertidos ricos com vontade de brincar com meninos bonitos. – Riu, passando a mão no cabelo de Tiago que bateu na mão dele e viu como Thomas deixava o apartamento.

Veio um silêncio entrecortado apenas pelas lágrimas e alguns soluços do jovem encolhido no sofá, que esperava que a qualquer momento Isabel ou Petra o contactassem para dizer que já nem precisava de aparecer na empresa na segunda-feira. Não seria Levi a dar-lhe aquela notícia, tinha a certeza disso.

Limpando mais algumas lágrimas, olhou para o outro ocupante da sala que se mantinha apenas como um observador distante. Era o que menos tinha falado. Thomas passou a maior parte do tempo a preencher o silêncio enquanto o ridicularizava, mas o outro manteve uma expressão distante.

– Já podes contar também as tuas piadas, agora que o Thomas não está aqui para falar.

– Nem tudo está perdido. – Afirmou o outro.

– O quê? – Perguntou confuso pelo rumo inesperado da conversa. – Como assim? Ele basicamente disse-me que queria que eu saísse da empresa depois de eu praticamente ter confessado o que sentia, como tu chegaste a dizer que devia fazer! – Foi elevando o tom de voz gradualmente, deixando bem visível a raiva que sentia.

– Conseguiste um beijo.

– Grande coisa. O lado negativo ultrapassa muito o…

– Tiago se te disser que o podes ter de volta até onde estás disposto a ir? – Perguntou. – Serias capaz de seguir as minhas sugestões sem questionar?

– Acabei de dizer que segui uma das tuas sugestões e…

– Não, isso foi uma coisa pequena. – Cortou o outro. – O que tenho em mente será mais elaborado. Seria bom que o Thomas tirasse o Eren do caminho em definitivo, mas aquele stalker perturbado não tem feito nada de muito efetivo, mas agora também há outra pessoa que até está a fazer o que ele devia estar a fazer. Alguém com quem eu não contava, mas que sem saber está a deixar o dono da Survey Corporation novamente mais perto de continuar solteiro… pelo menos, enquanto ninguém tomar as rédeas da situação.

– Há outra pessoa interessada no Eren? – Perguntou Tiago ligeiramente interessado. – É algum conhecido teu?

– Não. – O outro sorriu de lado. – Mas felizmente não terei que contar com o Thomas para manter o Eren mais afastado. Agora só faltas tu concordares comigo.

– Não entendo como é que podes pensar que eu ainda tenho hipóteses… – Falou desanimado.

– Com o que eu sei, tens com certeza. – Reafirmou. – Mas tens que…

– Seguir cegamente o que disseres. – Concluiu Tiago ainda cabisbaixo e pouco entusiasmado com essa ideia.

– Exatamente. Quero a tua palavra. – Distanciou-se da mesa e abaixou-se diante do sofá na frente de Tiago, mostrando uma pen drive. – Aqui dentro há uma infinidade de informações sobre como entrar na cabeça e manipular esse homem que tanto queres. Se concordares comigo, vais conhecê-lo melhor do que qualquer outra pessoa e de certa forma, não pensas que seria justo? Sendo que és o único que teve a oportunidade aproximar-se dele depois da morte do Erwin Smith. Foste a pessoa que esteve mais perto do coração dele durante este tempo, como é que aquela pedra no sapato chega e tira tudo aquilo que devia ser teu? Não queres saber o que o enlouquece, o faz feliz, triste, os fantasmas todos que o tornam o homem que amas? Não devias tu a pessoa que o devia conhecer e cuidar? Não queres ser pessoa? Eu acho que podes ser, acho que vais ser. Não o amas o suficiente para querer ficar ao lado dele?

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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