História Mentalista Inconveniente - 04.

No outro dia Gen já parecia totalmente decidido do que faria a respeito da maneira de lidar com aqueles sentimentos impulsivos e de certa formas intrusos, se sentia genial pela maneira que determinou que sairia por cima e ainda usaria seu lance com Senku para lhe favorecer talvez até transformando a competição dos dois em algo mais ácido, pensava no quanto seria divertido assistir o cientista ir contra seus truques enquanto fantasia para ele que o transformaria em algum tipo de "brinquedo pessoal"... quanto ao seu pequeno deslize de raiva anteriormente cuidaria disso depois de enfriar sua mente. Dentro do carro estacionado Asagiri descia a tela do celular pelo bloco de notas checando suas futuras ocupações e lá fora o frio invadia a rua juntamente a luz da lua que iluminaria aquela noite, estava parado na frente da casa de Senku a pouco tempo apenas olhando umas últimas coisas antes de invadir o território do outro para o provocar daquele seu jeito. Após concluir tudo saiu do carro levando nas mãos um pequeno vaso de planta junto a si até o caminho da porta de entrada, chegando lá tocou a campainha e em alguns segundos foi atendido.

-Achei que tinha desistido de vir. -foi o que Senku disse ao abrir a porta.

Seus cabelos verdes desbotados estavam quase completamente molhados, sinal de que acabará um banho, desta vez vestia uma calça preta moletom e uma regata simples branca mas o que levou o inteiro olhar de Gen foi o detalhe um pouco mais abaixo da clavícula do cientista, aquela que ele apenas tinha visão pois a camisa regata permitia. Sem consciência total dos atos ignorou o outro e levou a mão naquele lugar tocando delicadamente com a ponta dos dedos sua pele, ou melhor a tinta tatuada ali que depois que adentrou mais um pouco afastando a manga da regata revelou a equação "E=MC²" marcados na pele do homem a sua frente. Ishigami olhou para os movimentos de sua mão e depois para seu rosto com aquele semblante que esbanjava auto confiança, um sorriso de canto se formou lentamente ao o observar fazendo aquela descoberta instigante e o mentalista por sua vez sentiu novamente o rosto esquentando em uma dessas situações.

-Desde quando tem tatuagens? -questionou.

-Desde anos, você quem nunca perguntou ué. -bocejou depois de falar.

-Enfim...

Foi entrando ao ver que o outro o deu espaço, passando as mãos por suas mechas pretas e brancas e então se virou para ele novamente com o vaso de planta firme em mãos.

-O que significa isso?

-É um presente! -respondeu simples.

-Está me dando uma planta? está me sacaneando ou? isto não é aquele tipo de brincadeira que depois você vira com o significado dela e coisas filosóficas né?

-Pffft! -riu- que tipo de reação é essa? é uma suculenta! e não é tão difícil de cuidar, vai te dar um motivo para abrir a janela do quarto para o sol entrar.

-Plantas não combinam comigo... mas eu não sou mal educado.

E assim Senku cedeu e pegou o pequeno vaso de suas mãos o pondo na estante e não podia negar que dava um detalhe a mais na decoração minimalista.

-Então... -o cientista começou.

-Vamos sair! -o mentalista continuou.

-Deveria ter me avisado antes, é por isso que está todo arrumado?

-Deduzi que gostasse de surpresas.

-Espere um instante e estarei pronto. -disse se afastando até o corredor.

-Vai trocar de roupa Senku-chan? posso te acompanhar se quiser! -levantou a voz um pouco para que ele escutasse.

E então observou o dedo do meio de Ishigami levantar em sua direção o fazendo rir. Sentou no sofá para aguarda-lo, apesar do outro ter sido difícil antes e negado que Gen voltasse a sua casa ele mesmo já esperava por sua volta então era evidente que não odiava toda essa brincadeirinha e "Talvez até precisava esfriar a cabeça também" foi o que imaginou. Alguns minutos de espera e logo o barulho de sapatos firmes descendo a escada puderam ser ouvidos, entrou na sala quase todo de preto seguindo aquele seu estilo minimalista, botas, meias e uma calça social alfaiataria todos pretos, mais acima um cinto sofisticado e por cima de uma blusa de manga longa preta uma camiseta um pouco mais delicada de listras brancas verticais.

Definitivamente isso é diferente das outras vezes que o viu mas parando para pensar é a primeira vez em que eles sairiam apenas os dois, era certo que no programa ou até mesmo na festa de Shishio ele teve de se comportar um pouco diferente e sair com Gen provavelmente não era considerado essas ocasiões em que deveria mudar alguma coisa em si até porque ainda eram rivais naquele lance dos dois, então de certo ele não deveria ligar pro que o mentalista pensaria se quisesse manter sua pose. A única coisa que o mágico fez sobre isso foi o olhar de cima a baixo daquele seu jeito travesso.

-Vamos logo. -proferiu Senku.

Logo seguiram até a porta que foi devidamente trancada pelo dono da casa e então até o carro deixado ali próximo. O caminho foi calmo, Gen se concentrava em dirigir enquanto o outro investigava olhando da janela pelo caminho que seguiam até onde o iria levar, pararam na frente de um grande restaurante, Ishigami já havia passado por ali algumas vezes mas entrar no estabelecimento é algo diferente. Assim que saíram do carro Asagiri deu a chave ao manobrista na entrada para que estacionasse o mesmo e então agarrou o braço de Senku até a entrada do restaurante.
Olhando calmamente não era lá ruim sair por ai com um homem bonito como Asagiri Gen ao seu lado, podia sentir bem seu perfume e observar bem suas roupas agora, ele vestia uma calça preta um pouco larga e delicada, uma camiseta de botões branca por dentro da calça que por acaso não estava 100% abotoada até a gola colarinho o que deixava amostra o colar de aparência cara em seu pescoço, junto a isso uma jaqueta púrpura clara e nos pés um sapato de couro provavelmente de marca refinada, sem contar com os anéis que destacavam suas mãos.

-Me trazendo a um lugar tão caro... ainda está tentando me usar? -questionou.

-Que coisa horrível está falando dessa vez! -o mágico respondeu farto- não posso nem te trazer para jantar agora? 

-A gente sabe muito bem que isto aqui não nos levará a nada. -insistiu em contesta-lo.

-Senku-chan não consegue parar de pensar um minuto... -pareceu descontente- deveria tratar de apenas relaxar junto a mim.

-Você é esquisito isso sim... não te conheço Gen Asagiri.

-Isso é bom! significa que ainda temos muito a conversar~

Ao chegar no estabelecimento o homem de cabelos bicolores assimétricos parou na recepção enquanto o outro observou o local ao redor, esse tipo de lugar as vezes parecia exageradamente chique para ele, os lustres grandes e detalhados, os vasos de plantas, as decorações como quadros e relógios e até o tipo de madeira das mesas parecia extremamente elegante, podia ouvir barulhos baixos das conversas, de talheres e taças. Só levou alguns instantes até os dois estarem seguindo um dos funcionários do lugar até a mesa reservada, o cientista pode observar o outro pedir algo ao funcionário antes que ele se retirasse.

-As pessoas aqui não ficarão agitadas por te ver?

-Senku-chan olhe para esse lugar está cheio de velhos ricos broxas -deu uma risada leve- quer dizer a maioria das pessoas morreria para me ter eu sei disso, mas esse aqui não é o tipo de pessoa que vai ficar encarando um cara que faz truques de mágica em cima de um palco.

-Então nesse caso creio que eu deveria me sentir privilegiado. 

Os dois abriram um sorriso de seus jeitos, aquele mesmo garçom logo se aproximou da mesa e colocou ali duas taças com água e o cardápio, os dois folhearam por alguns segundos lendo os ingredientes de cada prato enquanto o funcionário do restaurante aguardava pelas ordens.

-Vou querer camarão ao champanhe. -Senku pediu.

-Chou farci por favor. -disse o mágico logo em seguida.

O homem saiu após terminarem, não precisava anotar provavelmente. Os dois conversaram até os pratos chegarem, apesar de tudo ainda conseguiam se dar bem fora de todo aquele lance dos dois, o que poderia ser até uma surpresa por suas grandes diferenças já que nenhum dos dois podiam dizer que entendiam totalmente o outro. O cientista parecia alguém que Asagiri sentia necessidade de explorar até a ultima colherada mas este era considerado um trabalho com poucas chances de sucesso. Ishigami por outro lado estava vendo até onde iria o mentalista afinal ainda odiava os caras altos na mídia e esperava que o mesmo o deixaria em algum tempo. "Não há motivos para uma pessoa como ele gastar tanto tempo com uma pessoa como eu." pensava.

Enfim os dois saborearam os respectivos pratos, depois disso a sobremesa de torta de limão com cobertura de merengue e por ultimo dois drinks Pink Elephant. Gen continuava a perguntar coisas sobre o trabalho do outro homem e até mesmo se fingir de ingênuo em muitas questões apenas para que Ishigami tivesse motivos para o corrigir e depois passar minutos explicando áreas da ciência, não como se ele realmente prestasse atenção entretanto esse lado de Senku e o jeito que ele agia sobre ele o provocavam. E então o cientista também acabava por ouvir as intrigas da vida de outros famosos que Asagiri insistia em contar mesmo se sentindo inadequado por isto.

-Eu realmente duvido que Shishio falaria algo do tipo. -dizia continuando a conversa que estavam tendo naquele momento. 

-Mas ele disse! e foi na frente de Ryusui. -o mágico ria enquanto falava.

-Você quer dizer Ryusui Nanami? -pareceu surpreso- é esse tipo de coisa que eu gostaria que Tsukasa me contasse.

Os dois acabavam de rir do assunto que finalizavam.

-Enfim... com licença Senku, volto em alguns instantes. -se levantou da mesa.

O homem de cabelo esverdeados fez como um "entendido" com a cabeça e então o outro se afastou, caminhou um pouco e desceu em um corredor até o banheiro, usou e saiu de lá sem nenhum problema, no entanto quando encostou a porta e virou para seguir o corredor... um "click"... procurou com o olhar e rapidamente a forma de um homem jovem com uma câmera em mãos se formou em sua frente.

-O que é isso? -estava confuso.

O homem não respondeu uma palavra, foi surpreendido por ter sido pego nem esperava que a câmera fizesse barulho tão notável.

-Acabou de tirar uma foto minha?! como se entram pessoas como você aqui? -franziu as sobrancelhas.

Aquela sensação o preenchia de novo, batimentos rápidos e então o tremor no corpo, nervoso... extremamente nervoso.

-Mas que inferno! não há nenhum segurança nesse lugar?

Asagiri apressou os passos, estava claro que iria chamar algum funcionário e então sentiu uma força o impedir, o homem desconhecido estava segurando seu braço.

-Não toque em mim! -levantou a voz.

Aquele homem iria dizer algo e era evidente que iria, porém um funcionário surgiu antes que pudesse, provavelmente havia escutado toda a confusão.

-Senhor Asagiri? O que se passa? -o funcionário do restaurante perguntou.

-Esse homem estava tirando fotos minhas! por favor diga a ele para que me solte imediatamente.

Assim que o funcionário chegou perto o homem recuou, parecia irritado mas não como se o que tivesse ocorrido fosse um mal entendido, realmente tirou aquela foto sem permissão.

-Me desculpe pelo transtorno. -disse direcionado a Gen. -o senhor poderia se retirar por gentileza? para que não precisamos usar nenhum outro método? -e então ao outro rapaz.

O funcionário e o homem se afastaram até uma saída mais aos fundos, Asagiri passou os dedos entre os fios do cabelo frustrado com a experiência desgastante, queria ir embora mas ainda tinha alguém esperando por ele na mesa lá dentro, tentou ao máximo se recompor voltando para lá, se sentou na cadeira e tentou sorrir para Senku entretanto um toque de telefone interrompeu seu momento.
"Como é possível que eu tenha esquecido isso ligado!?" pensou, rapidamente desligou o celular de vez.

-Gen...? há algum problema? -notou sua frustração assim que chegou na mesa.

Havia falhado... deixou evidente demais algo que ele não queria falar sobre, na maioria das vezes pensaria em algo rápido para isso como uma desculpa e o assunto se encerraria assim mas é óbvio que com Senku era diferente.

-Hein? ah sim! quer dizer me desculpe por isso não sei como pude deixar o telefone ligado, estou estragando essa parte de sua experiência.

Se perguntava como o cientista poderia causar esse efeito nele, o mentalista deveria saber manter a aparência que quisesse a qualquer momento mas tudo de repente o dava nos nervos e então era pego desprevenido por Ishigami que por natureza não era lá fácil de enganar. Primeiro o ocorrido com a foto tirada de si, se aquele homem trouxe uma câmera para um lugar assim era certo que sabia que Asagiri estava ali e a maneira que soube disso o preocupava ainda mais, fora o fato de que nem teve tempo de ver que fotos ele tirou ou sequer mandar que apagasse e então já estava tentando se regular e voltar para a mesa mas assim que chegou a ligação, outra coisa que o preocupava. Se viu encurralado... é raro se encontrar em situações desse tipo em que se sentir obrigado a ser sincero. 

-Gen -disse firme- eu vim por você aqui, a experiência que estou tendo é você então se algo estiver errado deveria me contar.