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História Mentira e Sangue - Aliados E Desilusões.


Escrita por: BrabuletaAzul

Notas do Autor


Depois de 3 resfriados, 1 cólica, 2 dores de barriga, 2 viagens, bloqueios criativos maiores q minha gayzisse e bads intermináveis IT IS DONE.
Gnt esse cap foi um sacrifício msm. Eu n tinha musica pra ele, n fazia a mínima idéia do q botar mas tá aí.
No meio dele tem uma música mas ela n é a do cap (spoiler, vai ser do ultimo) ent n vou falar ela aqui, mas no final eu digo o nome 💙
Nas notas finais eu vou falar um pouco sobre o próximo cap PQ EU TÔ PLANEJANDO UMA COISA MT FODA.
Enfim, espero que gostem, me desculpem se tiver uma merda, juro q tentei.
A musiquinha de hoje é Everybody Wants To Rule The World, versão da Lorde obv.
Espero que gostem 💙

Capítulo 19 - Aliados E Desilusões.


Fanfic / Fanfiction Mentira e Sangue - Aliados E Desilusões.

"Bem vindo a sua vida.
Não tem mais volta.
Até mesmo enquanto estamos dormindo,
Nós iremos te encontrar,
Agindo no seu melhor comportamento,
Virando as costas para a Mãe Natureza."

Pacífica acordou em um pulo. Sua respiração desigual e desespero deixavam impossível a garota esquecer o sonho que tivera. Nem mesmo Gideon, ao seu lado, era o suficiente para acalma-la. Após a fuga de Will, na noite anterior, ela havia fugido para o quanto aonde seu primo se encontrava, deitado ao seu lado e abraçado seu corpo com toda a força que tinha, já que desejava sentir que alguém estava ali. Alguém que não fosse as vozes de crianças na sua cabeça,  lhe dizendo como seria uma boa mãe, mas que seu futuro seria trágico e mórbido, uma vida de sacrifícios para poder gerar dois demônios. 

Tudo que sentiu nos braços de Gideon foi retirado a força depois de seu pesadelo.

Estava na mesma cama em que havia ido dormir, um pouco afastada de Gideon. Como se tivesse acabado de acordar e perder o sono, Pacífica continuou na cama, pensando pelo que podiam ser horas, ou talvez segundos. Até que uma doce voz a puxou de volta, prendendo toda a sua atenção. 

-Você está bem?-Disse Gideon.

-Eu que deveria estar perguntando isso à você. - Dos lábios de Pacífica, um sorriso saiu, tão brilhante quanto os outros, mesmo que tão desanimado e forçado. Estava aprendendo com os gêmeos, e isso a assustava. -Eu estou bem sim, só pensando mais do que deveria. 

Teve a leve impressão de ter ouvido um barulho vindo da porta, mas por que ir olhar? Tinha certeza de que havia trancado na noite anterior, pelo simples medo. Nem sequer ergueu os olhos para se assegurar. E esse foi seu primeiro erro.

-Se lembra de quando dividíamos a cama quando éramos menores? Toda vez que você ia lá para casa nós montavamos uma cama imensa, entrávamos nos cobertores e passávamos a noite assim. Era uma boa época. -Gideon estava completamente calmo, diferente de Pacífica. 

A garota poderia jurar que estava ouvindo barulhos, sempre da mesma direção, ruídos vindos da porta. Talvez passos, talvez o vento. Mas conseguia sentir todo o seu corpo entrar em desespero, esperando pelo momento em que o vulto que ela já imaginava iria se revelar. Só não pensava que seria daquele jeito.

Por uma fração de segundos, viu o cano de uma arma, aparecendo atrás da pilastra que separava as duas partes do quarto. E com a mesma rapidez que percebeu o objeto, ouviu os disparos, um em sua direção. 

E assim seu pesadelo realmente começou.

Tudo se tornou preto. Como um véu negro que circulava seu corpo, a impedindo de se mover conforme sentia a vida sair de seu corpo, centímetro por centímetro. Primeiro foi sua cabeça, que começou a ser desligada como se não fizesse parte da estrutura. Aos poucos, nem pensar ela conseguia. Era seu fim. Depois de tudo que havia visto, tudo que havia feito junto dos Gleeful, ela morreria em uma cama, com um tiro na testa.

A luz voltou ao mundo tão rápido quanto quando saiu, esquentando cada parte de Pacífica que ela havia acabado de perder os movimentos. Em um salto, correu atrás de seu assassino, até perceber que nada conseguia fazer. Não importava quanto tentasse arrancar seu manto preto, ou ver seu rosto, nem da porta conseguia passar, sendo obrigada a perceber que de fato havia morrido. 

Não foi a morte que a assustou. Não tinha medo de morrer desde que foi morar na casa de Bud, já que todos os dias pedia para que a morte levasse sua alma embora, para um paraíso ou um inferno. Mas a sensação de saber que não iria fazer mais nada, nunca mais teria a chance de trabalhar no que queria, ou de conhecer mais pessoas, nunca teria os filhos que estava destinada a ter. E isso causava-lhe mais medo do que qualquer outra coisa.

Quando acordou, ainda carregava consigo toda a dor e o desespero do pesadelo, não conseguindo evitar de olhar para a porta a cada cinco segundos, além de se assustar com cada barulho que ouvia, na antiga casa que rangia sempre que podia.

Precionou seu corpo contra o de Gideon, procurando conforto, e de alguma forma, com a cabeça ao lado do peito do primo, ouvindo seus batimentos cardíacos, a garota se sentiu segura, mesmo que só por um momento, por saber que estava viva, assim como ele.

Era o único conforto que se permitiria ter.

"É meu próprio design,
É meu próprio remorso.
Me ajude a decidir,
Me ajude a fazer o máximo da liberdade e do prazer,
Pois nada dura para sempre."

Desde a morte de Grenda, Mabel nunca mais havia passado por Berkley, então não fazia a mínima idéia do caos que reinava.

Após o "show" de Willbourne no topo da delegacia, a fé de todo um bairro havia sido duvidada. Pelo menos dez novas igrejas abriram em casas, hotéis, algumas até mesmo em restaurantes. A cidade que antes só possuía um centro religioso agora estava de ponta cabeça. Pelas ruas, várias pessoas falavam sobre o fim do mundo, outras sobre uma dominação demoníaca. Nas janelas, estavam penduradas bandeiras, algumas dizendo não ao diabo, com desenhos muito mais medonhos do que como Will realmente era, outras o louvando, e essas eram muito mais realistas.

Mesmo dias depois, ainda era possível ver casas com marcas de queimado ou pedaços caindo. A maior parte das pessoas ali não possuía dinheiro para cobrir os estragos, e teriam de viver com seus lares daquela forma por vários anos.

Por mais que a parte norte fosse uma área humilde, de onde Grenda vinha, o resto de Berkley era uma imensa favela, com casas amontoadas e seu próprio ambiente de crime, que nunca chegaria aos pés do que era cometido na parte rica da cidade. 

No centro desse caos, ficava o galpão onde acontecia o Jackpot, um disfarce perfeito. Mas Mabel nunca mais pisaria naquele local, se é que Marius ainda o manteve. E se o fez, não foi por uma boa causa.

Mas Mabel não tinha ido ao bairro para relembrar coisas do tipo. Os funcionários da mansão haviam parado de a frequentar, deixando a casa vazia e sem cuidados. E o mais importante, cada uma das pessoas que trabalhara lá sabia do pior segredo dos gêmeos, e a garota tinha que garantir o silêncio.

O primeiro que visitou foi Soos, antigo faz-tudo da casa. Após servir por tanto tempo, sabia mais sobre a relação dos gêmeos do que qualquer outra pessoa. E se contasse isso à alguém traria o fim aos Gleeful muito antes da hora.

-Com licença, eu poderia falar com Soos Ramirez? - Disse Mabel, ao bater na porta.

A mulher que atendeu deveria ter uns quarenta anos. Parecia jovem, mas as marcas de expressão ao longo de sua testa e olhos denunciavam a idade. Já havia trabalhado na mansão por alguns anos como arrumadeira, mas saiu quando engravidou, o que não fez diferença alguma à ninguém ali.

-S-soos... A senhora Gleeful está aqui... -Ela disse, quase derrubando seu copo de suco.

-O que? Não consegui te ouvir. - Falou o homem, coberto em graxa por ter acabado de mexer no carro. Ao ver sua antiga chefe, deixou seu pano cair, quase perdendo a fala. - Senhora Gleeful... eu...

-Então você fala? Quatorze anos de trabalho e eu nunca ouvi uma palavra sair de sua boca. Ou se ouvi simplesmente ignorei, sempre me confundo. Não vai me convidar para entrar?

Agnes, a mulher, se afastou da porta, correndo para dentro de casa até um quarto. Era compreensível, conhecia Mabel e sabia do que ela era capaz, quem não se esconderia?

-Me desculpe por ela... p-pode entrar, senhora... q - quero dizer, senhorita. - Puxou uma cadeira para Mabel, ficando em sua frente e tremendo da cabeça aos pés. 

-Eu vi que parou de frequentar minha casa. O que houve, não gostou do salário? Ou será que o trabalho ficou cansativo?

Em um só movimento, Soos se jogou aos pés de Mabel, enterrando sua cabeça mas próprias mãos que seguravam uma a outra, e quase tocando na garota. 

-Me perdoe, senhora... Minha casa está aos pedaços, eu tenho três bocas para alimentar e o salário estava atrasado! Eu até mesmo pensei em pedir um impréstimo ao meu irmão, mas ele veio junto dos policiais da cidade vizinha fazer a escolta dos presos e morreu na delegacia. Eu não tenho como alimentar minha mulher e filho e um maldito demônio apareceu. Eu nem sei se quero que uma criança veja como nosso mundo está. Por favor tenha misericórdia! - Implorou, aos prantos.

-Nosso mundo está como sempre esteve, só que agora sabemos. E o que quer dizer com salários atrasados? Não lhe pagamos no dia?

-Não, senhora. Fazem três meses que não vem mais nada, eu tive que procurar outros empregos. 

-Isso é impossível! O banco manda seus salários, se há problema, que reclame lá! - Bufou. - Mas você já deve ter feito isso, não?

-Sim. Mas...

Mabel segurou seus cabelos, puxando a cabeça do homem para cima com força, arrancando alguns fios e o forçando à olhar-lhe nos olhos.

-Mas?

-Eles disseram que não havia mais dinheiro para nos pagar.

-Idiotas. -Disse para si mesma. - Não tem dinheiro? Eu tenho algo melhor que dinheiro. - Soltou a cabeça de Soos, levitando uma faca da cozinha e a atravessando pela garganta do serviçal.

Com a arma flutuando menos de um metro acima de sua cabeça, adentrou o corredor. Mesmo tendo dúvidas sobre sua lealdade à Dipper, ainda temia pelo que poderia acontecer caso a informação se espalhasse, e protegeria seu segredo até o túmulo, mesmo que ele viesse depois do de seu irmão. 

Não sentiu a necessidade de diminuir o barulho de seus pés, queria que Agnes soubesse que ela estava chegando, e que já deveria ter matado seu marido. Assim ficava mais divertido. A expressão no rosto da mulher já era o suficiente para aumentar a sede de sangue de Mabel em milhares de vezes.

-Por favor senhora... -Disse Agnes, Com uma faca na mão, ficando entre Mabel e um berço. -Olhe para si mesma! Você tem cicatrizes no rosto e marcas pelo corpo! Não percebe o quanto está acabada? Nos matar não vai fazer diferença alguma em si mesma... Por favor tenha misericórdia...

-Misericórdia? Você sabe de algo que pode botar a minha vida e a do meu irmão em risco, e quando se trata de algo do tipo... -Se aproximou, atirando a faça da oponente somente com um pensamento. - Eu não tenho misericórdia.

Afundou sua arma na barriga da mulher, a retirando e recolocando diversas vezes, sem mover um músculo sem ser sua pálpebra direita, que tremeu por um segundo ao ver a cena. Assim que o corpo bateu o chão, um choro alto pode ser ouvido, que por algum motivo atraiu a atenção de Mabel, que caminhou até o berço, observando a criança que berrava.

-Você está sozinho? -Perguntou, mesmo sabendo que não teria resposta alguma, e pegou o bebê no colo. - Eu sei o quanto é ruim ficar sem seus pais nessa idade, meus pais também morreram, sabe? 

Com o bebê em seus braços, andou pela sala, pisando no sangue da própria mãe da criança, somente para evitar seu choro. 

-Eu entendo a dor que você vai passar. Minha mãe morreu no dia depois que eu nasci, mas meu pai... eu talvez tenha o matado em meu primeiro surto, ou ele simplesmente sofreu um acidente de carro, eu nunca vou saber. Mas ele nunca realmente esteve lá, assim como o seu não estará, mas você não vai se lembrar nem de como ele era. 

A criança mal entendia o que estava acontecendo, se deixando acalmar no colo da estranha, sem ter a capacidade de saber os horrores que ela acabara de fazer. 

-Mas se não tem ninguém, quem irá te alimentar? Você iria morrer de fome em poucos dias, ou de sede. Esse não é o destino de uma criança, ou é? Sua mãe pediu misericórdia, talvez eu possa satisfazer seu último pedido, te poupar dessa dor e acabar com tudo logo. -Falou, levando uma mão ao pescoço da criança, com o pouco de coragem que restava em seu corpo.

Mas algo falhou dentro da garota. Um sentimento ruim se alastrou por seu corpo, provavelmente derivado da influência de Will, um ser muito mais controlado em relação à violência do que ela, mas que a impediu de fazer um arranhão sequer na criança. 

-Eu não posso fazer isso... -Sussurrou.

Com a criança em seus braços, saiu da casa, andando até o único lugar que ela conhecia na área. 

A entrada da casa dos Hampkins ainda era a mesma, mesmo que tostada. A morada de só um andar estava quase igual a antes, com a mesma aparência acolhedora e estranha, presente nos vários tijolos que cobriam as paredes. 

Como havia planejado, pôs a criança em um cesto, colocando-a em frente à porta, sem se perguntar seu nome ou gênero. Assim que se abaixou para olhar mais uma vez o bebê, a porta queimada se abriu, revelando o pastor Hampkins, vestido da mesma forma de sempre, roupas simples e surradas junto de óculos meia-lua.  

-Mabel! Você por aqui? Não te vejo faz tanto tempo. E o que temos aqui? É seu? -Perguntou, apontando para o bebê.

-Não, eu só cheguei agora, já deveria estar aqui antes. -Mentiu.

-Pobre coitado. Eu vou o levar para dentro, gostaria de vir também? 

Mesmo que tentasse disfarçar, Mabel conseguia ver o desconforto do homem ao encarar suas cicatrizes de lágrimas no rosto, evitando olha - las por mais do que três segundos.

-Claro. Faz tanto tempo que não venho aqui. 

-Não repare na bagunça. - Disse, ao andar até um quarto, para colocar o bebê na cama. -Desde o que aconteceu com... você sabe... eu não conseguia arrumar mais nada.

-Eu sinto muito, senhor Hampkins. Muito mesmo. 

-Nós todos sabíamos que ela terminaria assim. -O homem respirou fundo e se afastou, abrindo espaço na pequena sala com cheiro de mofo. -Por favor, se sente, Mabel, é bom ter você aqui.

A garota esboçou um sorriso de lado, mesmo que triste, andando até uma poltrona e cruzando as pernas, observando os vários porta - retratos que  cercavam. Todos mostravam a mesma pessoa, Grenda, antes de seus quinze anos, quando saiu de casa para ficar com Marius, somente por seu dinheiro e por seu mundo de violência, do qual ela se tornou rainha. De certa forma, doía, para Mabel, já que aquela era a única pessoa que ousou se aproximar dela após a morte de Tyrone, e uma das únicas pessoas que ela se arrependia minimamente de matar. 

"Eu nunca fui catolica"

As últimas palavras que disse direcionadas à Grenda ainda pairavam em sua cabeça. Na hora, sentiu como se precisasse dar satisfações sobre o por que de sair andando, e não honrar sua promessa à melhor amiga. Se bem que do jeito que tudo estava, talvez as duas realmente se encontrassem no além.

-Gostaria de um café, uma água, um chá? -Disse o pastor Hampkins, pai de Grenda.

-Não obrigada. 

Mentir nunca fora difícil para alguém como Mabel. Sabia como manipular todos à sua volta, forjar as chances ao seu favor, mas por algum motivo se fingir educada para o pastor a machucava, uma lembrança constante do que ela havia feito à uma pessoa que realmente a amava. Mas nao era como se se importasse com amor.

-Deve estar sendo difícil. Candy, Grenda e agora ver o seu irmão de tal forma... Você está em minhas rezas todas as noites. - Seus olhos escuros brilhavam nos óculos meia-lua, tão calmos quanto sua voz.

-Eu não mereço reza alguma. Mas você sabe que era eu me confessando na igreja, não? 

-Não posso falar sobre o que ouço fora de lá, mas sim, eu sei. Devo admitir que suas confissões foram as mais intrigantes que já ouvi. Se quiser conversar, saiba que eu estou aqui, não como um temente à deus, mas como pai da sua melhor amiga. 

-Não foi para isso que vim. Tudo está desmoronando e não sei como reagir. Eu pensei que vindo aqui eu me lembraria melhor dela e tiraria alguns pesos das minhas costas, mas não parece estar ajudando. 

Cada foto ao seu lado parecia pior. Pela primeira vez a culpa estava a acertando daquela forma. Dipper estava morrendo muito mais rápido do que o esperado, ela já não sentia atração física alguma pelo irmão, Will estava desaparecido desde que contou a verdade a Pacífica e a única pessoa com a qual ela poderia se divertir e esquecer tudo por algum tempo ela mesma havia matado, num ato de medo por saber que seria comprometedor ter alguém assim em sua vida, que havia se tornado uma guerra.

-Mabel, há algo que Grenda deixou para você.

-Sinceramente, senhor, eu não me importo. Não vou conseguir receber nada dela no momento, e talvez nunca. Vir aqui foi um erro. - Se levantou apática, ignorando tudo à sua volta e forçando a si própria que se mantesse assim.

-Mas e o ... ? 

-Eu já disse que não me importo! -Ela o interrompeu, de forma bruta, já na porta.

-Eu sei que você já sabia que Grenda estava morta quando veio se confessar. Por isso disse que todos haviam partido. Eu preciso saber como foi. - O pastor disse aflito, não como uma ameaça, mas uma súplica. 

-O que o senhor diria ao assassino da sua filha?- Falou, fugindo da pergunta e parando, centímetros longe da saída. 

-Que eu espero que ele tenha encontrado redenção, mas que enquanto eu for vivo eu irei rezar para ele apodrecer. Ninguém pode ser tão cruel. Não é humano.

-Bom dia para o senhor.- Foi a última coisa que se atreveu falar, antes de bater a porta e partir, sem olhar para trás, somente com a lembrança da amiga na cabeça. 

"Existe um quarto no qual a luz não te encontrará,
De mãos dadas enquanto as paredes caem ao chão. 
Quando o fizerem, eu estarei bem atrás de você."

A tarde passou tão rápido quanto a manhã, lenta e tediosa. Pacífica já não estava mais apavorada. Na verdade estava tão calma quando conseguia estar. As vozes em sua cabeça estavam parecendo se entender, seus comentários pareciam fazer mais sentido e haviam parado de se misturar com os pensamentos da garota.

O pesadelo ainda a assombrava, mas o que ela poderia fazer? Já tinha falado com Gideon, mas o mesmo não era a melhor pessoa para consolos. Já Will havia sumido após dar a notícia mais importante da vida de Pacífica. Tudo que a garota podia fazer era aceitar que talvez tivesse mais medo de não fazer nada do que de viver a vida que estava destinada a viver de fato. 

O ferimento em sua barriga parecia não doer mais depois do momento com Dipper. Agora estava em estado de cicatrização, mas ainda a lembrava da atitude horrenda que havia cometido. 

Para espantar esse pensamento, começou a andar pela casa, sem comer ou parar para beber água, somente procurando algo que chamasse sua atenção. 

No primeiro andar, pouco depois de quarto de hóspedes no qual estava dormindo, havia uma imensa sala com um piano maior do que qualquer coisa que ela já tivesse visto. Era magnífico em formas que ela mal conseguia explicar. Somente se sentar na frente de algo tão diferente do que conhecia já lhe causava um sentimento estranho e bom, mas seus delírios foram cortados pela voz rouca e baixa que ela reconheceria em qualquer lugar.

-Olá Pacífica. Ou seria mãe do demônio? Como devo a chamar agora?  -Disse o homem, entrando na sala sem aviso previo. -Talvez berço dos monstros? Me parece um tanto rude, gostei. 

-Vai se ferrar. - Falou, virando seu corpo para o outro lado e parando de mecher no piano.

Por trás de toda a poeira, era possível ver os detalhes no cômodo luxuoso. As paredes continham imensos quadros, além de alguns porta - retratos, que reluziam em seus contornos de prata, ou talvez fosse ouro, envelhecido e esquecido. No centro, o imenso piano chamava atenção, negro como a obsidiana e coberto de arranhões tão profundos que poderiam ter sido feitos por um lobisomem, ou uma besta feroz qualquer.

-Então, como se sente sabendo que dará a luz à dois dos seres mais horrendos que esse mundo já viu? Por que se for igual ao irmão, Bill deve ser asqueroso. - Caminhou lentamente até a garota, se sentando em uma poltrona em sua frente. Mesmo absurdamente magro e decrépito muito antes da hora, ainda possuía a pose de um rei, ou um imperador, impondo medo e espanto.

-Sua irmã não parece o achar tão feio.

O sorriso maldoso que Dipper sempre carregava consigo havia sumido, dando espaço à fúria de uma criança privada de seus brinquedos.

Por todo o seu tempo perto dos Gleeful, Pacífica havia aprendido um pouco do jogo, observando cada ação dos gêmeos,  de forma que tirasse uma lição de tudo que eles faziam. Nunca chegaria aos pés deles, mas já sabia se defender, ou o que dizer caso não queira que sua garganta seja cortada, mas também deseje assistir a expressão patética de seu oponente quando o dizer.

-Você costumava ser menos insolente. 

-E você mais bonito.

-Touché. 

Dipper já sabia de seu estado deplorável, já havia percebido que estava morrendo e rápido. Sua pele acinzentava cada vez mais, exalando um leve fedor, que poderia ser mascarado com um perfume leve, mas esse não era o problema. Os órgãos, antes mal falhos, pareciam estar parando um por um, corroendo seu corpo de dentro para fora. Mabel havia notado também, e na noite anterior não havia sentido um pingo de atração pelo irmão. E isso doía muito mais.

-Eu devo dizer que admiro a sua capacidade de se recompor tão rapidamente. Ontem mesmo estava encolhida, chorando e reclamando das vozes em sua cabeça, enquanto hoje já está explorando a casa como se fosse sua. Me diga, como pode parecer tão sã depois de algo tão peculiar?

-Ainda dói e as vozes não pararam, mas eu acho que o que Will me disse pode ter me ajudado a me recompor. Só um susto acaba com um soluço...

-Você pode se fingir de forte e "badass", mas essas suas analogias arruínam sua pose. - Tentou conter o riso -principalmente porque cada gargalhada doía mais do que a anterior-mas não teve tanto sucesso quanto esperava. -Pacífica, você ainda é tola, uma novata nisso tudo. Não tente parecer mais do que é, isso só vai provar que ainda não entende nada do mundo que a cerca. 

A garota bufou, observando o homem magro se sentar ao seu lado, passando suas mãos pelo teclado do piano, dedilhando uma melodia que Pacífica poderia jurar que já havia escutado. 

-Eu e Mabel costumávamos vir aqui antes do que aconteceu com o Ty. Nós tocávamos por horas e horas, escondido de nossos tios. Toda vez que fecho meus olhos e penso nela, essa música toca no fundo. Talvez seja minha memória mais querida.

-Quando ela citou a profecia e eu tive acesso às memórias de vocês, eu ouvi isso. Não no piano, mas na voz dela. É lindo. Assim que eu descobri sobre vocês dois eu morri de raiva, não por ciumes, antes que pergunte, mas por me sentir uma idiota de não ter descoberto. Agora eu sinto raiva por que eu talvez nunca tenha um amor assim, longo, do tipo que se arrisca tudo por. Vocês são estranhos, violentos, cheios de idas e vindas que eu seriamente duvido que sejam boas, mas se amam, ou se amavam. Pelo que Will me disse e o que essas vozes ficam sussurrando, eu nunca vou ter nada assim, é isso me assusta.

-Se espera que eu te abrace e limpe suas lágrimas vá sonhando.-O comentário aliviou o clima, quase criando um ambiente agradável, como se fossem algo próximo de amigos. Quase. -Mas se te serve de consolo, talvez não tenha mais nada para você invejar. Ela está apaixonada pelo seu filho, não por mim. Eu pude ver isso ontem, ela não se deitou comigo por amor, por devoção, nem mesmo por pena, mas por obrigação. Isso é pior do que se me deixasse por ele.

-Sinto muito.

Ignorando o comentário, Dipper começou a tocar a música, tocando as teclas da melhor forma que de lembrava.

Sua voz já havia mudado muito desde que havia cantado no restaurante da Susan, no que parecia ter sido anos antes. Agora ela era fraca, baixa, triste, carregando tudo que ele havia passado. Se tentasse com vontade, Pacífica ainda conseguia ouvir o rouco da antiga voz, da mesma forma que ainda conseguia ver o garoto bonito e mentiroso de antes no homem que ele havia se tornado.

"Sobre as Colinas e Além,

Por dez longos anos ele contará os dias.

Sobre as montanhas e os mares,

Uma vida de prisioneiro para ele terá.

Ele sabia que aquilo teria custado caro,

mas ainda não ousaria dizer.

Onde ele havia estado naquela noite fatal,

um segredo aquilo havia de ser.

Teve que reagir às lágrimas de raiva.

Seu coração batia como um tambor.

Com a esposa de seu melhor amigo,

havia passado sua última noite de liberdade

Sobre as Colinas e Além,

Ele jura voltar um dia.

Longe das montanhas e dos mares,

de volta aos braços dela ele jura que estará.

Sobre as Colinas e Além."

Enquanto o observava cantar, Pacífica se lembrava de tudo que havia visto da vida dos gêmeos, todas as provas de amor e brigas que os assombravam. Ao mesmo tempo que ainda estranhava o fato dos dois serem irmãos e mesmo assim manterem relações, sentia pena deles. Após lutarem tanto para estarem juntos -Nem sempre da melhor forma. - estavam perdendo tudo. E a canção só piorava a situação. 

Agora entendia. Dipper era completamente apaixonado por sua irmã, desde que conseguia se lembrar. Mas às vezes, quando sentia medo de seus sentimentos, se envolvia com outras mulheres, porém nunca sentindo algo. Durante seu tempo na cadeia, tudo que conseguia pensar todos os dias era nela, em como queria voltar para ela. Mas Mabel agora estava apaixonada por outro, e tudo que Dipper conhecia havia sido destruído. De alguma forma isso tocava algo dentro de Pacífica, o pequeno resto de empatia que ela sentia pelo homem parecia vir à tona.


" Cada noite dentro de sua cela,

Ele olha para fora pelas barras.

Lê as cartas que ela escreveu.

Um dia ele saberá o gosto da liberdade.

Sobre as Colinas e Além,

Ela reza que ele vai voltar um dia.

Tão certo quanto os rios chegam aos mares,

De volta aos braços dele é onde ela estará."

Assim que parou de tocar, Dipper sentiu a mão de Pacífica na sua, e isso, sem explicação alguma, o acalmou, de forma que a situação não parecesse tão ruim. Naqueles preciosos segundos na sala de música, ele pode sentir como as coisas poderiam ter sido se o destino tivesse outros planos.

"Existe um quarto no qual a luz não te encontrará,
De mãos dadas enquanto as paredes caem ao chão. 
Quando o fizerem, eu estarei bem atrás de você."

 

Em uma das várias salas do segundo andar, Gideon tomava algumas garrafas de cerveja que havia comprado na cidade. Nunca tinha visitado a área mais rica antes. Se tivesse ido no mês anterior, talvez tivesse ficado impressionado com as ruas, ou com as várias marcas de bebida alcoólica diferentes disponíveis no mercado. Mas poucas coisas o impressionavam agora. Não corava mais ao olhar para Mabel, não sentia mais a mesma alegria de antes ao conversar com Pacífica, seu tempo com os Gleeful estava começando a deixar marcas.

Havia um ódio crescendo dentro dele, algo estranho e novo, que poderia ser usado para bem e para mal. Quando defendeu Pacífica de seu pai, sentiu toda aquela raiva em uma forma boa, estava protegendo quem amava. Mas ódio consome, devora, e Gideon agora entendia o significado disso.

Cada vez que ele terminava uma garrafa, atirava-a contra a parede, formando um canto de vidro quebrado. Era o máximo que poderia fazer para demonstrar sua raiva.

No andar abaixo dele, Pacífica estava com Dipper, fazendo nem deus sabe o que, e isso o atormentava. Will havia partido, Mabel estava diferente, sua prima estava na beira da loucura e parecia estar se aproximando do telepata. Tudo que ele mais queria era a proteger, mas sabia que Dipper poderia a ajudar, então o confrontar poderia somente piorar o estado da garota.

Estava tão distraído com sua pilha de vidro que nem ouviu a garota Gleeful entrar, sorrateira como sempre, rapidamente posicionando suas mãos nos ombros do mais novo.

-Então é aqui que vem para esquecer os problemas? Criativo... Se não fosse o mesmo lugar que Ford usava. -Seus dedos ágeis faziam movimentos circulares nas costas do garoto, tirando toda a sua atenção dos cacos.

-Eu só precisava de um lugar para esfriar a cabeça. Vocês têm centenas de salas, não pensei que iria se importar de eu usar uma.

-E não me importo. -Falou, se afastando e  abrindo uma gaveta no armário do outro lado da sala. Um dos poucos móveis do vasto cômodo. 

Ao observar Mabel pisar no tapete para apanhar a garrafa de vinho, Gideon não conseguiu tirar os olhos das grossas meias pretas que cobriam as grossas coxas da garota. Como imãs, as pernas imploraram por sua atenção pelo máximo de tempo que conseguiram, até uma marca cor de vinho seca conseguir ser avistada na sola do sapato vermelho. Aquela parecia ser sua nova cor. Substituindo o típico azul celeste, as várias roupas vermelhas pareciam atrair mais atenção, eram placas de aviso sobre o perigo da garota, que mascaravam boa parte do sangue derramado nela.

-Você tem sangue nos seus sapatos. 

Retirando um pano do bolso de sua justa saia preta, Mabel limpou a marca, enchendo sua taça de vinho logo após e se sentando em uma poltrona que a mesma acabará de levitar do canto da sala até a frente do sofá onde Gideon estava. 

-Quais foram suas vítimas hoje? Cidadãos inocentes ou alguém que soubesse algo sobre seu precioso Will.

-Ele vai voltar, eu sei que vai. -Disse, sem muita firmeza. -Está ficando mais corajoso. Você e ela estão. Os deuses tem um senso de humor perverso quando se resume a nós. 

-Ainda não respondeu minha pergunta.

Se os olhos de Mabel já não expressavam o quão estressada ela poderia ficar com alguém, seu tom de voz deixava bem claro.

-Eu ainda posso arrancar a sua cara. Só porque não o fiz não quer dizer que esteja a salvo. -Observando o vacilo na expressão de Gideon, tomou um gole de seu vinho, segurando a taça como se fosse uma continuação de sua mão. -Mas nenhum dos dois. Eu fui atrás daqueles imbecis que deixaram a mansão. Eles sabiam demais. Acredita que eu não consegui todos? 

Gideon a encarou surpreso, cruzando suas pernas e tentando decifrar a estranha expressão que havia se formado no rosto da garota. Como se quisesse rir mas não conseguisse forjar o sentimento necessário para isso.

-E por quê?

-Logo na primeira casa tinha um bebê. Eu nunca matei um bebê. Não consigo me lembrar se algum dia já matei uma criança. Isso não me da alegria, não é a mesma coisa que matar um adulto. Eu tinha a criança nas minhas mãos e simplesmente...  Não consegui. Vamos dizer que isso estragou minha tarde. Nem mesmo algumas mortes me animaram.

-Talvez você ainda tenha algo bom aí dentro. -Disse Gideon, esperançoso.

-Duvidavel. Depois de tudo que fiz não sei se resta algo para ser bom. Mas não é como se eu quisesse me arrepender de alguma coisa. Ou qualquer coisa. 

-O que você fez depois?

-Voltei para cá correndo, oras. O que mais iria fazer? Não sei se percebeu mas diferente de meu irmão eu não tenho adoradores. Existem pessoas que me odeiam e existem pessoas que me amam, mas nenhuma nessa cidade iria me seguir. Todos que o fariam já se foram.

Cerveja era o pior componente para se juntas com ódio e paixão, e Gideon estava prestes a descobrir. Sem pensar duas vezes, o garoto falou mais alto do que deveria:

-Eles se foram por que você os fez partir. Toda pessoa que se apaixona por você é marginalizada ou assassinada, todos que te seguem você faz questão de fazer descobrirem o quão podre é. Como espera ter seguidores se a única coisa que faz é matar e usar?

-E o que espera que eu faça? Que eu os ame? Que eu seja "boazinha"? Caso não tenha percebido, os shows da Tenda Da Telepatia acabaram, as pessoas se lembram do meu irmão por serem fanáticas por qualquer homem bonito que apareça. Eu tenho que sobreviver, e não me importo com o que tenho que fazer para o conseguir.  Se o preço for afastar a todos eu vou o fazer. Se for necessário matar eu vou matar. Essa é a única coisa que eu sei fazer. Não me importa se é um cidadão comum, se é Grenda ou até mesmo você, mas eu vou usar quem for preciso para sair viva. 

O garoto abaixou a cabeça, tentando controlar seus sentimentos conflitantes, e deixou um pequeno sussurro escapar.

Por favor, eu só quero que me responda isso... Quando você... Nós... você fez aquilo só pela informação? Nada mais? Você me usou também?

-Sim. -Ela admitiu, encarando Gideon nos olhos enquanto ele tomava outro gole da garrafa. -Eu queria saber sobre o diário, por quê se eu não o encontrar eu morro. Então sim, eu te usei, e o usaria de novo se fosse preciso para eu sobreviver.

-Eu sabia. -Gideon sussurrou, virando a garrafa de cerveja. -Vocês garotas ricas são todas assim... Vocês usam quem querem quando querem nem que seja para se divertir, e quando se cansam descartam as pessoas como copos de plástico. Eu queria muito, queria mesmo, poder te odiar, sabe? Tudo que eu mais desejo é conseguir sentir ódio só de olhar para a sua... perfeita cara. Não é justo...- jogou a garrafa na parede, pegando outra do lado. -Você entra em uma sala e automaticamente suga toda a vida do lugar e a concentra em si mesma, fica impossível olhar para qualquer outro lugar. Você faz todas as pessoas se apaixonarem por você só por estar ali, parada, com um maldito sorriso de lado no rosto. O mesmo sorriso que todos vocês Gleeful tem, de desdém como se fossem melhores que todo mundo. Mas é como se não conseguisse evitar, não é? Não é como se fizesse algum esforço para ser assim. Eu, Dipper, Will, todos caem aos seus pés pelo que? Charme? Beleza? Por que fora a isso você não é nada! Eu nunca te vi ser gentil, não de verdade, ou amigável. As únicas vezes que te vi se importar foram com seu irmão patético, e só porque você o fode. Se tirarmos essa sua aura de perfeição você vira só uma garota de dezoito anos malvada, cruel, que só se interessa em si mesma. Até mesmo assim, praticamente destruída, com cicatrizes e suja, você é a mulher mais linda que eu já vi, mas assim que eu me lembro de como você é eu só consigo sentir medo. -Olhou para a janela, tentando evitar a expressão confusa da garota, que arqueava suas sobrancelhas escuras, de forma que era impossivel tirar os olhos de perto dos seus. -Por quê eu tenho que amar uma pessoa tão cruel e insensível? 

O discurso foi uma facada para Mabel, que demorou alguns segundos para processar o que havia acabado de ouvir. Um garotinho assustado tinha acabado de xinga - la de cruel, malvada, egoísta, insensível e muitas outras coisas, e ela sabia que eram verdades, mas ainda sim se ofendia com a insolência, mesmo que uma parte de si curiosamente entendesse Gideon.

-Você realmente acha que eu sou esse monstro? Sim, eu te usei. Sim, eu faço o que eu quiser por que posso. Sim, eu faço as pessoas se apaixonarem por mim para ter o que quero. Deuses, eu fiz até minha única amiga se apaixonar por mim sem nem mesmo querer! -Disse, se levantando.- Mas isso não significa que eu não faça nada pensando nos outros. Eu provavelmente vou morrer daqui à alguns dias. Provavelmente vou dar a minha vida para salvar a do meu irmão. E é porque eu fodo ele? Não, é por que eu amo aquele filho da puta, mesmo que eu não queira admitir mais. -Segurou Gideon pela gola da camisa, atirando a garrafa à parede e quase cuspindo no rosto do garoto, de tão perto que falava.- Então não venha achando que sabe algo sobre mim! Nada do que fiz vai importar em pouco tempo, talvez nada de certo e nós iremos acabar enterrados embaixo de um laboratório nessa casa, assim como Ty, mas eu fiz tudo que fiz para manter algumas pessoas vivas, mesmo que isso envolvesse matar outras. Grenda, Stan, eles se foram, mas eu ainda posso salvar meu irmão e... -Se afastou um pouco, mantendo o mínimo de calma que ainda tinha. - E eu posso fazer algo para o Will. Então sim, eu sou como essas garotas mesquinhas que fazem o que querem, e eu vou transformar essa cidade em pó se for necessário, só para protege-los. Se tiver algum problema com isso, pegue suas coisas, sua prima e saia da minha casa.

Largou a camisa de Gideon, respirando fundo depois de ter falado e gritado tanto. Enquanto ele processava o que ouvira virou sua taça de vinho, jogando-a à pilha de outros cacos de vidro assim que acabou.

-No que eu fui me meter... -Ele sussurrou para si mesmo, antes de se levantar, pegando a última garrafa de cerveja e erguendo ao ar, como se fosse fazer um brinde, mas estava bêbado demais para o fazer direito. - Mabel alguma coisa pois não sei seu nome do meio Gleeful, eu, esse idiota que pode ter bebido um pouco demais, juro que eu vou fazer de tudo para que você saia viva disso tudo. Não porque eu posso, não porque eu te amo, mas porque eu sinto que preciso. Eu não me importo com o que devo fazer, mas eu vou conseguir te manter viva, nem que eu tenha que matar Marius eu mesmo, por quê você é a pessoa mais estranha e inacreditável que eu já conheci, e te deixar morrer seria o pior dos meus erros. Se pudesse eu te mataria eu mesmo só para acabar com tudo isso e me livrar desse fardo que é te olhar e saber que eu faria tudo por você, mas isso significaria que nada do que aconteceu teria importância, e já estamos longe demais para voltar atrás. Minha prima teria ficado meio louca por nada, nós teríamos queimado a cidade por nada, pessoas morreram e não seriam relevantes. Eu vou te ajudar, mas por que não tem outro jeito.

O sorriso que se formou nos lábios de Mabel era quase adequado para uma garota da sua idade, largo e verdadeiro, o único traço de felicidade que ela havia demonstrado em dias. 

-Parece que alguém cresceu. -Ergueu a garrafa de vinho, apontando-a para o garoto. - Talvez eu até tenha uma chance agora. 

-Só espero não me arrepender.

-Ah, mas você vai, isso que torna essa situação melhor. 

Gideon sabia o que aconteceria nos dias seguintes, conhecia o perigo e as chances de ele mesmo morrer, mas precisava fazer aquilo por Pacífica, depois de seu colapso junto dos gêmeos, o garoto tinha medo de que se algum deles morresse, uma parte dela se fosse também.

-Você ainda não falou o que houve no túnel. Agora que temos esse "pacto", você tem que esclarecer as coisas. Não acha justo? - Ao encarar aqueles imensos olhos azuis, Gideon  se sentiu pressionado a falar, mas se conteve por vergonha. Eles transmitiam algo que ele não conseguia bem explicar, uma espécie de olhar superior, mas estonteante, curioso de uma forma peculiar, que parecia dissecar todos à quem olhava, fazendo anotações mentais de suas características e pensamentos mais profundos. -Você achou uma arma, bebida, e aparentemente vídeos aqui. Como?

-Eu não me lembro de tudo, por isso acho que estou tão calmo. Eu me lembro de ir procurar algo para limpar a sala quando eu vi o corredor, devo ter seguido por alguns bons minutos até achar uma sala. Eu só queria saber o que tinha te feito chorar... No canto da sala tinha uma caixa com alguns panos seus e uma fita. -Fez uma pausa encarando a garrafa em suas mãos. -A partir daí eu me lembro muito pouco. Minha mãe estava nelas, disso tenho certeza. E meu pai... Ele deve ter feito com ela, não deve? O que fez com a Paci? -Sem conseguir se conter, Gideon começou a chorar. -Tinha uma garrafa do meu lado e... Só me lembro disso. Paci disse que eu voltei pra mansão com uma arma e fiz algo.

-Você atirou em si mesmo com uma pistola. Só não está morto por que Will não podia deixar Pacífica sofrer com mais alguma coisa assim, deve ter achado que ela iria se matar se você morresse. 

-Mas eu pensei que vocês não precisassem de armas, por causa dos poderes, sabe?

-E não precisamos. -Disse Mabel, se levantando e indo até a porta. -Mas Ford deveria precisar.

Ela levitou os cacos de vidro, os jogando pela janela e levando as garrafas ainda inteiras para perto de si, antes de se virar uma última vez.

-Descanse até que esteja sóbrio, eu vou pegar as armas e vamos testas cada uma delas amanhã. Finalmente vai ter uma forma de me proteger como prometeu.

Com um sorriso no rosto, Mabel deixou Gideon sozinho, já questionando seu juramento e remoendo suas ações. O final estava próximo, poderia ser no dia seguinte ou em uma semana, mas iria chegar logo, com eles preparados ou não. 

"Tão contente por termos conseguido,
Tão triste por termos de abandonar."


-Irmão? Dipper? -Perguntou Mabel ao entrar na sala do piano, onde ela sabia que ele estava antes com Pacífica. 

O cômodo não parecia ter mudado nada desde a época que os Gleeful eram crianças. O som das risadas e promessas parecia ainda preencher cada canto do local, de forma que a sensação de ser puxada de volta para o passado não pudesse ser afastada tão facilmente. 

-Dipper? Você está aqui? Gideon achou algumas armas, eu quero que você as teste amanhã para se defender. Olá? 

Conforme foi se aproximando do piano, sentiu suas narinas serem inundadas pelo cheiro podre da carne do irmão, que apodrecia vivo bem na frente da garota.

Ele tossia sangue sem fazer som algum, escondido atrás do instrumento, desesperado por ar.

Ao ver tal cena, Mabel se jogou ao corpo do irmão, levando suas mãos ao seu rosto, com tal delicadeza que nunca tivera, nem quando era somente uma criança. Seu desespero era tão grande que por alguns minutos berrou por Will em pedido de ajuda, se esquecendo completamente do desaparecimento do mesmo. Pacífica deveria estar no andar de baixo, e Gideon estava embriagado demais para ir ajudar. 

Mabel correu até um quarto, pegando o pouco que restará do líquido escarlate e derramou sobre a boca de seu irmão,  o forçando a engolir. 

No único suspiro que conseguiu soltar, Dipper murmurou, ao ouvido de sua tão amada irmã:

"Eu sabia que você ainda se importava."

Antes de desmaiar, na poça de sangue que se formara em volta da garota.


"Todos querem governar o mundo."

Notas Finais


Gideon falou tanto nesse cap q estourou a cota de falas dele dkdkdk. Agr ngm pode reclamar de ele não ter espaço, olha os textões q ele falou hj.
So... próx cap vai ser um pouco diferente, como é o penúltimo ele vai ser a despedida. Ele será narrado por todos os personagens e terá uma música pra cada. Como eu vou fazer isso? Nem eu sei, mas vai oq for. Só espero que gostem.

•Vocês têm teorias de como a história vai acabar?•


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