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História Mermaid ( Jeon Jungkook ) - Um


Escrita por: birdgirl

Capítulo 2 - Um


Fanfic / Fanfiction Mermaid ( Jeon Jungkook ) - Um


Demorou cerca de trinta segundos para eu dar uma volta completa em torno do meu próprio eixo, esse iluminado pelo sol morno de Baracle Bay.

A brisa familiar, com um exaltante cheiro de sal e peixe, percorreu meu corpo e me trouxe de volta a realidade.

Eu estava de volta. Depois de dez anos.

Nemo, o vira-lata da faculdade que estava sempre comigo, também não deixou de vir conhecer minha cidade natal. Tímido, ele não correu por aí quando eu o soltei da caixinha de transporte azul, mas continuou atrás de minhas pernas.

- Está tudo bem. - Disse para ele, o empurrando sutilmente com a panturrilha. - Pode ir farejar por aí.

Voltei a encarar a rua vazia, exatamente de frente para o mar. De vez em quando passava um carro, mas era raro.

Em Baracle Bay, as pessoas possuíam mais barcos e bicicletas; e aquilo, junto com a mata preservada, era o que deixava o ar tão gostoso de ser respirado.

A transição da capital para uma cidade com não mais que dois mil habitantes foi feita com carinho por meu coração, que nunca havia deixado verdadeiramente de pertencer àquele lugar com exatamente tudo pintado com azul marinho, verde e branco.

Nemo latiu para mim, apontando com  o nariz para um pequeno caranguejo perto de um coqueiro na calçada. Ele nunca havia visto um; assim como nunca havia tido uma família antes de eu o adotar a cerca de sete meses atrás.

Ao contrário dele, eu via muitos caranguejos e tinha uma família, mas o tempo foi cruel comigo.

Nada de caranguejos e família. Apenas uma sensação de despertencimento aonde eu vivia, com tantos prédios e barulho.

Dei mais uma volta em meu próprio eixo, agora parando exatamente de frente para o mar azul claro.

"Essa cidade nunca muda."

O grito das gaivotas pairando acima de mim foi a última peça do quebra cabeça para um sorriso finalmente se formar em meu rosto bronzeado naturalmente.

Eu estava em casa. Com caranguejos e logo, as últimas duas pessoas que restaram da minha família.

Com um assobio, chamei Nemo para próximo de mim e levantei minha mala marrom do chão.

- Vamos para casa, pequeno. - Disse para o cão, que abanou o rabo em resposta.

Cerca de cinco minutos para chegar a uma das ruas residenciais de Baracle Bay. A cidade era dividida assim; ruas para moradia, ruas para comércio e ruas para lazer e todas as construções sempre permeando os tons oceanis.

Minha antiga casa ficava no final dessa rua residencial. Atrás dela havia a extensão da floresta tropical que cercava Baracle Bay por completa, a escondendo do resto do mundo.

A casa se erguia com madeira e possuía uma varanda cheia de pequenas estátuas de peixes e conchas nas janelas com as cortinas brancas para fora.

Engoli em seco a mistura de ansiedade com nervosismo em bater na porta com uma grande estrela do mar grudada no meio. O número acima dela dizia 3405, pintando com tinta branca por mim e por minha prima.

Costumávamos viver em cinco, eu, minha vó materna, minha mãe, sua irmã e minha prima. Nada de homens. Nada de animais de estimação também.

Eu não gostava de não ter um pai, ou um cachorro, mas pouco me lembrava desse tormento por causa da diversão que era viver com elas quatro.

Nemo me olhou com curiosidade; eu estava demorando demais para bater na porta.

- Já vou. - Com isso, dei duas singelas batidas com os nós dos dedos na madeira escura e aguardei.

Demorou um minuto até que ela se abrisse, revelando uma silhueta esguia e talvez emocionante demais ao se ver parada a minha frente.

Minha tia Alena não disse uma palavra sequer, com sua voz cerca de um tom mais grave que a de minha mãe, mas me abraçou de imediato.

Seu cheiro doce me fez fechar os olhos e sentir mais uma conexão com aquela realidade. Ao encara-la novamente, tive a impressão de que havia voltado dez anos atrás no tempo.

Alena sorriu para mim e pegou em uma mecha do meu cabelo preto.

- A cada dia mais parecida com Ailina. - Foi o que disse. - Estou feliz que tenha voltado, Odara.

- A senhora não mudou nada. - Respondi, colocando novamente minha mala no chão. - Continua a mesma.

- O segredo são as oferendas. - Minha tia piscou para mim e riu. - E um pouco de colágeno, claro.

- Onde está Ohana? - Eu perguntei, olhando-a por cima do ombro.

- Ohana? Ah, Ohana! - Alena gritou para cima, colocando as mãos na cintura. - Essa menina sempre dorme demais.

- Sempre. - Nessa hora, Nemo se aproximou timidamente da minha tiam - Esse é Nemo. Não se preocupe, ele é provavelmente mais comportado que uma de suas estátuas.

Alena se abaixou para fazer carinho no topo da cabeça dele, sorrindo logo depois.

- Não era eu quem não gostava de cães. - Retorquiu, dando de ombros.

- Mamãe odiava os latidos. - Disse eu.

- Ela odiava qualquer barulho, na verdade. Acho que gostaria de ter nascido surda. - Minha tia riu triste ao se lembrar das discussões que tinha com a irmã.

Uma terceira voz invadiu o espaço. Minha prima, cerca de um mês mais velha que eu, apareceu pela porta de madeira usando um pijama rosa claro de corações brancos.

- Odara! - Ela pulou em mim, me sufocando com um enlaço apertado. - Que saudade, prima.

- Senti muito sua falta também. - Respondi. - Das duas.

Minha tia apontou para meus olhos.

- É bom ter alguém com os mesmos olhos que eu e Ohana.

- Sim. Com certeza. - Minha prima me soltou e também se abaixou para falar com Nemo. - Oi, coisinha mais fofa.

Dei um sorriso torto. Os olhos da família Kai nunca foram algo que me trouxessem coisas boas, pelo menos até eu sair de Baracle Bay.

A verdade era que todas as mulheres nascidas com nosso sangue tinham heterocromia. Com as mais variadas cores, mas sempre se diferenciando em cada olho.

Tia Alena possuía o esquerdo verde e o direito azul, Ohana tinha as mesmas cores, mas ao contrário.

O mesmo raciocínio serviu para mim, que tenho o direito azul e o esquerdo preto e minha mãe, que possuía o olho direito preto.

E aquilo para uma pequena cidade não significava nada mais do que uma maldição imposta na nossa família pelos deuses marinhos, há muitos anos atrás quando os nossos homens pescavam mais do que deveriam no oceano.

"- Nada mais do que uma desculpa para nos tratarem como alienígenas. - Disse minha mãe uma vez. - São ignorantes, isso sim."

- Então? Vamos entrar? - Tia Alena disse, por fim. - Ontem eu quase morri de alergia para limpar seu quarto.

- Eu poderia dormir da sala de qualquer forma. - Respondi, dando de ombros e a seguindo. Ohana ficou brincando de pegar graveto com Nemo.

- Ora, nada disso. - A mulher franziu o cenho para mim e acrescentou. - Aí quem iria morrer de alergia ia ser você.

Eu ri e subi as escadas de madeira, que rangiram exatamente como faziam a dez anos atrás. Talvez só um pouco mais do que antes.

Nada mudava mesmo.

- E como estão todos? - Perguntei, enquanto ajudava as duas a arrumar a cozinha após o jantar.

- Nada de especial para ser levado em conta. - Alena disse ao passo de que ia esfregando um dos pratos sujo com molho rosé.

- Lembra do senhor Kaul? - Ohana me encarou e eu revirei os olhos.

- Aquele que dizem ter encontrado uma sereia?

- Ele faleceu senana passada.

Estranhamente ouvir aquilo sobre o estranho pescador Kaul, que tantas vezes reuniu todas as crianças de Baracle Bay para contar sobre Ondina, a sereia que ele encontrou, foi bastante doloroso para mim.

Eu não acreditava muito nele, mas não podia negar que me divertia escutando sua mesma história, a do dia em que foi pescar em alto mar e a rede trouxe uma sereia e não robalos.

- Triste saber que a única pessoa que viu a Ondina de verdade morreu. - Minha tia suspirou e balançou negativamente a cabeça.

- Ainda não aceito o fato de a senhora acreditar piamente nele, mamãe. - Replicou Ohana. - Não passa de besteira, todo mundo sabe.

- A LNPM já mentiu várias vezes, Ohana. - Minha tia protestou. - Não lembra de quando disseram que estava havendo uma superpopulação de águas vivas só para dar uma desculpa para as outras cidades estarem pescando demais aqui?

- Mas a situação era sobre uma sereia e não águas vivas, tia. - Respondi, mas sem muita esperança de convencê-la. Só eu e Ohana que éramos as únicas que não acreditavam em Ondina.

Dois segundos de silêncio, apenas o barulho de Nemo mordendo um patinho de borracha que eu trouxe.

- Ele não estava mentindo. - Alena murmurou e voltou o olhar para as louças. - Kaul não mentiria sobre isso.

Ohana revirou os olhos e terminou de guardar os panos.

- Amanhã vou a feira fazer algumas compras, quer ir comigo? - Perguntou.

- Acho que iria preferir ir logo procurar alguma espécie para catalogar. - Por sua expressão, tive que me explicar. - Lembra? Estou aqui por causa do TCC.

- Ah, claro. - Minha prima riu e estapeeou levemente a testa. - Não tem problema, depois a gente vai.

- Você vai para a praia amanhã? - Alena se virou novamente. - Cuidado, a maré anda agressiva esses dias.

- Eu não vou nadar, não se preocupe. - Eu falei. - Só estou indo procurar algo trazido pelas ondas mesmo.

- Só não espere nada interessante. - Disse Ohana, rindo.

Ela só não sabia que estava enganada.
            E nem eu. 

 

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