Após a inconveniente ligação de Rivadávia, fui para a cozinha preparar algo para comer.
Ouvi um barulho vindo do andar de cima. Saquei a Beretta 21 que sempre carrego, para evitar situações inconvenientes como esta.
Subi as escadas devagar e me deparo com um homem sentado no meu sofá.
-Eu tenho uma porta para você entrar e um telefone para ligar.
-Eu sei, mas isso eu precisava falar pessoalmente.
-Qual foi a parte que você não ouviu de "eu tenho uma porta"?
-Tá bom. Na próxima eu tento entrar por ela - o homem se levanta, seu cabelo ruivo resplandecia com o pequeno raio de sol que adentrava na floresta e sua pele vermelha, causada pelo sol, caracterizava ele.
-Eai Lucca, como vão os negócios?
-De mal a pior...
-Passou mais tempo na praia do que no escritório? - Usei a ironia que aprendi com Letícia.
-Engraçado - Lucca nunca teve um tom de humor muito ofuscado- Eu tenho um rival no ramo de carros... ele trouxe uns carros importados e está fazendo sucesso...
-E o que eu tenho com isso? - Comecei a descer as escadas e ele me seguiu.
-Bom... você sabe... - ele parecia constrangido.
-Ah, claro que sei - Estendi uma xícara para ele, mas ele rejeitou.
-Eu pago o quanto você quiser, ou te dou qualquer coisa!
-A única coisa que eu quero é o meu amor de volta, mas isso é impossível - Sentei na cadeira da mesa de jantar que havia na cozinha- Você é meu amigo e sabe que pode contar comigo, mas você só me procura quando quer que eu mate um rival. Você podia me chamar para um churrasco entre amigos, sair numa sexta a noite, ou sei lá...
- Você nunca está disponível, ora bolas.
-Olha eu aqui.
-Tá bom. Quer sair na sexta? Eu chamo os meninos...
-Não quero, vou estar ocupado resolvendo seu trabalho - Ele olhou para mim e sentou na outra cadeira disponível - Me passe as informações.
-O nome dele é Mauricio Havier, um dinamarquês que veio fazer dinheiro aqui no Brasil, visto que a economia tem subido muito após aquela previdência que foi aprovada...
-Sabe a localização dele?
-Foi para Roma, num evento de leilão de carros, onde também estarei daqui dois dias.
-Segurança?
-Altamente blindado.
-Tá bom. Te vejo daqui dois dias...
**
Mais tarde passei na alfaiataria para comprar um terno, umas camisas e umas gravatas.
Liguei para Letícia para avisar que iria sair de novo. Como sempre, ela ficou preocupada, então, desliguei antes dela surtar.
Era um dia quieto demais, não escutei o cantarolar dos pássaros e nem sequer um carro passou na rua (existem alguns moradores próximos).
Antes de deitar, faço uma oração, como de costume e leio um pouco do livro que comprei recentemente, "The Godfather".
**
No outro dia fui até o aeroporto de Vitória e então viajei para Roma. Liguei para um amigo que morava em Roma para pedir estadia por alguns dias. Seu nome era Guilherme Freitas, magro e branco de cabelos castanhos. Ele, como um bom amigo, foi me buscar no aeroporto com seu Audi R8.
-Que máquina - Entrei no carro e apertei a mão dele.
-Tenho melhores - Ele sorri.
-É, eu sei.
-Como vai a vida?
-De mal a pior, mas, tô vivendo.
-E ela, como está?
-Bom, faz dois meses que não conversamos. Pelo que o Luiz (contato mais próximo) me contou, ela foi roubada.
-E você não comprou outro pra ela?
-Sabe, eu preferi fingir que não estava no Brasil.
A esposa de Freitas, já esperava a minha chegada e preparou um belo jantar. Foi bom lembrar que eu tenho ótimos amigos.
Ao final da noite fui para meu quarto e Freitas entrou para conversar.
-Qual o nome?
-Mauricio e alguma coisa - Não me recordava o sobrenome - Você ainda tem o quarto de armas?
-Ter eu tenho, mas não nessa casa. Quando tive meu filho... você sabe... ela quis uma vida mais segura, longe de armas. E agora eu sou um empresário.
-Entendo seu lado... no meu caso... é, você lembra da merda que rolou.
-Claro que lembro...
-E Mateus? O que ele está fazendo?
-Amanhã você verá.
-Ok
-Alecs você não deve saber.
-Ele sumiu do mapa, mas um dia ele aparece.
- Você me leva até as armas amanhã?
-Claro - Ele tira algo do bolso - Pega aqui. É a última foto da turma reunida.
-Ah, que legal.
Peguei minha carteira e coloquei atrás da foto de Ana.
-Amanhã vai ser um péssimo dia...
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