História Meu Anjo (Camren) - Poesia

Lauren

Existem momentos na vida que parecem atuar como um divisor de águas, como se em um segundo tudo mudasse completamente.

 — Como posso estar arrependida, se te beijar era tudo que eu queria fazer desde a primeira vez que eu te vi?

Foram as palavras de Camila, olhando firme e fundo em meus olhos.

Eu entrei numa espécie de bolha, com meu cérebro gritando que aquilo foi fruto da minha mente. Mas outro órgão do meu corpo, aquele que agora pulsava forte, gritava que aquelas palavras pertenciam ao mundo real e foram pronunciadas pela mulher por quem estou perdidamente apaixonada.

— Quê?

E foi o que eu consegui dizer, transformando essa pequena monossílaba de tantos usos em uma interjeição. E saiu da minha boca em um pingo de voz, como se minhas cordas vocais tivessem esquecido a correta afinação.

— Eu sou louca por você, Lauren! Você ainda não percebeu?

Camila disse se levando do sofá, me encarando ainda sentada com uma expressão metade incrédula e metade confusa.

Levantei e finalmente reaprendi a formar frases.

— Camila, eu não tô entendendo — tenho consciência de que estou parecendo uma idiota. Ela foi bem clara, não tinha o que não entender.

Ela é louca por mim. Meu Deus, como assim??

— Eu sou louca por você desde a primeira vez que meus olhos encontraram os seus naquela sala de entrevista. — Camila falou, esclarecendo qualquer dúvida que ainda podia restar em mim.

Eu tentava processar essa última frase quando a ouvi perguntar:

— Por que você me beijou?

Por que eu a beijei? Porque eu sou louca por ela!

— Porque eu sou louca por você!

Em casos como esse, é necessário não filtrar os nossos pensamentos.

Se eu não falar agora, não falo nunca mais.

— Você o quê??

Camila perguntou com os olhos arregalados. A expressão incrédula.

— Eu sou louca por você, Camila Cabello. Eu sou total e completamente louca por você, menina.

— Lauren, o que você..

Eu a interrompi, precisava dizer tudo antes que a coragem fosse embora.

— Eu sou louca por você desde a primeira vez que meus olhos encontraram os seus naquela sala de entrevista. — repeti suas palavras de um minuto atrás, fazendo-a arregalar os olhos novamente e abrir a boca em um perfeito “O”

 — Mas você..mas..por quê? — Camila parecia perdida, e eu estava disposta a deixar tudo completamente claro para ela.

— Como assim por quê, Camila?

— Por que você..digo..você! — ela falou fazendo um gesto enfático apontando as duas mãos pra mim — iria querer algo comigo? — e finalizou apontando pra si mesma.

Ver ela se colocando pra baixo daquele jeito me indignou. Como ela pode não reconhecer a mulher maravilhosa que é??

— Camila, não posso deixar você se diminuir dessa maneira — falei com um tom de voz um pouco mais alto que o normal.

Respirei fundo pra voltar a falar normalmente, pois não queria acordar Isa:

— Você é uma mulher incrível. É tão inteligente, honesta, engraçada, totalmente cativante e, como se não bastasse, ainda é linda! Seu sorriso me deixa que nem uma idiota, e os seus olhos são tão..tão lindos e profundos..e você me deixa completamente louca!

Falei sem nem respirar entre uma frase e outra.

E agora eu me encontrava totalmente vulnerável, olhando para Camila como que implorando para que ela quebrasse o silêncio que se seguiu depois da minha fala.

E ela quebrou

    o silêncio.

Por que o meu coração

   ela consertou:

— Se eu te beijar agora, você promete que quando nossos lábios deixarem de se tocar e eu abrir meus olhos, não vou simplesmente acordar e perceber que isso foi só um sonho?

Ah, Camila ...

Minha resposta não veio em palavras.

As letras e fonemas têm tantas funções, inclusive de ser arte. Mas palavras às vezes não bastam,

    agora é a vez do gesto fazer poesia.

Camila

O medo da não reciprocidade era o que me impedia, até o início dessa conversa, de dizer a ela o que meu coração queria.

Mas aí eu pensei – talvez na verdade não tenha pensado muito (ainda bem)

Se ela não sentisse o que eu sinto, o que eu poderia fazer, a não ser sentir muito?

Então eu falei, coloquei pra fora em forma de declaração digna de filme de romance, o que domina minha mente e coração desde que conheci essa mulher.

E o sentir muito, que poderia ter sido lamentação, transformou-se em intensidade.

Eu senti muito quando ela disse “Eu sou louca por você”. Senti forte mesmo, aquele quentinho no peito,

    senti aquilo que se sente quando o sentir é correspondido.

Lauren disse coisas tão lindas que nem eu mesma enxergo sobre mim, mas ela falou com tanta convicção que não ousarei duvidar.

Eu queria dizer que ela é tudo isso que falou pra mim, e muito mais.

Queria dizer tanta coisa. E vou dizer, talvez ainda hoje mesmo.

Mas agora eu precisava do seu beijo, então perguntei:

— Se eu te beijar agora, você promete que quando nossos lábios deixarem de se tocar e eu abrir meus olhos, não vou simplesmente acordar e perceber que isso foi só um sonho?

E ela prometeu, não em palavras, mas com o sorriso mais lindo do mundo e com passos vindo em minha direção.

Três para ser mais exata, e ela estava na minha frente, nossos corpos a centímetros de distância.

Suas mãos no meu rosto,

meu coração na boca

e seus lábios nos meus.

E então aquele sonho maravilhoso de algumas horas atrás voltou com a mesma intensidade, na verdade com mais ainda, porque agora as coisas que antes estavam apenas dentro de nós duas foram libertadas -em partes. Ainda há muito que eu quero entender, e muito mais que eu quero explicar.

Mas têm coisas que não exigem teorias, coisas que são feitas apenas pra sentir, e não entender. O nosso beijo é uma delas.

As línguas explorando cada canto da boca da outra, como se quisessem compensar o tempo perdido. Seus braços ao redor da minha cintura, me apertando contra seu corpo quente e aconchegante. Uma das minhas mãos tocava seu rosto, sentindo aquela pele macia, e a outra estava em sua nuca, apertando levemente seu cabelo. 

Um minuto

dois

três

Ou dez?

Não sei dizer.

Quando o beijo é dado mais com o coração do que com a boca, a capacidade de quantificar o tempo escapa do nosso poder. E eu nunca fiquei tão feliz em ter algo escapando das mãos.

Ei, relógio:

Por mim, a partir de agora você pode entrar em greve.