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História Meu Caminho Até Você - Dúvida


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


Amores, o cap ficou BEM pequeno, mas eu não quis misturar os acontecimentos do próximo. Espero que não se importem. ♥

Capítulo 14 - Dúvida


               Fernando acordou animado no dia seguinte. Acordou primeiro que Lety e as crianças, e aproveitou o tempo que tinha para continuar o projeto da casa na árvore. Estava tão empolgado que não percebeu as horas passarem, e o quanto progrediu com o projeto. Quando percebeu, o sol já estava claro o projeto já estava pronto, só precisava começar a montá-la. Lety saiu ao jardim com uma xícara de café e Fernando a olhou sorrindo.

- Bom dia.

- Bom dia. – Ele se aproximou, beijando-a com ternura.

- Trouxe café.

- Obrigado.

- Como está o projeto?

- Bom... Eu já terminei. – Ele apontou para o papel sobre a mesa. – Só precisamos montá-la agora.

- Uau! Ficou ótimo!

- Obrigado. Acho que eu deveria seguir a carreira de pintor.

               Lety riu.

- Sabe que o papai irá falar em sua cabeça por voce ter feito isso sem ele, não é?

- Sei, e é por isso que ainda não comecei a montá-la. Isso irá me dar alguns pontos com ele.

- Tem razão.

               Fernando sorriu e a olhou.

- A noite foi ótima.

- Sim. – Ela o olhou. – Perfeita.

- Será que podemos repetir a dose hoje?

               Ela riu.

- Podemos repetir quando você quiser.

               Ele a puxou para outro beijo apaixonado.

- Pode me fazer um favor? – Ela perguntou ainda abraçada a ele.

- O que quiser.

- Pode pegar a correspondência no correio?

- Só isso? Pensei que seria algum favor sexual.

               Ela gargalhou.

- Não seja bobo. As crianças já devem estar acordando.

- Então temos um tempo ainda.

               Os dois riram e Fernando a abraçou.

- Oh! Bom dia! – Carolina os olhou, com seus sapatos em mãos. – Não pensei que já estariam acordados.

- Você está chegando agora? – Lety a olhou.

- Sim. – Ela riu, parecendo empolgada com isso. – E realmente estou morta! Preciso de um bom banho e dormir.

- Percebe-se. – Fernando riu.

- Então... Parece que se resolveram. – Ela sorriu divertida. – Acho que fiz bem em dormir fora.

- Carol!

- É melhor você levar um litro de água para o quarto também, para não acordar com a cabeça ao avesso. – Fernando brincou.

- É, vocês realmente se entenderam. Fernando está até fazendo palhaçadas. – Ela revirou os olhos rindo. – Eu ficaria mais feliz por vocês se eu não estivesse prestes a desmaiar, então... Aproveitem. Eu não escutarei nada.

               Lety balançou a cabeça e os dois observaram ela rastejar até em casa.

- Márcia é uma péssima influencia. – Fernando disse abraçado à Lety.

- Eu não sei qual das duas é pior influencia para a outra.

               Ele riu, beijando carinhosamente o topo de sua cabeça.

- Vou olhar a correspondência.

- Obrigada.

- Você me agradece depois. – Ele sorriu malicioso, caminhando em direção à caixa de correio.

               Lety riu e caminhou em direção à casa. Fernando não se lembrava a ultima vez que se sentiu tão bem, mas não queria se lembrar. A única coisa que lhe importava era que tudo estava dando certo entre Lety e ele, e nada iria atrapalhar isso. Ao abrir a caixa de correio, Fernando pegou as cartas que haviam ali e as olhou. Contas, propagandas, e uma que lhe chamou a atenção. Uma carta do exército. Fernando olhou em volta certificando-se de que Lety não estava por ali e resolveu abri-la ali mesmo, devorando as palavras impressas em uma folha oficial. A felicidade de ter finalmente a sua vida de volta quase o impediu de se lembrar que tinha uma decisão à tomar, e ao ler a carta que o convocava para a próxima missão, essa decisão ficou ainda mais séria.

               Ao fim da leitura, Fernando olhou em direção à sua casa e respirou fundo, pensando o que faria. Era fato que ele era apaixonado por sua profissão, mas também era fato que sua família continuava a ser a coisa mais importante na sua vida. Ele havia acabado de ter a sua vida de volta, sua situação com Lety estava finalmente resolvida. Cogitar a idéia de se afastar dela e de suas filhas mais uma vez o amedrontava. Fernando dobrou a carta novamente e a colocou no bolso de sua calça, caminhando em direção à casa. Assim que entrou, viu as crianças se divertindo na sala, e seu coração inevitavelmente disparou.

- Bom dia, papai! – Disseram animadas, pulando sobre o carpete.

               Fernando sorriu e se aproximou, sentando-se ao sofá enquanto as olhava.

- Mamãe está fazendo panquecas. Ela faz panquecas quando está feliz ou quando é alguma data especial. – Gabi comentou se aproximando de Fernando.

- Hoje é alguma data especial? – Perguntou Tina, abraçando Fernando.

- Não que eu me lembre. – Ele sorriu, sentando-a em sua perna.

- Então ela está feliz. Muito feliz. – Gabi sorriu.

               Por um tempo Fernando fico em silencio, apenas olhando para suas filhas. Não conseguia imaginar uma vida longe delas, e só de pensar em deixá-las longe do pai mais uma vez, seu coração se partia.

- O que foi, papai? – Tina perguntou olhando-o.

- Nada. – Ele forçou um sorriso. – Só... Não cresçam tão rapido. Por favor.

               As duas riram e juntaram-se para lhe dar um abraço caloroso, enchendo o coração de Fernando de alegria. Como aceitar voltar para o exército, quando sua felicidade estava ali?

- Eu vou... Ver se sua mãe precisa de ajuda. – Ele pigarreou ao perceber que seus olhos se embaçavam.

               Fernando levantou-se e caminhou em direção à cozinha, onde Lety cantarolava enquanto preparava as panquecas.

- Oi. – Ela sorriu ao vê-lo ali.

- Oi. – Ele cruzou os braços, escorando-se à porta. – Hoje é alguma data especial?

- Não. – Ela riu. – Apenas... Quis fazer panquecas.

- Está feliz?

               Lety o olhou.

- Sim. Muito.

               Sentindo seu coração apertado, ele se aproximou sentando-se ao balcão.

- Seu pai me disse algo ontem... Fiquei curioso.

- Sobre o que?

- Sobre você querer ser professora.

               Lety deixou a panqueca na frigideira e virou-se para Fernando.

- Ah... Isso é... Um sonho antigo. Ainda não tínhamos nos conhecido.

- E por que desistiu dele?

- Eu não desisti. É que... Nós nos casamos, as meninas nasceram, você esteve sempre viajando. Para dizer a verdade não tive muito tempo para pensar nisso.

               Fernando a olhou, sentindo-se culpado.

- Desculpe, eu não me expressei direito. Eu só...

- Não, tudo bem. – Ele a interrompeu. – Eu já imaginava que eu tinha culpa nisso.

- Fernando, não é sua culpa. Eu só estou feliz assim.

- Mas eu estou impedindo que você siga o seu sonho...

               Lety aproximou-se do balcão, segurando a mão de Fernando.

- O meu sonho é estar com a minha família, e ter você ao meu lado. E esse sonho já está sendo realizado.

               Fernando suspirou, apertando sua mão.

- Você deveria tentar.

               Ela riu, voltando para o fogão.

- Eu prometo pensar com carinho, ta?

               Tomando um tempo para admirá-la, Fernando pensou na sua escolha. Sentia-se mal por Lety estar desistindo do seu sonho, mas se Fernando decidisse não voltar para o exército, também estaria desistindo do seu sonho?

- O que foi? Está tão calado. – Lety o olhou por cima dos ombros.

- Não é nada. – Ele forçou um sorriso. – Eu... Acho que vou dar uma passada na casa dos meus pais.

- Agora?

- Sim.

- Mas e as panquecas?

- Prometo que não vou demorar.

- Tudo bem...

               Fernando levantou-se e se aproximou, beijando-a no rosto. Lety o olhou se afastar, notando que Fernando estava um tanto quanto estranho.

 

 

 

 

 

 

 

 

               Fernando se lembrou do caminho exato até a casa de seus pais. Era incrível como ele conseguia se lembrar desse tipo de coisa, mas era tão difícil se recordar dos momentos especiais com as pessoas que ele tanto queria por perto. Ao chegar à casa de seus pais, ele desceu do carro e caminhou em direção à casa. Mas, antes de tocar a campainha, percebeu que sua mãe estava no jardim ao lado, cuidando as flores. Ele caminhou até ela, sem que ela percebesse sua presença.

- Estão muito bonitas.

               Terezinha virou-se para ele e abriu um largo sorriso ao vê-lo.

- Filho! Eu não sabia que viria hoje!

- Vim fazer uma visita.

- Eu adorei! – Ela se aproximou, abraçando-o. – Como você está? Onde estão as crianças? E a Lety?

- Estão em casa, hoje eu vim sozinho.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não. Eu só... Quis vir conversar um pouco.

               Ela tocou em seu rosto.

- Como você está se sentindo?

- Bem. – Ele sorriu.

- E as coisas entre você e a Lety? Estão indo bem?

- Sim. Estamos... Nos resolvendo.

- Isso é ótimo! – Disse animada. – Fico muito feliz por você.

- Obrigado.

- Eu estava dando um jeito nessas flores. Elas estavam bem descuidadas. – Ela virou-se para as flores. – Quer me ajudar?

- Eu adoraria, mas queria conversar com o papai antes. Sabe onde ele está?

- Posso apostar que está no escritório lendo o jornal. Ele faz isso toda manhã desde que se aposentou.

- Certo. Vou dar um oi e volto para te ajudar.

- Tudo bem.

               Fernando seguiu para a casa, e assim que entrou, tudo estava muito silencioso. Era estranho estar ali sem as crianças, já que as lembranças que vieram em sua cabeça foram daquela casa cheia e barulhenta, com sua mãe e Lety conversando por todos os cômodos enquanto preparavam o almoço de domingo, e Tina e Gabi correndo pelo jardim, gargalhando enquanto Humberto ligava o irrigador para molhá-las. A impressão que ele teve era de que não costumava ir até lá sem a companhia de sua família, o que o deixou ainda mais confuso quanto à sua decisão. Ele provavelmente não fazia nada sem a sua família.

               Ele subiu as escadas e seguiu pelo corredor, tentando se lembrar onde era o escritório. Ele parou diante uma das portas e sentiu algo familiar. Ao abri-la, percebeu que havia apenas uma cama ao centro, com uma cômoda. O quarto estava praticamente vazio, mas ele sabia que ele não costumava ficar assim. Depois de um tempo olhando para o quarto, Fernando enfim lembrou-se de que aquele era o seu quarto, desde que era criança. Até os treze anos as paredes costumavam ter pôsteres de jogos e carros espalhados por ela, e quando ele completou quinze, os pôsteres foram substituídos por emblemas do exército. Ele passou toda a sua adolescência sonhando em um dia ser como seu pai, e se tornar um soldado renomado, e enfim conseguiu realizar o seu sonho.

               Balançando a cabeça, ele fechou a porta do seu antigo quarto e continuou a caminhar pelo corredor em busca do escritório. Uma das portas estavam abertas, e ele avistou uma mesa de madeira mais ao fundo, próxima à uma estante cheia de livros. Assim que encontrou o escritório, ele adentrou buscando por seu pai, mas ele estava notavelmente vazio. Aproveitando que estava ali, Fernando olhou em volta estudando tudo que havia ali. Livros sobre história, jornais com reportagens sobre o exército, e a parte preferida de Fernando: O quadro de medalhas. Humberto possuía várias delas, e ele lembrou-se de que quando seu pai se aposentou, fez questão de guardá-las com muito carinho.

- Você sempre gostou de olhá-las. – Humberto disse, entrando no escritório.

- Ah... Oi. – Fernando sorriu.

- Sempre que vem aqui você pede para vê-las.

- Até... Hoje?

- Sim. – Humberto riu aproximando-se.

- Eu acho que entendo o porque.

- Você sempre diz que gosta de se lembrar do porque quis entrar no exército, e porque ainda não tinha desistido de tudo para cuidar da sua família.

               Fernando o olhou, pensando por um segundo que seu pai conseguia ler seus pensamentos e sabia de sua dúvida.

- Na verdade, sempre que você estava prestes a viajar entrava em crise, e quando vinham almoçar aqui, você me pedia para mostrá-lo as medalhas para você sentir-se melhor.

- Então eu sempre tenho dúvidas quanto à isso?

- Não sei bem se é uma dúvida. Isso é normal para homens como nós. Perdi as contas de quantas vezes eu quis desistir e largar tudo para ficar com você e sua mãe.

- Mas o Senhor não fez isso.

- Não. – Ele sorriu. – Sua mãe não me deixou.

- Ela não queria que o Senhor ficasse conosco?

- Queria, queria muito. Mas ela também queria que eu seguisse o meu sonho. E quando você cresceu e começou a se interessar por isso, fiquei ainda mais empolgado em continuar, e assim foi até eu me aposentar.

               Fernando sorriu, voltando sua atenção para as medalhas.

- Eu sempre soube que você conseguiria chegar lá, mas fiquei ainda mais orgulhoso quando percebi que você ainda foi mais além de mim.

- Nem tanto...

- Ser capitão é uma honra, Fernando. Você é respeitado, você batalhou muito para chegar onde está hoje.

- E mesmo depois de tudo isso eu ainda consigo perder todas as minhas lembranças em um maldito acidente. – Praguejou.

- Nós estamos preparados para isso desde o nosso primeiro dia como soldados. Sabemos que a qualquer momento, em qualquer missão, nós estamos nos arriscando. Existem homens que não voltam para casa, deixam famílias, filhos, esposas... E tem pessoas como eu que tem a sorte de jamais ter sofrido algo tão grave.

- Eu já não posso dizer o mesmo.

- Não me diga que o acidente o desanimou de continuar seguindo o seu sonho.

               Fernando não o respondeu.

- Fernando... Sente-se aqui. – Ele apontou para uma cadeira próxima à mesa.

               Fernando sentou-se à cadeira e seu pai deu a volta, sentando-se à outra.

- Você foi convocado?

               Ele respondeu com um maneio de cabeça.

- E agora está em dúvida se aceita ou não?

- Eu não sei se deveria voltar tão rápido, depois de tudo o que aconteceu.

- Você está se recuperando...

- Sim, eu estou. E é exatamente por isso que tenho medo de fazer a escolha errada. Eu sei que é o meu sonho, sei que batalhei muito por isso, mas também sei que mais uma vez estarei me arriscando, e posso não ter a mesma sorte outra vez.

- Você não pode pensar assim.

- É impossível não pensar assim quando minhas filhas imploram para que eu não as deixe.

               Humberto suspirou, escorando-se à mesa.

- Elas sempre vão lhe pedir isso, e todas as vezes elas irão entender que é o seu trabalho. Acha que elas não tem orgulho de voce?

               Fernando não o respondeu.

- Todas as vezes que vamos até a sua casa elas nos contam sobre suas aventuras. Elas ficam empolgadas em saber que você está salvando pessoas.

- Não posso pensar em me arriscar de deixá-las sem um pai.

- Eu entendo, e respeito isso. Eu pensava exatamente como você. Mas... Sempre que eu voltava para casa e o via com tanto orgulho de mim, eu me lembrava do porque continuei até o fim.

               Fernando o olhou emocionado, lembrando-se de todas as vezes que viu seu pai passar pela porta da frente, sentindo-se aliviado e animado por ele ter voltado para casa. Fernando sentia sim muito orgulho dele, e todas as vezes tinha ainda mais certeza de que seria como ele.

- Mas eu não posso tomar uma decisão por você. Imagino que voce tenha vindo até aqui para pedir um conselho meu.

- Sim... Eu esperava que por ter mais experiência do que eu o Senhor pudesse me ajudar.

- Infelizmente, eu não posso. Não posso decidir por você entre sua família e o seu emprego. Mas, posso lembrá-lo de que Lety sempre o apoiou, e todas as vezes que você quis desistir, ela o impediu.

               Ele não sentiu-se melhor depois disso. Pensou em como contaria à Lety que havia sido convocado mais uma vez, depois de tudo. Como seria a reação dela ao pensar que Fernando mais uma vez iria se afastar, justo quando os dois estavam reatando o casamento?

- Humberto! Pode vir me ajudar? – Terezinha gritou do jardim.

- Eu já volto. – Humberto levantou-se. – Leve o tempo que quiser para pensar.

               Assim que Fernando ficou a sós no escritório, ele levantou-se e voltou a se aproximar da estante, olhando para as medalhas. Fernando carregava as suas com orgulho em sua farda, e todas as vezes que as olhava, lembrava-se de seu pai o parabenizando, dizendo estar orgulhoso por ele ter chegado até ali. O que mais agradava Fernando em sua profissão não era apenas aventurar-se ou honrar o seu país, mas sim orgulhar sua família. Enquanto olhava para as medalhas e pensava em tudo isso, ele tomou a sua decisão, e esperava que fosse a decisão certa.

 

 

 

 

 

 

 

 

               Lety ainda estava preocupada por Fernando estar tão estranho minutos antes de sair para visitar seus pais. Não sabia o que estava acontecendo, já que ele havia acordado tão bem. Ao olhar para a mesa do café que ainda estava montada esperando por ele, ela bufou e começou a desmontá-la, guardando as panquecas no forno e o restante das coisas que havia preparado especialmente para aquele dia. Enquanto desarrumava a mesa, ela mal percebeu quando Fernando voltou para casa e as meninas correram até ele. Só quando ele parou à porta da cozinha olhando-a, ela se deu conta de que ele estava ainda mais estranho do que antes.

- Pensei que não chegaria agora. – Ela disse olhando-o. – Fiquei te esperando.

- Desculpe. Eu não pretendia ter demorado tanto.

- Você está com fome?

- Na verdade não.

- Ótimo. – Ela continuou a desarrumar a mesa com certa raiva.

- Nós podemos conversar?

- Eu estou terminando de desarrumar a mesa e...

- Lety. – Fernando aproximou-se, impedindo-a de continuar a fazer o que estava fazendo. – Nós precisamos conversar.

               Ela suspirou e o olhou magoada.

- Já sei o que vai dizer.

- Sabe?

               Ela colocou a mão no bolso do seu avental e mostrou a carta para Fernando.

- Você deixou isso cair quando saiu.

               Fernando pegou a carta de sua mão e a olhou com pesar.

- Não diga que você decidiu voltar... – Ela disse com a voz embargada.

- Lety, isso é muito mais complicado do que pensa.

               Suspirando, ela sentou-se ao balcão, afagando o rosto em suas mãos.

- Eu sei que parece injusto que eu tenha decidido isso, mas... Eu fiz uma promessa. Fiz um juramento, que é ainda mais importante. Eu jurei lealdade ao país, e jurei que sempre estaria presente para protegê-lo.

- Isso é injusto. – Ela disse ainda com o rosto escondido entre as mãos. – É injusto que você tenha sofrido tanto e ainda tenha que voltar.

- Eu sei... – Fernando puxou um banco, sentando-se ao lado dela. – Não foi fácil tomar essa decisão.

- E por que decidiu isso? – Ela o olhou com os olhos vermelhos. – Justo agora que você está se lembrando. Justo agora que nós... Estamos... – Sua frase não terminou.

- Eu sinto muito, Lety.

- E se você não voltar dessa vez? – Seus olhos encheram-se de lágrimas. – E se você não tiver a sorte de ser encontrado à tempo? E se você não sobreviver à um acidente tão grave? E se dessa vez eu esperar por você, e você não voltar?

               Com o coração partido ele a puxo para um abraço, sem saber o que responder. Não poderia garantir e muito menos prometer à ela de que isso não aconteceria. Ele costumava fazer isso, mas sua promessa foi quebrada assim que ele sofreu o acidente.

- E as crianças? Elas pediram... Elas imploraram para você não ir embora.

- Eu não estou indo embora.

- Mas você acabou de voltar para nós... Será que eles não entendem? – Perguntou brava. – Será que não conseguem entender que você ainda está com um ferimento? E por falar nisso... Como é que eles permitiram que você voltasse assim?

- Eu... Disse que estava tudo bem e que estava recuperando.

               Ela bufou irônica.

- Você quer mesmo ir, não é?

- Não é essa a questão. A questão é que... Eu batalhei muito pra chegar até aqui e desistir, Lety. E você melhor do que ninguém sabe disso, porque você esteve ao meu lado todos esses anos. E sei também que você já me impediu de desistir várias vezes.

- Mas eu não tinha te perdido até então.

- Você não me perdeu.

- Por um momento sim.

               Ele tocou em seu rosto carinhosamente, limpando suas lágrimas.

- Sei que parece péssimo agora, mas nós iremos superar isso.

- Será?

               Ele não respondeu. Também não poderia afirmar aquilo, já que ainda não tinha suas lembranças de volta.

- Você já tomou a decisão, não é? Nada do que eu disser irá fazê-lo mudar de idéia.

- Creio que não. – Ele suspirou.

               Lety passou a mão em seu rosto, limpando as lágrimas.

- Tudo bem. Sendo assim... Eu irei te apoiar. Só não me peça para concordar com tudo isso.

- Não, eu não pediria isso.

- Ótimo.

               Ela se levantou, saindo da cozinha no mesmo instante. Fernando encarou o balcão e sentiu-se péssimo por isso. Lety estava chateada, e isso era apenas o começo. O pior viria quando ele contasse para as filhas sobre sua decisão, e quando chegasse a hora da despedida.

 

 

 



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