História Meu chefe - Capítulo 16

SASUKE

Aquela maldita casa me trazia lembranças horríveis. Depois que eu fiz seis anos nós passávamos apenas os verões em Londres mas mesmo assim eu me lembrava de muitas das vezes em que meu pai perdeu completamente o controle e surtou, e apesar de não ser tão sufocante estar ali como era quando as visitas aconteciam nos Estados Unidos, ainda sim eu parecia não conseguir respirar.

—Está tudo bem? —A voz de Sakura me tirou do transe em que eu estava e me lembrou de que precisávamos sair do carro e entrar.

Assim que chegamos a Londres eu aluguei um carro porque planejava mostrar a cidade a Sakura se tivéssemos algum tempo, e agora, com a mão dela sobre a minha e o inferno ali ao lado, sair por Londres com ela era a única coisa que eu queria.

—Sim, vamos entrar.

Saímos do carro em silêncio e eu sabia que Sakura estava nervosa, quase tão nervosa que eu quase pensei que traze-la ali tinha sido uma má ideia.

A entrada da casa continuava a mesma, as vezes as flores mudavam com a estação mas era só isso que meu pai deixava minha mãe mudar, então ainda parecia uma casa velha e enorme, mas com flores coloridas.

—Meu Deus eu acho que nunca vi alguém morar em um lugar tão grande assim.

—Eu sempre achei um exagero.

Ela deu um pequeno sorriso e eu consegui sorrir de volta. Depois que tivemos um lapso de loucura no avião, nos vestimos e Sakura adormeceu com a cabeça apoiada no meu ombro, desde então tudo entre a gente pareceu fluir com mais facilidade.

Caminhamos pela pequena estrada de pedras que levava até a entrada principal e então resgatando o único pingo de coragem que eu tinha bati na porta.

Não demorou nem 30 segundos para minha mãe aparecer na porta, o sorriso falso que eu conhecia tão bem estampado no rosto.

—Sasuke! Meu amor, que bom que você chegou!

Abracei minha mãe rapidamente e dei espaço para Sakura.

—Olá, quem é você?

—Meu nome é Sakura, é um prazer enorme conhecer você senhora Mikoto.

–Ah que mocinha adorável, entrem, entrem, fiquem a vontade, todo mundo está no salão principal.

Sakura e eu andamos lado a lado até onde estavam todos os exagerados convidados da minha mãe.

—Qual a ocasião de hoje, mamãe?

—Seu pai está fechando negócio com uma empresa nova, alguma coisa relacionada a tecidos.

Minha mãe se afastou de nós para falar com uma mulher loira com um vestido exageradamente laranja.

Percorri os olhos pelo salão atrás do meu pai, quanto antes eu o encontrasse mais cedo eu acabaria com aquela tortura.

O encontrei numa mesa grande ao lado de um homem muito alto e com um cabelo ruivo quase vermelho.

Assim que eu me aproximei ele me viu e parou de falar.

—Pai.

—Filho.

—Ainda bem que veio.

—Assim como o senhor pediu.

O silêncio que se fez foi quebrado por Sakura que estendeu a mão a meu pai.

—Oi senhor Fugako, sou a Sakura, é um prazer conhecer o senhor.

Meu pai apertou a mão da Sakura mas olhou-a de cima a baixo avaliando-a como sempre.

—Você é bem diferente das garotas que meu filho costuma trazer.

Consegui ver o rosto de Sakura corar.

—Ah, eu trabalho na empresa do senhor.

As sobrancelhas do meu pai se arquearam.

—É mesmo? E faz o que? —A voz dele era sarcástica, como se aquilo fosse uma piada.

—Eu sou engenheira física.

—Formada?

Sakura engoliu em seco.

—Com honras senhor.

Meu pai ergueu a taça como quem dissesse: foda-se e aquilo fez meu sangue ferver.

—Sakura é uma das melhores da minha equipe.

—E por isso agora transa com ela?

O rosto de Sakura assumiu um tom de vermelho que eu nunca tinha visto.

Abri a boca para falar algo mas Sakura foi mais rápida.

—Antes que o senhor venha fazendo pré-julgamentos machistas sobre mim, eu me formei e consegui esse emprego por esforço meu e a minha relação com seu filho é estritamente profissional. Ele me chamou para vir aqui hoje porque estamos trabalhando muito juntos em um projeto que eu desenvolvi para tentar tirar a sua empresa do buraco.

Agora foi o rosto do meu pai que assumiu um tom de vermelho, mas esse eu já conhecia bem, ele estava com raiva.

—Quem você pensa que é menininha insolente? Eu posso demitir você a hora que eu quiser.

—Não pode. —Interrompo, fazendo-o me fuzilar com os olhos. —Sakura é minha funcionária, trabalha para mim.

Meu pai deu um passo a frente, mas antes que pudesse dizer algo um homem alto e ruivo, provavelmente parente daquele que observava nossa pequena discussão se aproximou, pálido como um cadáver o que me fez perceber que Sakura também tinha ficado muito quieta de repente.

—Sakura?

—Sasori?

Meu pai olhou para os dois.

—Seu sobrinho conhece essa aí?— perguntou para o homem mais velho.

—Você a conhece, Sasori?

—Ela...nós...

—Eu namorei Sasori um tempo. —Disse Sakura baixo.

—Foram dois anos, Sakura.

—Eu sabia. Meu filho não é a primeira vítima dela então. —Cerrei meus punhos e eu já não sabia se era de raiva do meu pai ou de pensar em outra pessoa colocando as mãos na Sakura.

—Eu nunca trabalhei pro Sasori, Fugaku, nós nos conhecemos na faculdade e meu trabalho não tem nada haver com as pessoas com quem eu me relaciono para sua informação

—Eu não quero sua explicação mentirosa menina.

—Você está trabalhando para eles, Sakura? Ou está saindo com esse cara?

A voz de Sasori era baixa e Sakura precisa querer sair correndo dali.

—Eu estou trabalhando na empresa Uchiha, Sasuke é meu chefe e estamos trabalhando juntos a algumas semanas, principalmente porque eu estou ajudando em um projeto.

—Ela é a dona do projeto.— disse com ênfase.

—Pensei que você odiasse essas reuniões. —Sasori disse cruzando os braços.

—Eu odiava estar nessas reuniões como a namorada que sua família não aprovava, eu estou aqui porque trabalho pro Sasuke, é bem diferente.

A voz dela era firme, os ombros retos e eu percebi que nunca tinha visto Sakura assim.

—Acho que essa conversa já foi longe demais, eu e Sakura vamos procurar alguma coisa para beber.

Toco o braço de Sakura de leve, mas ela se afasta virando as costas e seguindo na direção oposta à que estava meu pai e seu ex namorado, e eu acabo indo atrás dela.

—Sakura...

—Sakura!

Nós dois paramos porque a voz que ecoou não foi só a minha mas a de Sasori também.

—Sakura, me desculpe por aquilo, eu estava muito surpreso em ver você, eu te liguei um milhão de vezes e você não atendeu, até passei na sua casa.

Sakura se virou, seus ombros ainda eretos.

—Sasori, eu terminei com você, por isso não atendi.

—Mas, meu amor, eu pensei que você só precisava de um tempo...

A forma como ele a chamou de meu amor fez meu estômago revirar, não fazia nem dois minutos que eu conhecia esse cara e já odiava ele.

—Eu não amo você Sasori, nosso relacionamento estava me fazendo muito mal e a sua família é só uma parte disso, não posso ser alguma coisa que eu na sou só porque você quer. Você nunca me amou, só ama a ideia que criou de mim.

—Claro que não, eu te amo, nunca deixei de amar você.

—Sasori, se me amasse não ia querer que eu fosse nada além de mim.

—Mas eu não quero, não mais, eu estava cego e desesperado, agora eu sei o que eu quero, e é você.

—Mas eu não quero mais.

—Sakura...

Ele se aproxima e eu me pego instintivamente me colocando entre eles, não sei se pra proteger Sakura ou porque eu posso perder o controle se ele tocar nela.

—Sasori...nós terminamos a três meses, eu não vou voltar com você só porque você quer.

—Mas nós ficamos dois anos juntos, você não pode fingir que isso não aconteceu, que merda.

—Ela já disse que não vai ficar com você. —Digo com a voz firme.

—Não se mete, cara. Ela é sua namorada por acaso?

—Não é, mas também não é sua, porque pelo que eu entendi ela não te quer mais.

Ele se aproximou mais, mas antes que alguém ali pudesse fazer algo a mais minha mãe invadiu a conversa com sua voz falsamente animada.

—Sasuke! Venha cá, você precisa falar com Elisa.

Minha cabeça latejou, será que tinha como aquele dia de merda ficar pior?