— A-Aniversário da sua irmã? — pergunto meio nervosa, sentindo que ele havia confirmado com a cabeça. — Hoseok, por que eu deveria ir? Sua família deve estar lá e eu não conheço ninguém, não faz sentido eu ir a um lugar assim — retiro meus braços de cima de seus ombros e minha cabeça do conforto que a curva de seu pescoço proporcionava.
— Claro que faz sentido! Você é minha... amiga... e divide apartamento comigo, uma hora ou outra eles teriam que te conhecer — ele diz como se fosse algo extremamente óbvio, mas pude sentir uma certa hesitação ao simplesmente dizer que eu sou sua amiga.
Realmente me doeu. Doeu ouvir aquela certa palavra sair de seus lábios, mesmo que ele estivesse meio incerto.
Eu conseguia me lembrar dos momentos em que dizia a mim mesma o quão bom seria poder trocar caricias com Hoseok todos os dias, abraços apertados e selinhos inesperados. Eu queria viver algo assim, mas não sabia se era realmente o momento certo, se era isso mesmo que eu deveria fazer. Não sabia se era certo me entregar facilmente a alguém que havia conhecido há tão pouco tempo, mas que já estava tão presente em minha vida.
Ele realmente me fazia muito bem e cuidava de mim, mesmo sabendo que em alguns momentos não receberia nada em troca. Hoseok era um verdadeiro cavalheiro e eu admirava muito isso nele.
Por um momento, um flash futurístico em minha cabeça foi passado.
Um momento tão sereno onde nós dois estaríamos deitados no sofá assistindo a um filme qualquer. Seus dedos longos estariam acariciando meus cabelos, enquanto sua outra mão rodearia minha cintura, me deixando mais segura, protegida. O calor de nossos corpos sendo alternados, presos dentro de uma coberta que ficava sobre nós, enquanto do lado de fora do apartamento gotas de água cairiam, demonstrando um tempo frio e aconchegante.
Porém nada disso era real, nada disso iria acontecer caso alguém não tomasse uma atitude — enquanto eu não tomasse uma atitude.
Eu queria tanto aquilo, mas ainda sim algo dentro de mim me prendia ao presente, dizendo que de certa forma algo não era para ser, e que talvez o sofrimento fizesse parte do meu futuro caso eu desse um passo adiante.
Talvez tudo isso fosse obra da insegurança, o medo de seguir adiante com algo que possivelmente fosse a semente da minha felicidade. Talvez amar não fosse tão perigoso, mas ainda assim parecia uma área de risco que eu não me sentia preparada.
Entretanto, mesmo me sentindo duvidosa, eu ainda queria aquilo, e muito.
Talvez Hoseok fosse além de apenas uma área de risco que eu estava disposta a adentrar sem me importar com as consequências vindas. Talvez, mas só talvez, Hoseok fosse, na realidade, a mão que me puxaria para longe das profundezas do medo, e talvez seja ele quem esteja me fazendo pensar em arriscar-me na vida.
Neste certo momento em que senti um aperto em meu coração ao ouvi-lo dizer “Você é minha... amiga”, eu pude constatar que era isso; eu não queria ser apenas uma amiga de Hoseok, eu queria ser algo a mais, apenas não admitia para mim mesma. Tudo por causa do medo de acabar sofrendo.
— Você tem razão. Mas eu não tenho roupa para ir! Como que temos que nos vestir? É algum tipo de roupa especifica? — havia falado com certa calma, mas quando percebi a situação, quase entrei em desespero.
Ele começou a rir e eu franzi o cenho. Nada ali era motivo para risada, por que ele estava daquele jeito?
— Ei, por que você tá rindo? Isso não faz sentido, eu tenho que saber com que roupa eu vou! — explico no mesmo tom preocupado e aflito.
— Você fica muito engraçada quanto está apreensiva assim, seus olhos ficam arregalados de um maneira excêntrica — ele põe as mãos sobre a barriga e continua a rir da minha situação. — Você pode ir como quiser, não vai ser uma festa chique, é só um aniversário como qualquer outro.
— Eu tenho que estar apresentável Hoseok, não é como se qualquer roupa fosse o suficiente — digo como se fosse algo óbvio e percebo ele tentando segurar a risada, já que a outra havia cessado há um tempinho antes.
— Você fica linda de qualquer jeito, não tem que se preocupar, (S/n) — ele sorri sem mostrar os dentes e por alguns segundo eu presumo que deveria estar com as bochechas rosadas.
— Isso só pode ser coisa da sua cabeça. Talvez seja porque nunca me viu ao acordar — arregalo os olhos ao me lembrar de como sempre estou ao me olhar no espelho depois de acordar.
Percebo sua boca abrir, como se fosse dizer algo, porém ela simplesmente se fecha, como se tivesse desistido. Resolvo não questionar, já que se ele achou melhor não falar, não sou eu que iria obrigá-lo.
— Então... amanhã, que horas? — inclino um pouco a cabeça, curiosa para saber.
— Como amanhã já é fim de semana, ela resolveu colocar para às 20h30 — ele diz me olhando, apenas confirmo com a cabeça, sentindo um frio na barriga ao imaginar como poderia ser o dia da festa.
>>>
Meu apartamento, dia seguinte, 19h23.
Eu não havia feito nada até o momento. Hoseok e eu havíamos almoçado apenas um Lámen instantâneo que eu sempre comprava para emergências de “não querer cozinhar”. O tempo hoje estava frio, o que fez com que o Lámen quente combinasse demasiadamente com toda a situação, deixando tudo mais aconchegante.
Eu estava de pé em frente ao armário tentando achar uma roupa que fosse realmente a correta. Acabo pegando uma calça jeans e um casaco de lã meio amarelado, aproveitando a porta fechada do quarto para trocar a roupa de pijama pela roupa escolhida.
Caminhei, então, até a porta do armário que tinha um espelho e passei a analisar a junção das peças. Virei meu corpo para lá e para cá e uma careta se fez presente em meu rosto. A roupa estava boa, mas ainda não apresentável o suficiente.
Acabei por continuar com a mesma calça, mas retirei o casaco fofinho de lã e pus uma blusa branca de gola alta. Pus-me a analisar novamente e percebi que estava realmente boa a junção, porém algo faltava, eu podia sentir isso.
Adentrei mais às profundezas do meu armário bagunçado e achei um casaco que não usava há um bom tempo. Ele possuía um tecido aveludado por fora na coloração bordô, e parte de dentro era revestido com lã de ovelha. Era um casaco muito bonito e muito agradável.
O peguei, e quando me vi com ele junto das roupas postas anteriormente, abri um sorriso, sem poder deixar de cochichar um “É isso” comigo mesma.
Deixei o casaco aberto sobre a cama e calcei um par de tênis pretos. Ao me olhar no espelho novamente, estava tudo ótimo, porém quando meu olhar pousou sobre meu rosto, percebi que nem tudo estava resolvido.
Eu tinha, por mais que não pareça, produtos de beleza dos mais variados, mas não era tão apta a usá-los em todo momento por sempre ter preferido sair com o rosto normal com no máximo um hidratante, mas nunca deixando de usar o protetor solar.
Porém hoje seria um dia especial, então como sempre fazia em datas comemorativas ou coisas do tipo, sempre passava um pouco mais de maquiagem, sem deixar de lado o ar natural.
Ao tirar algumas pequenas falhas da sobrancelha com uma sombra do mesmo tom, tirar de maneira suave as olheiras que carregava embaixo dos olhos, passar um pó rosado sobre as maçãs do rosto e um batom coral apenas para dar mais um ar de vida, me vi de maneira mais revigorada — o que me deixou bem mais animada de maneira que abrisse um sorriso involuntário enquanto tampava a embalagem do batom.
Caminhei em passos lentos até a cama e peguei minha bolsa preta de couro, colocando-a atravessada por meu pescoço. Segui até a porta e saí do quarto, andando na direção da sala e percebendo a presença de Hoseok no local. Ele, que antes estava dando toda sua atenção ao programa que passava na televisão, virou sua cabeça para me olhar, permitindo-me perceber suas sobrancelhas se erguerem de maneira leve.
— V-Você está muito bonita. N-Não q-que não esteja sempre, mas... você está tão bonita — ele diz meio desnorteado, o que fez com que eu risse um pouco e apertasse espontaneamente minha bolsa, desviando o olhar para o chão.
— Obrigada. Bom, tá cedo ainda, né? — pergunto voltando a fitá-lo.
— Nem tanto, eu que não me arrumei ainda, mas vou logo antes que a gente acabe chegando atrasado — percebo sua cabeça pender para o lado e sua voz não soar mais trêmula como antes.
— Só tem uma coisa. Eu precisava realmente ir na rua para comprar algo para ela antes — digo convicta e ele sorri, negando com a cabeça.
— Não precisa, eu já vou levar um presente, não se preocupe — ele se levanta do sofá e vem calmamente em minha direção.
— Mas você vai levar o seu, eu tenho que levar algo também — cruzo meus braços e percebo ele soltar uma risadinha.
— Eu tô falando sério, não precisa de nada. Eu te chamei para ir comemorar o aniversário dela, não para gastar seu dinheiro com presente — sua risada cessa, porém o sorriso encantador permanece em seu rosto.
— Mas se eu chegar lá sem nada, vai ser muito ruim — digo preocupada, já imaginando como as coisas poderiam ocorrer.
— Você não vai chegar de mãos vazias, você vai estar comigo, e eu vou levar o presente, ok? Vai ser nosso presente. Agora pare de se preocupar com besteiras, eu vou me arrumar e a gente vai logo, tá bom? — ele ergue as sobrancelhas como se esperasse uma resposta minha. Eu confirmo com a cabeça, derrotada.
Hoseok sorri vitorioso outra vez e passa por mim, indo em direção ao seu quarto.
Solto um longo suspiro e caminho até o sofá, me jogando de qualquer maneira nele, já que teria de esperá-lo por um algum tempo.
O que eu devo esperar dessa festa?
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