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História Meu Divino Aspecto - Buscando o Aspecto


Escrita por: RobbyPrince

Capítulo 1 - Buscando o Aspecto


- Você não pode mais atrasar, Senhor Dreano. – A diretora ditou pela enésima vez, puxando o cartão passe que eu conhecia tão bem do meio de seus livros. – Estava cuidando da sua mãe?

Balancei a cabeça em afirmação. Ela suspirou, cansada, e me entregou o passe. Seus lábios vermelhos de batom se comprimiram numa fina linha que fez aparecer as rugas ao redor da sua boca, eu sabia o quê aquilo significava, e ela sabia que eu sabia e não diria nada até estar-nos a sós no corredor vazio.

- Ela estava procurando um antigo livro de receitas da vovó. – Expliquei, me encostando na parede e jogando a bolsa por cima do ombro. – Disse que vai virar confeiteira e ficar rica...

- Não ia ser uma cantora, semana passada? – Ela perguntou, abrindo a porta da sala para mim. Seu olhar repleto de pena. Eu odiava aquilo.

- E uma arquiteta semana retrasada, e na outra uma professora. – Me inclinei para perto. – Só piora, a cada dia ela parece mais... sensível.

Dei de ombros e entrei na sala, cansado de ter sempre que repetir as mesmas coisas para a diretora, que em três anos de convivência comigo já conhecia todos aqueles problemas. A Senhora Daisy parou sua explicação sobre o império romano enquanto eu entrava, seus lábios se abriram num sorriso mínimo e se aproximou da minha cadeira para pegar o passe. Seu olhar já dizia tudo, ela também conhecia minha mãe e nossa situação,

Ela voltou a sua aula e eu me perdi no tempo, fitando o quadro sem interesse enquanto vagava na minha própria mente. A única coisa que eu escutava era o tic-tac do relógio na parede bem ao meu lado, lento e constante, que retumbava em todo meu corpo e revirava meu estômago.

- Coleen? – A professora chamou, mas sua voz parecia um leve sussurro no fundo da minha mente. – Coleen, querido? Você está bem?

Me virei para encará-la e meu estômago revirou como se eu tivesse acabado de sair de uma montanha-russa da pesada, segurei a vontade de vomitar e o gosto amargo chegou a minha garganta só para descer logo em seguida. A Senhora Daisy pareceu notar minha condição e se aproximou, tocando com as costas da sua mão na minha testa.

- Você está quente, querido. – Ela sussurrou, pisquei em aprovação. – Quer ir para a enfermaria?

- Seria bom. – Murmurei, tonto.

A Professora se virou para a sala, encarando os alunos um por um até chegar nos grandes e brilhantes olhos verdes. Tom Lothur, o presidente da sala e do grêmio estudantil, se levantou prontamente e atravessou a sala na minha direção, parando na frente da minha carteira e estendendo uma mão para ajudar-me a levantar. Era sempre assim, Tom era um gentleman, galanteador e com um sorriso que só tornava suas investidas fáceis.

Mesmo estando constrangido e provavelmente com as bochechas coradas, aceitei sua mão e ele ajudou-me a levantar, passando a outra mão por trás das minhas costas. Houveram alguns barulhos, exclamações por parte da turma que sabia sobre a bissexualidade de Tom.

Ele me guiou pelo corredor, aproximando nossos corpos cada vez mais, e mesmo que ele esbanjasse charme algo em sua presença me fazia recuar a suas investidas.

- Você não parece nada bem. – Tom falou de modo sombrio, parando no cruzamento de dois corredores para me encarar. – Coleen, você tá pálido...

Cobri minha própria boca, fitando incrédulo o corredor vazio perto de nós. Ele, seja lá o que for, sorriu para mim com seus lábios azuis e levantou um dos punhais que trazia na mão, subindo e descendo a lâmina como se apunhalasse o ar. Seu sorriso sádico só aumentou meu mal-estar, achei que fosse desmaiar naquele momento, mas Tom apertou meus ombros e os sacudiu para me trazer a realidade.

- Sério, Colie, você tá me assustando muito. – Ele se virou para encarar a figura no corredor e depois voltou seus olhos esmeraldas para mim. – Algo de errado no corredor?

- Preciso de um pouco de água, só isso. – Tentei sorrir, seguindo sozinho até o banheiro. – Vou lavar meu rosto...

Tom pareceu decepcionado, seu um suspiro alto e se encostou na parede ao lado da porta para me esperar.

Encarei minha imagem destruída no espelho. Não me sentia tão mal assim desde a última vez em que bebi vodca sozinho, era como se todo meu corpo estivesse reagindo a algo ruim no organismo, a algum vírus, uma batalha acontecia dentro de mim e eu sentia suas consequências agora. Agachei, sem forças, encostando a testa no mármore gelado da pia e fazendo o movimento de inspirar-expirar.

- Quer ajuda, garotinho? – Ouvi a voz antes de ver a pessoa, a mulher que saía de um dos boxes do banheiro. Ela tamborilou suas unhas pretas enormes na pia, esperando alguma resposta minha, me secando com seus olhos negros como a noite.

- Você não deveria estar aqui. – Me levantei apoiado na pia. – Meninos...

- O quê?

- Banheiro dos meninos. – Meneei a cabeça na direção da porta.

- Blá blá blá. – Ela deu de ombros e se aproximou de mim, fazendo com que eu recuasse até bater de costas na parede. Seu olhar, seu cabelo escuro, sua postura altiva e seu olhar duro começaram a me intimidar. – Você é bonito. Mais bonito que eu esperava, tenho que admitir...

- Você me conhece? – Perguntei, constrangido. Será possível alguém ter feito um perfil falso meu em alguma rede social de encontros? Não é algo tão incomum assim.

- Claro, Coleen Marsden Dreano. – Ela se aproximou mais, tocando nos fios levemente dourados do meu cabelo. – Seu querido pai nunca falou de mim? – Neguei com a cabeça e sua boca se tornou uma linha de desaprovação. – Certeza? Nunca ouviu ele conversando com sua mãe sobre a Morrigan?

O nome não me era total estranho, mas em toda minha vida nunca ouvi meu pai fala-lo. Donn Marsden era reservado até mesmo com a família, vivia em seu escritório com seus livros velhos e pesquisas de professores tão antigos que até mesmo o nome se perdera no tempo para quem não estudava tão a fundo. E depois do seu sumiço tudo só havia piorado. Roseen, minha mãe, jogara todos seus documentos e pertences num grande baú e entregara a minha tia Donna, depois disso nunca mais vi nada dele.

- De qualquer jeito, eu sou uma velha conhecida dos Marsden.

- Você sabe onde ele está? – A pergunta saiu automática e me bati mentalmente por ser tão idiota. Ele saiu sem dizer nada, sem dar uma pista, é claro que não queria ser encontrado por nós.

Seu olhar brilhou, furiosa e triste, seu silêncio me assustou mais do que suas palavras.

- Não. Mas vim aqui para te alertar antes que aconteça a mesma coisa com você. – Ela sussurrou. – Vá para casa, rápido, se esconda, meu querido.

- Certo, essa conversa ficou muito estranha. – Dei ênfase no muito e fui caminhado na direção do banheiro. – Tchau, Morrigan, ou sabe-se lá o seu nome...

Segurei na maçaneta e respirei fundo. A conversa foi definitivamente muito estranha, mas me fez esquecer aquela coisa ruim dentro de mim, eu até me sentia bem. Virei para encará-la por uma última vez e tomei um susto com sua presença bem ao meu lado, com seus lábios comprimidos em uma fina linha vermelha, tão parecida com sangue que me assustei. Ela segurou bem os meus ombros e se abaixou para me olhar nos olhos.

- Eu o vi.

- Meu pai? – Cerrei meus olhos, desacreditado.

- Não, idiota, a persona no corredor. – Ela revirou seus olhos. Senti um frio na espinha só de pensar.

- Como? Quer dizer, meu amigo... – As palavras saltaram depressa.

- Ele não é seu amigo, Marsden, mas preciso que acredite em mim e vá embora. – Morrigan parecia suplicante.

Respirei fundo.

- Não é o suficiente. Se você sabia que eu estava aqui então devia estar escutando atrás da porta, ou me vendo...

Ela foi rápida, rápida demais para uma pessoa “normal”. Sua mão atravessou meu peitoral e não no modo figurado, seus dedos e unhas perfeitamente afiados atravessaram pele e carne como uma flecha enquanto com a outra ela segurava meu ombro para evitar um tombo. A dor cortante se espalhou pelo meu tronco como fogo, queimando-me por dentro e por fora.

- Você queria uma prova, então vou te dar.

Suas pálpebras se fecharam enquanto seus lábios se moviam num ritmo lento, ela parecia murmurar algo que eu não conseguia escutar. O som agudo veio logo depois, como aço raspando em aço, tão alto que chacoalhou o cérebro dentro do meu crânio e escureceu minha visão.

Sufoquei com o sangue logo em seguida.



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