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História Meu mundo não é cinza - Castigo


Escrita por: Hank_Castin

Notas do Autor


Feliz ano novo pra vocês!

Capítulo 9 - Castigo


Pov Alexander

 - Alexander? – A voz de Rich cortou o silêncio. – O que aconteceu ao seu rosto?

- Um bêbado – Hele agiu mais rápido que eu. – Bateu nele enquanto vinha aqui para minha casa, estava cuidado dos ferimentos – o moreno ergueu uma sobrancelha, a dúvida estampada em seu rosto. – Cadê o Mike?

- Lá na sala – as palavras saíam meio arrastadas, ele ainda fitava meu rosto. – Está tudo bem?

- Sim – sorri de forma gentil. – Fui bem tratado – Richard parecia querer contestar ou perguntar mais coisas, mas se deu por vencido e saiu. – Obrigado -sussurrei ao ouvido de Helena e lhe deu um abraço. Sei cheiro tinha um toque parisiense, imaginei que o perfume fosse importado. – Você tem um cheiro bom – comentei rindo enquanto a menina ficava vermelha.

- Apenas cale a boca, Alexander – ela se virou e saiu pela porta.

Quando cheguei na sala, Rich e Mike estavam deitados no chão em cima de alguns edredons, já estavam cobertos e encolhidos, Helena estava no sofá e deu duas batidinhas ao lado dela. Acenei para os meninos e pulei para o lado da menina.

- Eu voto para vermos terror – o moreno foi o primeiro a falar.

- Romance – disse Hele, e Rich a encarou seriamente por uns segundos.

- Estou com o emo – o capitão de basquete afagou o cabelo dele enquanto falava.

- Desculpe Helena, mas você perdeu essa briga – eu falei dando de ombros. Ela emburrou e deitou a cabeça em meu ombro.

- Se alguém enfartar, a culpa não é minha – a ruiva comentou num tom tenso.

- Conheço o caminho do hospital – Richard rebateu rindo.

O filme começou e admito que não levei muito susto e muito menos prestei atenção. Nas cenas mais tensas, Helena soltava um gritinho e escondia o rosto no meu cabelo, e eu achava engraçado o fato de apenas ela se assustar. Houve um momento que ela me encarou e ficou estática, sequer piscava. Por algum motivo, aquilo me deixou nervoso e feliz ao mesmo tempo, fitei seus lábios rosados e passeei meu olhar até sua íris, um sorriso involuntário começou a se formar em meu rosto mas... o que eu estava fazendo? Eu era fruto proibido, não deveria fazer isso, mas era algo em meu interior que insistia em brigar com essa lógica patética dos dois. Senti seu hálito de mente a cada vez que ela respirava de forma pesada, o cabelo dela parecia pegar fogo naquele escuro, e iluminar todo meu ser.

Mike pigarreou, chamando nossa atenção. – Rich e eu vamos subir e – ele abriu um sorriso de canto, mordendo o lábio inferior enquanto encarava o moreno, - voltamos alguma hora – o jogador se levantou, pegando o pintor no colo e o levando escada acima.

- Estamos sozinhos – comentei, me virando para a menina.

- Sabe? – Ela começou a falar, seu dedo indicador fazendo movimentos circulares em meu braço. – Eu estava muito tensa pelo ocorrido de ontem, ainda estou na verdade – ela inclinou um pouco a cabeça. – Mas tudo acontece por um motivo – consegui ver um sorriso brotar em seu rosto. -Oh Deus, sou tão idiota.

- Não vejo motivo para isso – falei baixo.

- Estou aqui lamentando minha vida, mas quero beijar você desde que o vi pela primeira vez, porém – Hele fez uma pausa pensativa, arrastando a última palavra. – Você está na lista negra e é meu amigo.

- Amigos podem ficar – nossos rostos se aproximaram um pouco, nossa respiração em perfeita harmonia. – Nada nos impede de continuar, sabe disso, certo? – Ele concordou balançando a cabeça.

Coloquei minha mão na lateral de seu rosto, o alisando devagar, nossas bocas se aproximaram e selaram o momento num beijo quente e avassalador. Nossas línguas lutavam por espaço enquanto o ar saía de nossos pulmões. Nos separamos e pegamos fôlego, afastei seu cabelo do rosto e a observei bem, até suas sardas escondidas no tom rubro da pele.

- Ele não pode saber disso, entendeu? – Ela apertou meu braço com um pouco de força.

- Como quiser, minha senhora – Helena riu e beijou minha bochecha. – Vem, vamos comer algo – a peguei pelo pulso, guiando até a cozinha.

A menina sentou no balcão se madeira e apontou para o armário, achei alguns pacotes de pipoca e levantei um de queijo e um de bacon. Ela colocou a mão no queixo de forma pensativa e apontou para o sabor suíno.

- Sabe que eu não como carne, né? – Uma expressão confusa brotou em seu rosto e eu ri. – Queijo então? – Hele acenou positivamente. – E antes que fale algo, é o gosto e o cheiro que me incomodam.

- Eu não ia falar nada, respeito você ser um herbívoro – ela comentou rindo.

Coloquei a pipoca no micro-ondas e fui até perto dela para esperar. – Obrigado – consegui falar a encarando. – Você foi a pessoa mais legal comigo esse ano, pelo menos por agora.

De repente ela me abraçou e começou a chorar, eu de forma involuntária, retribui o abraço, uma de minhas mãos afagavam seu cabelo. – Estou com tanto medo – Helena disse aos soluços. – Eu não quero passar por aquilo de novo. Eles ficavam falando que iam me matar e fazer coisas comigo – ela parou de falar, a voz rouca. – Apontaram uma arma pra mim quando a polícia chegou, mas – a ruiva não conseguiu terminar.

Eu devia ser forte para ela, mas meu coração estava despedaçado pelo seu sofrimento. Hele tentavam se abrir para mim mas eu não sabia o que fazer. Droga, Alexander, por quê sempre tão idiota? Eu precisava falar algo, mas não conseguia. Quando vi, nossos lábios estavam encostados, os separei de forma lenta e juntei as duas mãos em seu rosto, enxugando suas lágrimas com meus dedões.

- Não chore – consegui abrir um pequeno sorriso. – Você está bem, está comigo.

Então o eletrodoméstico nos avisou que a pipoca estava pronta. – Vamos comer – um enorme sorriso brotou em seu rosto e ela me empurrou para trás, pulando do balcão e indo pegar nossa janta.

Era madrugada agora, Helena estava deitada no sofá, dormindo, e os meninos não voltaram, então assumi que estivessem dormindo. Encarei o céu estrelado dos fundos da casa. Até que era um lugar bonito, a grama estava bem aparada, árvore podada, uma churrasqueira se encontrava em baixo de uma pequena cobertura, perto da parede. Eu estava sentado numa rede pendurada entre duas pilastras, minhas pernas balançavam contra a brisa leve e gélida daquela hora.

Fechei os olhos e então me permiti sentir aquele momento, o pio das corujas, o ar, o banho de luar, o tecido fofo da rede, a amargura, o medo, a alegria e tudo mais que eu pudesse, virei uma batida de emoções, sendo chacoalhado até atingir o sabor e textura correta. Respirei fundo e me imaginei flutuar no meio do oceano que são esses problemas. Nas minhas memórias, lembrei de Richard me puxando para um beijo na festa, sua cara confusa depois do que fez e um afastamento repentino, apenas para voltar e fazer de novo.

Clareei minha mente e cabelos alaranjados tomaram conta dele, sardas salpicavam seu rosto e essa menina me beijava, mas de forma diferente do outro, era intenso mas com um toque mais refinado. Quando saí do transe, notei que um par de olhos verdes me encarava.

- Por qual motivo ainda está acordado? – Rich sentou ao meu lado.

- Eu nunca durmo direito, apenas tiro uns cochilos – ele comentou sem olhar para mim. – E você?

- Perdi o sono – por mais que eu tentasse, não conseguia colocar em palavras tudo que eu pensava e sentia sobre o moreno, e isso me deixava confuso.

- Eu vi você e Helena na cozinha – sua voz saiu um pouco áspera, eu não sei bem o porquê.

- A culpa foi minha, desculpe – ele me encarou, sério. – O que foi? – Perguntei nervoso.

- Não faça isso. Nós tivemos um pequeno problema de desentendimento e apenas isso – sua expressão suavizou um pouco apenas para surgir algo como uma pontada de dúvida sobre o que tinha dito.

- Tem certeza? – Richard não me respondeu, apenas desviou o olhar para o céu. – E como foi com o Mike?

- Está perguntando se aconteceu? Não. Apenas ficamos deitados de cueca e conversando, ele tentou me fazer voltar a desenhar mas eu não sei se é hora ainda. Não estou muito – o moreno demorou a responder – confiante. Entende? – Acenei em concordância. – Mas de toda forma – ele começou, quebrando um silêncio curto e desconfortável -, espero que dê tudo certo para os dois.

- Digo o mesmo para você e o jogador – seus olhos verdes me fitavam de forma estranha, não sabia se em súplica por algo mais, dúvida ou questionando a integridade do que eu disse. – Como você – me enrolei um pouco nas palavras e pigarreei. – Como aguenta tudo isso? – A pergunta parecia o ter pego de surpresa.

- Eu tive um mês pra digerir o estupro e a mão e sinceramente? Ainda não é o suficiente mas – ele suspirou – quando Robert chegou me ameaçando aquele dia – ele apertava com força as pernas, então pousei minha mão sobre a dele, tentando p acalmar. – Aquele dia – o moreno recomeçou – foi a gota d'água. Decidi que deveria lutar contra tudo que me fazia mal. Quando você foi me defender – ele fechou os olhos e respirou fundo. – Incrível. Acendeu a fagulha da minha revolução – Rich me encarou, um sorriso estampada abaixo dos olhos tempestuosos.

Richard era capaz de ser amável boa parte do tempo, um pouco irônico pelo que percebi, mas era simplesmente difícil ler o garoto apenas por suas expressões e comportamentos, o que o transformava em alguém um tanto misterioso, eu diria que era uma qualidade charmosa e isso realmente chamava a atenção no garoto. Era como se você não soubesse quando ele fosse te dar um fora ou um aperto de mão amigável.

- Vá dormir, amanhã vai ser um dia longo.

- Por que? – Ele me encarou e riu um pouco.

- Duas palavras – Rich fez uma pausa dramática. -Educação física, também conhecida como minha morte, todos os jogares me fazem de alvo.

- Mas Mike gosta de você, isso não faz o time de basquete ficar fora da linha?

- Você é tão ingênuo. Ele quer manter segredo, ninguém acredita em Robb sobre o ocorrido do primeiro dia.

- Bem, vou me retirar, até mais tarde – Rich deu um breve aceno e se voltou para a lua.

Dormi por apenas duas horas, eu precisava voltar para casa mais cedo para os remédios da vovó. Como minhas roupas da noite anterior estavam com sangue, prossegui de pijama para a rua, deixando apenas um bilhete para Helena, explicando a situação. A rua estava demasiada vazia, ventava um pouco, o que deixava o clima agradável naquele calor. Chegando ao ponto de ônibus, tudo que encontrei foi um casal de idosos, mas eu mantive distância para lhes deixar a sós.

A viagem para casa foi tranquila, mesmo que um pouco demorada. Senti um arrepio e vibrações ruins quando pisei em meu gramado, abri a porta devagar, todas as luzes ainda estavam desligadas. Peguei um copo d'água na cozinha e levei até o quarto as minha avó.

- Hey, bom dia – ela abriu seus olhinhos e me encarou. – Está na hora do remédio, depois você pode voltar.

- Meu querido – a velhinha bocejou. – Como é bom te ver – ela apertou uma de minhas bochechas e se sentou na cama.

- É bom ver a senhora também – lhe entreguei os comprimidos e ela os bebeu rapidamente.

- O que houve com seu rosto? – Seus dedos enrugados e gelados deslizaram pela minha pele. – Carl não fez isso, certo?

- Está tudo bem, vovó. Volte a dormir. Logo volto da escola e cuido da senhora – depositei um beijo em sua testa e saí de seu quarto devagar.

Quando me aproximei de meus aposentos, senti um cheiro de fumaça, abri a porta com certo receio. Meu pai estava sentado na minha cama, tinha um cigarro na boca e estava com roupas limpas, apontou a cadeira do computador com o queixo. Eu pensei em correr, mas meu corpo travou, seus dedos batiam no colchão de forma impaciente. Relutando, sentei-me na cadeira.

- O que houve ontem – Carl coçou a barba enquanto falava – não vai se repetir. -Ele dez uma boa tragada no cigarro, jogando a fumaça na minha cara. – Então tomei umas providências – meu pai levantou da cama e abriu a cortina do meu quarto, mostrando barras de ferro. Como ele tinha conseguido isso tão rápido? Não sei. – Vão ter algumas do lado de fora do seu quarto também. E consegui isso com meu amigo – ele levantou a blusa, uma pistola saía de sua calça. – Se tentar algo ou me desobedecer de novo – Carl puxou a arma e a apontou pra minha cabeça -, vai ver sua mãe no inferno.

Engoli em seco, meu coração estava acelerado, estava tentando não parecer tão nervoso enquanto suava frio. Sequer conseguia me mexer no assento, estava tão endurecido como cimento, conforme ele se aproximou de mim eu fechei os olhos com força, desejando que fosse tudo apenas um sonho. O cano gelado da arma encostou em minha testa e a pressionou.

- Não escutei você responder – meu pai disse baixo ao meu ouvido.

- S-si-sim, eu entendi – as palavras quase não saíram, o medo se instalou em meu corpo.

 - Agora – escutei ele se afastando, abri meus olhos e o encarei. – Está na hora do seu castigo.



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