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História Meu Primeiro Amor - Satisfied - Parte I


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 16 - Satisfied - Parte I


Anos depois...

 

 

 

               Terminei de abotoar minha camisa e olhei para meu reflexo no espelho. Eu deveria estar animado. Era um grande dia. Mas, algo me impedia de estar cem por cento animado, por mais que eu dissesse à todos que eu estava muito bem. Era uma resposta automática que eu usava há três anos. Olhei para o relógio do papai que estava no meu pulso e percebi que estava em cima da hora. Ótimo. Tinha dado certo a tentativa de não chegar adiantado, por mais que esse fosse o meu dever. Saí apressado de casa e segui em direção à casa de mamãe, onde todos estavam reunidos.

               Antes de entrar, ouvi vozes vindas da sala e percebi que a casa estava cheia. Mamãe provavelmente estava louca com todos os preparativos, mas eu só estava ali por “obrigação”, digamos assim. Respirei fundo e abri a porta, olhando para todas as pessoas que estavam na sala. Eles também me olharam, mas Gabriel foi o primeiro a dar um passo à frente com um largo sorriso.

- Pensei que não viesse mais!

- Bom... Eu tinha que vir, não é? – Sorri fechando a porta. – Sou o padrinho.

               Omar olhou para mim e também sorriu, provavelmente pensando que tinha perdido a aposta. Ele duvidou que eu iria.

- Que bom que está aqui. – Gabriel me abraçou e eu retribuí o abraço. – É importante para mim.

- Eu sei. Então... Tem algo que eu possa fazer?

- Ele está nervoso. – Omar respondeu divertido. – Precisa é de uma boa bebida.

- Não quero beber. Eu prometi. – Gabriel disse.

- Tudo bem, não precisa de bebida. – Bati em seu ombro.

- Acha que vai dar tudo certo? Acha que eu fiz a escolha certa? Eu estou sentindo esse terno um pouco curto.

               Olhei para Omar que prendeu o riso.

- Acho que um pouco de uísque não vai te fazer mal.

               Gabriel me olhou e suspirou aliviado.

- Eu pego. – Omar disse. – Galera, acho que todos nós vamos precisar de um pouco!

               Os amigos de Gabriel comemoraram e todos seguiram Omar em direção à cozinha, deixando Gabriel e eu a sós.

- Não consigo ajeitar essa porcaria. – Ele disse pegando a gravata.

- Faço isso todos os dias, eu te ajudo.

               Amarrei a gravata em Gabriel e percebi que ele me olhava algumas vezes. Tinha virado um costume dele fazer isso. Parecia até a mamãe quando éramos mais novos e ela se preocupava se estávamos nos alimentando bem, nos olhando a cada cinco minutos.

- Pronto. – Sorri.

- Obrigado.

- Não há de que.

- Não apenas por isso. Mas também... Por estar aqui hoje. Eu sei que foi pedir demais para você ser o meu padrinho, mas fiquei feliz por você ter aceitado.

- Eu não teria recusado um pedido assim. – Falei ainda sorrindo. – E não precisa agradecer.

- De certa forma eu queria te agradecer por outra coisa também. Se não fosse por você... Isso não estaria acontecendo.

               Desviei o olhar um pouco incomodado.

- Sei que você não gosta de falar sobre isso, mas eu realmente quero te agradecer por ter me mostrado que a mulher da minha vida estava na minha frente.

- Gabriel, realmente não precisa me agradecer por isso. – Falei rapidamente. – É sério.

- Tudo bem. Não vamos ficar sentimentais logo hoje, não é? – Ele sorriu.

- Não, não vamos. – Forcei um sorriso e Omar voltou com o uísque, para a minha sorte.

- Olha, seus convidados estão bebendo todas na cozinha. Espero que isso não estrague o casamento.

               Gabriel e eu rimos, e ele virou o copo de uísque na boca.

- Quer mais?

- Não, agora estou bem. – Ele respirou fundo. – Vai dar tudo certo.

- Vai sim. – Omar e eu garantimos.

               O celular de Gabriel tocou, e ele o atendeu rapidamente.

- Dani? Espera. Não estou te ouvindo, tem muito barulho aí! O que? Como assim não pode? Argh! Tudo bem, vou ver o que eu faço.

               Ele desligou o celular e suspirou.

- O que foi?

- Não tem ninguém para busca-la no salão e está uma chuva daquelas. O pai dela está ocupado ajeitando o terno. Eu não posso ir buscar ela! Vai estragar tudo.

               Olhamos para Omar.

- Eu gostaria, mas estou com a carteira suspensa.

- Ah, é. Você pensou que não poderia ter a carteira suspensa por dirigir embriagado só porque é dono do bar. – Debochei.

- E você? – Gabriel me olhou. – Não pode ir buscar ela?

               Omar me olhou e eu fiquei tenso.

- Buscar ela?

- É. Olha, já está quase na hora, e aposto que ela está tendo um troço no salão por causa disso. Não pode quebrar esse galho para mim?

- Mas...

- Eu sei que é pedir demais, mas é a única coisa que te peço como padrinho.

               Olhei para Gabriel e percebi que ele estava mesmo tenso. Eu também estaria em seu lugar. E esse era o problema. Eu não queria ter motivos para me imaginar no lugar dele.

- Tudo bem. – Falei por fim e ele sorriu. – Eu vou busca-la.

- Obrigado, irmão! – Gabriel me abraçou. – Fico te devendo uma.

               Perdi as contas de quantas vezes Gabriel falou isso para mim nos últimos três anos.

- Quer companhia? – Omar perguntou.

- Não! Você tem que ficar aqui para me tranquilizar. – Gabriel disse. – Fernando vai sozinho.

- Tudo bem. – Falei à Omar. – Pode ficar.

               Peguei a chave do carro no bolso e segui em direção à porta. Deveria ficar aliviado por sair daquela casa cheia de homem e com todo o nervosismo de Gabriel, mas eu sabia que as coisas só iriam piorar com o tempo, e me arrependi amargamente por ter desistido da ideia de inventar uma viagem de ultima hora naquele dia. Gabriel ficaria chateado, mas iria entender depois. Com certeza. Mas, minha boa intenção falou mais alto, e eu preferi enfrentar aquela situação. Eu deveria me acostumar com aquilo. Pelo resto da minha vida.

               Entrei no carro e percebi que o céu estava nublado, e não demorou para uma chuva daquelas cair no meio do caminho. Pelo visto nem mesmo São Pedro estava satisfeito com aquele dia, mas não quis ser indelicado pensando dessa maneira. Parei o carro em frente ao salão e notei que ela estava parada na porta, com o celular na mão olhando para os lados. Eu ainda conseguia decifrar cada gesto dela, e percebi que ela estava nervosa, tensa e ansiosa. E não era para menos. Estava parada na porta do salão, com o cabelo e maquiagem prontos, usando o vestido de noiva e uma tempestade caindo do lado de fora. Não pude deixar de olhá-la por um tempo e notar o quanto ela estava linda, mas não quis fazê-la esperar mais. Buzinei e ela olhou em direção ao carro, abrindo a boca surpresa. Provavelmente eu era a última pessoa que ela veria naquele momento.

- É melhor entrar logo. Vai estragar o penteado.

               Ela balançou a cabeça e correu em direção ao carro. Abri a porta pelo lado de dentro e rapidamente ela entrou, sentando no banco do passageiro.

- Oi. – Ela me olhou.

- Oi.

               Já fazia um tempo que não conversávamos, e ainda assim, um bom tempo que não ficávamos a sós. Normalmente conversávamos em algumas circunstâncias que éramos praticamente obrigados a trocar algumas palavras, mas há anos não ficávamos sozinhos daquela maneira.

- Eu não sabia que pediriam para você vir me buscar.

- É... Pelo visto eu era o único com habilitação e permissão para te ver antes.

               Ela sorriu.

- Obrigada.

- Tudo bem.

               Dei partida e segui em silencio à caminho da igreja. Não quis puxar nenhum assunto, e mesmo que o silencio estivesse constrangedor, era melhor assim. Tinha medo do rumo que a conversa poderia tomar, então preferi ficar quieto. Ela parecia pensar da mesma maneira, mas notei que ela apertava uma mão à outra enquanto eu dirigia, visivelmente nervosa. Eu só não sabia se era por estarmos sozinhos dentro do meu carro, ou por ela estar prestes a se casar. O silencio permaneceu até estarmos próximos à igreja, mas notei que a chuva estava muito forte, e nem eu nem ela tínhamos um guarda chuva. Parei o carro na rua ao lado à igreja e o desliguei, fazendo-a olhar para mim.

- O que foi? – Ela perguntou.

- A chuva está muito forte.

- E?

- E você não vai querer estragar seu penteado e sua maquiagem, não é?

               Ela me olhou pensativa.

- É, é melhor esperarmos ela diminuir.

- Sim.

               Liguei o aquecedor e continuei em silencio. Percebi que ela me olhava algumas vezes, e deveria imaginar que ela não aguentaria ficar sem dizer nada por muito tempo.

- Ele está muito nervoso?

- Quem?

- Seu irmão.

- Ah... Não. Está como deveria estar. – Respondi indiferente.

- Ontem ele estava extremamente tenso.

- Acho que a tensão vai passando à medida que a hora se aproxima.

               Ela continuou a me olhar.

- Vocês dois estão bem?

- Como assim?

- Ele estava com medo de que você não aparecesse.

- Por que?

- Você sabe porque.

- Pelo fato de que meu irmão vai se casar com minha ex mesmo depois de dizer diversas vezes que os dois não combinavam? Sim, eu estou bem.

               Ela suspirou, voltando a olhar pela janela.

- Desculpe. – Falei. – Eu só estou cansado das pessoas perguntarem à todo o momento se estou bem com isso.

- E você está? – Ela me olhou.

- Estou! É claro! Eu já disse diversas vezes!

- Só que não parece!

- O que você quer que eu diga, Letícia? Que eu estou extremamente feliz e realizado por isso? Quer que eu minta ou exagere? Eu estou fazendo o possível, o que eu posso fazer! Vocês querem mais do que isso? Não é pedir demais?

               Ela respirou profundamente.

- Você pode ser sincero à qualquer momento, por isso todos perguntamos se está bem com isso.

- Quer que eu seja sincero?

- Sim, eu quero. – Ela disse firme.

- Ok. – Me virei para ela. – Desde a minha briga com Gabriel há três anos atrás, eu tomei uma decisão. A decisão que eu deveria tomar. Eu me desculpei com ele pela nossa briga, e disse que nossa relação entre irmãos não poderia acabar por causa de uma briga boba. Ele me confessou que talvez ainda sentisse algo por você, mas que só se deu conta quando nos viu. Eu me senti péssimo, porque sempre deixei bem claro que eu não brigaria com ele por isso. Querendo ou não, ele chegou primeiro. Você aceitou sair com ele antes de nos reencontrarmos. E eu não quis contar sobre o que eu sentia por você. Eu perdi minha oportunidade, e sim. Eu me senti um idiota por ter “roubado” você dele. E então eu disse à ele que abriria mão disso para termos uma boa relação, porque eu não me sentiria bem ficando com você sabendo que meu irmão gosta de você. Eu me sentiria péssimo, na verdade. E foi então que eu fui falar com você que não poderíamos ficar juntos. Você chorou, disse que não acreditava em mim, mas eu insisti e disse que não queria ter que escolher entre vocês dois. Você aceitou a proposta na Europa e depois de alguns meses voltou para morar na cidade. Vocês mantiveram contato durante esse tempo, e nós dois não. E foi o que aconteceu. Vocês namoraram, e eu tive que me acostumar com isso. Quer que eu seja mais sincero? Quer saber se eu estou bem com tudo isso desde quando anunciaram para toda a família que iriam se casar? Não, eu não estou bem. Mas assim como eu abri mão de ficar com a mulher que eu amava para não magoar o meu próprio irmão, eu estou me esforçando para parecer bem com tudo isso para não estragar o casamento. Era isso que você queria ouvir?

               Ela ficou em silêncio por um tempo, voltando a olhar através da janela.

- Não precisava ter sido assim se você quisesse.

               Suspirei impaciente e passei a mão no rosto.

- Já conversamos sobre isso antes, Letícia. E você me garantiu que tinha sido a coisa certa.

- Sim, eu garanti, porque era a única coisa que eu poderia te dizer. Você terminou comigo e disse que não poderíamos ficar juntos, e que nunca seria feliz comigo por saber que estava me “roubando” do seu irmão. Você falou de mim como se eu fosse uma mercadoria que estivesse sendo disputada por vocês dois! – Ela me olhou com raiva. – Era a coisa certa porque eu não poderia me rebaixar ainda mais dizendo que nós enfrentaríamos isso juntos, se você não queria isso!

- A culpa foi minha. – Encarei o volante. – Eu não deveria ter criado a ilusão idiota de que uma paixão de colégio terminaria em um relacionamento sério. Isso nunca acontece.

- Não se faça de bobo, Fernando. Isso não combina com você. Seu irmão fez algo por mim que você não fez, ele lutou por mim. E é por isso que aceitei me casar com ele hoje.

- Ótimo! Não me arrependo! Preferi abrir mão da mulher que eu amava à ter que estragar minha relação com minha família.

               Ela se calou novamente. Fez-se um silencio perturbador, e só o barulho da chuva caindo sobre o teto do carro era ouvida.

- Seu irmão te ama, e ele te respeita. – Ela disse sem me olhar. – Se não está fazendo isso de bom grado, é melhor dizer logo isso para ele.

- Não é fácil para mim, Letícia. – Escorei a cabeça no banco. – Pensar que era para ser eu no lugar dele hoje não é fácil.

               Lety voltou a me olhar.

- Você fala que não está arrependido, mas faz parecer o contrário.

- Não estou arrependido de fazer o certo, mas isso não quer dizer que eu esteja feliz.

- É uma pena. – Ela suspirou abrindo a porta do carro. – A chuva diminuiu. Obrigada pela carona.

- Lety, espera.

               Ela me olhou antes de sair do carro.

- Quer que eu seja sincero sobre mais uma coisa?

- Sim...

- Mesmo depois que você disser “eu aceito”, eu não vou deixar de sentir o que eu sinto por você um minuto sequer. Não abri mão de você por não te amar, abri mão de você para que você tivesse paz. Você não teria paz estando comigo, principalmente porque isso iria afetar minha família. E você sabe que minha família é a coisa mais importante para mim.

- Eu sei. – Ela disse com pesar.

- Espero que você seja feliz. Eu imploro para que você seja feliz.

- Sabe qual a coisa mais triste de tudo isso, Fernando? – Ela abaixou a cabeça. – Se você tivesse me dito tudo isso antes, nós não estaríamos aqui. Eu teria lutado por você, mesmo que você não tenha lutado por mim.

               A olhei magoado e senti meus olhos encherem d’água. Não chora, Fernando. Não chora. Você não ficou firme por todo esse tempo para fraquejar agora.

- Você está linda... – Sorri triste, e ela fez o mesmo.

               Sem dizer mais nada, Letícia desceu do carro e caminhou às pressas em direção à igreja. Haviam alguns parentes seus parados próximos à porta, e a protegeram com um guarda chuvas para que não estragasse o seu penteado. Observei Lety caminhar em direção à entrada da igreja e suspirei, escorando a testa no volante. Eu não deveria me sentir tão mal, como se algo me consumisse por dentro. Eu deveria estar orgulhoso por tomar a decisão certa, mas por que eu não me sentia assim? Por que eu tinha a impressão que tudo estava fora de ordem? Eu não conseguiria participar do casamento de Gabriel e Letícia, porque eu não poderia suportar ver a mulher que eu amava se casando com o meu irmão. Liguei o carro e saí dali o mais rápido que pude. Todo o tempo que passei trabalhando minha confiança e força tinha ido por água abaixo.

               Prometi à Gabriel que eu estaria ao lado dele naquele momento, mas não foi possível. Ele entenderia. Ele teria que me entender. Ele sabia muito bem o que eu sentia por Lety, e que isso não iria acabar de uma hora para outra, mesmo em três anos. Vê-la dentro da casa de minha mãe acompanhada do meu irmão não foi nada fácil para mim, mas eu pensei que isso tivesse sido a pior coisa que poderia ter acontecido. Eu estava errado. Imaginar ela entrando na igreja tão linda com seu vestido de noiva estava me matando, e quando olhei em meu relógio e percebi que a cerimonia já deveria ter começado, me senti pior ainda. Desliguei o meu celular e fiquei dentro do meu carro enquanto a chuva cessava e o ceu escurecia. Tentei não pensar tanto, mas foi impossível. Era para eu estar naquela igreja. Era para eu estar nervoso e tenso tomando um copo de uísque para me tranquilizar. Era para Gabriel ter ido buscar Lety no salão por não ter mais ninguém para lhe dar carona até a igreja, e era para eu estar esperando por Lety no altar.

               Meu coração estava doendo, minhas mãos estavam suando e meus olhos não paravam de lacrimejar. Eu não iria fraquejar. Não iria chorar por isso. Já era tarde. Eu deveria ter pensado bem nisso há três anos atrás. Eu estava feliz por ter reatado minha relação com Gabriel e por mamãe estar feliz, mas eu não estava feliz por ter deixado Lety. Não estava feliz por ter dito que minha família era mais importante que ela, porque ela era a minha família de certa forma. Eu deveria ter sido mais forte para tentar ter uma boa relação com Gabriel, mesmo estando com Lety.  Deveria ter sido homem o suficiente para resolver as duas coisas, e não deveria estar ali dentro do carro, no lugar que costumava ser “meu e da Lety”. Meu pai estaria desapontado comigo, com certeza. Não lutei o suficiente. Fraquejei no ultimo instante.

               Mal notei que as horas estavam passando, e de repente vi um farol através do retrovisor. Continuei dentro do carro até ouvir o barulho de moto. Era Dani. Em poucos segundos ela bateu no meu vidro e eu o abaixei, olhando para ela.

- Oi fugitivo. – Ela sorriu tirando o capacete.

- Oi.

- Senti sua falta na cerimonia.

- Como me encontrou?

- Lety disse que você provavelmente estaria aqui.

- Gabriel ficou chateado?

- Um pouco, mas ele entendeu. Quer que você vá na festa.

- Acho melhor não.

- Ele disse que faz questão que a família toda esteja lá. E vai ter bebida, então você não precisa fingir simpatia.

               Sorri.

- Como foi?

- Chata e entediante.

- Ela estava feliz?

- Quem?

- Lety.

- Não sei dizer. Não sou boa para decifrá-la como você.

- Ela estava sorrindo?

- Sim.

- Muito?

- Médio. Algumas vezes ela estava aérea.

               Continuei olhando-a pensativo.

- Então... Vamos aproveitar as bebidas que Omar ofereceu por ser padrinho? Ao menos alguma coisa boa ele fez.

               Balancei a cabeça rindo.

- Pode ir que eu te alcanço.

- Certo.

               Dani colocou o capacete e arrancou com a moto. Liguei o carro, mas continuei parado por um tempo. Eu teria que me acostumar. Estava feito. Os dois tinham se casado, e eu tinha perdido Letícia para sempre. Ouvi Dani buzinar mais à frente e me apressei em acompanha-la. Se eu não enfrentasse o fim daquela noite, eu não conseguiria enfrentar mais nada. Eu precisava provar à mim mesmo que de uma maneira ou de outra, eu teria que esquecer Letícia para sempre.

               Chegamos à festa e eu deveria imaginar que ela estaria daquela maneira. Quando ofereci o salão do hotel para a festa, eu já imaginei que Gabriel iria exagerar no número de convidados e no restante da festa. Gabriel gostava de festejar, mesmo que eu soubesse que Lety preferia fazer algo mais intimo. A cidade inteira parecia estar ali, e eu não pude deixar de ficar um pouco incomodado por isso. Assim que desci do carro, Dani se encontrou comigo e entrelaçou seu braço ao meu.

- Pronto?

- Não tenho certeza.

- Eu vou ficar do seu lado, não se preocupe.

               Sorri e beijei o rosto de Dani. Caminhamos juntos em direção a festa, e quando cheguei, alguns parentes distantes começaram a me cumprimentar. Ao menos eu estava me distraindo, e não tive tempo de olhar para a mesa em que Lety e Gabriel estavam. Eu não queria olhar para lá. Se eu pudesse, passaria a festa inteira perto das bebidas e não me lembraria que aquela era uma festa de casamento. No início isso deu certo, e Dani me acompanhou nos shots de tequila e nas taças cheias até a boca de champanhe. Graças à Deus ela estava ali. Dani conseguia me animar mesmo em momentos como aquele, e por incrível que pareça eu estava começando a me divertir. Logo Omar chegou para nos fazer companhia, mas eu notei que havia algo diferente nos dois. Eles não estavam se provocando como antes. As provocações eram diferentes, e muitas vezes eu me assustava com a maneira uqe os dois se olhavam. Tentei não me preocupar com aquilo, e continuei a focar na bebida. Estava tudo indo bem, principalmente pelo bar ficar um pouco mais afastado de onde os convidados estavam reunidos. Até mamãe chegar.

- Onde é que você estava? – Ela me perguntou.

- Eu... Estava... Por aí.

- Por aí? Perdeu o casamento do seu irmão.

- Desculpe.

- Você vai se desculpar na hora do discurso.

- Discurso? – Perguntei tenso. – Que discurso?

- Oras, o que você vai fazer para o brinde.

- Mas eu não sabia de nenhum discurso.

- O certo seria o seu pai fazer, então você irá substituí-lo. É o casamento do seu irmão, e um de nós precisa fazer esse brinde.

               Olhei tenso para Dani e Omar, e não soube o que dizer.

- Vamos. O brinde será agora.

               Mamãe segurou minha mão e não me deu tempo de dizer nada. Pelo visto ela era a única que estava acreditando que eu estava mesmo bem com aquele casamento. Para ela, o fato de eu ter terminado com Lety e ter dado espaço para que Gabriel ficasse com ela significava que eu era maduro o suficiente para perceber que um amor de colegial não poderia acabar com minha relação com meu próprio irmão. Infelizmente não era bem assim que eu estava pensando no momento. Mamãe me entregou uma taça de champanhe e me empurrou em direção ao microfone, fazendo todos olharem para mim. Não tive mais tempo de correr ou me esconder, e pensei em talvez fingir um desmaio, mas seria ridículo.

               Todos fizeram silencio e olharam para mim, me deixando ainda mais tenso. Respirei fundo e procurei por Gabriel no meio dos convidados, até encontra-lo ao lado de Lety, segurando sua mão. Só poderia ser brincadeira...

- Ahm... oi. – Falei ao microfone. – Eu fui pego de surpresa, porque não sabia que teria que ser o encarregado do brinde. Mas como estou aqui, então acho que tenho que dizer algumas palavras...

               As pessoas continuavam me olhando atentas, mas a única pessoa que me importou naquele momento foi Letícia, que estava mais ao fundo me olhando.

- Então... Er... Vocês estão casados. – Sorri tenso. – Finalmente. Foram dias de nervosismo e algumas garrafas vazias de uísque...

               Os convidados riram, assim como Gabriel.

- Mas agora não tem como voltar atrás.

               Continuei a olhar para Lety.

-  Eu espero que vocês dois sejam muito felizes... Porque... Gabriel é um cara espetacular. E não estou dizendo isso só porque ele é meu irmão mais velho e me obrigou a falar bem dele na sua festa de casamento.

               Novamente as pessoas riram.

- Ele realmente é um ótimo companheiro, e tenho certeza que Lety sabe disso.

               Ela sorriu balançando a cabeça.

- E Gabriel também é um cara de sorte, porque... Acho que nunca conheci em toda a minha vida alguém que tenha um coração tão puro quanto essa mulher aí que está do seu lado.

               Gabriel a olhou sorrindo.

- Lety é mais do que uma pessoa excepcional, em tudo o que faz. E acredite quando eu disser que você não vai ter mais um dia de estresse com ela por perto. Ela tem o dom de conseguir acalmar, de dizer as palavras certas que precisamos ouvir, e principalmente, ela jamais vai te abandonar nos momentos que você mais precisa.

               Talvez tenha sido a quantidade de shots e champanhe que tomei, mas eu percebi que estava falando mais do que deveria. Lety já não estava mais sorrindo como antes, mas me olhava com ternura e com os olhos brilhando.

- Você é um cara de sorte, Gabriel, porque você não vai encontrar uma mulher como a Lety. Nem se rodar o mundo inteiro procurando por uma. Ela é única, e você tem a sorte de tê-la como esposa. Espero que você saiba valorizar isso...

               Os convidados ficaram em silencio, e notei que Dani e Omar me olhavam de uma maneira estranha e diferente, assim como mamãe.

- Então, um brinde aos noivos. – Ergui minha taça quebrando o clima, todos fizeram o mesmo, aplaudindo logo depois.

               Lety ainda estava me olhando, até Gabriel puxá-la para um beijo. Naquele momento virei a taça de champanhe na boca e saí o mais rápido que pude de perto do microfone. Passei por minha mãe, mas não quis falar nada com ela. Não poderia.

- Fernando! – Dani me chamou assim que passei por ela e Omar, mas também não lhe dei atenção.

               Eu estava saindo do hotel, porque percebi que não poderia participar de um momento tão festivo se eu não estava com a mínima vontade de festejar. Eu não tinha motivos para isso. Ver Lety ao lado do meu irmão, e saber que eles estavam casados, estava me matando.

- Fernando!

               Dessa vez não era minha mãe e nem Dani que tinha me chamado, por isso parei de andar e me virei para me certificar de que conhecia aquela voz. Era Lety, e ela estava caminhando em minha direção.

- Lety, não quero conversar agora.

- Eu só queria te entregar isso... – Ela me mostrou algo que segurava, um cartão. Logo o reconheci e percebi que era o cartão que eu tinha lhe dado no dia dos namorados. – Eu guardei todos esses anos, mas quero que fique com você.

- Entendo. – Peguei o cartão com certa frieza. – Não vai querer que Gabriel encontre isso no meio das suas coisas.

- Não. É para você se lembrar que até hoje, eu esperei por você.

               Eu a olhei surpreso.

- Agora é tarde, eu sei. E não me leve a mal. Eu amo o seu irmão, e ele me faz muito feliz.

               Senti meus olhos marejarem ao ouvi-la dizer aquilo.

- Mas eu sei que eu nunca vou amar alguém como eu amei você.

- Lety, não faça isso... – Suspirei. – Nós não podemos ficar dessa maneira para sempre. Não posso deixar que Gabriel se sinta mal sabendo que a esposa dele e o irmão mal conseguem se olhar.

- Eu sei... Por isso eu sugeri que fossemos morar na Europa.

- O que?

- Ele concordou comigo, e disse que era uma boa ideia. Liguei para o meu antigo emprego e eles me disseram que ficarão felizes em me encaixar na equipe. Nós... Vamos nos mudar semana que vem.

- Você vai para a Europa?

- Vai ser uma boa. Gabriel vai para a filial de lá, e ele está muito empolgado.

- Você vai para a Europa? – Tornei a perguntar.

- Não vamos precisar nos preocupar com o clima tenso entre nós dois. Até voltarmos para uma visita as coisas vão estar melhores.

- Você vai para a Europa.

- Por que está repetindo isso?

- Porque sei o quanto você gosta de morar aqui.

- É, mas vai ser melhor.

- Melhor para quem?

- Para nós dois. Para... Nós três.

               Fiquei em silencio olhando para ela.

- Nós sabíamos que não conseguiríamos conviver tão próximos assim, depois de tudo. Você merece encontrar alguém para ser feliz, Fernando.

- Eu não quero encontrar alguém.

               Ela suspirou triste e sorriu tocando em meu rosto.

- Você ainda é a melhor pessoa que já conheci.

               Sentir seu toque depois de tanto tempo fez com que eu me sentisse pior.

- Eu te amo... – Ela sussurrou. – E espero que você seja feliz.

               Dizendo isso, Lety virou-se e se afastou. Eu sabia que era a ultima vez que nos víamos. Ela continuaria casada com meu irmão, morando à km de distância, mas eu não conseguiria mais vê-la outra vez. Ela sempre seria a mulher por quem eu tinha me apaixonado, e sempre seria a mulher da minha vida. Sempre seria a mulher mais linda, e a pessoa mais humilde e de coração puro que já conheci. Mas ela pertencia ao meu irmão agora, e eu nada poderia fazer. Perdi a chance quando abri mão de tudo isso para vê-la feliz, e para ver o meu irmão feliz. Eu deveria me sentir bem com isso, fiz a coisa certa. Mas não me sentia. Continuei a caminhar em direção a saída do hotel e percebi que aquela péssima sensação jamais iria passar. A sensação de perder a mulher da minha vida me seguiria pelo resto dos meus dias.

 

 

 

Mas, por sorte...

               ... tudo tinha sido apenas um sonho. Um louco e estranho sonho.

 

 

 

               A campainha tocava freneticamente. Me sentei à cama e olhei em volta, assustado. O quarto estava escuro, e provavelmente eu havia pegado no sono sem perceber. Olhei para o lado e meu celular estava do outro lado da cama, mas não tive tempo de olhá-lo. A campainha tocava tão alto que martelava em minha cabeça. Ou talvez tinha sido apenas aquele sonho (ou pesadelo) louco. Olhei no relógio ao lado da cômoda, e ele marcava cinco e quinze da tarde. Cambaleei pela casa até chegar à porta, quando a destranquei e a abri. Lety olhava para mim com um misto de preocupação e tensão, e eu não consegui dizer nada enquanto a olhava.

- Até que enfim! – Ela exclamou. – Eu estava preocupada! Você não atende o celular, não atende a campainha. Já estava começando a pensar besteiras.

- Desculpe. Eu... Perdi a hora.

               Ela me encarou por um tempo, mas ela já me conhecia bem para saber que algo me perturbava.

- Está tudo bem?

- Sim. Eu... Peguei no sono.

- Estava dormindo? Às cinco da tarde?

               Sim, eu também me assustaria se me ouvisse dizer que eu peguei no sono durante a tarde, provavelmente enquanto arrumava minhas coisas. Talvez esse fosse um dos motivos para eu ter tido um sonho tão louco como aquele.

- Quer que eu volte depois, ou...?

- Não. Eu só preciso de um banho. – Falei a brindo mais a porta, dando espaço para que ela entrasse.

- Tem certeza?

- Sim. – Sorri para tranquilizá-la, até ela se convencer e entrar em minha casa.

               Lety olhou em volta, e só então me dei conta de que era a primeira vez que ela ia ali. Ao menos a sala e a cozinha estavam arrumadas, mas eu parei justamente na faxina do meu quarto, quando o maldito sono me pegou.

- Não é grande como a da minha mãe, ou como o hotel... – Sorri fechando a porta. – Mas gosto daqui.

- É aconchegante. – Ela sorriu virando-se para mim. – Muito.

- É. Por isso eu a escolhi. Não passo muito tempo aqui então não preciso de muito espaço.

- Eu gostei.

- Que bom. – Sorri.

- Mas vejo que você acordou um pouco em cima da hora. – Ela riu me olhando, provavelmente mencionando minhas roupas.

- É, me desculpe. Você se importa se eu tomar um banho rápido?

- Não, é claro que não. Fique a vontade.

- Obrigado. Você também pode ficar à vontade. A televisão está ali, tem um aparelho de som que eu acho que ainda funciona...

               Ela riu.

- Vou ficar bem, obrigada.

- Eu já volto.

               Caminhei em direção ao banheiro, ainda um pouco tonto com tudo aquilo. Normalmente eu já tive sonhos estranhos, que pareciam reais. Reais até demais. A briga que tive com Gabriel pareceu tão real que eu praticamente conseguia sentir o soco que ele tinha me acertado no rosto enquanto discutíamos. Mas, a pior parte foi ter a imagem de Lety vestida de noiva em minha frente, sabendo que ela não se casaria comigo. Aquela imagem não saía da minha cabeça, mesmo durante o banho. Todas as vezes que eu fechava os olhos, imaginava ela sentada ao meu lado no banco de carona, deslumbrante, mas com um olhar perdido e triste. Provavelmente eu também estava assim. Só de imaginar que por um segundo eu vi Lety se casando com Gabriel por um simples erro idiota meu fazia doer o meu estômago à ponto de me incomodar.

               Não demorei no banho como de costume. Parte por não querer deixar Lety sozinha na primeira vez que ela ia até a minha casa. Parte porque aquelas imagens estavam me matando, e eu não estava suportando mais me lembrar daquele sonho sem ter uma sensação de “premonição” ou “dejavu”. Assim que saí do chuveiro e me sequei, olhei para o meu reflexo no espelho e percebi que eu estava mesmo estranho. Lety já tinha percebido isso, mas era educada demais para ser tão persistente. Ela precisava saber do meu sonho, por mais louco que possa parecer. Eu não queria passar nossa ultima noite juntos com aquela sensação péssima na boca do estomago. Queria me certificar de que eu não seria idiota o suficiente à ponto de brigar com meu irmão, de gritar com Lety e dizer que eu não faria uma “escolha” entre ela e meu irmão, e principalmente, que eu não a veria se casando com ele.

               Vesti minha calça e saí do banheiro enxugando os cabelos. Olhei para a sala e Lety não estava lá, e logo caminhei até o meu quarto, onde ela estava sentada à cama olhando para algo sobre minha cômoda. Assim que percebeu que eu entrei no quarto, ela virou-se para mim e abriu um lindo sorriso, e foi impossível me aproximar sem puxá-la para um beijo. Um beijo apaixonado, repleto de palavras que eu não conseguiria expressar em voz alta. Ela percebeu esse beijo diferente, mas retribuiu. Assim que interrompi o beijo, naõ me afastei. Continuei a olhá-la com o rosto próximo à ela, e obviamente ela percebeu algo.

- O que foi? – Ela sussurrou.

- Nunca, jamais, em hipótese alguma, permita que um homem grite com você. Principalmente se esse homem for eu.

               Suas sobrancelhas se ergueram e ela me olhou confusa.

- Do que está falando?

- Só não quero imaginar que alguém algum dia seja capaz de levantar a voz para você. Você não merece isso.

- Fernando, o que...?

               Me sentei ao lado dela e segurei sua mão.

- Posso te contar uma coisa, mas você promete que vai se esforçar para não achar uma total loucura?

- Claro que eu prometo.

- Mas, tem que prometer de verdade. Porque... É algo estranho.

               Ela suspirou e apertou minha mão, virando-se totalmente para mim.

- Eu prometo. – Sorriu.

- Tudo bem... – Respirei fundo para tomar fôlego. – Eu provavelmente peguei no sono enquanto arrumava meu quarto, isso explica a bagunça.

               Ela riu.

- E nisso eu tive um sonho. Já teve um daqueles sonhos que parecem mesmo reais?

- Sim, algumas vezes.

- Então... Eu tive um desses sonhos. E acho que foi um dos piores sonhos da minha vida.

- Mesmo? Por que?

- Aconteceram tantas coisas... Gabriel apareceu de surpresa aqui em casa, eu não conseguia contar para ele sobre nós dois, acabamos tendo uma briga horrível, você veio para cá para tentar me acalmar e eu... Acabei gritando com você e dizendo coisas horríveis.

- Você?

- Sim. E acredite, por mais que tenha sido um sonho, eu estou totalmente envergonhado por isso.

               Ela continuou a me olhar confusa.

- E depois... O sonho mudou. Tinha se passado um tempo e o Gabriel ia se casar.

- Se casar? Com quem?

- Com você.

               Lety me encarou com seriedade, até rir logo depois.

- Desculpe. – Disse ainda rindo. – Você tomou algo antes de ter esse sonho? Um café forte? Um chá?

- Não, Lety. Eu estou falando sério. Vocês estavam se casando e... Na verdade, se casaram. Eu fui o padrinho, inclusive.

- Fernando. – Ela tocou em meu rosto. – Isso foi apenas um sonho.

- Eu sei. Eu sei disso. Mas é daqueles sonhos que ficam em nossa cabeça por um bom tempo, e eu não consigo esquecer isso. Principalmente a parte que nós dois discutimos, e depois quando te vi casada com o Gabriel... As imagens nem estão tao nítidas na minha cabeça, e provavelmente vou me esquecer desse sonho depois de algumas horas. Mas agora isso está me perturbando, Lety. Por mais que eu não consiga me lembrar concretamente das cenas, eu sei que você estava linda vestida de noiva, mas estava se casando com o meu irmão. E tudo isso por toda essa confusão que eu causei.

               Lety se mexeu à cama e segurou minhas duas mãos com firmeza.

- Primeiro, você precisa pensar que isso foi apenas um sonho. Ou pesadelo, não sei.

- Pesadelo, com certeza.

- Tudo bem. Mas... Não foi real. Você sabe, não é?

               Suspirei balançando a cabeça afirmamente.

- Ótimo. Segundo, eu não me casaria com seu irmão. Mesmo que você tivesse... Gritado comigo ou sei lá o que fez, eu não me casaria com uma pessoa que não fosse compatível comigo, e definitivamente seu irmão e eu não somos compatíveis.

               Continuei a olhá-la.

- E terceiro e mais importante: O que te fez ter esse sonho louco?

- Não sei... – Suspirei e olhei para o outro lado da cama, onde estava meu celular.

               Vagamente me lembrei de ter pego ele antes de dormir, e foi o que eu fiz naquele instante. Peguei o meu celular e percebi que estava aberto em uma mensagem. Era de Gabriel, dizendo que ele chegaria à noite e que queria me ver. A mensagem foi finalizada com um “é muito importante que você vá até a casa da mamãe à noite, estou te esperando”. Me lembrei de ter lido aquela mensagem antes de cair no sono, e principalmente de ter parado de escrevê-la pela metade. Na resposta, apenas a frase “É algo import...” mostrava claramente que eu provavelmente deixei o celular de lado para pensar besteiras. E eu costumava sonhar quando pensava besteiras. Isso acontecia com bastante frequência.

- Fernando?

- Acho que toda essa história de não conseguir contar para o Gabriel está me deixando louco.

- Isso está te incomodando tanto a ponto de você ter um sonho tão louco?

- Eu pensava que não, mas... Sim. Está me incomodando. Eu não vou conseguir ficar em paz enquanto não contar à ele, Lety.

               Ela me olhou com ternura.

- Eu sei disso. A relação de vocês é forte demais para guardar uma coisa tão importante do seu irmão.

- É, é exatamente isso.

- Bom... Tudo bem. Eu te entendo, mas o que você pretende fazer?

- Ele está vindo para cá.

- Agora? Na sua casa?

- Não, na casa da minha mãe. Ele me mandou uma mensagem pouco antes de eu dormir. Disse que é importante que eu vá.

- Acha que ele... Sabe?

- Não, não teria como. Ninguém contaria à ele.

- Então ficou preocupado com essa mensagem.

- É, acho que sim.

- Então... O único jeito de tirar toda essa sensação ruim que você está sentindo desde que teve esse sonho, é ir para a casa da sua mãe.

- Sim. – Concordei rapidamente. – Mas eu quero que você vá comigo.

               Uma das coisas que eu mais admirava em Lety, é que eu sabia que poderia contar com ela em qualquer ocasião. Ela nem mesmo tirava um tempo para pensar se deveria ou não dizer que sim. Ela simplesmente abriu um lindo sorriso e balançou a cabeça concordando.

- Sim, é claro que sim.

               Sorri aliviado e a puxei para um abraço. Era tudo o que eu precisava naquele momento, do abraço de Lety. Depois de um sonho tão tenso e estranho, eu só queria ter certeza de que eu não havia feito nenhuma besteira como gritar ou dizer coisas horríveis para ela. Eu só precisava dela ao meu lado.

 

 


Notas Finais


Primeiramente, eu sinto MUITÍSSIMO se o capítulo tiver ficado confuso (espero que não), mas é que a intenção era dividí-lo em várias partes para não ter esse problema de confusão. Só que percebi que todo mundo estava ansioso, tenso e nervoso com o ultimo capítulo, então eu não teria coragem de não colocar uma parte da continuação agora.



PS: nunca fui tão "ameaçada" em toda a minha vida de escritora hahaha (brincadeira, mas é verdade).


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