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História Meu Primeiro Amor - Confissão


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 11 - Confissão


               Eu até tentei descansar a mente, mas foi impossível enquanto eu me lembrava da casa de Úrsula sendo consumida pelo fogo. Eu me coloquei em seu lugar por um instante. Por mais que papai jamais tivesse deixado faltar algo para nossa família, nós vivíamos com o que podíamos. A pensão não dava muitos lucros, e em alguns meses não dava praticamente lucro nenhum. Por isso eu sempre entenderia que por mais que minha situação estivesse muito melhor, existiriam pessoas que um dia iriam precisar da minha ajuda. Me lembro bem de sempre ouvir meu pai dizer para mim enquanto o ajudava na pensão “As vezes nós temos dificuldades, mas existem pessoas com dificuldades ainda maiores que as nossas. Devemos ajudá-los”. É claro que infelizmente naquela época não podíamos fazer muita coisa, mas minha mãe sempre buscava ajudar ao máximo doando algumas coisas para a igreja quando podíamos. Fui criado assim, e minha cabeça jamais iria mudar.

               Minha situação estava mudada. Graças ao hotel, eu conseguia ter tudo o que precisava e ainda mais. Nunca fui um homem de luxos. É claro que as vezes, eu me presentava com uma coisa cara ou outra, mas simplesmente porque sabia que enfim eu poderia me dar ao luxo de comprar coisas assim. Sempre ajudava minha mãe em tudo o que ela precisava, e mesmo que ela não gostasse muito, eu comprava algo que sabia que iria agradá-la. Uma geladeira nova, uma mesa de centro que ela gostou... Coisas desse tipo. Mas, também não pensava só em mim. Sempre me lembrava das conversas sinceras com meu pai, e por isso procurava dar o melhor de mim.

               Eu não estava preocupado em ajudar Úrsula simplesmente porque eu tinha condições de fazer isso. Eu queria ajudá-la por saber que ela faria o mesmo por qualquer pessoa que estivesse em seu lugar. Naquele tempo de convivência com ela sendo minha assistente, consegui observar cada gentileza dela. Eu acreditava que pagava Úrsula um salário satisfatório, principalmente porque ela jamais reclamou disso. Mas, ela também não vivia no luxo. Em uma noite, quando trabalhamos até mais tarde por haver um evento importante no hotel no dia seguinte, me ofereci para leva-la em sua casa por me preocupar dela voltar sozinha tão tarde. Depois de muita insistência ela deixou, e eu conheci sua casa do lado de fora. Apesar de não muito grande, dava para ver que era cuidada com muito carinho, assim como qualquer coisa que Úrsula fazia.

               Depois de um tempo trabalhando para mim, seu marido e seus filhos a buscavam algumas vezes durante o almoço, e eu os conheci. Úrsula e eu conversávamos algumas vezes durante o trabalho, e ela me disse que seu marido ganhava o que podia ajudando na mercearia. Ele se sentia mal por saber que era o salário dela que praticamente sustentava a casa, mas ela não se importava. Eu logo soube que seu marido era um homem batalhador, e que realmente se preocupava com a família. Mesmo em uma cidade tão pequena, não era comum conhecermos pessoas de tão bom coração como os dois.

               Estar ao lado deles enquanto eles assistiam a casa ser praticamente destruída foi um choque ainda maior para mim. Eles se apoiavam, apesar de nenhum ter condições psicológicas para fazer isso por estarem igualmente abalados. Eles se preocupavam com as crianças, mas eu sabia que estavam em boas mãos sob os cuidados de Lety. E foi então que eu decidi que queria ajudá-los de alguma maneira. Oferecer um quarto do hotel não era nada, principalmente porque eles obviamente não queriam ficar lá para sempre. Precisava pensar em uma solução ainda melhor para ajudá-los.

É claro que pensar em como eu poderia fazer isso me custou a noite inteira acordado caminhando de um lado para o outro no escritório, conversando com o retrato do meu pai. Mas, não foi apenas isso que me tirou o sono. O dia que passei com Lety também não saía da minha cabeça. Fiquei feliz por saber que consegui alegrá-la de alguma forma, mesmo que tão simples. Saber que estávamos ainda mais próximos me deixava empolgado, mas também amedrontado. Naquela altura, eu nem me lembrava mais que ela estava com Gabriel, ou ele pensava que estivesse. E isso começava a se tornar perigoso. Antes, a preocupação de como minha relação com meu irmão ficaria não saía da minha cabeça, mas naquela altura, isso já não importava tanto. O que eu sentia por Lety estava ficando tão forte que eu já não me preocupava tanto com as consequências.

               Como passei a noite acordado pensando em mil coisas, logo cedo fui para o local onde ficava a casa de Ursula, para saber sobre os resultados daquele incêndio. Logo de cara me assustei ao ver o resto das cinzas flutuando pelo local, e grande parte da casa destruída. Com certeza eles não poderiam ver a casa daquela maneira, ou iriam desabar.

- Deu para salvar mais alguma coisa? – Perguntei ao policial que estava no local.

- Não muito. Acho que eles não irão querer o que salvamos. O quarto que parecia ser das crianças ficou totalmente destruído, mas... Pelo menos metade da casa ficou de pé. Acho que uma boa reforma e pintura consegue salvar. E o resto... Infelizmente terá que ser reconstruído do zero.

               Suspirei desapontado.

- Acho que o mais importante é que tiveram sorte de não ter ninguém no local. As crianças saíram logo quando o fogo começou, e parece que eles estavam no quintal nesse momento. Deram muita sorte.

- É... Deram.

- Acho que os bens materiais eles conseguem aos poucos.

- Espero que sim.

               Depois de saber que metade da casa teria que ser reconstruída, e a outra metade teria que ser reformada, voltei para o hotel me sentindo inútil de certa forma. Não pude fazer nada para ajudar além de ceder um quarto no hotel, mas provavelmente Úrsula e seu marido ficariam péssimos ao saber que precisariam mudar completamente suas vidas de um dia para o outro. Como ainda estava cedo, voltei para o meu escritório e peguei alguns orçamentos para estuda-los. O hotel teve bastante lucro naquele ultimo mês, e eu pretendia fazer algumas reformas em algumas áreas. Mas, talvez isso pudesse esperar. Úrsula era melhor com os orçamentos do que eu, mas eu não queria conversar com ela antes de ter certeza. Apenas uma pessoa poderia me ajudar naquele momento, e eu sabia que ela iria me ajudar.

               Parei em frente ao quarto de Lety e bati três vezes à porta, rezando para que ela não estivesse dormindo. Ainda eram oito da manhã, e eu não queria incomodá-la. Assim que a porta se abriu, Lety abriu um largo sorriso e eu fiquei aliviado por saber que não tinha acordado ela. Ou ela dormia de calça jeans, camiseta, cabelo arrumado e um rosto animado.

- Bom dia! – Ela sorriu.

- Bom dia. – Retribuí o sorriso. – Está ocupada?

- Não. Estava indo para o saguão saber se você já tinha chegado.

- Na verdade, passei a noite no escritório.

- Você não dormiu?

- Não.

- Fernando. Isso pode fazer mal, sabia?

- Eu reponho o sono depois. Eu queria saber se você pode me ajudar em uma coisa.

               Apontei para a pasta em minhas mãos.

 

 

                                                                          •••

 

 

 

               Ver Lety usando um óculos de armação preta enquanto analisava as folhas sobre a cama me fez perder totalmente os sentidos. Eu não queria atrapalhá-la perguntando no que ela estava pensando, e também não queria que ela percebesse que eu a olhava desde quando ela aceitou de bom grado me ajudar. Era impossível estar tão perto dela e não reparar em cada detalhe seu, que eu já começava a decorar. Como ela torcia a boca enquanto estava pensativa, como se irritava com uma mecha mais curta do cabelo que insistia em cair em seu rosto, e como ela piscava várias vezes quando se concentrava.

- É, realmente você teve um lucro muito grande esse último mês. Maior do que nos outros anos. – Ela disse ainda olhando para os papéis. – Eu diria que é um bom dinheiro que você pode investir no que quiser, até mesmo para você.

               Ela ergueu a cabeça e me olhou.

- Então, se eu quisesse usar para alguma coisa como... Uma construção. Não teria nenhum problema de dívida para o hotel ou para mim?

- Não, pelo contrário. Eu diria que você está muito bem com todo esse lucro, e poderia até mesmo comprar outro hotel. – Ela riu. – Não, talvez não outro hotel. Mas poderia investir em algo grande.

- Na verdade, estava pensando em usar para outra coisa.

- Bom... De qualquer maneira, seja no que queira usar, não vai se endividar e nem irá atrapalhar os outros lucros. Você continua sendo um dos homens mais ricos da cidade. – Ela sorriu, me entregando os papéis.

- Obrigado. – Retribui o sorriso. – Você é muito boa nisso, Lety. Realmente ainda está pensando na proposta?

- Sim. – O sorriso dela diminuiu. – Ser muito boa não é suficiente para eu tomar uma decisão.

- Entendo. De qualquer maneira, sei que você vai tomar a decisão certa.

               Ela abriu um largo sorriso.

- Obrigado mais uma vez pela ajuda. Eu te convidaria para um café, mas preciso fazer algumas coisas antes.

- Tudo bem. Mas, depois você vai descansar, não é?

- Vou. – Sorri. – Prometo.

- Ótimo. – Ela se levantou. – Também vou fazer algumas coisas, mas eu queria te convidar para almoçar comigo. Eu pago.

               Abri a boca para responde-la, mas ela logo me interrompeu.

- E não pense que só porque você está com todo esse lucro que eu vou deixar que fique sempre pagando as coisas. – Ela riu. – Eu insisto em pagar o almoço hoje.

               Sorri divertido.

- Tudo bem.

- Obrigada.

- Nos encontramos depois então.

- Certo.

               Por um segundo eu quis me despedir com um beijo no rosto ou algo assim, mas fui um pouco frouxo quanto à isso e apenas segui até a porta do quarto. Ela me acompanhou, e quando saí no corredor, ela escorou-se à porta.

- Até mais tarde.

- Até. Ah... – Parei ao corredor. – Se você ainda estiver em dúvida sobre sua decisão, sugiro que vá até os jardins do fundo. Costumo ir lá para pensar um pouco.

               Ela sorriu.

- Obrigada, vou fazer isso.

               Pisquei para ela e continuei pelo corredor, em direção ao elevador. Todas as vezes que eu conversava com Letícia, mesmo que por alguns minutos, eu me sentia mais leve. Como se nada pudesse me atingir. Graças à isso consegui voltar para o escritório com a cabeça mais leve, e depois de uma xícara forte de café, consegui fazer alguns telefonemas e resolver o que precisava resolver.

 

 

 

 

                                                                           •••

 

               Depois de algumas horas no meu escritório, mal notei que estava quase na hora do almoço. Apesar de ansioso para ver Letícia, eu fiquei totalmente entretido no que eu estava fazendo. Depois de vários telefonemas, consegui enfim me resolver e poderia sair para me encontrar com Lety. Deixei o escritório e caminhei pelo saguão em direção ao elevador, mas assim que apertei o botão e virei para trás, notei que Lety e Dani haviam acabado de entrar no hotel. Pareciam empolgadas por algum motivo, e à medida que se aproximavam eu notei que carregavam alguns papéis. Elas pararam à recepção e começaram a conversar com Iara, e logo eu me aproximei curioso com tanta empolgação.

- Eu acho que ele está no escritório, e... – Iara olhou para mim e sorriu. – Ah! Olha ele aí!

               As duas se viraram para mim, e sorriam ainda mais.

- Oi. – Falei desconfiado.

- Irmãozinho! – Dani exclamou animada.

- Eu perdi alguma coisa?

- Perdeu sim, mas já vamos te contar o que é! Lety, quer fazer as honras?

               Lety riu e pegou um dos papeis que elas carregavam, me entregando logo depois.

- Fui até a casa da sua mãe hoje para conversarmos sobre o ocorrido com a casa da Úrsula. Dani também participou da conversa e nós decidimos pensar em algo para que pudéssemos ajudá-los. E então nós tivemos uma ideia...

- A Lety teve uma ideia! – Dani disse enquanto eu olhava para o panfleto. – E é uma ideia brilhante!

               O panfleto notavelmente desenhado por Dani era uma espécie de convite. Contava sobre o que aconteceu com a casa de Úrsula, e que qualquer tipo de ajuda seria bem vinda.

- Nós começamos a colar isso pela cidade, e acredite ou não, já foram algumas pessoas lá em casa para doar algumas coisas! – Dani sorriu.

- E então sua mãe teve a ideia de ficarmos próximas à igreja, como no dia do aniversário da cidade. Para recebermos as coisas. – Lety completou, também empolgada.

- O que achou? – Dani me olhou.

               Ergui a cabeça e sorri.

- Achei uma ótima ideia. Já falaram sobre isso com a Úrsula?

- Ainda não. Estávamos indo fazer isso agora mesmo.

- Sabe onde ela está?

               Me preparei para dizer que não tinha visto Úrsula ainda, quando vi duas crianças correndo em nossa direção, abraçando Lety e Dani. Logo notei que eram os filhos de Úrsula, e ela e seu marido se aproximaram logo depois.

- Bom dia, Seu Fernando. – Úrsula disse sem esboçar sorriso algum.

- Bom dia!

- Bom dia, Seu Fernando. – Seu marido disse.

- Bom dia. Como vocês estão?

               Os dois se olharam e me responderam com um suspiro pesado.

- Seu Fernando, o seu hotel é muito legal! – O garotinho disse.

- E passa desenho o dia todo no televisão.

               Sorri para eles.

- Que bom que gostaram.

               Lety me olhou e também sorriu.

- Seu Fernando, nós... Podemos falar com o Senhor? – Úrsula olhou para as crianças. – Em privado?

- Claro. Vamos para o meu escritório.

               As crianças se entreteram em uma conversa animada com Lety e Dani, e nós três conseguimos nos afastar sem que percebessem. Logo quando entramos no meu escritório, notei que eles pareciam tensos e preocupados, mas imaginei que era uma reação normal pelo que aconteceu.

- Sentem-se, por favor.

               Os dois se sentaram, e eu segui até minha cadeira.

- Então, em que posso ajudá-los?

- Na verdade, o Senhor já fez muito por nós, Seu Fernando.

- É, e é sobre isso que viemos conversar. – Ursula me olhou com pesar. – José e eu conversamos durante a madrugada, e nós... Decidimos que vamos sair da cidade.

- O que? – Perguntei surpreso. – Como assim sair da cidade?

- Tenho uma irmã que se ofereceu para nos ajudar enquanto... As coisas não melhoram. – Ele respondeu. – Nossa casa foi destruída, Seu Fernando. E nós não temos condições de reergue-la tão logo.

- Sim, eu sei disso. Mas... Vocês tem um emprego aqui. O que vai acontecer se mudarem de cidade?

- É por isso que eu queria falar isso com o Senhor pessoalmente. – Úrsula suspirou. – Eu gostaria que o Senhor assinasse minha demissão.

               Encarei os dois por alguns minutos, e percebi que eles estavam mesmo tomando uma medida desesperada. Por mais que eu entendesse que eles tinham medo de não ter um lugar para ficar, eu não poderia assinar a demissão de Úrsula para que a situação piorasse. Não que eu não acreditasse que ela encontraria outro emprego, mas era um passo muito grande ir para outra cidade sem absolutamente nada.

- Não, não farei isso. – Falei firme.

- Mas, Seu Fernando...

- Olha, eu entendo que vocês estão preocupados. Eu também estou, para dizer a verdade. Posso imaginar como está sendo difícil, principalmente porque vocês tem dois filhos. Mas, Úrsula, se vocês mudarem de cidade, mudarem de vida, pode demorar um tempo até se estabilizarem de novo.

- Eu sei. Conversamos sobre isso também. Mas no momento o melhor que podemos fazer é ficar na casa da minha cunhada. Não podemos ficar aqui no seu hotel, Seu Fernando. Querendo ou não é uma despesa para o Senhor, e não temos previsão de quando conseguiremos reerguer a casa. Só com o que temos daria apenas para pintar a parte que sobrou, mas ainda temos móveis, roupas, e o restante da casa que perdemos.

- Eu não dei um prazo para vocês. Eu disse que podem ficar o tempo que precisarem.

- Eu sei, mas... – Úrsula suspirou e começou a chorar, colocando as mãos em seu rosto.

               Me escorei à cadeira me sentindo péssimo por vê-la daquela maneira, mas eu não poderia deixar que eles largassem tudo por pensar que estavam me dando despesas.

- Seu Fernando, nós agradecemos muito sua tentativa de nos ajudar, mas... Nesse momento tudo o que podemos fazer é aceitar a ajuda da minha irmã. – José disse. – Sei que vai demorar um pouco para nos estabilizarmos, mas pelo menos não teremos tanta pressa assim de resolvermos as coisas.

- Tudo bem. Eu não quero ser chato e inconveniente, mas podem pelo menos... Pensar com calma? Não precisam ir com tanta pressa também, e por mais que vocês pensem o contrário, não estão me dando despesas. Podem ficar aqui o tempo que precisarem.

               Úrsula limpou as lágrimas e me olhou.

- Obrigada, Seu Fernando.

               Sorri satisfeito e um pouco aliviado por ter conseguido convencê-los de pensar com calma. Eu queria ajudá-los, mas antes precisava de apenas uma ligação.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

               Meu almoço com Lety não funcionou, mas provavelmente ela também não ficou chateada com isso. Depois da conversa com Úrsula e José, Iara disse que Dani e ela tinham saído, provavelmente para resolverem sobre as doações que estavam recebendo. Enquanto não recebia a ligação que estava esperando, me entreti com coisas do hotel, e consegui convencer Úrsula de que ela não precisava trabalhar naquele dia. Sugeri que ela distraísse as crianças na piscina e nas áreas de lazer, e ela concordou. Na hora do almoço não tive a companhia de Lety, mas Omar foi até o hotel para conversarmos sobre o que tinha acontecido. Ele também estava chateado por isso, e assim como todo mundo, queria ajudar.

- Legal a ideia de Lety. – Omar disse olhando para o panfleto em cima da minha mesa. – Elas foram na lanchonete mais cedo perguntar se poderiam colar os panfletos lá e no bar.

- É, também achei legal. Espero que conseguiam alguma coisa.

- Com certeza vão. As pessoas dessa cidade podem ter muitos defeitos, mas pelo menos ajudam uns aos outros.

- É... – Sorri enquanto anotava algumas coisas.

- E... Vocês dois. Como estão?

- Quem?

- Você e a Lety.

- Ah. Estamos bem.

- Só isso?

- O que mais quer que eu diga?

- Sua irmã me disse que vocês passaram o dia todo fora ontem, aposto que quer me dizer mais coisas.

               Parei de escrever e olhei para ele.

- Vocês se beijaram.

- Não! – Respondi rindo. – Você só pensa nisso?

- É que eu não consigo entender como já tem tanto tempo que ela está aqui, e você não tentou beijá-la nenhuma vez.

- As coisas não são assim, Omar. Não é como num passe de mágica que isso vai acontecer. Principalmente porque não sei se ela também ia querer isso.

- Mas ela está diferente. Parece ainda mais próxima da sua família... E de você.

- É, nós estamos mais próximos.

- Então isso quer dizer que ela também está gostando de você.

- E o que te faz pensar isso? Você nem mesmo consegue falar com a garota que é afim desde a terceira série.

               Omar fez uma careta e eu ri.

- Olha, as coisas entre Lety e eu estão indo muito bem. Não quero tomar uma atitude que faça isso mudar.

- Tudo bem. Como quiser.

               Balancei a cabeça divertido e me preparei para continuar o que estava fazendo, quando meu celular vibrou sobre a mesa. O peguei rapidamente e atendi a ligação, ansioso por estar esperando por ela o dia inteiro.

- Alo?

- Fernando?

- Sim!

- Consegui o que você me pediu. Consegui reunir alguns trabalhadores que estão dispostos a começar amanhã mesmo.

               Abri um sorriso satisfeito e olhei para Omar.

- Isso é ótimo! De verdade!

- Quer que eu marque uma reunião com eles para amanhã, e vocês resolvem tudo pessoalmente?

- Seria ótimo!

- Tudo bem. Vou falar com eles e te mando uma mensagem marcando o horário.

- Muito obrigado!

- Não há de que! Até logo.

- Até.

               Assim que desliguei o celular, Omar me olhou curioso mas eu apenas conseguia sorrir empolgado.

- O que foi?

- Consegui contratar alguns trabalhadores para reformarem a casa da Ursula a partir de amanhã!

- Você contratou? – Omar franziu o cenho. – Tipo... Do seu dinheiro?

- Sim. Eles vão reconstruir a parte que foi destruída.

- Uau! Você está disputando um lugar no céu ou algo assim? – Ele riu.

- Não seja bobo. Úrsula merece.

- É, eu sei. Isso é muito legal, Fernando. – Ele sorriu.

- Agora só preciso pensar em como ajudá-los com o restante da casa. A outra parte ainda está de pé, mas precisa de uma reforma. Uma pintura...

- Bom... Já que o lugar no céu está tão disputado, posso ajudar nessa parte.

- Sério?

- Sim. Posso pagar as tintas e os materiais que precisar.

- Omar, isso seria ótimo! Úrsula vai ficar muito feliz! Ela estava cogitando a ideia de sair da cidade por não ter condições de arrumar a casa...

- Então... – Omar se levantou. – Avise à ela que a casa dela ficará ainda melhor do que antes.

               O olhei divertido, também me levantando.

- Preciso contar isso para a Lety.

               Omar me encarou.

- E à Dani. É claro.

- Sim, é claro. – Ele sorriu maroto.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

               Estava seguindo para a casa da minha  mãe para contar a novidade para elas, mas por sorte passei pela praça e vi que elas estavam próximas à igreja. Haviam varias pessoas por ali, assim como caixas e caixas no lugar onde estavam. Estacionei o carro e segui até elas, e me senti satisfeito por ver que todas aquelas caixas eram doações.

- Querido! – Minha mãe exclamou quando me viu.

- Oi! – Sorri. – Isso tudo vocês receberam hoje?

- Sim! Não é incrível? – Dani sorriu.

- É sim, incrível!

               Olhei para Lety e ela tinha acabado de pegar uma caixa que lhe entregaram. Como a caixa parecia pesada, me apressei em ajudá-la, e logo ela me agradeceu com um sorriso.

- Foi uma ótima ideia. – Falei quando peguei a caixa.

- Obrigada. Estamos felizes que todos estão ajudando.

- Estou vendo. – Coloquei a caixa no chão e sorri. - Também tenho uma novidade.

- Qual?

- Omar e eu vamos ajudar a reconstruir a casa.

- O que? Jura? – Ela me olhou surpresa. – Fernando, isso é maravilhoso!

- Maravilhoso é pouco! – Dani disse. – Irmãozão, que orgulho você me dá!

- Muito orgulho. – Mamãe sorriu. – Fazendo o que é certo, assim como seu pai.

               Sorri satisfeito com tantos elogios, mas o que mais me chamou a atenção foi a animação de Lety, e seus olhos marejados depois que contei a novidade. Ela realmente estava se esforçando para ajudá-los, e vê-la tão feliz por isso me deixou ainda mais feliz por poder ajudar.

- Querido, por que não aproveita que está aqui e nos ajuda a organizar essas caixas? – Mamãe pediu.

- Claro.

- Com licença? Para quem entrego isso? – Um Senhor se aproximou com uma caixa.

               Lety se apressou em oferecer ajuda, e eu fiquei encarregado de arrumas as caixas. Embora estivéssemos ocupados com outras coisas, não consegui parar de olhá-la sempre que conseguia um tempo entre ajeitar uma caixa ou outra. Algumas vezes percebi que mamãe me olhava sorrindo divertida, e eu me apressava em desviar o olhar. Mas obviamente ela já tinha notado todos os meus olhares apaixonados sobre Lety, eu só esperava que não precisássemos ter a mesma conversa sobre Gabriel como tivemos antes. Depois de um tempo, eu parei de me preocupar tanto com o que aconteceria caso ele soubesse que nos últimos dias meus sentimentos por Lety aumentaram ainda mais.

               Fiquei um tempo ajudando com as caixas que elas recebiam de doações, que sem exageros, foram MUITAS. Fiquei satisfeito por isso, e ainda mais satisfeito de imaginar como Úrsula ficaria animada com aquela notícia, e ainda mais que a casa deles começaria a ser reconstruída no dia seguinte. Me ofereci para levar as caixas para o hotel e contar as novidades para Úrsula juntamente com Lety e Dani, mas logo quando terminei de guardar a ultima caixa no porta malas, vi Olga entregando uma caixa para Lety. Torci para que ela não me visse ali, mas depois de um tempo minha mãe apontou para mim e todas me olharam. Fechei os olhos e suspirei profundamente, fechando o porta malas e caminhando em direção à elas.

- Oi. – Olga sorriu quando me aproximei.

- Oi. – Retribuí o sorriso, colocando as mãos no bolso.

- Trouxe algumas coisas para Úrsula. Eu ouvi pelo rádio, e fiquei horrorizada.

- É... Foi terrível.

- Soube que você deixou que eles se hospedassem no hotel. Muito legal da sua parte.

- Úrsula é minha amiga. É o mínimo que eu poderia ter feito.

- Mas ainda assim, foi um gesto muito bonito.

               Lety nos olhou e percebi que ela abaixou a cabeça envergonhada.

- Então... Você está livre hoje? – Olga perguntou.

               Olhei novamente para Lety e ela pigarreou, parecendo incomodada. Demorei um tempo para responder, e ela continuou seu convite.

- É que eu estava pensando se você não queria...

- Olga, eu realmente adoraria. – Falei rapidamente. – Mas é que... Eu tenho um compromisso hoje.

- Compromisso? Então está saindo com alguém?

               Percebi que estava piorando ainda mais as coisas, e temi que tudo saísse do controle.

- É, estou.

- Ótimo! Então leve ela. Eu ia te convidar para sairmos e eu te apresentar meu namorado.

               Olhei surpreso para ela.

- Namo... Namorado?

- Sim! Ele mora na cidade vizinha, e sempre vem no aniversário da cidade. Tivemos um lance há algum tempo, mas não deu em nada. Agora finalmente decidimos tentar. – Ela sorriu. – E você? Com quem está saindo?

               Abri a boca para responde-la, mas não soube o que dizer. Eu estava pronto para dizer que tinha um compromisso com Lety para que ela não insistisse no convite, mas depois disso eu não poderia simplesmente dizer que estava saindo com Lety, ou ela iria querer que eu a levasse no “encontro”.

- É uma surpresa. – Forcei o sorriso.

- Bom... De qualquer maneira deve ser uma garota de sorte. – Ela riu e olhou para Lety. – Você vai ficar na cidade por quanto tempo?

- Eu... não sei exatamente. – Lety respondeu sem jeito.

- Então iremos nos esbarrar mais vezes. – Olga voltou a me olhar. – Estou feliz por você ter encontrado alguém, Fernando. Você estava precisando disso.

               Continuei com um sorriso forçado, imaginando se Olga estava mesmo falando sério. Desde o colegial ela vivia atrás de mim, nunca imaginei que de repente ela iria aparecer com um namorado. Mas eu estava feliz por isso. Extremamente feliz.

- Agora tenho que ir. Nos vemos depois. – Ela acenou. – Até logo!

               Lety e eu não respondemos, talvez por estarmos surpresos demais. Observei Olga se afastar, até que Dani se aproximou.

- Isso foi muito estranho. Ela não era apaixonada por você?

- Era. Ela... Pode ter percebido que era uma paixão boba de colegial. – Falei envergonhado.

- Que bom então. Agora você está livre para ter o seu encontro. – Dani sorriu. – Aliás, com quem será?

               Encarei ela com raiva, e apenas balancei a cabeça.

- É melhor levarmos essas caixas para o hotel logo.

- Ah, eu acho que não posso ir com vocês. – Dani disse.

- Por que? – Lety e eu perguntamos.

- Prometi ajudar a mamãe com o jantar.

- Tem alguma ocasião especial hoje? – Perguntei.

- Não. Só... Queremos fazer um bom jantar para nós duas.

               Percebi que ela estava tramando alguma, e consegui imaginar exatamente o que era. Não eram nem cinco da tarde e ela estava falando sobre preparar o jantar.

- Melhor irem sem mim.

- Tudo bem então. – Lety me olhou. – Podemos ir?

- Claro. Dani, não deixa a mamãe ficar muito tempo de pé. Ela ainda tem que seguir as recomendações do Doutor Tiago.

               Olhamos para mamãe que conversava com suas amigas da igreja à alguns metros.

- Pode deixar.

- Nos vemos depois. – Lhe dei um beijo no rosto e Lety também se despediu.

- Juízo. – Dani sorriu e antes de me afastar, eu a olhei bravo mais uma vez.

Como era de se esperar, Úrsula e José se emocionaram quando mostramos quantas coisas recebemos com as doações, e ainda mais quando contei que a casa deles começaria a ser reformada no dia seguinte. Lety também se emocionou, mas eu consegui me controlar. Só estava feliz por estar ajudando de alguma maneira, e ainda mais feliz por ver que eles ficaram extremamente agradecidos. Perdi as contas de quantas vezes ouvimos a palavra “obrigado” vindo deles, até que combinamos que uma só vez já seria suficiente. As crianças também se animaram com as doações, e aquilo para mim já foi suficiente para eu me sentir extremamente satisfeito. José e eu conversamos sobre a reforma da casa, e ele insistiu em ajudar os trabalhadores. Não tive outra opção a não ser aceitar, e ficamos alguns minutos falando sobre isso.

               Enquanto conversava com ele, percebi que um Senhor estava conversando com Lety próximo ao elevador. Logo o reconheci como sendo um velho hóspede do hotel, que alugava a suíte presidencial todas as vezes que ia à cidade. As funcionárias tinham medo dele porque diziam que ele estava sempre sozinho, apenas observando o movimento do hotel. Não sei quem começou o boato, mas diziam até que ele tentava flertar com as mulheres do hotel. Nunca nada disso tinha sido comprovado, e obviamente eu não pude fazer nada quanto à isso, mas assim que o vi conversar com Lety, me preocupei. Ele estava sorrindo, mas ela também estava. Ele não parecia estar flertando muito menos sendo indelicado, ou Lety mesmo teria colocado um fim nisso. Enquanto conversava com José, fiquei de olho em Lety para saber se a conversa seguiria para algum caminho estranho, mas ao contrário do que imaginei, em um momento eles estavam gargalhando.

               Depois da minha conversa com José, e depois que o Senhor entrou no elevador, me encontrei com Lety no saguão e ela estava visivelmente animada.

- Oi!

- Oi! – Sorri.

- Tivemos o dia tão cheio que não conseguimos almoçar. Então terei que mudar o meu convite para o jantar.

- É claro. O que quer comer? Eu estava indo na cozinha e...

- Não, não. – Ela disse rapidamente. – Eu disse que eu iria pagar o almoço, e agora vou pagar o jantar.

- Ah. Eu me esqueci. – Sorri. – Então... Para onde vamos?

- É uma surpresa.

- Uma surpresa? Vai me levar para jantar nessa cidade pequena sem eu saber para onde vamos? – Perguntei divertido.

- Talvez você até saiba, mas não vai saber como será o jantar. – Ela sorriu marota.

- Hm... Estou começando a ficar curioso.

- É bom ficar, a surpresa fica ainda maior. – Disse dando alguns passos para trás.

- Então eu te pego aqui as oito?

- Sim, as oito está ótimo.

- Então, às oito.

               Lety continuou sorrindo à medida que se afastava, até me dar as costas e seguir em direção ao elevador. Naquele momento eu percebi que estava totalmente amarrado à ela, e não seria nada fácil desfazer aquele nó.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

                Já estava na porta do hotel há um tempo. Sávio já tinha se aproximado duas vezes para perguntar se estava tudo bem. Expliquei que estava esperando por Lety, mas não soube dizer se iríamos para um encontro ou apenas um passeio de amigos. Mas, minha roupa me entregava. Imaginei que por ser um jantar surpresa, eu deveria estar bem aparentado. Coloquei uma camisa social preta que contrastava bem com a calça jeans e o sapato, pensando que assim estaria pronto para qualquer tipo de jantar. Eu estava me odiando por pensar se esse jantar seria descontraído como nossos passeios frequentes, ou se seria um pouco mais romântico. Era óbvio que eu ainda não sabia se Lety sentia por mim o mesmo que eu sentia por ela, mas pelos seus olhares e por tanto mistério para aquele jantar, eu gostava de acreditar que ao menos ela sentia algo especial por mim.

               Enquanto eu a esperava, ajeitei a gola da camisa algumas vezes, assim como o meu cabelo e o meu relógio. Eu já havia checado tudo umas cinco vezes, mas como estava nervoso e ansioso, precisei fazer isso mais umas cinco vezes enquanto me olhava no retrovisor. Olhei em meu relógio e percebi que já eram oito e quinze. Não me importava com o atraso, mas começava a me preocupar. Lety não costumava se atrasar. Pensei se deveria ir ao hotel e chamar por ela, mas assim que saí do carro, Sávio abriu a porta do hotel e ela saiu, cumprimentando-o. Parei de andar e fiquei um tempo parado olhando-a de cima a baixo. Lety usava um macacão preto e os cabelos soltos com delicados cachos. Logo me senti aliviado por estar vestido adequadamente. Não iria me perdoar se eu não tivesse ao menos tentar caprichar tanto quanto ela. Estava incrivelmente linda, se é que conseguia ficar ainda mais.

               Assim que me viu, ela abriu um largo sorriso e eu me apressei em abrir a porta do carro. Percebi o sorriso de Sávio sentado em sua cadeira à medida que ela se aproximou do carro, mas estava mais interessado em admirá-la.

- Boa noite. – Ela disse sorrindo.

- Boa noite. – Retribuí o sorriso.

- Você está muito elegante.

- Estou? Ainda bem. Teria que voltar para casa e trocar de roupa se não estivesse tão elegante como você.

               Ela riu.

- Eu acho que exagerei um pouco.

 - Não, não exagerou. Você está linda.

               Nos olhamos por um instante, até Sávio pigarrear lá atrás, fazendo Lety desviar o olhar envergonhada.

- Bom... Podemos ir?

- Claro.

               Lety entrou no carro e eu fechei a porta, acenando para Sávio.

- Tenham uma ótima noite! – Sávio disse divertido.

               Dei a volta no carro e entrei do lado do motorista.

- Então... Agora preciso saber para onde vamos. – Falei ligando o carro.

- Vamos para um lugar que você conhece muito bem. Para o restaurante do seu amigo.

- Do Omar?

- Sim. – Ela sorriu, colocando o cinto.

- Ah... Tudo bem.

               Tentei não demonstrar meu desapontamento por saber que a “surpresa” era um jantar no restaurante de Omar. Eu costumava ir ao restaurante quase sempre, principalmente porque gostava de sair um pouco do hotel no meu horário de almoço. Quando Lety disse que seria uma “surpresa”, eu imaginei algo um pouco diferente, embora fosse difícil fazer algo diferente naquela cidade. Como ela pediu, segui o caminho em direção ao restaurante de Omar, e por alguns minutos ficamos em silencio. Eu ainda estava pensando como eu iria me esforçar para ficar “surpreso” quando chegássemos, mas ela pelo contrário, parecia segura e ansiosa.

- Você não colocou o cinto. – Ela disse depois de longos minutos em silencio.

- O que?

- O cinto de segurança.

- Ah... É falta de costume.

- É importante, sabia? Mesmo que aqui seja uma cidade pequena, você pode bater o carro em algum lugar.

               Até para dar sermão, Lety era encantadora. Sorri divertido e coloquei o cinto como ela pediu. Novamente ficamos em silencio, mas dessa vez ele perdurou até que eu estacionasse o carro. Assim que o desliguei, abri a porta para descer e ajudá-la, quando me lembrei de algo importante.

- Espera. – Falei me virando para ela. – O restaurante do Omar não abre a noite.

               Lety apenas sorriu, tirando o cinto.

- Eu disse que seria uma surpresa.

               Fiquei ainda mais curioso e pensativo depois de sua resposta, mas desci do carro e abri a porta para ajudá-la. Seguimos em direção ao restaurante, e eu notei que ele estava totalmente escuro e com as portas fechadas, como era de se esperar. Sem entender absolutamente nada, parei à porta e olhei para Lety, esperando que ela tivesse uma solução para aquilo. Logo depois, ela abriu sua bolsa e tirou uma chave de dentro dele, levando-a até a porta.

- Não acredito. – Falei olhando-a. – Omar te deu a chave do restaurante?

- Eu consigo ser bem persuasiva. Acredite.

- Eu sei disso.

               Lety riu e abriu a porta, e eu continuei a olhá-la incrédulo.

- Você vem ou não? – Ela me olhou. – Ah, por favor! Não estamos invadindo.

- Não, eu sei. É que... Você me surpreende.

               Ela riu.

- Essa era a intenção.

               Sorri e me aproximei, adentrando o restaurante com ela. Lety olhou em volta e eu percebi que estava procurando o interruptor. Segui para o outro lado do restaurante e liguei as luzes, fazendo-a olhar satisfeita para mim.

- Que bom que você conhece bem aqui. – Ela riu. – Só cuidei de uma parte da surpresa.

- Tudo bem. – Olhei em volta. – Então... Como será o jantar?

- Eu pensei em começar uma nova dieta hoje. Vamos apenas sentar e conversar.

               Olhei para ela, até que ela gargalhou.

- Estou brincando. – Disse aproximando-se. – Olha, eu estou abusando totalmente da gentileza da sua família, e para dizer a verdade já perdi as contas de quantas vezes participei de jantares e almoços na casa da sua mãe desde que cheguei.

- Mas isso...

- Por favor, me deixe terminar. – Ela sorriu segurando minha mão, me guiando em direção à uma mesa. – Como agradecimento, hoje o jantar é por minha conta.

- Você vai cozinhar? Num restaurante?

- O lugar não importa, estamos só nós dois aqui. – Ela riu. – Pedi a permissão de Omar, e ele me deu total liberdade de entrar na cozinha e preparar um jantar. Inclusive, foi muito legal da parte dele me deixar usar os ingredientes que ele tem aqui. Disse que é por conta da casa.

- É exatamente o que ele diria. – Sorri.

- Então, você pode se sentar, e eu vou começar a preparar o jantar. Prometo que não será nada demorado, porque posso imaginar que você está com fome.

- Bom... – Coloquei as mãos no bolso e ela riu.

- Não se preocupe. Agora, sente-se aí e deixa com a chef aqui para preparar o nosso jantar.

               Me sentei à mesa rindo e observei Lety se afastar. Logo depois, suspirei satisfeito e olhei ao redor. Ela realmente conseguiu me surpreender.

 

 

 

 

                                                                                         •••

 

 

 

               Eu estava ansioso pelo jantar, e ainda mais ansioso para saber o que Lety estaria fazendo na cozinha. Enquanto isso, fiz um “tour” pelo restaurante, embora soubesse quase tudo sobre ele, já que acompanhei sua construção ao lado de Omar. Mas, durante o tour, descobri como acabar com aquele silencio e coloquei uma música, que soou por todo o restaurante em um volume agradável. As músicas do restaurante eram sempre as mesmas, diferente das músicas que tocavam no bar. Talvez por isso Omar preferisse ficar no bar mesmo durante o dia, visitando o restaurante apenas algumas vezes para checar se estava tudo bem. Olhei para o estoque de vinhos que tinha atrás do balcão e consegui pensar em algo para matar o tédio enquanto esperava Lety cozinhar. Escolhi uma garrafa e segui para a cozinha, animado.

               Quando parei à porta, Lety estava de costas usando um avental. O fogão era exageradamente grande, mas ela parecia estar conseguindo manusear as panelas com facilidade. Sorri divertido ao ver que ela se mexia ao som da música que poderia ser ouvida da cozinha também, e assim que virou para pegar algo sobre o balcão, ela me olhou assustada.

- Fernando!

- Desculpe, não quis te assustar.

- O Senhor está proibido de entrar na cozinha enquanto cozinho, sabia?

- Eu sei. Só que... – Apontei para a garrafa. – Escolhi um vinho para a espera não ser tão solitária.

               Ela riu.

- Me acerto com Omar depois. – Falei entrando na cozinha, pegando duas taças.

- O jantar está caminhando bem. Não vai demorar, como eu disse. – Ela se aproximou. – Achei que era melhor fazer uma massa, para ser mais rápido.

- Eu adoro massa. – Falei abrindo a garrafa.

- Que bom.

               Enchi as duas taças de vinho e entreguei uma à Lety.

- Um brinde à... – Eu a olhei.

- Às minhas férias que estão sendo melhores do que imaginei.

- Sim. Um brinde às suas férias.

               Ela riu, brindando sua taça à minha.

- Sabe... – Lety escorou-se ao balcão depois de tomar um gole do vinho. – Você não tem a impressão que nós... Nunca perdemos o contato? Quero dizer, não que tivéssemos muito contato na época do colégio. Mas as vezes eu me esqueço que passamos tanto tempo longe.

- Eu sinto o mesmo. – Sorri.

- Que bom. Achei que eu estivesse ficando louca. Não quero que pense mal de mim.

- Eu nunca pensaria mal de você.

               Ela sorriu, me olhando com ternura.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Claro.

- Hoje vi você conversando com um Senhor. No hotel.

- Ah! O Senhor Smith?

- É, acho que sim.

- Um amor de pessoa.

- Mesmo?

- Sim. Por que o espanto?

- Bom... É que ele se hospeda no hotel há algum tempo. Sempre nessa época. Próximo ao aniversário da cidade. Ele sempre está sozinho, e isso deixa algumas funcionárias um pouco... Amedrontadas.

- Oh! Mas ele não é uma pessoa ruim. Pelo contrário. Acho que é uma das pessoas mais gentis que já conheci.

               Franzi o cenho surpreso.

- Ele está sempre sozinho porque ele costumava viajar com a esposa. Ela faleceu, mas ele continua viajando. Diz que se sente melhor assim, e sempre se lembra dela. Ele tem duas filhas, e eles são bem unidos. Mas por conta do trabalho não podem viajar com ele. Ele viaja pelo mundo todo, mas diz que essa cidade é uma das preferidas dele. Por isso ele sempre volta. Provavelmente gosta da época da festa porque a cidade fica mais cheia e festiva. Ele disse que as pessoas daqui são muito receptivas.

- Ah... – Tomei um longo gole de vinho. – Agora estou me sentindo mal.

               Ela riu.

- Não se preocupe. Ele tem muito respeito por você e pelo seu pai.

- Ele... Conheceu meu pai?

- Sim. Pensei que soubesse. Ele disse que a primeira vez que veio à cidade com a esposa dele, ele se hospedou na pensão.

               Fiquei ainda mais surpreso, sem saber o que dizer.

- Não, eu... Não sabia.

               Encarei o chão por um tempo, até sentir a mão de Lety sobre a minha. Eu a olhei, e naquele momento eu tive certeza do que eu queria dizer para ela. Não me importava se estávamos na cozinha de Omar, ouvindo uma música antiga que minha mãe costumava ouvir enquanto cozinhava anos atrás. Eu só queria dizer à ela tudo o que eu sentia por ela, e percebi que ela parecia estar esperando por isso.

- Lety...

- Sim? – Ela se aproximou, olhando dentro dos meus olhos.

- Tenho uma coisa importante para te dizer.

- Estou ouvindo. – Ela se aproximou ainda mais.

- Já tem um tempo que preciso falar isso para você, mas só agora eu tive coragem. Por muitas coisas que estavam e ainda estão acontecendo. Mas agora não importa mais. Eu só quero que você saiba que eu...

               Como era de se esperar, fui interrompido quando ouvimos um barulho vindo do fogão. A panela estava prestes a pegar fogo, e Lety correu para apaga-la. Depois de alguns segundos ela virou-se para mim, e nós não resistimos em deixar escapar uma gargalhada.

- Ok. Isso estragou completamente o clima. – Ela disse rindo. – Mas ao menos o jantar está pronto.

- Eu vou arrumar a mesa, e aproveitar para me esconder um pouco depois dessa vergonha.

               Ela riu mais uma vez, e eu peguei minha taça saindo da cozinha. Apesar de não ter conseguido dizer à ela, eu sentia que estava mais próximo disso do que imaginava. E eu me sentia bem. Muito bem.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

 

               O jantar estava delicioso, mas eu já deveria imaginar isso. Por sorte, a relação entre Lety e eu era boa o suficiente para não sentirmos vergonha um do outro por termos sido interrompidos em um momento importante graças à panela que quase pegou fogo. Durante o jantar, conversamos sobre diversos assuntos, desde política, religião até desenhos da nossa infância. Por isso eu me sentia tão bem conversando com Lety. Podíamos falar de assuntos polêmicos ou simplesmente nos deliciar com lembranças do nosso tempo, sem que em nenhum momento tivéssemos desavenças. Lety conseguia falar sobre o seu ponto de vista sem criticar ou se irritar com o meu, e vice-versa. Mas, a melhor parte, é que na maioria das vezes nós concordávamos e combinávamos em muitas coisas. Por isso acabávamos rendendo assuntos, sem nos darmos conta da hora.

- E você se lembra das brincadeiras que fazíamos na praça nos fins de semana? – Ela perguntou rindo, encarando sua taça de vinho.

- Lembro. E minha mãe já brigou diversas vezes comigo por isso. – Respondi divertido.

- Jura? Por que?

- Porque eu sempre me deixava levar pelas ideias de Dani e Gabriel, e sempre passávamos do horário que tínhamos que ir embora. Como minha mãe pedia para eu ficar responsável pela hora, eu sempre ficava de castigo.

- Então você sendo o irmão do meio, ainda tinha que cuidar do irmão mais velho e da mais nova? – Ela riu.

- É que na verdade sempre fui o mais responsável dos três. Acho que é porque eu costumava ficar na pensão com meu pai desde novo, então acabei sendo visto como “responsável”.

- Mas você costumava aprontar também? Ou era mesmo responsável?

- Eu era um pouco dos dois. Mas diferente dos meus irmãos, sempre que eu aprontava eu conseguia disfarçar muito bem.

- Posso imaginar. – Ela riu. – Sabe, se eu tivesse irmãos, gostaria de ter uma relação igual a de vocês. Sua mãe se sente muito satisfeita por isso.

- É... – Sorri brincando com o talher. – Ela sempre diz isso.

- Mesmo com a distancia, vocês ainda têm uma boa relação. Isso é admirável.

               Olhei para Lety por um instante, e vi seus olhos brilharem. Ela realmente ficava satisfeita em ver como minha família era unida, e eu senti algo dentro de mim. Algo que eu só soube explicar o que era, anos depois. Mas, nesse momento, segurei sua mão e me levantei, fazendo-a olhar confusa para mim.

- Vamos sair daqui.

- O que? Mas... As louças...

- Tudo bem, eu me desculpo com Omar amanhã.

- Fernando! O que...?

- Confie em mim.

               Ela me olhou por um tempo, até finalmente se levantar. Desliguei a música e apaguei as luzes o mais rápido que pude, e ainda segurando sua mão, saímos do restaurante. Lety trancou a porta e quando guardou a chave na bolsa, seguimos para o carro.

- Você as vezes age como um louco, e eu fico sem saber se fico assustada ou não. – Lety disse quando entramos no carro.

- Não se preocupe. Eu não faria nada para te assustar. – Falei rindo, colocando o cinto.

- Já me sinto confortável só de ver você usando o cinto de segurança.

               Liguei o carro rindo e dei partida, seguindo para o lugar onde eu queria leva-la. Não era muito longe do restaurante, e por isso só levou alguns minutos até chegarmos ao lugar. Lety obviamente o reconheceu, e assim que desliguei o carro deixando os faróis acesos, ela tirou o cinto e olhou para mim.

- Por que me trouxe aqui? – Perguntou sorrindo.

- Vou confessar que eu tomei a liberdade de fazer do seu lugar favorito, o meu também.

               Ela riu.

- Mas, acabei vindo aqui depois do pôr do sol, e vi uma coisa que me impressionou muito.

- Mesmo? O que?

               Desliguei os faróis e Lety olhou através do vidro, abrindo a boca surpresa. O céu estava totalmente estrelado, e era realmente de tirar o folego. A primeira vez que vi aquilo, em um dia que fui àquele local para colocar os pensamentos em ordem, a única pessoa que veio em minha cabeça foi Letícia. Eu sabia que ela iria gostar de ver aquilo tanto quanto eu, e ver seu olhar admirado me deixou extremamente satisfeito.

- É lindo... – Ela sussurrou ainda abismada.

               Continuei a olhá-la, com um sorriso abobado nos lábios. A vista era linda, mas não tão bonita quanto Lety. Eu poderia olhá-la por horas, e me lembrar da garota que caminhava pelos corredores do colégio com uma mecha de cabelo caindo em seu rosto, carregando todos os seus livros enquanto sorria. Era como se a cada vez que eu a olhasse, eu me apaixonasse outra vez.

- Lety...

- Hum? – Ela me olhou.

- Eu gosto de você.

               Ela sorriu.

- Eu também gosto de você.

- Não, não desse jeito. – Suspirei. – Eu gosto mesmo de você.

               Ela continuo a me olhar.

- Desde a quinta série, para ser mais específico. – Sorri sem jeito. – E confesso que passei o colegial inteiro gostando de você. Pode parecer bobo, principalmente porque não conversávamos, mas aconteceu. Eu ficava te olhando durante o intervalo, pensava em você antes de ir dormir, e sonhava em poder te levar para sair. É claro que isso nunca foi possível, principalmente porque quando criei coragem de fazer isso, você me disse que iria para o exterior.

               Lety abriu a boca surpresa.

- E acredite, eu jamais imaginei que um dia iria te ver outra vez. Todos esses anos, eu pensei que isso tivesse sido uma paixão passageira de colégio. E foi por isso que eu... Me envolvi com outras pessoas. É claro que eu não iria ficar pensando em você morando tão longe, até porque eu nem sabia se você já tinha se casado ou não. Enfim... Eu não esperei que fossemos nos encontrar outra vez. Mas também não pensei que tudo o que eu sentia por você, ainda estava em um lugar escondido, adormecido. Quando nos reencontramos, parecia que eu tinha voltado à época do colégio. Eu fiquei extremamente feliz, e pensei que poderíamos ter uma relação amigável como nunca tivemos no colégio. Mas então meu irmão te convidou para um encontro. Eu deveria ter levado isso numa boa, afinal eu ainda pensava que tudo o que eu sentia tinha ficado para trás, assim como as outras coisas que aconteceram no colégio. Mas eu me senti mal. Me senti mal por saber que meu irmão mais velho tinha conseguido sair com a garota que eu sempre gostei, em apenas algumas horas dentro do avião com ela. Eu passei seis anos sem ter coragem de te dizer um oi, e meu irmão simplesmente conseguiu um encontro com você no primeiro dia que te conheceu.

               Balancei a cabeça rindo, e ela continuou a me olhar.

- Parece uma história boba. Você deve pensar que sou um bobo. Ficar chateado com algo assim é... – Suspirei. – Bom... Eu deixei o tempo passar, pensei que em algum momento eu fosse cair na real que não poderia ficar chateado com isso. Gabriel parecia realmente se sentir bem com você, e eu não iria brigar com meu irmão por causa disso. Jamais. Mas as coisas ficaram mais complicadas quando ele voltou para o Canadá. Nós nos aproximamos mais, e eu percebi que não era um sentimento bobo do colégio. Eu... Realmente sentia algo por você. Sinto, na verdade. – Sorri envergonhado. – E você pode me achar um idiota depois disso, pode até ficar com raiva e pode não querer me ver outra vez, mas eu precisava dizer isso para você. Porque eu sinto que a cada vez que ficamos juntos, que eu me sinto tão bem como não me sinto com qualquer pessoa, parece que esse sentimento que tenho por você vai explodir. E se eu não te contasse isso logo,  eu poderia acabar fazendo algo impensável. E você não merece isso.

               Lety me encarava em silencio.

- Você... Pode dizer alguma coisa? Estou começando a me sentir constrangido. – Sorri.

               Depois de um tempo, ela também sorriu e eu me senti um pouco aliviado por isso. Ao menos ela não desceu do carro dizendo que eu tinha confundido as coisas.

- Você continua me surpreendendo, Fernando Augusto. – Ela entrelaçou sua mão à minha, e meus batimentos aceleraram inevitavelmente. – Eu sabia que você era louco, mas você é completamente louco.

- É, eu sei disso. – Abaixei a cabeça. – E acredite, me sinto um idiota por gostar da mesma garota desde a quinta série, depois de tantos anos.

               Senti sua mão tocar em meu rosto delicadamente, me fazendo olhar para ela.

- Não deveria se sentir assim. Eu me sinto honrada em saber que você gosta de mim desde a quinta série. É fofo, para dizer a verdade. – Ela riu.

- Fofo... – Bufei divertido. – Você está rindo de mim por dentro, eu sei.

- Não... – Ela apertou sua mão à minha. – Porque... Acredite ou não, nesse tempo que estivemos juntos aqui, eu também percebi que sinto algo por você.

               A olhei surpreso.

- Talvez eu não sinta isso desde a quinta série... – Ela sorriu. – Mas acredite, também é algo que está prestes a explodir.

- Está dizendo isso só para me fazer sentir melhor, ou...?

- Não, eu nunca faria isso. Fui totalmente sincera com você sobre seu irmão, e... Sim, eu não vou mentir. Aceitei sair com ele porque achei ele engraçado, cavalheiro... Durante o tempo que conversamos no avião, parecia que seria legal ter um encontro com ele. Mas, me desculpe a sinceridade, se eu tivesse conhecido ele depois de termos reencontrado, eu não teria aceitado sair com ele.

- Não?

- Não. Porque como eu disse, eu espero ter alguém que me transborde, e você faz isso.

- Faço?

- Claro. Tudo o que você fez por mim até hoje, mesmo nas pequenas coisas. Aquela lista de itens para eu me arriscar foi... A coisa mais legal que alguém já fez por mim. E eu sinto tanto orgulho de você o tempo inteiro. Da pessoa que você se tornou, de como você honra o seu pai em tudo o que faz. É algo tão admirável, e... Me faz sentir algo ainda mais forte por você.

               Era inacreditável que eu estivesse mesmo ouvindo aquilo. Era como um sonho de todo garoto de onze anos, que esperava ter os sentimentos correspondidos pela garota que ele gostava. Esperei treze anos para ouvir aquilo, mas foi a melhor sensação que já senti em toda a minha vida.

- Eu tive medo de dizer antes porque pensei que você poderia pensar mal de mim. Na época do colégio quase não conversávamos, e de repente passo uma semana ao seu lado e começo a sentir coisas diferentes... – Ela riu. – Mas agora me sinto muito bem em saber que você sente o mesmo por mim.

- Sabe os finais de filmes românticos, que o cara consegue conquistar a garota popular que todos duvidavam que um dia eles poderiam ficar juntos? – Sorri divertido. – Estou me sentindo ele.

               Lety gargalhou e tocou em meu rosto mais uma vez.

- Na verdade, eu que me sinto honrada por saber que você gosta de mim. E... Nunca gostei de filmes românticos. Então... Esse é o nosso próprio filme.

               Aproximei meu rosto do dela, sem perder mais tempo. Tudo o que eu mais queria era beijá-la, depois de tanto tempo imaginando esse momento.

- Mas tem uma coisa... – Falei olhando para os lábios dela.

- O que?

- Gabriel. Ele ainda é meu irmão, e até então ele não sabe sobre isso. Não quero estragar as coisas entre nós dois tendo uma briga boba com meu irmão por isso.

- Eu sei. – Ela disse com carinho. – Não vamos fazer nada de mais até vocês conversarem.

- Certo.

               Ela sorriu com ternura.

- Mas, Lety...

- Sim?

- Tem uma coisa que preciso fazer.

- Eu estava esperando você dizer isso.

               Senti um alívio ao ouvi-la dizer aquilo, e imediatamente tirei meu cinto, puxando-a para um beijo. Eu poderia dizer que me senti nas nuvens, que ouvi fogos de artifício quando senti os lábios dela nos meus, e até mesmo que eu pensei por alguns segundos que estivesse sonhando. Mas foi muito, muito maior do que isso.  Beijar Letícia pela primeira vez foi como se eu tivesse zerado a minha vida. Pareceu uma total loucura dizer em voz alta que eu era apaixonado por ela desde a quinta série, mas saber que aquele sentimento estava sendo correspondido, não tinha preço. Ali, encerrei a melhor noite da minha vida. Marcada no calendário.

- Espera... – Falei interrompendo o beijo, pegando o meu celular.

- O que foi? – Ela me olhou confusa.

               Sem responde-la, digitei uma mensagem às pressas e a enviei ao Omar, guardando meu celular novamente no bolso.

- Pedi desculpas ao Omar por termos deixado o restaurante daquela maneira.

               Ela riu.

- Aposto que jogaram fora a forma em que você foi feito, Fernando Augusto.

               Sorri divertido e senti meu celular vibrar em meu bolso. Peguei ele rapidamente e ri ao ler a resposta de Omar. Lety também riu, e nós dois nos olhamos.

- Bom... Já que ele deu a sugestão, vamos segui-la. – Ela riu, entrelaçando seus braços em volta do meu pescoço.

- Com prazer.

               Joguei o celular no banco de trás e voltei a beijá-la, seguindo a sugestão de Omar:

 

“Não se preocupe com isso. Espero que estejam se divertindo. Por favor, façam tudo o que eu faria (ou nem tudo)”.

 

 



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