História Meu Tio Brian - Fourteen

Quando o tédio me batia era quase que inevitável arrancá-lo de mim, por isso quando pude dar uma saída escondida da casa de minha avó Suzy andei sem rumo pelas ruas escuras da noite seguindo apenas meu próprio sentido de orientação, ou seja, andava sem se preocupar com nada nem ninguém.

Havia pouca gente nas ruas, era oito da noite, mas na minha cidade essa hora é o que os pais chamam de “tarde da noite” ou “horas dos vagabundos”, não sou rebelde nem vagabundo, mas ficar numa casa perecendo no tédio não era uma opção. Afinal estar abaixo de um céu tão bonito e não aproveitá-lo era desperdício, por isso andava olhando para o céu sem se preocupar com muita coisa.

Parei quando por um momento reconheci a rua, era a minha rua e minha casa estava mais a frente, eu senti vontade de entrar, mas achei melhor não, algo dizia que a saudade de meu quarto não iria passar se ficasse nele por breves minutos.

Continuei andando lento até ver meu vizinho Jack parado na porta da casa, ele parecia assustado e havia alguém em sua frente como se conversassem, mas não acho que aquilo era uma conversa se Jack estava tão espantado. Escondi-me atrás da árvore perto de sua casa e tentei escutar a conversa, mas o mínimo que escutei foram sussurros indistintos, continuei imóvel e prestei atenção no que acontecia.

O homem estava de capuz, mas não via seu rosto pela falta de luz no local, mas em sua mão pude ver uma arma apontada para o abdômen de Jack que sorria forçado e gesticulava com as mãos como se tentasse discutir algo sem resultado.

Eu conseguia distinguir o olhar de Jack calorosamente medroso, e então o homem o empurrou para dentro da casa e por breves minutos escutei um tiro alto, senti os pelos da nuca eriçar. Seria realmente um tiro ou algo havia caído no chão?

Parei com a idiotice de achar que fora algo que caiu no chão ao perceber que o homem estava com uma arma e se ele estava armado e eu havia escutado um tiro era então porque ele havia disparado, não existia lógica maior do que esta, mas minha parte mental esperançosa esperava que não.

Jack era o típico vizinho de meia-idade chato legal que se irritava com barulhos e tinha boas piadas idiotas que faziam todos rir, eu gostava de Jack, mas naquele momento o que pude fazer foi correr.

Corri como nunca, como se minhas pernas fossem feitas apenas para darem impulso ao meu corpo. Corri pelas esquinas e somente parei quando o fôlego faltou, sentei num meio fio e vi a casa de Suzy perto, mas não queria entrar, eu suava frio, no entanto nada do que escutei provava algo. Notei um aperto sutil em meu peito. Havia algo de errado.

No primeiro dia que conheci Brian e bisbilhotei suas coisas eu vi uma lista, e tinha uma arma, na lista havia o nome de Jack...

Não podia ser. Andei rápido até a casa de Suzy entrando bruto, minha avó que estava na sala me olhou com as sobrancelhas franzidas e reclamou.

— Zacky você tem a obrigação de me responder duas perguntas: primeiro, onde você estava a essas horas da noite sem meu consentimento, e segundo, porque diabo quase derrubou a porta?

— Eu tenho a vida toda para lhe responder, mas onde Brian está? — perguntei num fôlego só, minha avó ia falar algo totalmente diferente do que perguntei, mas minha cara de assustado pareceu fazer cessar todas as perguntas.

— Bom ele está no quarto dormindo, mas qual o pro... — não esperei Suzy terminar de falar e disparei entre as escadas a passos mais apressado que o último dado.

Fui até o quarto de Brian correndo e abri a porta de forma desajeitada, mas quando a abri não vi nada a não ser os moveis. Senti meu corpo tremer, seria Brian que estava na casa de Jack? Não! Isto seria impossível!

Escutei passos atrás de mim e vi minha avó com cara de desentendida me olhando feio.

— Agora você me deve três explicações, porque está procurando Brian? — ela perguntou e eu somente apontei o cômodo vazio e sorri frio.

— Bom ele não está aqui não é? — sentia as possibilidades se encaixarem.

Arma, lista, Brian, Jack...

Escutei a porta lá embaixo se abrir e desci nervoso, vi Brian entrando lento e despreocupado e não sabia dizer o que sentia ou no que acreditava.

— Onde você estava? — perguntei mais baixo que programado, porém ele me escutou e franziu as sobrancelhas.

— No bar da cidade, por quê? — sua voz saiu em tom obvio como se todas as vezes que ele saísse fosse para o bar.

— Brian? Onde estava? — perguntou Suzy descendo as escadas já impaciente.

— Mãe eu lhe disse que ia ao bar — falou Brian com cara inocente, e se ele era capaz de reproduzir esta feição ele reproduziu naquela hora. Suzy juntou as sobrancelhas de forma confusa e então um sorriso brotou de seus lábios e com voz serena se pronunciou.

— Eu havia me esquecido querido, me perdoe... — pausou antes de se dirigir a mim — enquanto você Zacky sai sem avisar ninguém, você tem a noite toda para se explicar garoto!

Eu ia protestar, mas não podia, queria mesmo sair daquela casa e ir para onde Jack morava e constatar se ele estava bem, no entanto apenas disse a minha avó que no outro dia explicaria, estava exausto para poder explicar qualquer coisa simples que fosse. Subi as escadas de forma mais calma, mas antes de chegar ao meu quarto senti Brian pegar meu braço.

— Ei Zacky, algum problema? — perguntou Brian. Tentei encarar seus olhos castanhos e ver se havia algo oculto, porém seus olhos eram tão silenciosos que não conseguia ver nada além de sua cor e meu reflexo.

— Se está preocupado não precisa, estou bem — sorri calmo.

Eu nunca perdoaria Brian se soubesse que ele fez algo com Jack, porém nada estava comprovado, eu poderia estar alienado ou simplesmente não era Brian naquela noite. Respirei suave e desejei uma boa noite para Brian o deixando no corredor e entrando em meu quarto. Nunca me senti tão bem por poder deixar meu corpo cair na cama.

Tentei relaxar, mas estava sendo difícil, o rosto de Jack aparecia repetidas vezes em minha cabeça e então me perguntei se poderia ter feito algo em vez de correr, se ao menos poderia ter chamado a policia, mas naquele momento tinha ficado com tanto medo que só pensei em mim mesmo e corri.

Sentia-me um covarde, talvez fosse, talvez não, isto não era algo que importava, somente queria saber se o que tivesse acontecido naquela casa antes e depois que corri era culpa de Brian...