História Mi Tentación - Londres.

Após horas de aeroporto e vôo, Paola finalmente pôs os pés em Londres. Seu raio de sol com par reluzentes de oceanos pulava saltitante olhando tudo ao redor, falando igual uma matraca e arrancando gargalhadas de Paola.

 - La primera vez aquí no teve essa euforia toda.

 - Tio Jason no me deixava brincar, mamá. Ele brigou comigo dizendo que yo no podia brincar e me comportar igual as pessoas do Brasil, disse que as pessoas daqui tiene clase, qué es clase? 

 - Por que você nunca me contou isso? - Paola perguntou indiferente para não transparecer irritação para sua filha. Jason na frente dela nunca havia tratado Fran de maneira tão ríspida como a menina estava descrevendo. 

 Fran não respondeu, apenas mexeu os ombros observando o taxista guardar as bagagens no porta-malas. Paola sorriu vendo a cena, admirava a curiosidade que Fran possuía, até mesmo coisas cotidianas eram capaz de prender a atenção da pequena. 

  Paola resolveu ficar em um hotel no centro da cidade, ficar na casa de Jason lhe pareceu um abuso sem tamanho. Cada vez que pensava em Jason um frio corria pelo seu corpo, o amava, mas não do jeito que um relacionamento pede. 

   - Donde vamos mamá? - Francesca perguntou vendo Paola se arrumar em frente ao espelho. Olhou para sua própria roupa e franziu o cenho ao se dar conta de que estava de pijama. - Yo voy ficar? 

   - Com quem você aprendeu a fazer essa cara de brava meu amor? - Paola riu alto se virando para a menina.

   - Tio Fogaça! - ela riu, mas logo desfez o sorriso voltando a cara de brava. Paola engoliu em seco, só em ouvir o nome do homem seu corpo estremecia como em um pedido silencioso pelas mãos tatuadas a tocando.

   - Vou ter que resolver uns probleminhas, uma amiga da mamá está vindo para te fazer companhia e depois eu farei um jantar pra nós, ela foi minha primeira melhor amiga sabia? E para de me olhar assim Francesca! - Paola elevou o tom ao dizer a última frase, percebendo que a menina fechava a cara a cada palavra que ela dizia.

   - Vai no hospital tomar injeção por que vomitou três vezes hoje? Mamá todos nos olharam no avião enquanto usted vomitava - Fran falou baixinho, como se vomitar fosse muito constrangedor para ser dito em voz alta.

  Antes que Paola respondesse, o interfone do quarto tocou, Aline havia chegado. Aline que colocava Paola em diversos restaurantes de Londres no começo de sua carreira. Formada em advocacia e amiga de grandes nomes da gastronomia, introduzir Paola em uma vaga de estágio não era tarefa difícil. 

  Se abraçaram calorosamente, rindo uma para outra como se não acreditassem no par de anos que não se viam.

  - Tem certeza do que vai fazer? - Aline perguntou após um tempo de conversa, Fran já estava em seu colo fascinada no tablet que Aline havia levado. - E acho que alguém gostou de mim! - ela sorriu apertando Fran em seu colo.

  - Absoluta... É horrível o que estou fazendo com uma pessoa tão única como Jason. Ele no merece. - ela respirou fundo - Bom, já vou para voltar logo e fazer nosso jantar! Se comporta tá filha? - ela beijou a cabeça de Fran e depois abraçou Aline. Já estava na porta quando Aline chamou seu nome, a olhando desconfiada e ao mesmo tempo com um sorriso no rosto.

    - Você tá diferente Paola... Sei lá... Ta grávida? - ela perguntou animada, Fran e Paola olharam para Aline assustadas.

   - Que? - Fran falou alto levando as duas mãozinhas a boca. 

   - Pelo amor de Deus Aline! - Paola riu saindo rápido e batendo a porta. Entrou no elevador nervosa, olhou seu reflexo pelo espelho e mordeu os lábios para não chorar.

     - No, no estoy. No puedo estar. -  Ela se encostou na parede passando a mão pelo ventre. Fechou os olhos se lembrando dos momentos com Henrique, nenhuma das vezes usaram proteção. Mas também em nenhuma das vezes estava em seu período fértil. Uma confusão se formou em sua cabeça e teve que respirar fundo para manter a calma. No momento seu foco era Jason, apenas.

  Com os dedos trêmulos Paola tocou a campainha do apartamento dele, dele que por muitas vezes a abrigou da solidão, secou suas lágrimas após um dia turbulento, a elogiou na TPM até conseguir um sorriso bobo. Todos os momentos com o homem foram especiais, até mesmo os gritos com ele eram diferentes. Mas do que vale tudo isso, quando não se tem o calor e amor que uma alma pede para suprir todo o vazio existente? Ela jamais conseguiria seguir com Jason, vendo pelo caminho apenas rastros de Henrique. Henrique, que demorou tanto tempo para chegar e tão pouco tempo para partir. 

  - Paola? - Jason exclamou surpreso ao abrir a porta. Paola tentou sorrir, mas o olhar dele não permitia, parecia olhar de desespero. 

  - Quem é amor? - uma voz ao fundo gritou. Paola sequer teve tempo de raciocinar, uma figura pequena agarrou as pernas de Jason, um menino lindo de olhos azuis agora observava Paola juntamente com o pai... Pai? 

  - Você tem uma família, Jason? - ela sussurrou sentindo as lágrimas quentes escorrendo pelo seu rosto. Deu alguns passos para trás por instinto, estava incrédula. 

  - Paola eu... Eu ia te contar! Juro!  

  - Contar quando Jason?! Quando?! - ela gritou nervosa sentindo novamente a tontura, que já estava se tornando frequente. Respirou fundo e se apoiou na parede do corredor, chorou baixo, a decepção escorrendo em cada lágrima.

  - O que tá acontecendo aqui?! - a dona da voz apareceu atrás de Jason e encarou Paola. Paola a encarou de volta, depois o pequeno grudado nas pernas do pai, e depois Jason que implorava com os olhos pelo silêncio de Paola.

 - Eu errei de apartamento. - ela respondeu, em um fio de voz. Encarou Jason pela última vez e então sumiu pelo corredor, não quis esperar pelo elevador e entrou direto ao acesso que dava as escadas. Sentou em um dos degraus e se permitiu chorar, a dor da traição era terrível, e agora sentia isso na pele. Apesar de tudo, agradeceu por Jason não precisar sentir o mesmo.