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História Mine - Sixty-one


Escrita por: Saline

Notas do Autor


pelas pessoas que me pediram para voltar <3

Capítulo 61 - Sixty-one


Fanfic / Fanfiction Mine - Sixty-one


London (UK) - 2016, 21st June一 6:10pm  
P.O.V. Catherine Valentine  

一 Nós vamos fazer uma viagem? 一 repito para ver se tinha entendido direito. 

一 Pensei que gostaria de sair dessa casa um pouco e aproveitar as férias 一 ele responde com naturalidade, como se fosse algo extremamente comum. 

Uma viagem? - pergunto para mim mesma diversas vezes até cair a ficha. Uma viagem. 

一 Para onde? 一 largo meu prato sujo de chantilly para prestar atenção inteiramente em Harry do outro lado do balcão. 

一 Eu tenho algumas reuniões em Estocolmo esse fim de semana. 

一 É o meu aniversário 一 lembro. 

Ele apenas sorri. 

一 Estocolmo...? 一 conheço esse nome, mas não faço a menor ideia de onde fica. 

一 É a capital da Suécia 一 responde. 

一 Ah 一 tento lembrar onde fica a Suécia para tentar me localizar. Eu sei que é em algum lugar aqui 'perto'.  

Tenho que me lembrar de pegar um livro de geografia para olhar o mapa mais tarde. 

一 Nós saímos daqui sexta-feira a tarde. 

Balanço a cabeça concordando.  

一 Carmit vai junto? 

一 Não. 

Então seremos só nós dois? - me pergunto com apreensão. Confesso que a ideia de ficar sozinha com ele em um lugar desconhecido por uma semana dá um leve frio no estômago, mas ao mesmo tempo me deixa ansiosa. Eu quero passar esse tempo com ele. 

Mesmo que faltasse alguns dias, eu fui direto para a biblioteca procurar para ler algo sobre a Suécia. Após as primeiras páginas eu já sabia que roupas devia levar. O clima lá nessa época é parecido com o daqui, então abri meu armário e passei o dia inteiro escolhendo as peças que levaria. Mais tarde consegui uma mala de viagem para arrumar minhas coisas, Berlioz apareceu e começou a brincar dentro, eu bem que queria levá-lo, ele é do tamanho de um chaveiro e é tão educado. 

Os dias passaram rápido, desde aquela noite em que Harry me contou sua história, parece que tirou um peso grande de cima de mim e derrubou o muro de concreto entre nós. Está tudo mais leve. Agora eu consigo olhá-lo e ver como ele realmente é, e as coisas fazem mais sentido. É uma história horrível, algumas vezes eu só quero abraçá-lo por horas para tirá-la da minha cabeça. Isso me machucou mais do que eu esperava. Passei tanto tempo tentando descobrir a verdade e agora tudo o faço é tentar esquecê-la. Eu também posso senti-lo mais próximo de mim. 

Ele nunca mais tocou no assunto, e eu muito menos. Algumas histórias são terríveis demais para serem contadas duas vezes. 

A polícia ainda está investigando sobre a morte de Brian, depois que as aulas voltaram ao normal após a suspensão em luto, eles apareceram lá na escola algumas vezes conversar com os professores. Há um grande mural improvisado com fotos, recados, flores e velas em homenagem à ele no pátio. Eu nem ao menos consigo chegar perto sem passar mal. Esses dias eu me peguei encarando sua foto sorridente, com os cabelos castanhos bagunçados, os olhos muito azuis como o céu num dia claro sem nuvens, ele tinha o moletom cinza de capuz, eu lembro do seu cheiro quando me abraçava, das vezes que tirava a blusa e me dava para vestir quando o vento gelado me fazia suspirar. Eu lembro exatamente do seu jeito simpático e ousado, a forma como colocava as minhas mãos no bolso do seu moletom para que não me afastasse, então ele me beijava. Ele sempre foi gentil e é essa a imagem que eu quero guardar, não importa que ele tenha me machucado. E quando me dei conta eu já estava solução no abraço de Tamy, não consegui assistir o resto da aula naquele dia.  

O pior é saber exatamente o que aconteceu com ele e não poder dizer nada. Ele morreu no chão do meu quarto, me olhando, me chamando. E eu não pude fazer nada. 

Eu nunca pensei que as coisas acabariam assim. 

Eu nem ao menos posso odiar Harry, porque como tudo o que ele faz, logo depois ele se transforma em outra pessoa. E agora muito menos, porque compreendo sua história. 

Eu só estou muito triste com tudo. Acho que preciso mesmo sair um pouco dessa casa e me afastar dessas memórias, espero que essa viagem me faça bem. 

... 

 

Meu cabelo era um pouco mais ondulado e escuro e bem mais curto que agora, eu não consigo deixar de achar estranho me ver antigamente, eu quase não me lembro de como eu era antes. Mas eu devo dizer que prefiro ele agora, mais liso e claro e comprido, o gosto assim. 

一 Catherine. 

Levo um pequeno susto e fecho o passaporte para acompanhar Harry que me esperava logo a frente. Foi uma longa caminhada num pátio sem fim do aeroporto, se apenas levando a mim mesma meus passos já se cansaram, me pergunto com pena do homem uniformizado que empurrava nossas bagagens em um grande carrinho. 

Nós fomos direto para um hotel que ficava em frente a um lago. Logo na entrada havia um grande tapete vermelho numa sala dourada cheia de portas de duas entradas, todas fechadas. Mais uma vez Harry me chamou para o seguir, nós entramos no elevador igualmente dourado, reluzia tanto no espelho que chegava a incomodar a visão. Mais um corredor vazio e entramos em um grande quarto laranja-queimado com lustres dourados que quase vinham até o chão, uma grande cama vermelha com lençóis brancos e almofadas douradas. Tudo parece brilhar, eu não conseguia tirar meus olhos do redor. Lembra um pouco o quarto de Harry, a cama vermelha, o estilo das poltronas são meio parecidos, só que no quarto dele é tudo muito antigo, aqui há uma televisão de tela plana de frente para cama. Deve ser bom dormir assistindo filme sem se preocupar em levantar para ir para o quarto. As cortinas são da mesma cor do lençol, indo do teto até o chão cobrindo quase toda a parede. 

一 Gostou? 一 ele está observando. 

一 É lindo 一 percebo melhor que os detalhes do canto superior combinam com o bordado das almofadas. 

一 Eu tenho uma reunião agora, devo voltar só a noite, há um cardápio ao lado da cama, se sentir fome é só pedir pelo telefone, de preferência não saia do quarto 一 ele olhou em seu relógio de pulso, ajeitou a gola da camisa branca sob o terno negro e se virou para mim. Deu 3 passos e beijou minha testa antes de sair. 

E eu fico sozinha nesse quarto lindo em Estocolmo. 

Vou para a janela em curiosidade da vista incrível do lago e outro lado com casas e prédios, o sol reflete na água e a faz brilhar, é lindo. Vejo barcos navegando calmamente de um lado para o outro, busco em minha memória que minha experiência mais próxima foi em uma canoa no lago do parque da minha cidade, e durou só o tempo de senti-lo balançar. Queria passear nesses barcos maiores, eu li que há vários com restaurantes e você pode almoçar e jantar vendo as águas ao seu lado. Deve ser tão legal. 

Me peguei sonhando acordada até o sono me consumir e eu me obrigar a ir para cama, o que não era uma má ideia pois era tão confortável, tirei as almofadas e me deitei. 

Não sei quanto tempo durou, se alguns minutos, ou várias horas, acordei lentamente e preguiçosamente com ruídos pelo quarto com luzes que logo se apagaram. Grandes mãos cercaram minha cintura e puxaram para o calor do seu corpo, eu nem precisei abrir os olhos ou ouvir sua voz para reconhecer o seu toque e o seu perfume. 

Um momento simples, comparado com tudo o que já passamos, e talvez foi exatamente por isso que significava tanto. Naquele instante não importava todos os temores, estar assim com ele acalmava todos os meus medos. E finalmente entendo que deve ser assim que ele se sente e sempre sentiu ao me abraçar como única saída para esquecer seus traumas. Ele fez de mim seu refúgio, e fez que eu precisasse dele da mesma forma. E chegamos a um ponto que eu sentia que era metade dele, e ele, metade de mim.  

Foi assim que percebi também que não importava o que acontecesse, eu nunca mais seria a mesma ou teria outra vida longe dele. 

... 

“Feliz aniversário” - dizia a letra inclinada inconfundível de Harry num cartão brilhante ao lado da cama assim que acordei, ao lado um carrinho amontoado de frutas e pães de todas as cores possíveis, alguns, logo de cara, nunca tinha visto nem algo parecido. Todo aquele colorido fez meu estômago pular num apetite que não tinha há muito tempo. 

一 O que quer fazer? 一 ele perguntou mais tarde. 

De imediato lembro dos barcos e penso que seria uma ótima oportunidade para realizar esse desejo antigo. 

Estocolmo, tirando o clima, não lembrava em nada Londres. Os prédios possuem cores, as pessoas passeavam dispersamente, o colorido das flores enfeitam grande parte do exterior em calçadas, e os diversos rios cortam muitos dos caminhos por todos os lados. Um vento leve está sempre trazendo e levando o aroma das plantas floridas em todo canto. Mas principalmente, a dança das águas contra o casco do barco o fazendo balançar me trazia um sentimento nostálgico que eu não sabia identificar, mas era bom. E não me importei em procurá-lo dentro de mim para compreender, pois só tinha atenção para a paz que a água trazia serenamente me permitindo voar sem levantar os pés. 

Concentrada em cada gota do rio, acabo presa ao olhar de Harry ao cruzar com ele me observando e caio de volta ao chão como se alguém cortasse minhas asas em pleno voo.  

Seus olhos verdes esmeraldas são como buracos negros, sugando-me por inteira para dentro dele junto com toda a luz que cruza seu caminho. Acontece tão rápido. Em um momento estou respirando acima das nuvens, e no outro estou no breu implorando para meus pulmões encontrarem ar. 

Mas a pressão é muito forte, ela me esmaga por dentro ao sentir sua mão na minha coxa quando os lençóis macios se tornam ásperos e apertados. E eu caio mais uma vez, dessa vez mais fundo e num quarto azul escuro, espelhados no seu par de olhos claros. Aquela cama me engole e me mantém presa enquanto eu vejo bem em minha frente, meu sonho se tornar meu maior pesadelo. As palavras sufocam na minha garganta até explodirem nos meus olhos. 

一 Cat 一 ele me chama, causando-me arrepios, pois eu sei que ele está morto. 

一 Cat 一 a voz rouca sussurra lentamente me fazendo abrir os olhos, minha visão é turva pelas lágrimas, mas aos poucos o rosto de Harry vai tomando forma, como o quarto do hotel. 

Há um momento de silêncio, pois eu percebo o que acabara de acontecer. 

一 Isso nunca mais vai acontecer 一 ele diz com paciência. 

Mas eu simplesmente não consigo acreditar, como não consigo mais sentir o toque dele sem lembrar de Brian e a forma como me machucou. 

Eu costumava achar que Brian era diferente de Harry, e bem, até acabou sendo, mas da pior forma que jamais imaginaria.  

E mais uma noite, Harry me abraça e permanece do meu lado até pegar no sono. 

Eu sabia que demoraria muito tempo ainda para me recuperar de tudo o que aconteceu naqueles dias. Uma overdose de sentimentos e informações me adoeceu seriamente por dentro, e por fora. Algumas vezes passo a mão pelo pescoço, agora não mais dolorido e um flash de memórias me dá uma curta dor aguda. Outras vezes deixo minha mão ceder entre as coxas e o rosto de Brian vivo e morto aparece. Depois olho para Harry e quase posso vê-lo criança com Anne num momento melancólico, mas agora ele me envolve e permanecemos abraçados, ouvindo a respiração um do outro num silêncio confortável. 

Foi assim por um longo período. 

Como depois de uma cansativa escalada, poder relaxar os ombros e finalmente respirar e apreciar a vista do topo de uma montanha. O problema do pico da montanha, é que depois é só ladeira abaixo. 

Então, para onde nós vamos? 

Eu olho para o lado, onde ele me encara de volta com um singelo sorriso e me abraça mais forte. Penso que estar apaixonada por ele nunca foi a vida que eu escolheria um dia. Mas aconteceu, cada pequena coisa contribuiu para estarmos aqui agora, desse jeito. Exatamente assim. Por fim, percebo que não importa mais o que ele fizesse, eu nunca conseguiria voltar atrás e deixar de amá-lo. É a observação mais triste que minha mente anota. 


London (UK) - 2018, 12th November 一 2:23pm 

Era uma tarde tediosa de ressaca de mais uma segunda-feira que passava lentamente. O sol ao centro do céu amenizava o frio, deixando o clima confortável para os pássaros cantarem ao vento gelado que balançava as árvores de todos os lados e bagunçava as folhas caídas de um terreno que já fora bem cuidado no passado. Sem pressa ou rumo Stoldr acertava os passos para um lado e depois para o outro com um café na mão, tentando acertar também seus pensamentos. Havia um silêncio prazeroso no meio daquela natureza que ele desejou poder participar mais. Seus últimos 12 anos foram em uma selva de pedras, tendo para dormir somente um quarto minúsculo no apartamento que conseguira alugar da vizinha de sua tia por 90£. Ele nunca reclamara, pelo contrário, com certeza era melhor do que a casa lotada e barulhenta de sua família. Mas olhando para a ala sul da mansão que humildemente se sobressaía entre um grupo de árvores à distância, ele chegou a imaginar se um dia teria condições de sair do cubículo que vivia. Quem sabe... Quem sabe... Suspirou chutando o amontoado de folhas acumuladas no chão. Se ao menos conseguisse tirar o mínimo de proveito dos casos que pegava para chamar a atenção do seu supervisor e então ser promovido... Seu salário mal chegava às suas mãos antes de pagar as contas. Chutou as folhas novamente. Sempre fora persistente e focado desde que escolheu ser detetive aos 14 anos de idade, quando sua vizinha foi encontrada morta esfaqueada na própria cama. Ela era solteira e morava sozinha. Stoldr concluiu que fora o carteiro antes mesmo da polícia, ela nunca correspondera a paixão do homem. Mas apesar da sua dedicação, o desânimo o tomava conta nos últimos dias, e ele começava a duvidar da própria capacidade, se perguntando se seu cargo atual não tinha sido oferecido por pura pena de seus colegas sempre tão bondosos. Não havia nada para ele descobrir ali. Talvez fosse melhor devolver seu crachá e voltar para a casa de sua mãe, e seguir a carreira de motorista de seu pai. Embolou os pés nas folhas mais uma vez até perder a paciência e chutá-las, com a ajuda do vento elas voaram longe, relevando um pedaço de terra remexida entre a grama, logo abaixo de seus sapatos pretos. 

一 Merda! 

... 

Cada minuto das 5 horas seguintes, Stoldr permaneceu ao lado da equipe da perícia que, mais uma vez, trabalhava incansavelmente naquela casa. Dessa vez o motivo era mais longe e ainda mais sério do que poderiam imaginar. Em cada monte de terra escura que aprofundava o buraco, maior eram também suas preocupações. Embora ele tentasse firmemente pensar no melhor, suas esperanças eram quase nulas. Andando de um lado para o outro, colocando as mãos na cintura, abaixo do peito cruzado, afrouxando a gravata, seguiu inquieto até a primeira arfada do homem com a pá na mão. 

一 Oh 一 parou, recuperando o fôlego. 

一 O que foi? O que foi? 一 pulou em cima dele desejando não ver o que veria a seguir 一 Não... 

Os homens trocaram as pás por objetos mais sutis enquanto lentamente descobriam um corpo embaixo da terra, começando pelos pés pequenos e muito brancos que faziam contrante com a terra escura. 

一 Não pode ser... 一 ele repetia para si mesmo no tempo que um corpo infantil feminino era revelado sem vida. 

Eles esperaram todos os longos minutos até que o cadáver ficasse totalmente visível, e depois de uma sessão torturosa de fotos, puderam se aproximar. 

一 É ela? 一 Butler perguntou brevemente em sua expressão severa. Secretamente ele mordia a própria língua na tensão que não podia transparecer. 

A mulher fez sinal para ele se aproximar, e com um pincel abanou os farelos ao redor do rosto sem vida de uma menina de cabelos negros, cuja feição Butler não foi capaz de encarar, apenas seguiu a indicação para o brilho no pescoço pequeno, uma corrente reluzente no meio do escuro e do nada. Butler e Stoldr precisaram apertar o olhar para ver que 3 letras formavam a palavra “Cat”

 

Então o primeiro instante de pânico se instalou, mas a tempo de alguém quebrar dizendo que não era ela. 

一 Não? 

一 Não 一 o legista confirmara mais tarde, mostrando suas provas da arcada dentária e digitais incompatíveis. 

一 Se não é ela... então quem é? 

Stoldr encarou mais atentamente o cadáver pequeno de vestido rosa com uma grande mancha roxa no lado direito do peito. 

一 Amanda Byrnus, treze anos, foi dada como desaparecida em abril. Terminaremos a necrópsia em alguns dias, mas podemos ver alguns sinais visíveis de agressões sexuais e ferimento com arma de fogo, provavelmente alguma hemorragia interna resultou na morte 一 fez um movimento com a mão no ar acima da grande mancha escura no vestido. 

A cabeça de Butler esquentou e ele só conseguia pensar nos horrores que a menina devia ter passado nas mãos de Styles, ele cerrou o punho com tanta força que amorteceu seu braço, ficando dormente por um tempo. Foi tomado por uma raiva crescente e descontrolada enquanto caminhava de volta para a sala de interrogatório que tinha a cara do homem. Antes que os guardas o segurassem, ele pisou fundo até o homem sentado e algemado e distribuiu sua ira com toda a vontade que segurava tinha um bom tempo no punho direito contra o lado esquerdo do rosto frio, que logo se tornou quente, de Styles. Sangue jorrou de sua boca e nariz com um gemido. 

一 Tudo bem, eu acho que possa ter merecido essa 一 gemeu numa careta de dor, com o final de um sorriso de canto, enquanto dois guardas arrastaram Butler para longe dele. 

 

 

*** 


London (UK) - 2016, 16th December 一 6:34pm  
P.O.V. Catherine Valentine 

Então o colégio estava acabando, havia só mais um ano para decidirmos o que faríamos de nossas vidas. Isso, é claro, era a coisa mais importante do mundo que decidiria nossas vidas segundo os professores. Mas interiormente eu nunca senti que tivesse alguma escolha. De qualquer forma não faria mais diferença o que fosse que eu decidisse. 

Bem, ainda havia um ano pela frente. 

Termino de me vestir e vou ao ballet a última vez antes das férias. Isso me dá um sopro de esperança. Amy e Cristen me incentivam a seguir seus passos, literalmente ou não, no ballet. E Harry parece gostar bastante da ideia. 

一 Disse à Dopkins que sonhava em ser uma bailarina profissional? 一 ele sorri me olhando de canto e voltando para a estrada. 

一 Eu sempre sonhei, mas... não sei 一 eu realmente não tinha certeza. Bem, eu amo ballet, mas também amava ler e escrever. E da mesma forma que Amy e Cristen me incentivavam na dança, minha professora de inglês também me incentivava na literatura. 

一 Você tem talento para isso, deveria fazer. 

E ao dizer isso, sei que minha escolha já estava decidida. Respiro fundo absorvendo que esse então seria meu futuro. Bem, como Cristen me disse; você não precisa parar de ler e escrever para ser uma bailarina. 

Outro dia andando pelos corredores, ouço uma melodia suave e bastante conhecida de Beethoven assoviando entre as paredes douradas do salão em que Harry se encontrava esporadicamente. Für Elise. São notas tão doces, ele me ensinara uma vez com profunda paciência até que meus dedos acertassem meia hora depois o primeiro verso da música no seu piano. Arrasto a porta com cuidado para fazer o mínimo ruído possível e observo-o tocar calmamente, concentrado na música. Ao final, seu olhar se ergue diretamente para mim no canto da porta através da grande sala dourada, como se soubesse o tempo todo que eu estava ali. Depois do primeiro momento em silêncio, ele diz; 

一 Você gostou? 

Assinto sincera. 

一 Vem cá. 

Deixo a porta e atravesso o espaço vazio até chegar nele e me sento em seu colo de frente ao piano, cujas teclas parecem infinitas e embaralhadas de muito perto. Sua mão direita pegou a minha e levou ao teclado posicionando cada dedo sobre uma tecla, ele guiou nota por nota bem devagar e depois soltou para que eu fizesse sozinha. O som da combinação delas até ficou parecido, mas em um ritmo extremamente lento. O vejo fazer aquele trecho outra vez, seus dedos longos tocando cada tecla com delicadeza, produzindo a música tão agradavelmente doce alegra meus sentidos, eu tenho a impressão de estar flutuando em cima delas. 

一 É essa aqui 一 ele mostra a tecla certa para eu tentar mais uma vez.  

Suspiro levemente frustrada, parece tão simples vê-lo tocar. Sinto-o rir contra meus cabelos. Me viro para olhá-lo com um sorriso simples que marcava as covinhas em suas bochechas, seu olhar se ergue da minha mão sem nenhuma coordenação para mim. E posso ver todos os detalhes do seu sorriso tão belo e raro, que me faz sorrir também. Logo depois se volta ao piano para tentar me ensinar outra vez. Admiro sua profunda paciência, porque sou claramente péssima. 

一 Oh 一 eu erro a tecla mais uma vez fazendo a música ter outro som e ele ri. 

一 Tudo bem, é difícil no começo, eu também demorei para aprender. 

一 Quanto? 

一 Uma semana. 

Eu nunca aprenderia nem em um ano 一 penso alto desanimada. 

一 Eu passava muito tempo na igreja e o pastor me deixava cuidar dos instrumentos em troca de pedaços das hóstias que sobravam, coisa que adorávamos 一 contou. 

一 Sabe tocar outro instrumento? 

一 Não, só o piano me interessava. 

一 Por que? 

一 Tocar me acalma, e me faz esquecer de todas as coisas ruins 一 posicionou os punhos em frente ao teclado inspirando e dedilhando com agilidade e simplicidade, criando ali uma melodia gostosa. 

De alguma forma ele compartilha a sensação tranquila comigo, me fazendo flutuar novamente e sinto vontade de dançar. Eu acho que da mesma forma que ele sentia-se bem ao tocar, eu sentia ao dançar ouvindo-o. Se o paraíso tivesse um som, com certeza estaria ecoando nessas paredes, onde o refúgio dele se encontrava com o meu. Eu acho que poderíamos fazer isso para sempre. 

 

 

 

 

“Eu nunca vou esquecer de Opus 9 Número 2 Noturno de Chopin, era a música que ele estava tocando quando quebrou meu coração e eu fui embora.” 

 

 



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