História Minhas escolhas - Minhas Escolhas

Fiquei sentado em uma cadeira perto do trono escutando meu pai e irmão mais velho discutindo. Lucian teve sua coroação como rei não faz muito tempo e nosso pai insiste para que ele se case com a rainha do reino de Arkyos, que também foi recentemente coroada.

Essa moça até pouco tempo tinha sua existência desconhecida, mas por causa de várias circunstâncias ela foi trazida para casa.

O anjo de Arkyos, huh?

Eu ainda não a conheci, então não sei que tipo de pessoa é, mas com certeza não é muito fácil de lidar já que rejeitou todas as propostas de casamento de maneiras bastante únicas ou com “Lucian, você é o último homem no universo com o qual eu me casaria.”

Ok, eu admito que meu irmão tem seus altos e baixos, mas ele não é má pessoa e com certeza a rainha de Arkyos não está sendo prática, já que se ela fosse, aceitaria esse casamento para unir Angylion e Arkyos, os reinos com mais mística.

Me sinto um pouco mal pela moral do meu irmão, que com certeza caiu muito. Como conselheiro de Angylion, eu não discuti com meu pai sobre querer oferecer o casamento, já que é uma jogada muito boa, principalmente considerando os eventos recentes.

-Por que você não faz meu irmão pedir ela em casamento? Kailei é só dois anos mais novo que ela, não seria um escândalo. – Olhei Lucian quando escutei meu nome ser mencionado.

-Ele é o conselheiro e príncipe de Angylion, você é o rei.- Meu pai falou com um suspiro.

-Aquela mulher claramente não quer se casar comigo.- Lucian reclamou.

-Irmão...- Chamei ele e meu pai me deu um olhar que logo entendi- Vossa majestade, acha que tem algo que eu possa fazer nessa situação?

-Kailei, eu ainda sou o seu irmão mais velho.- Lucian sorriu para mim.

-Mas ele é o conselheiro desse reino.

Ok, meu pai não é má pessoa, mas é muito rígido quando se trata desse tipo de regra.

-Hoje haverá um baile em Arkyos, fomos convidados. Se arrumem.

Ele saiu da sala e Lucian nem se deu ao trabalho de chegar ao trono, se jogou sentado no chão mesmo. Levantei-me da cadeira e fui até onde está, me sentando ao seu lado.

-Lucian, você está bem?

-Sabe o que é pior nessa história?- Lucian me olhou.

-Hm?

-É que eu realmente gostaria de casar com ela. Seria vantajoso para ambos os reinos, sem falar que ela é uma moça muito bonita.

-Eu ainda não a conheci...

-Vai conhecer hoje.- Ele suspirou- Ela certamente é algo. É uma pessoa muito teimosa.

-Eu duvido que ela vá aceitar o casamento. Pretende levar mais quantos foras?

-Meu amigo, eu acho que nunca fui tão humilhado.- Ele riu e colocou a mão no meu ombro.- E você?

-Eu não fui humilhado.

Lucian apenas riu.

-Eu não falei a pergunta inteira, desculpe. Eu queria saber como estão seus interesses românticos.

-Prefiro me focar no meu trabalho.

-Sabe, você deveria tentar ter uma vida Kailei! Está com dezessete anos, hora de arranjar algo que goste de fazer.

-Eu gosto de trabalhar.- Murmurei e ele suspirou.

-Você quase nem dorme.

-Sou um anjo, só preciso dormir duas horas por noite para não ter um colapso.

-Ok senhor sabe tudo!Desisto!- Ele levantou do chão- Mas tente viver um pouco, com a sua idade eu ainda me divertia.

-Está falando como um velho.

-Culpa da rainha de Arkyos. Sinto que perdi alguns anos de vida.

-Lucian, se ela aceitar...- Me levantei do chão- Você não vai se sentir mal por estar em um casamento sem amor envolvido?

-Não me importo muito com isso. Sem falar que, ela é bonita, só ter uma mulher bonita por perto já te faz sentir vitorioso.

Ele tem uma visão sobre as coisas que eu nunca serei capaz de entender.

-Você vai entender o que quero dizer quando começar a ver que garotas são bonitas. Atualmente uma garota e uma parede devem ter o mesmo charme pra você.

-Não é assim!- Senti como se meu rosto estivesse acendendo de vermelho- Eu sei quando uma menina é bonita... Só por eu... Não ter uma namorada... Não quer dizer...- Minha voz foi ficando cada vez mais baixa enquanto falo e Lucian colocou a cabeça para trás dando uma gargalhada.

-Vá se arrumar Kai, temos uma festa para ir.

Nós fomos para o baile em Arkyos, e como esperado, está tudo arrumado de maneira impecável. As músicas tocadas durante a festa também foram muito agradáveis.

Todos pareciam estar se divertindo com o baile, menos a rainha. Ela parecia extremamente entediada e com vontade de pular no pescoço do meu pai e estrangular ele.

Só que ela estava sorrindo, o sorriso mais forçado que eu  já vi em toda a minha vida, e olha que participo de reuniões com tantas pessoas falsas...

Só que mesmo assim, ela continua muito charmosa. Não é brincadeira o que falam, essa moça realmente tem algo que atrai, mesmo que ela não tenha nada especialmente ou fora do comum.

Cabelos loiros e lisos, olhos verdes, um corpo aparentemente bem bonito.

Certamente ela não tem nada fora do comum, mas tem algo nela que chama atenção. Será algo dos anjos da profecia ou herdeiras de Arkyos? Ouvi histórias que a primeira princesa de Arkyos, Sabine, tinha algo que atraia muito as pessoas.

-Ah, eu ainda tenho documentos para assinar. -  Comentei comigo mesmo depois de beber um gole de vinho. – Café é uma opção melhor que vinho.

Larguei a taça e então decidi ir para o jardim do castelo. Sorri vendo todas as árvores bonitas, as rosas azuis também chamaram minha atenção.

Fui até o baixo muro e toquei uma das rosas, sorri quando senti o perfume delas se misturando com cheiro de camélias se espalhando com a leve brisa.

-São muito bonitas, não é?- Dei um pulo quando escutei uma voz feminina próxima.

Me virei rapidamente e percebi que era a rainha, surpreso me curvei rapidamente e ela deu um risada fofa.

-Acalme-se, parece que foi pego fazendo algo errado.

-Err...- Ah, parece que eu esqueci tudo que se pode dizer em uma conversa com um superior.

-Camélias são as minhas flores favoritas!- Ela sentou sobre o muro e começou a sacudir as pernas.- Camélias eram uma das flores favoritas da minha melhor amiga também, então me trazem lembranças boas e ruins.

-Eu soube que seus amigos e antiga guardiã foram assassinados a sangue frio por ceifeiros, Ian Daerier quem estava por trás disso. Eles foram mortos por nenhuma razão específica, aparentemente.  

Ela fez uma expressão que não consegui entender, mas tomei isso como um aviso para trocar de assunto.

-É uma bela festa.- Comentei e o rosto dela suavizou.

-É. As coordenadoras de eventos de Arkyos adoram exagerar! Só que somos conhecidos como um dos reinos com melhores eventos.- Ela praticamente cantarolou.

-Então é isso.

-Eu não gosto muito de bailes, tanta gente quer dançar. Ah meus pés...- Ela resmungou- Da próxima vez vou pedir para usar sapatilhas, ou talvez eu deva ir de pés descalços!

Ela está falando comigo como se fôssemos conhecidos de longa data. Mesmo que eu nem tenha me apresentado ainda, ela fala animadamente.

-A senhora parecia entediada na festa.

-Não precisa me chamar de senhora, a gente deve ter a mesma idade.

-Eu sou dois anos mais novo, majestade.

-Ohh! É mais novo? Então segundo as regras deve mesmo me chamar assim. Só que poder usar o senhorita? Senhora me faz sentir velha.

-Como preferir.

-Você disse que eu parecia entediada? Bem, é que o rei, não, o pai do rei de Angylion está sempre me incomodando para casar com o filho dele! Desde que me tornei rainha, em todos os bailes...- Ela começou a falar parecendo frustrada.- Desde antes dele ser realmente rei, o acho realmente irritante! Principezinho mimado que vive me infernizando mesmo que eu diga que não vou me casar por uma jogada política!

Essa mulher...

...Não faz ideia que está falando do meu irmão mais velho, faz?

-É mesmo...? – Decidi esperar para ver até onde ela iria.

-Sempre as mesmas conversas e perguntas! Ele fica facilmente irritado com as minhas opiniões e diz um “você é... Incomum, é a maneira mais educada de colocar isso.”- Ela bateu com as mãos nas coxas- O que tem de tão incomum de ter opinião própria? É por ser uma garota? Ou por me negar aos bailes ridículos para achar um outro anjo para ser rei de Arkyos? Tsc, todo mundo só sabe dizer que eu sou teimosa! Minha professora de boas maneiras,a  que me deu umas “dicas” depois da coroação disse que eu deveria “morder minha língua” de vez em quando para me impedir de falar tudo que penso.

Tentei manter minha expressão neutra, mas fiquei sinceramente surpreso.

-Se eu não tiver no mínimo um pouco de afeição pelo meu parceiro, não vou casar! E eu não tenho afeição pelo Lucian Angylion. Na verdade, sinto que nós dois não demos certo desde o momento que colocamos os olhos um no outro. Naerie diria algo sobre astrologia para explicar isso.

Ela encheu as bochechas de ar, soltando o ar logo em seguida. Não consegui me conter e comecei a rir, ela me olhou e riu também.

- Ele não é má pessoa, só não é bom lidando com pessoas que tenham opiniões diferentes da dele.

-Você conhece o rei Lucian?

-Claro! Ele é o meu irmão mais velho!

-E-Eh?!- Ela deu um grito arregalando os olhos de maneira cômica- Ir-Irmão mais velho?

-Majestade!- Me apressei a agarrei seu braço quando ela quase caiu nas roseiras, com o rosto pálido.

-Eu estava falando mal dele e você é o irmão caçula dele...- Ela me olhou como se estivesse a ponto de chorar- Se alguém perguntar, eu não conheço você! Nunca o vi ou falei com você na minha vida inteira!

-Hã?- Ficamos nos olhando até o ponto que comecei a gargalhar da expressão de pânico dela e soltei seu braço. – Calma majestade. –Tentei parar de rir.

-Desculpe, eu falei demais.

-Eu sou o irmão caçula dele, mas isso não quer dizer que concordo com tudo o que ele diz. Fique tranquila, não vou lhe causar problemas.- Falei com um sorriso e ela sorriu também.- A propósito, o meu nome é Kailei.

-Kailei? É um nome legal. É um grande prazer te conhecer, diferente do caso do seu irmão, com você eu simpatizei.

Dei uma risada sem graça e então trocamos um aperto de mãos.

Após esse dia, comecei a vir com freqüência até Arkyos, as vezes apenas para conversar com ela. Desse jeito o tempo foi passando e quando percebi, já estava apaixonado por ela.

Querendo uma desculpa para poder estar ao lado dela, decidi sair do conselho de Angylion e me tornar conselheiro de Arkyos. A rainha pareceu surpresa, mas também agradecida. Ela disse que  era bom ter alguém amigável como conselheiro principal.

Como um conselheiro, ter sentimentos ou qualquer relacionamento além de profissional com seus superiores é proibido, mas isso não me impede de querer ver e conversar com ela. Mesmo que os melhores sorrisos dela nunca sejam para mim. Mesmo que ela esteja olhando na minha direção, ela nunca está realmente me vendo. Só que no final eu sou um tolo que continua se torturando com isso, sem nem ter o direito de sentir ciúmes ou chamar ela pelo nome.

-Kailei, está acordado cedo!- Ela falou ao entrar na sala do trono, enquanto reviso os documentos que precisam ser assinados.

-Na verdade...- Ah, ela vai ficar com raiva- Eu não dormi, tinha muito trabalho a fazer!

A expressão dela mudou na mesma hora e antes que eu pudesse acrescentar qualquer coisa na minha frase, ela já estava agarrando minha orelha direta com força e puxando.

-Aiê! Majestade, isso dói!- Ela fez com que eu me curvasse um pouco, ficando na altura dela.

-Você. Diz. A mesma. Coisa. A. Quatro. Dias!- Ela falou dando pausas e encarando o meu rosto, muito irritada- Há quatro dias você diz que não dorme! Kailei! Eu disse para você não se matar trabalhando e tentar descansar, ter uma vida! Sabe, a vida de um adolescente não é só para trabalho!

-E-Eu prefiro passar meu tempo de trabalho e tempo livre trabalhando!

-Por que?!

Porque esse é o único jeito que posso estar perto de você.

-Porque eu gosto do meu trabalho.- É uma meia verdade, eu realmente gosto do meu trabalho.

-Caramba Kailei, vá dormir! Precisa dormir pelo menos quatro horas pra compensar! –Ela puxou  a minha orelha me fazendo gemer de dor.

Ela é mais assustadora que a minha mãe quando está com raiva!

-E-Eu vou dormir!

-Bom.

-Depois que todos os documentos forem assinados.- Dei um sorriso e ela puxou  os papéis das minhas mãos.

-Eu vou assinar, vá dormir.

-Mas...

-Quer que eu puxe a outra orelha também?- Ela soltou minha orelha e colocou as mãos na cintura.

-Não.

-Então vai logo dormir, estou preocupada.- Ela deu um sorriso.

De novo.

De novo meu coração dá pulos dentro do meu peito.

Ela nem percebe como me sinto, né? Ela continua sorrindo e dizendo que está preocupada.

-Eu vou dormir, duas horas.

-Quatro.

-Duas.

-Quatro.

-Duas.

-Quatro.

-Duas!

-Três ou eu vou demitir você.

-Estou indo!- Me movi mais rápido do que achei possível para ir na direção da porta e ouvi ela rir.

-Descanse bem! Isso vai estar tudo assinado quando acordar.

Olhei as cinqüenta folhas na mão dela.

-Haha, boa sorte majestade. - Me curvei.

Saí rapidamente da sala e fechei a porta. Quando estava no corredor que leva ao meu quarto no castelo, toquei minha orelha.

Ela me trata como se eu fosse um irmão ou coisa assim.

Isso não me deixa exatamente feliz, mas saber que ela se importa comigo já é o suficiente.

Estar nessa situação foi minha escolha, mas não posso dizer que me arrependo.

Mas...

...Me pergunto se sempre vou ter que ver ela sorrindo para outra pessoa, sem nunca perceber os meus sentimentos.