E lá estava eu, perdida no meio de uma multidão, que assim como eu, esperava pelo diretor.
Ensino médio. Estou com... medo? Acho que sim, acho que sim...
- Ei, menina, você sabe... - Alguém me chamou e quando me virei paralisei.
- Você? - Dissemos ao mesmo tempo nos fitando incrédulos. Parecia que todas as pessoas presentes estivessem desaparecido e existisse apenas nós e nossa encarada mortal.
O diretor chegou, tirando a atenção de todos, menos a nossa, pois continuamos a nos encarar. Quando percebi que o diretor estava já indiferente, e que alguns olhares pesavam sob nós, disfarcei fingindo estar olhando algo no telhado (que gênia eu, não é?). Voltei a atenção para o diretor e depois de algum tempo senti me cutucarem. Revirei os olhos já imaginando quem seria, mas para minha surpresa não era o garoto da festa, e sim Alissa, uma prima/amiga minha. Abri um sorriso enorme que logo foi correspondido.
Realmente, esse diretor não havia gostado de mim... nem um pouco! A chamada de atenção que eu havia me livrado a pouco, agora veio.
Lis e eu nos recompomos e voltamos a prestar atenção nas palavras do querido diretor. Reviro os olhos com este pensamento banhado na ironia e reprimo um riso. Afinal, o que este diretor estava falando mesmo?
[...]
- 'Tá bom Alissa, chega, já deu! - Reclamava já impaciente. Alissa enfiou em sua cabeça ruiva natural (breve inveja branca) que eu gosto de Teodoro, o garoto que me chamou de bêbada na festa da formatura do terceirão... olha, eu posso até ter tido aquela conversa maravilhosa com ele, posso também ter ficado boba nos dias seguintes, mas... 'tá bem, eu me rendo! Mas isso é só uma paixãozinha passageira, nada mais!
É algo físico e psicológico. Eu gosto de seu jeito, não é um babaca, e também gosto dele em si; como diziam as avós em suas mocidades, é um pão, uma graça! Mas nada sentimental. Não existe sentimento nessa coisa toda, não o de amor.
- Milena? Milena? Você dormiu por acaso? - Alissa me chama me tirando de meu transe. Balanço a cabeça negativamente a fazendo suspirar, ela sabe que eu tenho ansiedade e que primeiros dia de aula não me tranquilizavam em nada; pelo contrário.
- Mas me conta isso direito... - Prosseguiu. - Você contou MESMO as suas teorias loucas? Aquelas que você só resolveu contar p'ra mim quando quase morreu por que foi diferentona e pegou catapora pela segunda vez? - Perguntou dando ênfase no "mesmo".
Pois é, eu peguei catapora mais de uma vez. Como? Nem eu mesma sei direito, meio que o vírus fica adormecido no organismo e o meu resolveu acordar.
Eu fiquei, literalmente, entre a vida e a morte... mas olha quem não morreu! Eu, eu, eu, eu, eu!
Voltando ao assunto, depois daquilo eu vi que a Lis era realmente minha amiga, porque ela poderia ter seguido com a vida dela, mas se preocupou, e só não me visitou porque nunca tinha pegado catapora, então não dava p'ra arriscar, não é?
Depois disso tudo eu vi que ela era mesmo minha amiga e resolvi me abrir, contar tudo o que eu pensava, e...
- Milena! - Meus pensamentos, lembranças, recordações, devaneios talvez, são interrompidos por uma Alissa zangada. Devo ter ignorado ela... sem querer.
- Lis, desculpa, é que... - Fui interrompida.
- É, você 'tava lembrando. - Revirou os olhos. Eu tinha essa mania de parar do nada porque estou pensando algo.
- Bom, sim... - Disse respondendo sua pergunta anterior, constrangida com a idiotice que eu havia feito. - Eu pensei que nunca mais o veria, e, sei lá... eu me senti a vontade p'ra falar. Não pensei em nada. - Agora que estou me ouvindo, só consigo repetir mentalmente a palavra idiota, que com toda a certeza define meu ser.
- Você? Não pensou? - Perguntou incrédula. - Milena, você é a pessoa mais racional que eu já conheci! Cadê a tua sanidade guria? Você sempre pensa em tudo; prós, contras, extras, consequências... - Realmente. As vezes eu deixo de fazer muita coisa apenas por pensar demais. Me odeio por isso mas ao mesmo tempo me amo; isso me livra de muitas encrencas, mas me priva de muitas aventu...
- Milena! - Mas hoje eu 'tô realmente muito avoada!
- Desculpa Lis! Eu... - Já estava me desculpando quando me dei conta da pessoa que havia me acordado de meu transe.
- Beleza, Mile. Eu vou indo... até mais tarde! - Alissa saiu sem ao menos esperar uma resposta, sequer olhou para trás.
- O que você quer? - Perguntei ríspida, logo me martirizando por ter sido assim; mas não me mostrei abalada, manti a postura grosseira e ouvi uma lufada de ar sendo expelida pelo indivíduo a minha frente.
- Eu só quero conversar, 'tá bem? - Pela primeira vez olhei para o dono daquela voz na qual eu dava graças por não ser surda e poder ouvi-la; encarei-o e perdi-me em seus olhos castanhos, que de noite ficavam um breu, e de dia um mar de luz.
Lembrei-me da noite da festa, de como achei-o babaca assim que o vi, e de como mudei de opinião de maneira drástica quando ele se colocou a ouvir-me pacientemente. Mais uma vez, perdida em pensamentos, desta vez tão idiotas, minha atenção foi chamada pela terceira vez em menos de meia hora.
- 'Tá bem. Pode falar. - Falei baixo mantendo a calma para que não fugisse dali no mesmo segundo.
Ele abriu a boca para começar a falar e prendi a respiração temendo o que estaria por vir.
Teodoro fechou a boca e abriu novamente, decidido. O medo tomou conta de meu ser, mas... por que eu estava com medo?
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