Ela é louca, mas é mágica. Não há mentira em seu fogo.
– É tarde demais. – Eu repeti.
– Eu não sou sua pela eternidade. Me amar é uma sentença de dor. – Soou fria, sem me olhar realmente.
– E se eu nunca desejar? Você ficaria. – digo, exasperada. Uma pontada de esperança toma meu peito.
– Uma hora vai desejar. Todos sempre desejam.
– Comigo será diferente.
– Como? Acha que me faz feliz continuar presa a você? Como seu gênio? A falta de liberdade me corrói.
– Não seria assim. Você pode ter uma vida.
– Você é louca. E quando você morrer? Estarei fadada a te esquecer? Passar o resto da minha imortalidade me lamentando pela morte de quem já amei? Isso é sádico até mesmo para você.
E continua me machucando. Cada palavra dita de sua boca.
Matando a centelha de esperança que ainda restava em mim.
Ofensas. Eu não me importo. Passa reto por minha percepção.
– Você mesma disse que eu era diferente. Que gostava de estar aqui – minha voz se faz intensa – por que agora é diferente?
Eu não esperava por isso. Talvez um surto. Gritos ou lágrimas. Mas no final eu esperava, no mínimo, que ela me beijasse.
– Porque você me ama! E se me ama, vai me deixar ir!
Lápis grita, sua pele ganhando coloração azul e suas asas de água surgindo da marca em forma de gota em suas costas.
E então ela voa. Eu sou deixada enquanto vejo sua silhueta sobre as nuvens, voando sob o céu azul, até sumir de minha visão. Ela pode fazer isso?
Não sou capaz de expressar meus sentimentos. Logo, apenas dou meia volta e sigo rumo ao acampamento.
Não cumprimento os arqueólogos com seus planos, ou meus professores e colegas. Eu apenas olho para frente, passos firmes.
Quero gritar. Quero me jogar em um lago e gritar dentro d'água. Quero chorar e não sentir minhas lágrimas porque elas se fundem na água. Mas não posso pensar em água, porque remete à Lápis e eu tão furiosa que não ouso ver nem ao menos seu rosto em minha mente.
Me sinto a mais estúpida das pessoas da Terra. E eu quero desejar voltar no tempo, para antes de conhecê-la, quando minha maldita consciência orientou-me não entrar no templo. Péssima a hora que não ouvi.
Por fim, chego ao local de minha estadia. E contrariando todas as minhas expectativas, eu apenas lanço-me contra o colchão.
Eu sinto o travesseiro molhar, embora isso já não importe.
Eu durmo. E sonho.
Sonho com o templo, ela estava lá. E Alexandrite, em sonho, a guardiã do templo me devora. Minha morte não é o fim. Aperto meus olhos, a cabeça latejando com as gargalhadas de Lápis, sou levada ao dia que todas nós jantamos juntas, quando Rose ainda estava bem. E Ametista, com suas dúvidas e o passado, ela me olha, encarando a vergonha que eu sou.
Sonho com o Egito. Sonho com Alétheia e as musas. Meu coração é morto por reis justiceiros.
Vejo Kali, a deusa da destruição e do renascimento. E Lápis, como sacerdotisa, orando por Bastet.
Nós dias atrás, nosso beijo, o baile. E quando ela disse que eu era um suspiro de liberdade, seu fôlego.
Eu a levando no celeiro. E a dívida que ainda não cumpri, dançar solo para ela.
Vejo então sua fúria. A dor de estar dentro do espelho. Vejo o medo. O pesar. Sei então quem ela é. A medida de sua forma. Destruidora, arruinando vidas e impérios. Sua sutileza em declarar sua ruína.
Eu acordo gritando.
– Pelos deuses. – a voz de Lápis soa, exasperada. Sei então, que ela retornou.
– O que faz aqui? – questiono.
Ela apenas dá de ombros.
– Não posso voltar tão longe do espelho.
– Não. O que faz aqui?
– Eu não deveria estar aqui?
Ela me encara.
– Diga você. Não foi quem voou para longe, gritando que eu deveria ir?
– Eu fui injusta. Me desculpe. – ela não olha ao dizer isso.
– Eu sei. Você foi fodidamente injusta. – Oh, não. Meu lado raivoso se manifestando.
Ela nada diz.
– Você não pode fugir correndo dessa forma. – continuo. – E também não foi justo me acusar daquela forma.
– Já acabou? – paciente, com a voz baixa.
– Não. Eu realmente não menti ao dizer sobre meus sentimentos. Isso não deveria ser ignorado. Não é fácil e talvez incorreto, imoral, não sei. Mas a verdade é que estou apaixonada por você. Não deve ignorar isso. Céus, eu te amo, Lápis Lazuli.
Seus olhos se abrem, me olhando fixamente. E eu estremeço sobre sua voz firme.
– Então prove. – ela diz. – Se me ama, prove.
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Meus olhos não se desviam dos seus. São desafiadores.
Se ela anseia por uma prova, ela terá.
Eu abro a boca, com intenção se falar quando, repentinamente, a porta da estadia é aberta.
Um baque é ouvido e vemos Lars, um dos pesquisadores, entrar rápido. Ele está suando e seu rosto transmite nervosismo.
– Mensagem urgente para Percy Peridot.
Ele entrega uma carta em minhas mãos e diz:
– Uma caravana saí às 17h para conduzí-la de volta a residência de Miss. Rose.
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