História Mistake - Stony - Cigarette

Pela terceira ou quarta vez naquele dia, Tony estava parado em uma das sacadas da torre, um cigarro entre os dedos e os olhos vidrados na bela vista que tinha da cidade.

Stark não considerava o cigarro um vício. Não mais, pelo menos. Ele já não tinha tanto o costume de sair pra fumar, fazendo-o somente quando estava muito estressado.

E, acredite, ele andava muito estressado ultimamente.

Diferente das vezes anteriores, que seu estresse provinha de algum maluco tentando destruir a Terra ou dominar o mundo, agora ele provinha do fato de Sharon Carter parecer não ter casa.

A moça praticamente estava morando na Torre, andando pra cima e pra baixo atrás de Steve, que parecia adorar sua presença, já que estava sempre sorrindo e de bom humor.

Em uma situação normal, ele não teria absolutamente nada contra a loira, já que toda vez que se esbarravam em algum cômodo, ela era extremamente simpática e parecia uma pessoa agradável, mas o ciúme que o moreno sentia o impedia de gostar da presença dela, portanto, tudo que Tony queria era expulsá-la a pontapés de sua Torre (coisa que ele, obviamente, não faria).

Seus pensamentos foram interrompidos quando Natasha apareceu ao seu lado.

— Não sabia que você fumava — ela comentou, tomando o cigarro das mãos dele e dando uma longa tragada.

— Só quando estou estressado — ele respondeu, dando de ombros, pegando o cigarro de volta e tragando-o também — Não sabia que você fumava.

Ela também deu de ombros.

— Só de vez em quando.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, apenas observando a paisagem e compartilhando o cigarro.

Quando este chegou ao fim, Natasha se virou para Tony, um olhar quase preocupado em seu rosto.

— Quer me contar o motivo do seu estresse? — perguntou, vendo-o desviar o olhar.

— É uma coisa besta, não há nada com que se preocupar, fique tranquila — ele respondeu, balançando a mão em descaso.

A ruiva arqueou a sobrancelha.

— Isso tem algo haver com a Sharon e o Steve? — tentou adivinhar, assistindo a tensão que se instalou nos ombros do outro.

— O que? Claro que não! O que te fez chegar a essa conclusão? — Tony perguntou nervoso, voltando a olhar para a amiga.

Não era possível que ele deixasse tão evidente o quanto não gostava da loira. Era?

— O seu jeito de agir com a coitada da Sharon. Você foge dela como o diabo foge da cruz e toda vez que vocês se encontram e ela tenta manter uma conversa, você nem tenta esconder o quão desconfortável você fica — Natasha respondeu, falando como se fosse uma coisa totalmente banal.

— Tá, eu posso simplesmente não gostar dela, e daí? Não sou obrigado a amá-la só porque ela e o Capitão estão transando — Stark disse, desviando o olhar para a paisagem novamente.

— É aí que está. Seu problema não é exatamente com ela, Tony. Seu problema é com quem ela está ficando. Mas você prefere se fazer de desentendido e fingir que não está louco pro Steve largar ela e ficar com você. Você mudou muito desde que voltou.

E antes que o moreno pudesse sequer pensar em uma resposta, a mulher voltou para dentro, deixando-o novamente sozinho com seus próprios pensamentos.

~ ⎊ ~

Depois de tantas horas preso dentro da oficina, Tony finalmente sentiu seu estômago roncar.

Ele nunca realmente se importou com sua própria saúde ou com hábitos saudáveis que ele provavelmente deveria manter, mas, depois de um mês em outra realidade, mantendo uma rotina de horários para comer e sono regulado, era difícil pra ele voltar aos velhos hábitos.

Se ele fosse totalmente sincero, admitiria que ainda não tinha se adaptado novamente à sua realidade. Todos os dias acordava, torcendo para ouvir Peter falando alto ou que Steve fosse lhe chamar pra tomar café. Sentia falta até mesmo de ser professor e ver a cara de entusiasmo de alguns alunos cada vez que lhes ensinava um novo assunto.

Ele sentia tanta falta disso, de ter uma família, mesmo que não fosse realmente sua, um emprego que não punha sua vida em risco, mesmo que não fosse realmente seu, que às vezes aquilo se tornava quase uma dor física.

Claro que ele também sentira falta de sua realidade, onde todos os seus amigos realmente o conheciam e sua tecnologia era extremamente avançada, permitindo-lhe explorar todas as suas possibilidades. 

Sentira falta de ser o Homem de Ferro também, claro. A adrenalina de voar pela cidade com sua armadura, salvando e protegendo várias vidas era gratificante e ele amava isso. Mas às vezes sentia que precisava de um pouco de segurança e estabilidade também.

Por mais que odiasse admitir, ele sabia que a idade começava a chegar e cobrar seu preço, mas não queria abandonar o que fazia. O Homem de Ferro era uma parte dele.

Não gostando do rumo que seus pensamentos estavam tomando, largou o que estava fazendo, pegou o maço e o isqueiro, saindo da oficina em seguida.

Foi para a cozinha, fez um lanche rápido pra ver se seu estômago parava de reclamar e foi novamente em direção à sacada.

Talvez o cigarro não fosse um vício. Talvez tenha se tornado apenas um hábito.

Então, lá estava ele novamente, com um cigarro entre os lábios, apreciando a vista que era a bela cidade de Nova York.

Após 10 minutos, seu momento de paz foi novamente interrompido, dessa vez pelo dono da maior parte de seus pensamentos conturbados, Steve Rogers.

— Ei, Tony — cumprimentou ele — Não sabia que fumava também.

Stark ia questionar a respeito da palavra “também” no fim da frase, mas viu o loiro tirar um maço e um isqueiro do próprio bolso, retirar um cigarro de lá e acendê-lo, tragando-o demoradamente.

— Não sabia que você, o Capitão certinho, fumava — o moreno comentou zombeteiro, evitando olhar para o homem a seu lado.

— Às vezes ser o Capitão América tem um peso muito grande — Steve explicou, dando uma tragada preguiçosa antes de continuar — É bom ter uma escapatória para tudo isso, mesmo que essa escapatória acabe sendo uma droga como o cigarro.

Para o loiro, era engraçado pensar que, antes do soro, ele não conseguia nem ficar perto de um fumante sem ter uma crise de asma, mas agora o fumante era ele.

Esse definitivamente não era um vício que ele gostava de ter. Ele tinha noção do quão mal o cigarro fazia, não só para ele mesmo, mas também para as pessoas que estavam ao seu redor, mas ele não conseguia largar. Já havia tentado algumas vezes, mas sempre acabava voltando.

— Então, cadê a sua namorada, é… como era mesmo o nome dela? Ah, Sharon, claro! — Tony quebrou o silêncio que havia se instalado ali.

Steve franziu o cenho.

— Ela não é minha namorada — ele afirmou, parecendo não gostar de como o termo soava. Por sorte, ele não notou o alívio que passou pelo rosto de Stark — Ela foi pra casa descansar antes de ir para o trabalho.

— Ah, então ela tem uma casa — o comentário sarcástico saiu antes que Tony pudesse segurá-lo, fazendo Steve olhá-lo com o cenho franzido novamente.

— É claro que ela tem uma casa. O que te fez pensar o contrário? — Rogers perguntou, parecendo confuso.

Tony revirou os olhos, se perguntando se o Capitão era lerdo assim ou apenas fingia.

— Ela passa tanto tempo aqui que pensei que já não tivesse mais onde morar — Anthony quase sentia seu veneno escorrer a cada palavra dita e tinha noção de que poderia estar sendo rude, mas tudo aquilo estava cansando-o de maneiras inexplicáveis.

O cenho franzido de Steve acabou por se transformar em um olhar culpado.

— Olha, tudo bem se você não quiser que ela venha mais pra cá. Querendo ou não, a Torre ainda é sua, eu só estou aqui de favor. Posso encontrar outro lugar pra me encontrar com ela sem problemas e… — ele começou a tentar consertar a situação.

Tony não tinha certeza se queria chorar, gritar ou simplesmente se jogar do andar mais alto da Torre.

— O problema não é o lugar, o problema é a pessoa com quem você está saindo e, enquanto isso, eu simplesmente quero… AAAAH! — o moreno gritou no final da frase, sentindo-se cansado e frustrado.

Apagou o cigarro com força no cinzeiro e entrou de volta para a sala, praticamente marchando, deixando um Steve muito confuso para trás.

~ ⎊ ~

— Pois é, Nat, eu tô te falando, o Tony surtou de vez e eu simplesmente não entendi nada, sabe? E eu quero me desculpar com ele, mas nem sei pelo quê eu estaria pedindo desculpas — Steve contava para a amiga tudo que havia acontecido, enquanto ela lhe encarava com a sobrancelha arqueada — Acho que essa coisa de mudar de realidade e tudo mais mexeu demais com a cabeça dele. Ele não tá bem.

— Sabe, Steve, às vezes me pergunto se você já nasceu lerdo assim ou fez cursinho, porque não é possível! — a ruiva disse assim que o maior terminou de lhe contar o que havia acontecido.

Ela não sabia dizer quem era pior: Tony, com seu ciúmes e insegurança ou Steve, com sua lerdeza e sua sensibilidade emocional de uma porta.

Steve não entendeu a reação da amiga. Ele esperava que ela concordasse que Tony não estava tão bem assim das ideias, mas, ao invés disso, ele foi chamado de lerdo.

— O que você quis dizer? — ele perguntou, confuso.

— Quer saber de uma coisa? Vocês dois que se resolvam, eu não aguento mais tentar ajudar e vocês fingirem que não entendem. Você e o Stark realmente se merecem. Se virem — Natasha levantou do sofá onde estava sentada e foi em direção a seu quarto.

E, novamente, Steve foi deixado confuso para trás.