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História Mistérios - Surpresas desagradáveis


Escrita por: Kach

Capítulo 13 - Surpresas desagradáveis


Os pais realmente haviam se despedido pela manhã e de certa forma Levi queria que ficassem por mais alguns dias, mesmo que perdesse muito de sua privacidade ao mantê-los em seu quarto e talvez sua coluna fosse agradecer voltar a dormir em sua própria cama, mas sentia falta daquele carinho conturbado que só eles tinham. Entretanto acordar sem ouvir ameaças de Kushel para August deixava aquele apartamento até silencioso demais, não admitiria diretamente para os próprios pais, mas de fato a visita tinha sido bem agradável e esperava que fizessem isso mais vezes, pois ele ainda não queria retornar à sua cidade, não depois de ter reencontrado Isabel, pois não sabia mesmo se controlaria-se ao ver Nile frente a frente. 

O primeiro dia sem seu remédio foi uma das coisas mais dolorosas e idiotas que já tinha feito em toda sua vida, estava mais estressado que o normal, em um misto de calor e frio insuportável, sentia seus músculos arderem e realmente não queria descontar toda sua raiva em algum aluno ou literalmente pessoa que respirasse ao seu lado, como Hanji, Erwin ou qualquer outro colega de profissão, mas aguentar aquilo estava insuportável demais até para ele. As mãos trêmulas eram sabiamente guardadas dentro dos bolsos da calça para não demonstrar a ninguém aquele tremor, manteve-se sentado boa parte das aulas batendo sua perna de forma um tanto frenética para passar aquela ansiedade e quando acabou por ter aula na turma de Eren o garoto o olhava preocupado como se dissesse: “Não deverias mesmo tomar o remédio?”, não queria o preocupá-lo e muito menos ouvir isso com todas as palavras, pois sabia que iria afirmar e tomar aquele maldito comprimido e realmente não queria desistir assim tão rápido. 

Eren ouvir de Armin e também de Berth algumas perguntas sobre o estado meio aéreo, irritado e ansioso foi ainda mais um motivo da preocupação dele triplicar, pois pensou que estava paranoico em pensar que ele estava mal, mas ver que ambos também estavam ‘preocupados’ dizia que a situação não era boa. 

Vê-lo sair da sala também não foi algo calmante para Eren, afinal ele nunca tinha saído da sala por literalmente nenhuma circunstância. Depois de alguns minutos acabou por sair igualmente de forma escondida com o celular no ouvido murmurando algumas palavras como se tivesse que atender uma ligação importante. Encontrá-lo no banheiro com as mãos na pia, os nós dos dedos totalmente brancos pela força que estava apertando, os cabelos um pouco bagunçados e a respiração incontrolada respondia que não estava minimamente bem. Fechou a porta atrás de si engolindo aquele nó em sua garganta e o abraçou por trás apoiando seu rosto em seu ombro sem falar nada, apenas ali para acalmá-lo.

Depois de alguns bons minutos sentiu o coração adotar novamente um ritmo ‘normal’, ou quase isso, pois já nem lembrava mais como era o sentimento de não ter a ansiedade presente no sangue. Virou-se para o rapaz vendo aquele semblante preocupado então apenas ergueu-se um pouco com os pés e colou seus lábios no dele apenas como um selinho rápido lhe agradecendo por ter feito aquilo. 

Ainda sem nenhuma palavra saiu do lugar e pegou um copo descartável de água o preenchendo com água gelada. Ao voltar agradeceu internamente que Eren tivesse demorado um tempo para retornar, afinal poderia mesmo parecer suspeito, mesmo que não tivesse acontecido nada. Ver aquele semblante dolorido no rosto do moreno de olhos verdes fazia Levi novamente ter aquelas interrogações em sua cabeça se deveria mesmo ter proposto um relacionamento, pois não era a pessoa que Eren merecia, tinha ainda muitas coisas mal resolvidas em seu próprio peito e não queria que aquele lugar desconfortável, quebrado, sujo e repleto de transtornos fosse a morada que Eren se orgulhava tanto de ter conquistado/invadido.

Quando os amigos acabaram por lhe perguntar o motivo em um quase sussurro disse com um pequeno sorriso: “É um problema nosso, mas vamos resolver isso aos poucos juntos”, de fato Eren o considerava algo ‘deles’ e não apenas de Levi como o mesmo afirmava para si mesmo, afinal era o seu vício e não de Eren. 

Obviamente no período da tarde não teria Eren ali para abraçá-lo e ‘acalmá-lo’ e isso o deixava com certa preocupação, mas manteve-se o mais firme que pode naquela decisão, apesar de mesmo contrariando seus próprios princípios continuava a mandar mensagens de textos para o rapaz como forma de se acalmar, enquanto dava as aulas, pois precisava de certo contato com ele, mesmo que não fosse físico.

Eren deu um jeito de entregar apenas um único comprimido para Hanji, para que fosse ela a entregar pela noite, afinal com Isabel/Israel em seu apartamento não gostava muito de sair dele, pois ficava extremamente preocupado de algo acontecer a mulher, mesmo que a sua presença ou o nada era praticamente a mesma coisa, afinal não sabia nem se defender. 

Quando a mulher de óculos chegou a porta e tocou a campainha de uma forma educada acabou por não receber nenhuma resposta, então engolindo em seco acabou por entrar, afinal a última vez que estava daquela forma Eren poupou-o de ceifar sua vida e não aguentaria ver a cena se repetindo. O banheiro estava entreaberto e o barulho de água correndo no chuveiro, abriu com o coração na mão, mas apenas viu o homem ainda com roupas e o sapato embaixo da água quente com os braços apoiados na parede fria e com os olhos totalmente fechados. Não era algo bom ou agradável de se ver, mas era mais reconfortante do que o ver morto. Deixou de lado seus próprios sapatos e entrou no local o abraçando com certa força pouco se importando com a roupa, a maquiagem leve que usava para trabalhar ou por estarem embaixo de um chuveiro totalmente vestidos e abraçados.

- Eu sei que sabes dessa merda de vício, mas não queria que tu me encontrasse dessa forma patética por causa da merda de um comprimido. – Disse entre os dentes sentindo o corpo tremer e sem forças ou vontade de afastar aquele abraço da mulher, mesmo que em situações normais com toda certeza a afastaria e diria palavras ríspidas, naquele momento nada importava e de certa forma ‘precisava’ daquele abraço, mesmo que o abraço de Hanji. – Tu achas mesmo que eu sou capaz de me limpar disso? Porque eu sei que ela está viva, eu a abraço sempre que posso, sinto a presença dela, mas é só eu me despedir dela e voltar para esse apartamento vazio e sozinho que os pesadelos retornam e eu penso que ela não está mesmo viva e tudo isso foi minha mente pregando uma peça, uma triste peça… Quando durmo com o pirralho acabo por ter noites tranquilas, mas não posso ir todos os dias e mostrar o quão merda eu sou por continuar com essas crises...

- Eu acho que tu és capaz de parar, afinal o Eren acabou por dizer-me que tu só ias tomar esse que está comigo. – Afirmou apertando mais um pouco e sentiu uma das mãos bem frias do homem segurando sua mão, mas não como uma tentativa de a afastar e sim mantê-la ali. – Eu sei que tu és capaz Levi, eu confio em ti. 

Tirou de seu bolso o pequeno quadradinho bem cortado da cartela que Eren havia lhe dado e colocou na mão do homem que no mesmo instante destacou e colocou o comprimido na língua. 

- Eu nem imagino o quão dolorido tu estejas por causa disso, mas eu também já tive minha cota de lágrimas, raivas e saudades da nossa Isa antes de saber que ela estava mesmo viva, e até hoje eu sinto meu peito falhar ao sentir que aquilo poderia ter sido coisa da minha cabeça e ela está mesmo morta, mas eu respiro fundo e afirmo para mim mesma que vai ficar tudo bem e ela está bem. Ela também tem pesadelos com o Nile, contou-me apenas para mim, porque não queria tu nem o Farlan preocupados com ela, todos nós temos ainda os traumas disso, mas vamos aos poucos superar, todos juntinhos e abraçadinhos..

- Tch. – Disse com um pequeno sorriso negando com a cabeça por mesmo naquela situação ela conseguisse dizer essas coisas, às vezes até sem tentar, afinal dormir ‘abraçadinhos’ era algo divertido para Levi, mas Hanji realmente tinha sugerido isso como algo ‘sério’. – Tu és mesmo uma idiota...

- O remédio faz um efeito mesmo rápido ou até dessa forma tu és malzinho comigo? – Perguntou divertida apertando aquela cintura completamente encharcada sentindo aos poucos aquele perfume que gostava tanto sumir do pescoço do homem. – Logo eu que estou aqui me molhando completamente por ti… – Deu uma pequena gargalhada pelo comentário com um duplo sentido que falou completamente sem intenção. – Não de fato molhada naquele sentido, mas se tu quiseres podemos começar a tirar as roupas…

- Obrigado Hanji. – Cortou com um pequeno sorriso passando o polegar sobre a mão dela ainda em sua cintura de forma carinhosa. Hanji estava com um sorriso ainda mais feliz por ouvir aquilo, não pelo agradecimento em si, que eram bem raros, mas por ver que ele estava aos poucos melhor, ao mesmo tempo estava triste, pois era o remédio agindo e não Levi. – Sei que geralmente sou…

- Agressivo, estressado, mal humorado e um completo babaca comigo? – Completou e viu uma afirmação um tanto rígida nada magoada. – Eu sei, mas não me importo, pois desde criança tu eras assim e eu sabia dos riscos ao me aproximar de ti… Gosto desse teu jeitinho mal humorado de ser, sabes disso. Gosto de ti Levizinho.

- Eu até poderia dizer que tua insanidade me agrada um pouco, mas sinto que posso ser o culpado da tua loucura piorar e talvez trazer consequências desagradáveis a população. – Murmurou em resposta e recebeu um beliscão na barriga falsamente chateada por isso, mas sabia indiretamente que ele gostava sim dela. – Não queria essa responsabilidade sobre o fim do mundo, mas pode se dizer que tu és um pouquinho agradável às vezes… Vou correr esse risco de admitir algo desse tipo para ti...

- O que achas de eu dormir aqui contigo? – Perguntou animada, pois realmente não queria deixá-lo sozinho, não depois de dizer-lhe diretamente que os pesadelos continuavam presentes. Queria estar ali para ajudar quando Eren não estivesse. – Meu namorado não é assim tão ciumento, apenas contigo, mas eu posso resolver-me com ele amanhã…

- O teu pode não ser, mas o meu é um bocado. – Afirmou com um sorriso divertido e sentiu as mãos dela se soltarem das suas e deixar um grunhido de surpresa completamente boquiaberta pela revelação. – Então não sei se vai ser a melhor alternativa…

- Espera! – Disse tentando entender se tinha escutado aquilo certo.

Levi virou-se encostando suas costas na parede gélida, cruzou seus braços e deu um pequeno sorriso de canto ao ver o estado caótico que ela estava: Os cabelos totalmente molhados e colados no rosto, os óculos embaçados de alguém que esqueceu de os retirar ao entrar no chuveiro e completamente vestida para sua sorte. Sabia que ele não estava assim tão melhor para criticá-la, mas por pensamento estava. 

- Namorando?! Tu e o moreno gostoso?

- Eu e o meu moreno gostoso. – Corrigiu frisando bem de quem Eren ‘pertencia’ o que aumentou o divertimento da mulher a sua frente. – Sim, acabei por pedi-lo na noite passada… Mas não é como se eu tivesse alguma chance de não pedir, afinal… – Levantou seus dedos calmamente para enumerar as pessoas que até então estavam o enchendo para isso. – Meu pai.. – Um dedo. – Minha mãe… Tu… Isabel… Farlan… Ah.. O Kenny também… O próprio Eren… – Deu de ombros com um sorriso divertido antes de ser atacado por aqueles braços novamente para um abraço apertado, feliz e extremamente molhado. – Eu não tinha opção e vão faltar dedos nisso, afinal até um determinado homem chamado Levi estava me falando isso por pensamento… E de fato este último era o pior dentre todos.

- E tu ias me contar quando isso?! 

- Ah, vim pensando desde ontem a noite em um momento completamente especial, nós dois encharcados com roupas embaixo de um chuveiro. – Ironizou com um sorriso pequeno sentindo um tapa em seu ombro para parar de fazer essas ‘brincadeiras’ sem graça. – Não irias te contar, mas achas que consigo esconder as coisas por muito tempo de ti? 

Recebeu uma negação divertida, afinal Hanji, August e Kushel quando se juntavam para bisbilhotar a vida de Levi se tornavam realmente insuportáveis e conseguiam saber de tudo de sua vida. 

- Pode se dizer que o pedi, mas ainda não sinto que estou fazendo a decisão certa, sabe? 

Sua cabeça encostada naquela parede fria, as roupas totalmente coladas em seu corpo e aquele vapor saindo da água, fechou momentaneamente os olhos deixando um suspiro pesado sair de seus lábios. Hanji por sua vez não sabia se perguntava o motivo e dizia com palavras doces que estava sendo um estúpido idiota por falar isso ou esperava que ele explicasse o motivo de tantas dúvidas. 

- O garoto merece mesmo alguém melhor que eu… – Apontou para o próprio corpo balançando de forma negativa e um tanto auto depreciativa. – Eu sou todo ferrado Han, tenho mais problemas do que coisas boas e só ele consegue ver isso e dizer-me sempre o quão incrível eu sou, mas quem é mesmo tudo aquilo que ele sempre me diz é ele mesmo, pois eu não sou e não acredito mesmo que seja…

Hanji moveu uma de suas mãos até o ombro do amigo massageando de forma extremamente carinhosa para que parasse de falar de si mesmo assim.

- Tu não és tudo isso de ruim e sabes bem… Tu tens um coração bom Levi e deveria acreditar mais nisso. Tome um banho quentinho, vou esperar no teu quarto, depois eu tomo um e busco minhas coisas para nossa noite do pijamas…

- Tch, tu és ainda a pirralha idiota de sempre… – Reclamou, mas aquele pequeno sorriso não passou despercebido por Hanji que em um movimento rápido beijou sua testa molhada com certo carinho saindo logo dali para não receber uma agressão, mesmo que Levi nem estivesse pensando em a bater, não daquela vez.

Respectivos banhos tomados, Hanji voltou para o próprio apartamento com uma roupa emprestada de Levi, afinal as suas próprias estavam completamente encharcadas. Voltou com uma pequena mochila vinho nas costas, duas sacolas de comidas nas mãos e um sorriso ainda mais divertido. Vestiu seu pijama e sentou-se na cama do homem com as pernas cruzadas enquanto buscava pelo catálogo do aplicativo de filmes um adequado para o momento, pois de acordo com a de óculos eles precisavam algo para afastar a tristeza, ou seja, boas comédias românticas clichês.

- Seríamos um ótimo casal.

O computador estava no meio deles e a mão esticada até o pequeno pacote de balas caramelizadas que tinha comprado aos montes, mesmo sabendo que o amigo não fosse comer, então comprou aperitivos salgados para ele e estava desde então insistindo para que comesse, mesmo que a dissesse que estava sem apetite. A mão de Levi acabou por ir no cabelo da de óculos para lhe fazer um cafuné, pois ela havia quase o implorado para isso, então apesar de reclamar acabou por acatar aquilo enquanto assistiam aquele filme que nem era assim tão interessante na opinião de Levi. Ambos de pijamas, apesar de Hanji lhe dizer com todas as palavras que uma calça moletom cinzenta e uma camisa básica escura colada no corpo não fosse um pijama, mas Levi nem respondeu afinal para ele aquele pijama branco cheio de unicórnios rosas, roxos e azuis não era exatamente a definição de algo que alguém com aquela idade usaria. 

- Brigamos o dia todo, mas somos carinhosos um com o outro quando o outro precisa, tenho certeza que seríamos ótimos...

- Tens razão… Imagino até a manchete: “Marido maravilhoso mata a esposa enrolando a língua da mulher em seu pescoço a enforcando por ser chata demais!”. – Levi falou com um sorriso divertido e recebeu um bala de goma em sua direção como arma perigosa e um olhar estreito nada gostoso por estar falando daquela forma, mesmo que por dentro a mulher estivesse um pouco satisfeita de vê-lo aos poucos ‘melhorando’.

- E por que não: “Branca de Neve cientista linda e maravilhosa se rebela e mata o Zangado, um dos seus sete anões!”?! – Perguntou no mesmo tom com uma sobrancelha arqueada vitoriosa na direção dele. – Bem melhor! Precisamos colocar termos na nossa amizade. – Arrumou seriamente as hastes de seus óculos. – Por exemplo, se ambos chegarmos aos quarenta solteiros vamos nos casar…

- Ah, com certeza. – Concordou de forma totalmente irônica por aquele pedido completamente absurdo da mulher. – Ter cinco filhos, uma casa com cercas brancas as quais vou pintar com nossos dois meninos mais velhos enquanto as meninas me ajudam a pintar a casa… Daí tu acorda desse pesadelo insano e sem pé nem cabeça que criaste em sua cabeça!

- Sério, Levi. – Falou com um biquinho completamente infantil pouco se importando com o som que aquele computador estava deixando no ar pelo filme. – Quero casar-me um dia e não morrer solteira…

- Arrume alguém para ti. – Cortou e viu um olhar depreciativo recair sobre si novamente. Respirou fundo, revirou os olhos e continuou – Certo, mas apenas se nós dois estivermos completamente solteiros e não houver literalmente nenhuma outra opção melhor para ti, mas vai ser um casamento de papel e tu vais pedir-me o divórcio logo em seguida, apenas para ter o gostinho de casar-se e ser uma separada, pois casar comigo? Credo!

- Se um dia tu quiseres se casar com o Moreno posso lhe doar um óv.. – Começou e logo viu uma negação completa séria com a cabeça vinda do melhor amigo, poderia bem rir da expressão beirando ao desespero que ele lhe direcionou, mas deixaria para rir depois.

- Não apresse as coisas, o pedi em namoro ontem e duvido que um dia vá o pedir em casamento. 

Ainda estava surpreso por aquilo, perguntando-se como a amiga mudava os assuntos de forma tão rápida e aleatória, afinal quando deitaram o assunto era os pijamas, depois foram comentários estúpidos dela sobre o filme e tantas outras coisas que Levi apenas arqueava a sobrancelha se perguntando o motivo de ter aceitado isso. 

- Nem sabemos quanto tempo ele vai levar para entender que eu sou estragado da cabeça e se arrepender de gostar de alguém como eu. Além disso, não acho mesmo que filho é uma opção a ser considerada com qualquer pessoa ao meu lado, até o Eren em bons anos, não sou uma pessoa a servir de exemplo a alguém… Me inspirei boa parte da minha vida no meu pai e eu sei que não seria o mesmo para uma criança. Eu sou péssimo com elas, me odeiam… Eu não sou agradável para eles, tu sabes bem.

- Tu falas de criança dessa forma, mas quando meu primo veio nos visitar tu ficaste bons minutos com ele no colo sem reclamar minimamente e até brincou com ele. 

Seu tom de voz era bem humorado lembrando-se bem de anos atrás quando ainda estavam na Universidade e acabaram por ir para a casa dos pais de Hanji para que ela pegasse um de seus relatórios do curso que havia esquecido e como Levi tinha uma moto acabou por aceitar após ouvir bons minutos de uma mulher implorando para que a ajudasse e lhe desse uma carona. Não era assim tão insensível, então acabou por levá-la, mas não esperava que no tempo que estivesse sentado no sofá da sala da casa da mãe dela com o capacete ao seu lado e olhar animado da mãe dela o tentando de toda maneira conversar e dizer diversos elogios sobre ele que fossem receber a visita do irmão da mulher com o filho de quase dois anos no colo. De certa forma Levi tinha ficado aliviado, pois dessa forma a atenção iria para o homem e a criança e não para ele como estava sendo, afinal tanto ela como Kushel ‘aprovavam’ um possível relacionamento entre os dois, mas ambos sabiam e diziam com todas as palavras que era apenas amizade. O que não esperou é que tanto a mãe dela como o tio precisassem atender uma ligação no mesmo instante e acabaram por deixar o pequeno em seu colo. Não era como se tivesse uma opção, afinal ouvir um: “Segure dessa forma, obrigado!”, não lhe deixava outra opção, pois o pequeno já estava ali com as pernas sobre as suas recaídas no sofá do lado, olhar castanho direcionado diretamente para os cinzentos curioso, estranhamente o lembrava uma versão infantil e masculina de Hanji, mas manteve suas duas mãos na cintura dele esperando que o salvassem daquela responsabilidade. Não foi uma tarefa tão assustadora como pensou que seria afinal manteve-se bem silencioso em seu colo apertando seus dedinhos em seus braços e com extrema atenção na chave da moto, acabou por mover para fazê-las se baterem uma contra as outras e ouviu algumas boas gargalhadas enquanto fazia isso. Hanji que o olhava com um sorriso, a pasta nas mãos parada na escada tinha acabado por achar a cena um tanto adorável, mas nunca fez um comentário direto sobre o assunto, mesmo que tivesse gargalhado ao ver ele entregar a criança desesperado para o homem que agradeceu imensamente a ajuda. 

- O Tom adora-te ainda!

- Se levar em estatísticas o Tom é uma a cada cinquenta crianças o que é quase uma porcentagem baixíssima e nula. – Levi respondeu nada afetado pela carta na manga sobre o assunto crianças. – Elas me odeiam e o sentimento é um pouco mútuo, afinal são mal educadas, birrentas, choram, precisam de teu auxílio para tudo...

- Mas os meus filhos tu vais fazer um esforço para gostar e não ser bravo com elas? – Perguntou ainda mais divertida por aquelas reclamações. – Afinal tu és um ótimo candidato de padrinho já que não vai ser o pai de uma das cinco, vou precisar arrumar outro homem para pintar as cercas e a casa com elas...

- Tch, não sei o que é mais estúpido: Alguém como eu ser pai, tu ser mãe um dia ou realmente ponderar convidar-me para ser padrinho de um deles. – Disse de forma negativa balançando a cabeça em negação, mas sabia que por ela faria um certo esforço para pelo menos não parecer assustador se caso acontecesse daquela mulher ter um filho. – Credo...

“Por acaso o Levi está contigo? O bastardo não responde minhas mensagens e essas horas ele deveria estar em casa… Estou surtando de preocupações!” – Eren mandou no celular da mulher completamente desesperado, mesmo que tentasse ao máximo não transparecer esse sentimento para Isabel que estava deitada no sofá ao lado assistindo um programa qualquer que Eren ao menos conseguia prestar atenção.

Tirou uma foto discreta do homem ao seu lado com a mão esticada ainda na direção da mulher, mesmo que agora sem o cafuné. Cabelos levemente distintos do habitual, afinal molhado acabavam por ficar em um comprimento que caía em seus olhos e o incomodava então com o auxílio da mão o jogava para trás. Olhar concentrado no filme, mesmo que não tivesse realmente entendendo como alguém gostava de assistir algo que só de olhar a sinopse já sabia bem o que aconteceria, como era o caso de boa parte das comédias românticas.

“Sendo cuidado pela melhor enfermeira da região.” – Mandou divertida logo em seguida como a legenda da foto. Seu peito aquecia ao saber que havia mesmo alguém para se preocupar com Levi daquela forma e queria mesmo agradecer o bem que Eren estava fazendo na vida do homem. – “Fique tranquilo, não quero mais do que um cafuné dele, pois ele é todo teu. Já avisou-me que namora um moreno com os olhos mais bonitos que já vi e eu realmente não quero atrapalhar esse relacionamento bonito que torci tanto para saísse da ‘amizade’.”

De certa forma receber aquilo aliviou o rapaz que nem leu imediatamente as mensagens e sim ampliou a foto com um sorriso calmo analisando aquele rosto pálido do homem. Nem havia percebido até aquele momento que era literalmente a primeira foto que ele havia do homem e realmente queria a guardar, pois mesmo que fosse uma a qual ele não tinha realmente posado para ela ou sequer soubesse de sua existência.

“Remédio tomado, banho também, estamos comendo besteira, falando idiotices e daqui a pouco vou colocar o bebê para dormir.” – Mandou mais uma estranhando a apenas visualização do rapaz e continuando a estar online, sabia que ele estava analisando a foto, o que a deixava ainda mais divertida. – “Sem preocupações, Moreninho.”

- Queres mais uma, Quatro Olhos? – Disse sem retirar os olhos da tela do computador, mas não era cego e tinha visto muito bem quando ela moveu o celular para tirar aquilo. – Quem sabe uma comigo te esganando?

“Ele está me ameaçando Eren, salve-me desse monstro!” – Mandou com um sorriso ainda mais divertido fugindo das mãos de Levi tentando pegar aquele aparelho maldito.

- Se vais dormir na mesma cama acho bom parar de fazer idiotice, nunca se sabe quando eu posso ter um surto e matar-te. 

“Vou dormir de conchinha com ele hoje! Morra de inveja!” – Mais uma mensagem tentando ver o lado ciumento do rapaz, mas este apenas estava rindo abertamente no sofá bem mais aliviado e nada com ciúmes daquilo, afinal aquele era o ‘Seu’ namorado e confiava naquela amizade estranha dos dois. – “Agarradinhos a noite inteira! Que delícia!”.

“Tu podes até ser aquela que dorme de conchinha com ele, mas quem chupa o pau dele sou eu.” – Afirmou com as bochechas totalmente vermelhas a ponto de gargalhar agradecendo que Isabel estava mesmo concentrada no programa e não reparando em suas expressões enquanto digitava, pois sabia bem que se visse ela iria querer ler e conseguir isso com tamanha facilidade por ser uma ótima manipuladora. Abriu a câmera apontando para a própria calça com seu dedo indicador. – “E quem me chupa é essa boquinha aí vermelhinha do teu lado, então podes ficar com os braços, pois o que eu quero é bem mais para baixo e tem acesso bem restrito o qual por agora é só MEU.”

“Droga, agora eu entendo o sentimento do Farlan quando perde uma discussão contigo…” – Mandou completamente divertida ignorando as reviradas de olhos de Levi completamente decepcionado por estar de fato lendo aquilo que ambos estavam conversando. – “É frustrante… Levi pediu-lhe para dizer que tu és gostoso e que está morrendo de saudades de ter embaixo dos cobertores.”

Eu sei que é mentira, pois esse insensível não falaria isso, mas o diga que estou com meu isqueiro aqui pronto para ação.” – Mais uma nova mensagem do garoto que fez Hanji franzir a testa confusa, pois era algo interno entre os dois, afinal aquele meio sorriso de Levi lhe respondia que ele tinha entendido bem o que aquela frase significava, mas não a falaria nem sob tortura. – “Ele vai entender bem o que significa.”

- Não vais dizer-me o que isso significa, não é? – Perguntou ainda mais curiosa para o melhor amigo que negou com a cabeça, fechou a tela do computador, amassou um dos muitos pacotes em cima de sua cama e direcionou com o braço levantado na direção da lixeira. – Odeio-te.

Pegou o computador com uma de suas mãos e o deixou no pequeno móvel ao lado da cama, desligou a luz e acabou por sentir logo a mulher se aconchegar ao seu lado. De certa forma a agradecia por não deixá-lo sozinho, mesmo que não fosse admitir isso. Não queria sentir-se sozinho naquele apartamento tão vazio, afinal quando Eren estava ali aquilo tudo ficava quente e um tanto aconchegante, quando seus pais passaram aqueles dias ali, mesmo dormindo em seu quarto e ele no sofá, sabia que era só abrir a porta e deitar entre eles caso precisasse daquele carinho, mas agora se não fosse Hanji ali aquela noite seria fria e provavelmente uma das noites que ficaria deitado encarando o teto do próprio quarto com a respiração descontrolada e um sentimento amargo no peito.

Acordar com um emaranhado de pernas e braços em cima do seu corpo era algo estranho, pois já estava acostumado a um corpo masculino daquela forma e não uma mulher descabelada com o cabelo completamente espalhado por cima de seu corpo. Empurrou-a de forma delicada e tomou seu banho, ao voltar a mulher encontrava-se totalmente esticada na cama pouco se importando com barulhos ou tempo que tinham. Acordou-a de forma delicada lhe gritando um: “Acorda Quatro Olhos!”, obviamente acordou em um susto quase caindo no chão, mas Levi sabia bem que faria isso, então já estava lá para segurá-la pelo pijama e não cair.

Banho tomado, café tomado e diversas palavras que Levi realmente não queria ter ouvido logo pela manhã.

Estacionar o veículo e ver justamente a pessoa que menos queria ver foi o suficiente para Levi morder os lábios, fechar seus punhos e cerrar a mandíbula com certa força repetindo para si mesmo que era apenas uma péssima coincidência. Hanji ao seu lado torcia igualmente, afinal não sabia se conseguiria controlar a boca e muito menos o próprio amigo de desfigurar aquele rosto barbado. Nile estava encostado em um carro comum, uma camisa social um tanto amassada de coloração branca, a calça negra da farda e um cigarro repousando na boca. Ambos teriam que passar por ele ou alguns poucos metros longe e foi isso que iriam fazer, mas ver aquele sorriso amarelo e totalmente sarcástico lhe dizia completamente que ele tinha vindo justamente para ver Levi.

- Ainda nenhuma morte? – Perguntou com um sorriso, mesmo que por dentro tivesse certo nervosismo, pois queria ver como ele reagiria e ter suas confirmações de que Isabel o tinha encontrado ou para sorte de seu destino algum animal naquela floresta a tinha devorado. – Vim com meus próprios olhos verificar.

- Me deixe em paz Nile. – Disse entre os dentes com os punhos completamente apertados realmente tentando com todas as suas forças lembrar do pedido tanto de Isabel como de Eren para não o agredir, pois a justiça deveria agir e Levi sabia bem que se falasse qualquer coisa a mulher ruiva poderia correr qualquer perigo e essa era mesmo a última coisa que queria em toda sua vida.

- Eu deveria mesmo conversar com o Reitor dessa merda para afastar o psicopata assassino desse lugar. – Mais uma tentativa de afirmar as suas suspeitas, mas viu aquele polegar rodear o anel prateado assim como das tantas vezes que acabou por ver quando citava de forma indireta ou direta sobre Isabel. – Imagino que nem devem saber o merdinha que contrataram… Tu és um perigo para os alunos! Surtado, nojento…

- Deixe-nos em paz. – Hanji repetiu colocando uma mão no ombro do amigo para que ele não acabasse por avançar no outro homem, e ela sabia bem que ele estava se segurando o máximo para não fazer isso. – O que vieste fazer aqui?! Pare de falar merda!

- Merda?! – Olhou negando com a cabeça deixando um estalar de sua língua sair completamente divertido. – A morte de Isabel não é uma merda, mas o Levi é, agora não há o Pixis para impedir qualquer coisa… Quero ver nosso psicopatinha de estimação agindo. – Aquele mesmo sorriso frio para tentar tirar aquele homem que encarava diretamente nos olhos com certa raiva enquanto rodava aquele anel. – Ou talvez quem sabe eu tenha que me vingar… – Apontou para a pistola no coldre da cintura onde sua arma repousava. As palavras de Grisha ainda repercutiam em sua cabeça, mas aquele não era realmente o momento para isso, afinal no meio de um estacionamento de uma Universidade não seria uma ideia muito esperta. – Acredito que até o Pixis vai me agradecer por ter finalizando contigo, sabe, ele tem tanta pena de ti… Se fosse possível até a Isabel teria...

- Não fale dela! – Disse entre os dentes ainda mais enraivecido, sabia que tinha que se controlar, mas era quase impossível não ter um ódio beirando ao assassino por aquele homem. – Não tens direito nenhum de falar dela!

- Não?! – Perguntou de forma irônica com um sorriso frio nos lábios analisando o homem com tamanho desdém. – Mas tu.. – Apontou para ele com seu cigarro. – O assassino dela podes falar abertamente?!

- Tu sabes que ele só apertou aquele gatilho! – Hanji interferiu apertando os dedos mais uma vez naquele ombro, mas não sabia por quanto tempo aguentaria aquilo. – Sabes que a morte dela nos machuca, pode parar de falar?! Puta que pariu!

- Cale a merda da boca puta insuportável! – Cuspiu as palavras na direção da mulher com uma expressão enojada, como se apenas receber uma palavra de Hanji em sua direção o desse ânsia. – Estou falando com o assassino e não a puta de esquina…

- Não me importo com que tu achas de mim, mas dela tu não falas. – Levi disse em um tom levemente ameaçador e nem a mão de Hanji em seu ombro o impediu de caminhar na direção dele e novamente aquela mão ir diretamente para o pescoço do policial, diferente da vez da Delegacia acabou por sentir uma arma em seu abdômen, mesmo assim não desviou seus olhos do homem que sorria ainda mais abertamente por ter conseguido aquele efeito em si. – Chame-me do que quiseres, mas da Isabel e da Hanji tu não falas! 

Mais um aperto e aquele dedo no gatilho em sua roupa, já esteve várias vezes com uma idêntica apontada para quase todas as partes de seu corpo e não seria aquela que o faria ter ‘medo’ ou qualquer outro sentimento e Nile sabia bem. 

- Atire, puxe a merda desse gatilho, tire a merda minha vida medíocre e vou agradecer-te imensamente, pois dessa forma a merda da culpa da morte dela vai parar de atormentar! Atire! – Levi pediu com a mandíbula cerrada olhando diretamente para aqueles olhos escuros apertando aquele pescoço com tanta raiva que sabia que alguns centímetros para o lado poderia muito bem desmaiar ele, mas não queria entrar naquele jogo de manipulação que sabia bem que ele estava fazendo. Apesar da raiva que sentia no momento outra coisa se sobressaía: A segurança de Isabel. – Vai! Faça o que tanto quer! Aperte a merda do gatilho que queres tanto! És um covarde, Nile?!

- E se a cena se repetisse para tu ficares ainda mais patético e fosse tu mesmo a me implorar para matar-te?! – Perguntou de forma irônica retirando o revólver do abdômen de Levi e com um sorriso como se estivesse se deliciando com aquilo direcionou para uma Hanji ainda com os dedos trêmulos, com os olhos arregalados, respiração desregulada parada sem ação nenhuma observando aquela cena e sem força para tentar tirar o amigo daquela situação. Levi engoliu em seco com o peito cada vez mais apertado, olhos arregalados, um gosto extremamente amargo na boca e literalmente sentindo os dedos tremerem por estar daquela forma de novo, respiração acelerada e completamente fora do ritmo pronto para uma nova crise de pânico e isso aumentava ainda mais o divertimento de Nile, pois aí estava a sua confirmação que Isabel de fato não o tinha reencontrado. – O peso da morte de Isabel e agora tua amiguinha de infância, tu suportarias Ackerman?!

- Abaixe essa arma Nile. – Pediu com a voz mais nervosa do que queria naquele momento, a boca mais seca do que um dia já tinha sentido e a mão perdendo certa força no pescoço dele. Vê-lo brincar com aquele gatilho foi o suficiente para Levi cerrar os olhos e com o resto de força que seu corpo tinha direcionar um soco bem dado naquele rosto, mesmo que seus dedos estivessem trêmulos com um real medo daquele gatilho ser apertado e de fato aquilo se repetisse, não iria suportar, afinal Isabel poderia estar viva naquele momento, mas aquele tiro ali seria certeiro em Hanji. – Abaixe essa merda!

Retirou com certa brutalidade aquela arma do homem que passava com a mão livre os dedos sobre os lábios que escorriam uma fina camada de sangue, o qual sabia bem que ele não tinha recebido um soco na íntegra, então sabia bem o quão quebrado e destruído o homem estava. Logo um dos policiais mais fortes da Corporação agora tinha se resumido a um homem que entrava em pânico ao ver a possibilidade de alguém morrer e Nile usaria aquilo ao seu favor. A mão trêmula com aquela arma jogou com certa dor ela dentro do carro do homem depois de retirar a munição e a colocar igualmente lá. Repetia para si mesmo que aquele sangue que seu cérebro insistia em mostrar em suas mãos não era real, que Isabel estava mesmo viva, mas era impossível não fechar os olhos e lembrar-se bem dela ‘morrendo’ em suas pernas.

Seja a falta do remédio ou a possibilidade daquilo acontecer novamente, tudo estava tão desconexo e sua cabeça latejava de dor, seu coração parecia que ia explodir a qualquer segundo com um sentimento frio e amargo em seu peito. Podia ouvir os pedidos quase implorando de Hanji para saírem dali o quanto antes, mas seus ouvidos não pareciam funcionar, pois seus batimentos estavam tão altos que ao menos escutava, apenas via os lábios bem avermelhados de Nile falando em sua direção alguma coisa que mesmo não ouvindo sabia bem, afinal tinha ouvido boas vezes essa mesma palavra sair da boca das mais variadas pessoas: Assassino.

Mais um soco que foi facilmente segurado pelo policial que estava mesmo satisfeito e não escondendo seu divertimento por ter o deixado daquela forma. Com a mão livre Levi direcionou mais alguns e Nile podia bem sentir o sangue tomando conta de seu rosto, pois a visão estava levemente embaçada e sabia que mesmo afetado daquela forma ele ainda era melhor que ele, então se fosse agir e seguir o ‘negócio’ com Grisha teria que o deixar bem afetado, pois realmente não teria chances nenhuma de o matar. Tentou até alguns socos, mas apenas um dos seus acabou por acertar aquele rosto fazendo um breve corte na altura da bochecha antes de ser puxado pela camisa e jogado no chão do estacionamento por Levi e sabia bem que receberia bons chutes e socos, mas Hanji segurou-o nos ombros quase implorando para que parasse com aquilo, pois não sabia se ficava mais assustada por ter visto aquela arma apontada em sua direção ou o estado quase em transe que ele tinha entrado.

- E tu ainda tentas me dizer que não é esse monstro psicopata?! – Nile perguntou ainda no chão cuspindo um pouco de sangue no asfalto deixando com que uma gargalhada rouca dos anos de cigarro saíssem de sua boca. – Me bater foi mais uma prova de que tu a mataste por diversão! Tu és tudo que falam de ti Ackerman, tudo!

Antes que o próprio Levi respondesse alguma coisa, se é que havia escutado algo, pois olhava o asfalto ainda com os olhos bem vermelhos e arregalados, mão trêmula fechada a ponto de suas unhas perfurarem aos poucos sua pele, suor frio levemente em seu rosto com uma respiração pesada, Hanji andou a passos decididos e uma das expressões mais assustadoras que qualquer um poderia ter visto naquele rosto tão divertido sempre, ergueu um pouco seu pé e sem nenhum aviso ou chance dele se afastar pisou exatamente no membro do homem que arregalou os olhos e no mesmo instante deu um grito de dor, mas não um grito alto e sim aqueles abafados demonstrando que nem tinha voz por tanta dor que sentia.

- Nunca mais ameace um amigo meu, pois eu posso parecer inofensiva, mas vou quebrar-te da pior forma que tu imaginares. – Hanji disse quase cuspindo as palavras ainda mantendo aquele pé apertando a pele do homem que sentia o pulmão totalmente sem oxigênio e os olhos lacrimejando. Aquele realmente tinha sido um belo dia para usar salto, ou triste, pela visão de Nile. Mesmo que a mão tenha ido diretamente para o tornozelo dela tentando o retirar não tinha força suficiente para a afastar. – Nunca mais fale da Isabel, nunca. Pois ela era uma pessoa muito boa e gentil para ser ‘defendida’ por alguém como tu! – Mais um aperto e um olhar sério para ele que afirmou com a cabeça completamente a contragosto apenas para que parasse de sentir aquela dor insuportável em todo seu corpo, seja no rosto bem machucado pelos socos do homem parado ao lado, as costas pelo impacto de seu corpo contra o chão ou seu membro completamente dolorido pelo ‘pisão’ que estava recebendo. – Nos deixe em paz! Tu sabes bem que a morte dela é dolorosa para nós dois, principalmente para o Levi, para de insistir nessa tecla! A deixe descansar em paz!

Não esperou nenhuma resposta, apenas segurou na mão de Levi sentindo aquele suor gelado em sua palma e o puxou para que saísse logo dali. Acabou por pisar nos dedos dele quando passou novamente pelo homem que tinha a mão um tanto esticada ao lado do corpo pouco se importando com a dor que ele possivelmente sentiria. Pegou a maleta que Levi havia deixado cair no chão quando foi o socar o homem que aos poucos sentava-se no chão sentindo uma breve vertigem se instalar sobre seu corpo, mas estava mais satisfeito do que qualquer pessoa em uma situação igual a que estava.

- Então a filha da puta fujona não apareceu para nenhum dos dois... – Concluiu com um sorriso satisfeito passando a mão novamente sobre os lábios para impedir que aquele sangue continuasse a escorrer, mas o corte tinha sido ligeiramente fundo. – Droga, mesmo surtado o bastardo ainda tem muita força e técnica, vou precisar fazer algo bem mais forte do que ameaçar alguém… Se bem que… – Sorriu consigo mesmo chegando a conclusão do que poderia fazer. Levantou-se passando a mão em seu rosto de forma ainda mais divertida vendo a palma ficar repleta pelo próprio sangue. – Há alguém que tu talvez não fique tão forte assim Levi se o ver morrendo na tua frente. O dinheiro eu já tenho Grisha, nada me impede de aumentar um pouco minha listinha...

Levi foi direcionado até a sala da mulher e para sorte dos dois ou quase isso ninguém acabou por ver a cena do estacionamento ou pelo corredor com o professor com um hematoma na bochecha e uma fina linha de sangue escorrendo. A mulher ainda sentia a mão bem trêmula completamente entrelaçada com força puxando Levi perguntando-se o motivo de Nile insistir em cravar uma faca naquela ferida de Levi, justo ele dentre tantos na delegacia. Não fazia sentido, pelo menos para a de óculos que o deixou sentado na cadeira que tinha em frente de sua mesa. 

Viu ele apoiar o rosto com suas duas mãos em seus joelhos com a respiração completamente desregular, sabia bem que os olhos estavam completamente fechados e estava novamente naquela crise que apenas o remédio fazia efeito. Ficou na frente dele e colocou suas duas mãos nas costas o abraçando contra seu corpo em uma tentativa de acalmá-lo, afinal não tinha nenhum remédio disponível ali e Eren possivelmente apenas chegaria em bons minutos.

- Eu nunca vou melhorar, Hanji… – Murmurou sentindo aquele carinho em suas costas, mas nada melhorava, se abrisse seus olhos podia ver o sangue de Isabel nas mãos, se fechasse os olhos sua mente vagava para o dia da ‘morte’ dela e também do revólver apontado para Hanji poucos segundos atrás. – Eu estou em pânico, eu não consigo respirar…

- Shh… – Pediu quase implorando sem saber exatamente o que fazer naquela situação, apenas queria abraçá-lo e retirar tudo aquilo de dentro dele. Não era idiota em não ver o quão destruído e abalado ele estava naquele momento, mesmo na noite anterior sem ninguém remexer naquelas feridas ele tinha entrado no banho com as roupas para afastar aquele frio e agora com essa nova ferida abrindo aos poucos sabia que teriam que ter o triplo de cuidado. – Estamos aqui juntos, estamos bem, eu gosto muito de ti Levi e vamos superar isso… Ela está bem…

- Mas pode não estar! – Disse desesperado deixando de apoiar seu rosto em suas mãos para encostá-lo na barriga da mulher e apertar aquele tecido da camisa dela nas costas com certa força em seus dedos. – Você pode não estar! Eu… Porra Hanji… Te coloquei em perigo por minha culpa...

Apoiou o rosto nos fios negros do cabelo bagunçado do amigo sentindo aquele aroma refrescante que gostava tanto. Machucava seu peito ver Levi daquela forma e sabia que se tivesse sido ela a encontrá-lo aquela noite que tentou ceifar sua própria vida não teria sido tão eficaz para impedi-lo como Eren tinha sido, pois iria travar e começar a chorar como estava querendo agora naquele momento. 

- Vamos pensar no agora. O que tu achas de ir comigo em um psic…

- Não vai adiantar merda nenhuma! – Cortou balançando a cabeça de forma negativa apertando ainda mais aqueles dedos no tecido da camisa como se aquilo fosse o suficiente para saber que ela estava mesmo ali. Sabia que aqueles ataques poderiam demorar horas, mas com aquele comprimido acabariam em segundos, justo aquele que fez tanta questão em dispensar por Eren. Queria que aquela dor em seu peito sumisse logo e só com ele sumiria, só não sabia se estava se referindo a Eren ou o comprimido, talvez os dois. – Eu sei que tenho problemas, afinal fui ao médico para que me receitassem essa merda de remédio… Mas meu problema não vai ser resolvido com conversas Hanji… O que alguém pode me falar para isso?! Mesmo que eu não a tenha matado, eu apertei o gatilho e a acertei, Hanji! Eu! Como achas que eu me sinto?! Ainda mais vendo-te hoje naquela mesma situação...

- Mas por que não tentas? – Insistiu sem ter outra opção, pois sabia que ele não faria isso e realmente magoava seu coração o ver daquela forma tão frágil.

- Porque eu sinto que deve haver uma outra maneira para superar isso, mas eu ainda não a encontrei… – Afirmou soltando as mãos da cintura da mulher, mas mantendo a testa apoiada em sua barriga. – Primeiro vou parar com esse vício, depois lutar contra essa ansiedade e pânico que me perseguem… E quando for apropriado enfiar uma bala no meio da testa do Nile.

Deixou um beijo em sua cabeça e acabou por se afastar do homem visivelmente mais calmo, apesar de ver aquele mesmo tremor na mão que havia tocado o revólver. Queria mesmo ignorar por completo a última frase, mas era impossível enquanto buscava seu kit de limpeza em uma de suas gavetas, afinal aquele pequeno corte deveria ser limpo, mesmo que agora já estivesse seco. Sabia que o corte em si foi feito por um pequeno anel áspero que Nile mantinha em um de seus dedos, pois aquele homem de fato não tinha assim tantas habilidades, o que deixava Hanji ainda mais preocupada por ver que ele poderia facilmente desviar aquele golpe se quisesse ou estivesse ‘bem’, o que não tinha sido o caso.

Pegou o pequeno recipiente onde guardava aquele tipo de coisa e colocou na mesa, apoiou-se e viu o olhar completamente negativo de Levi sobre ela fazer aquilo nele, afinal poderia bem fazer sozinho, mas a mulher realmente queria cuidar dele, pois precisava disso. Encostou-se na mesa, abriu o objeto e procurou calmamente um pequeno algodão com um antisséptico para limpar aquele sangue seco e não infeccionar.

- Não adianta me olhar dessa forma, pois eu vou limpar e fazer um curativo nessa merda! – Disse séria ao vê-lo desviar o rosto de sua primeira tentativa de colocar o algodão molhado na pele. – Sério Levi!

- Hanji… – Avisou-lhe dizendo que não deveria fazer isso, mas uma mulher focada, ainda mais uma mulher completamente brava por ter visto aquela situação era uma mulher que não receberia um 'não' até dos piores homens.

- Me deixa cuidar um bocadinho de tu. – Pediu com uma expressão dolorida para ele o suficiente para que acabasse por ficar sem ação e conseguisse com que sua mão chegasse no destino que queria. Colocou uma mão bem firme no queixo dele para que não ficasse se movendo e a outra passou de forma delicada sobre o pequeno corte no rosto de um homem completamente decepcionado por estar sendo tratado como uma criança. Hanji poderia bem rir da feição que ele estava fazendo, mas ainda não estava assim tão recuperada do susto. – Fique quietinho para a mãe cuidar-te.

- Ah Hanji, vai se foder! – Disse tom a expressão totalmente desgostosa pelas duas mãos da amiga passando aquele algodão sobre o pequeno corte, sabia que não estava assim tão ruim e não queria que ela continuasse a olhá-lo como se fosse o culpado daquilo em seu rosto que tomava tons vermelhos, amarelados e arroxeados. – Eu posso fazer isso sozinho!

- Se foder?! – Repetiu com uma voz totalmente brava por aquela reclamação, afinal se preocupar era o óbvio para o momento e seria uma péssima amiga se não estivesse daquela forma, afinal vê-lo daquela forma surtada por lembrar-se de Isabel, da arma apontada e depois aquela respiração irregular e até o abraço apertado que aceitou a deixava ainda mais preocupada com o melhor amigo. – Tu estavas com a merda de uma arma apontada e gritou para te matarem! – Disse com certo desespero, mãos trêmulas apertando ainda mais aquele algodão pouco se importando de estar extravasando sua raiva, nervosismo e medo em cima do melhor amigo. – Você é um irresponsável filho da puta! Deixe-me cuidar um pouco de ti seu idiota!

- Que só pensa na merda do próprio umbigo?! – Concordou em um tom interrogativo nada afetado pela crítica. – Sim, o Farlan já disse-me muitas vezes isso! Sério, pare com isso! – Tentou segurar o pulso dela para parar de tentar tratar o pequeno machucado, afinal poderia bem fazer aquilo sozinho. – Puta que pariu Hanji! É só um cortezinho!

- Tu se importa mais com a vida dos teus amigos, mas para tua estás pouco se fodendo?! – Perguntou desacreditada na direção do homem com certa dor na voz por vê-lo tratar sua vida daquela forma como se fosse algo descartável, afinal uma tentativa de suicídio já existia em sua vida e toda vez que olhava para aquela mão e cicatriz acabava por lembrar da ligação de Eren lhe dizendo sobre a tentativa de tomar os remédios, do revólver que escondeu em uma caixa de sapatos em cima de seu guarda-roupa e do soco no espelho que ele tinha dado por alguma razão. – Pensou como eu me senti ao ouvir aquilo?! O quão péssima eu fiquei ao ouvir que tu querias mesmo que aquele filho da puta apertasse o gatilho em ti?! Como achas que eu ficaria? Tua mãe? Teu pai? O Moreno?!

Erwin parou em frente a porta encostada da sala da namorada ouvindo o primeiro “Vai se foder!”, não sabia se de fato entrava ou os deixava sozinhos, mas depois de ouvir sobre a possibilidade de tiro e o possível machucado de Levi acabou por abrir a porta meio incerto e o viu sentado lá tentando estapear a amiga que estava completamente séria e bem desgostosa por aquilo. De fato o machucado não era assim tão preocupante, mas para alguém que exalava seriedade e que Erwin sabia indiretamente que era bom de luta, então aquilo era assustador, pois temia mesmo pela vida daquele que conseguiu fazer isso no professor de cabelos negros, ainda mais por ver a mão direita dele bem vermelha como se tivesse socado bons sacos de ossos pela manhã.

- Eu me preocupo contigo seu filho da puta idiota! – Disse mais irritada do que tencionava sem nem perceber o loiro parado boquiaberto tentando entender a situação por completo. – Como achas que eu ficaria se visse ele de fato atirasse em ti?! Nem pensaste nisso?!

- Tu achas mesmo que aquele covarde teria coragem?!  

Parou de tentar impedi-la, afinal entendia que era apenas nervosismo e seu instinto de proteção agindo. Compreendia que estava realmente péssimo psicologicamente também, então nem poderia deixá-la menos preocupada dizendo que estava bem e ouvir sobre seus pais e Eren não o deixava menos com um sentimento amargo na boca por estar novamente desistindo de sua própria vida dessa forma tão simples sem nem se importar com os outros. 

- Ele queria testar-me! Veio atrás por causa da… – Mordeu sua própria língua ao ver a companhia boquiaberta de Erwin ainda sem palavras. Não poderia falar de Isabel, mesmo que para o loiro, afinal era um assunto particular deles e mesmo confiando nele, não poderia arriscar contar a muitas pessoas e acabar por perder a ruiva novamente. – Tu sabes bem… E ele quase conseguiu depois de eu ver aquele revólver… Não sabe o quanto me segurei para não quebrar aquela cara, mas…

“Mas meu psicológico está tão fodido que foi só te ver na mira dele que surtei e não tive reação, foi como se meu corpo perdesse a razão e novamente aquele sangue, aquele aperto no peito e nos pulmões voltassem.” – Completou com um gosto extremamente amargo na boca por aquilo, não queria falar, mas sabia que nem precisava, pois já era o segundo surto que Hanji tinha visto em menos de vinte e quatro horas. Sabia que nada que dissesse faria ela ficar menos preocupada. – “Eu quase não consegui te proteger porque sou surtado Hanji, tu deverias seguir os conselhos de todos e realmente se afastar de mim antes que se machuque.”

- E se tivesse coragem?! – Hanji sentou-se na mesa respirando fundo, balançou a cabeça de forma negativa pegando uma pequena fita para colocar sobre aquele corte e acabou por colocar no rosto do amigo. Vê-lo não se importar consigo mesmo daquela forma era ainda mais doloroso. – Não deverias arriscar a merda da tua vida como se fosse algo descartável!

- E tu estavas absurdamente apavorada quando voltou-se para ti, não é?! – Perguntou nem se dando conta de quão agressivo tinha sido, mas queria mesmo gritar com toda a força que restava em seu corpo de que não se importava consigo mesmo desde que seus amigos e família ficassem bem, pois para Levi já tinha finalizado aquilo há um bom tempo.

- Achas mesmo que não?! – Perguntou sentindo os olhos um pouco úmidos por raiva, medo, dor de o ver naquele estado e outras mistos de sentimentos que até então tinha conseguido guardar no peito, afinal com Levi daquela forma pouco se importava em surtar consigo mesmo, pois queria manter o abraço e tentar tirá-lo daquele ataque. – Mas eu me importo com a merda da minha vida! Eu travei, eu não conseguia reagir, mas não por mim e sim por ouvir-te falando daquela forma!

- Desculpe-me Han… – Pediu levando a mão bem avermelhada pela quantia de socos que tinha direcionado no rosto de Nile na coxa da mulher. 

Erwin realmente queria fazer boas perguntas, mas manteve-se em completo silêncio sem entender e manifestar-se, pois o estado caótico dos dois lhe dizia que algo tinha acontecido e ouvir o pedido de desculpas daquele que parecia nem saber falar aquela palavra era mais um motivo para o loiro ficar completamente calado e esperar o momento certo. 

- Desculpe-me por ser esse babaca, mas entre levar um tiro ou tu levar um tiro sabes bem qual eu escolheria sem nem pensar… 

Levantou-se da cadeira e novamente colocou aqueles braços em torno da cintura da mulher, mas agora quem estava confortando quem era Levi e não Hanji. 

- Muito obrigado por se importar. – Murmurou próximo de seu ouvido sentindo algumas boas lágrimas molharem sua camisa social, mas pouco se importava com a limpeza naquele instante, pois tinha prioridades bem mais importantes naquele momento e se fosse sentir sua cintura ser apertada por uma Hanji chorando, aquilo seria sua prioridade até que ela se acalmasse. – Mas eu realmente não suportaria perder-te, não queria que aquilo acontecesse novamente, não suportaria… 

Obviamente sentir uma respiração agitada de quem estava gargalhando não fosse a coisa que esperava tão cedo, mas ficava feliz que estivesse ouvindo aquilo novamente, pois de traumatizado já chegava ele naquela amizade estranha. 

- Estás louca igual eu ou ainda não?

- Eu acabei de perceber que estou de salto. – Afirmou gargalhando e Levi afastou-se alguns centímetros de seu corpo, mas não finalizando aquele ‘abraço’, olhou interrogativo e logo um sorriso pequeno surgiu nos lábios dele balançando a cabeça de forma negativa por estar ouvindo aquilo da mesma boca surtada de poucos segundos atrás, preferia ela assim. – Ovos mexidos!

- Tch.. – Murmurou antes de deixar um beijo em sua testa e sentir mais um abraço apertado em torno de seu corpo querendo lhe mostrar igualmente que estava ali e bem, ou quase isso, pois não sabia sentir mais aquilo por inteiro. – Fiquei orgulhoso de ti… Foi uma boa pisada.

Erwin ainda em silêncio tentava não se manter boquiaberto, seja pelas palavras envolvendo perigo de vida, revólver, as demonstrações de carinho de alguém que julgava ser impossível um dia ver ou aquele sorriso pequeno nos lábios de Levi. Não sabia exatamente que expressão fazia ou que pergunta faria antes.

- Não estava aproveitando-me da tua namorada. – Levi lhe disse com certo divertimento, afinal a tinha abraçado algumas boas vezes em um curto espaço de tempo e até a tinha lhe dado um beijo na testa, coisas que nunca tinham sido vistas pelo loiro até então. Mas essa não era a preocupação ou tópico principal para o loiro, pois pouco se importava com os abraços ou palavras ‘amorosas’ trocada entre os dois, afinal sabia bem que aquilo era um irmandade e não era o momento certo para ter ciúmes. – Pode se tranquilizar.

- Se bem que dormimos agarradinhos ontem a noite. – Hanji falou com um sorriso arrumando os óculos no nariz e viu as sobrancelhas de Erwin se arquearem ainda mais. – Mas não se preocupe, pois dormimos vestidos e eu acabei por abraçá-lo quando ele já estava dormindo e só percebeu pela manhã, apesar de ter minhas dúvidas, afinal aquelas mãos na minha cintura o trazendo para cima do corpo dele foram um tanto suspeitas…

- Acabei por pegar como costume com uma outra pessoa que é manhosa igual tu. – Admitiu com um meio sorriso passando a mão pelos fios negros que sabia que estavam bem bagunçados. Sentia-se sujo e precisava mesmo de um banho ou uma dose matinal de Eren lhe beijando, ou talvez um Eren sem roupas o beijando durante um banho. Se Hanji estava rindo pela ‘declaração’ sobre Eren, Erwin estava boquiaberto entendendo menos ainda. – Apesar de que quando não babou no meu pescoço eu deveria ter percebido que não era essa pessoa em questão.

- Ele baba? – Hanji perguntou divertida limpando o óculo na camisa. – Nunca imaginaria...

- Na realidade fica falando coisas sem sentido, então acaba por babar, mas não é um problema. – Esclareceu com um pequeno sorriso de canto deixando Erwin ainda mais confuso sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo ali. – É um tanto.. Fofo? Não sei...

- Calma. – Erwin pediu levantando as duas mãos tentando digerir tudo aquilo. – Primeiro. – Levantou um de seus dedos para os dois identificando a pergunta. – Que merda de revólver estavam apontando para quem?! Segundo… – Outro dedo e os olhos azuis intercalando para os dois ainda completamente chocado por estarem poucos minutos brigando e agora rindo, se havia perigo aquele não era mesmo o momento de rir. Erwin achava aquilo absurdo. – Por que diabos tu estás machucado e com a cara de que brigou com alguém? Isso tem envolvimento com o revólver? Foi um assalto? Vocês estão bem?!

- Opa, calma você. – Levi lhe disse com a palma de uma de suas mãos levantadas na direção do loiro para que parasse de despejar diversas perguntas da forma como estava fazendo. – Basicamente um antigo colega de trabalho que não gosta de mim e faz questão de trazer a tona certas coisas que me fazem mal acabou por nos encontrar no estacionamento.. Então meio que ele estava armado, afinal é a merda de um policial, corrupto e um filho da puta? Sim, mas ainda sim um policial… Porém hoje sem a farda completa, então um cidadão comum.

- Isso explica a mão machucada, o rosto e também o revólver, mas prefiro que tu não saibas todos os detalhes sobre essa parte. – Hanji interrompeu completando aquilo, afinal sabia bem que Erwin estaria com mil perguntas naquela cabeça e boa parte delas seria direcionadas no fato de Levi ‘querer’ o tiro em si. Não queria mentir e muito menos ver aquele olhar baixo do amigo por ouvir aquilo na boca de outra pessoa.

- Certo. – Confirmou sentando-se na outra cadeira próxima de Levi tentando digerir tudo aquilo que ouviu. – Tu eras um policial como alguns alunos acabaram por falar e um dos teus antigos colegas quer te matar?

- Sim. – Respondeu normalmente sem entender aquelas sobrancelhas loiras se arqueando como se ouvir aquilo saindo de sua boca tão naturalmente fosse absurdo demais e era, mas Levi não estava assim tão bem para realmente começar a pensar bem nas palavras que dizia. – Há muitas coisas que tu não sabes sobre mim e sei que deves estar me julgando aí na tua cabeça, não vou julgar-te por isso, afinal passei bons meses da minha vida fazendo o mesmo, mas a única coisa que eu quero até o fim é proteger meus amigos, principalmente a Hanji… Posso a tratar mal todos os dias, mas até gosto um pouco dela…

- Tu me amas, Levizinho. – Hanji lhe disse com um sorriso direcionando uma piscada e fazendo um coração com as duas mãos que foram sabiamente ignorados por Levi.

- Posso fazer uma única pergunta? – Olhou para Levi que acabou por afirmar com a cabeça, afinal de fato Erwin 'merecia' pelo menos um pouco de esclarecimento. – Por que tu foste afastado?

- Pelo motivo que meu queridíssimo amigo vem insistindo em lembrar-me todas as vezes que nos encontramos e me culpando… – Disse com um olhar meio cabisbaixo rodando aquele mesmo anel cinzento com os dedos. Não era a mesma dor de dias atrás falar sobre esse assunto, mas depois de ver Hanji naquela situação a dor, mágoa e aperto no peito era bem parecida, mas agora tinha outro sentimento incluso, pois Levi estava assustado como nunca antes sentiu-se. – Em uma missão acabei por errar um tiro e acertei minha amiga, meu único erro, mas persegue-me até hoje e como podes ver… É algo complicado que eu realmente não gosto de falar sobre…

Erwin confirmou com a cabeça não insistindo em aprofundar um assunto daqueles, pois era evidente um semblante de dor naquele homem sempre tão inexpressivo. Estranhamente confiava o suficiente para saber que ele não havia feito com intenções e sofria até hoje com aquilo, mesmo que não soubesse uma nova parte dessa história, que a amiga em questão estava viva. Sentia agora a raiva de Levi partilhada pelo homem fardado que apontou uma arma para ele e para a mulher, afinal um erro não deveria ser julgado assim dessa forma tão forte, agressiva e cheia de mágoa.

- O restante que tu achares necessário o conte Han, eu vou… – Coçou sua nuca ainda incerto, pois de fato não sabia exatamente onde iria, só queria e precisava de ar ou talvez um tempo sozinho sem toda aquela áurea. – É… Dar um tempo…

- Tens certeza? – Perguntou preocupada na direção dele, pois sabia que mesmo aparentemente 'normal', ele estava longe de estar mesmo dessa forma. – Fica comigo, sei que tu precisas...

- Eu acho que sei um remédio mais eficaz para… – Começou por dizer pegando o celular com uma de suas mãos ainda sentindo certo tremor, mas aquilo era quase só percebido por si mesmo. – Essa bagunça.

- Logo alguém tão bagunceiro? – Mais uma pergunta, mas bem mais divertida com um sorriso aumentando gradativamente na direção do amigo que afirmou com a cabeça mordendo os lábios. Erwin por sua vez tentava entender aquelas meias palavras completamente confuso se perguntando quem era essa pessoa responsável por ajudá-lo a ficar menos daquela forma ausente e séria que estava. – É bem contraditório…

- A minha vida é cheia de contradições… – Afirmou segurando com certa força vendo as diversas mensagens de ‘bom dia’ que acabou por não responder do moreno. – Acho que preciso de um isqueiro agora…

Erwin após vê-lo fechar a porta olhou confuso com uma sobrancelha arqueada esperando a explicação dessas últimas frases, principalmente e literalmente a última que Levi os disse.

- Ele fuma? – Acabou por perguntar sentindo a mulher o abraçar com certa força demonstrando realmente o quão mal estava, apesar de ter suportado boa parte de seus medos, inseguranças e tantos receios na frente de Levi.

- Não. – Negou com um sorriso pequeno deixando Erwin ainda mais confuso. – Agora calado e me abrace.

“Ei Pirralho, tu já estás na Universidade?” – Mandou encostado na parede totalmente concentrado naquela troca de mensagens pouco se importando com a leve dor que sentiu nos ossos de sua mão e se perguntava o quão machucado Nile tinha ficado, pois não tinha usado nem 40% da força ou habilidade que poderia ter usado. – “Meio que queria te ver.

“Estou aqui na biblioteca naquelas salas reservadas com os rapazes estudando, por?” – Respondeu quase de imediato estranhando por completo uma mensagem daquela justamente de alguém que frisava a cada três mensagens o quão importante era a discrição para manter aquele relacionamento.

“Posso ir aí?” – Uma nova pergunta e nenhuma resposta, isso realmente estava deixando Eren preocupado. – “Qual é o número da sala?”

“Quatro. Pode vir, eu acho.” – Respondeu e logo viu o sorriso malicioso surgir no loiro ao lado que novamente estava invadindo sua privacidade ao ler as mensagens sem que devesse. – “Mas vai ter que me explicar o motivo disso.”

- Agora é o momento que tu nos pede para ficarem sozinhos, pois tu vais ficar na mesma posição que o número dessa sala? – Armin perguntou divertido, mas Eren não estava partilhando a mesma diversão que os outros três que riam abertamente pensando ver as bochechas vermelhas do rapaz moreno e não um semblante sério daquele. – Aconteceu alguma coisa?

- Ele está estranho. – Afirmou e logo lançou um olhar estreito para Jean, pois sabia bem que ele falaria um: “Ele é estranho Eren!”, o qual optou por se manter em silêncio quanto a isso, pois viu que a situação não era assim tanto para piadas.

Armin acabou por sair do lado de Eren e sentar-se ao lado dos outros dois amigos, afinal não queria mesmo dar motivo depois daquele beijo trocado com o moreno.

Poucos minutos depois da troca de mensagens acabou por ouvir uma batida na porta e um Levi entrando, mas não foi bem seu semblante que o chamou atenção e sim o pequeno curativo feito em seu rosto, onde em sua volta estava um tanto vermelho e roxo. Os cabelos negros que sempre estavam tão alinhados dessa vez estavam ligeiramente bagunçados, ainda bem atraentes ou quem sabe até mais. A calça social ainda bem arrumada em seu corpo de maneira minuciosa, mas a camisa de botões levemente amassada como se alguém tivesse lhe apertado algumas boas vezes, e a possibilidade de abraços nem passava pela cabeça de Eren e sim uma boa briga.

- O que fizeste nesse rosto? – Perguntou deixando os papéis totalmente de lado adotando um tom totalmente autoritário que ninguém ali esperava que Eren tivesse coragem de usar com alguém como Levi. – Levi...

- Ahn… – Mordeu os lábios meio incerto de como falaria algo daquele tipo, fechou a porta atrás de si ignorando os olhares divertidos dos colegas do namorado em sua direção e continuou a caminhar até onde Eren estava. – Meio que encontrei um colega hoje..

- Meio que a mão dele encontrou seu rosto, não é?! – Corrigiu e logo pegou com certa força a mão dele bem avermelhada e um tanto machucada pelos socos possíveis que tinha dado igualmente mantendo o seu semblante ainda mais desacreditado por aquilo. Óbvio que a ideia de Levi ter apanhado era um impossível, então já deveria ter admitido que uma das mãos estaria naquele estado. – Meio que tu também aparentemente tenha dado socos nele… Vais começar a me explicar quando?!

Berth e Jean se entreolharam com uma fala mútua silenciosa realmente temendo a vida do amigo: “Puta que pariu Eren, cale a boca! Esse homem vai te matar se tu continuares a pensar que manda nele assim!”, já Armin não conseguia nem esconder seu divertimento por ver o professor daquela forma.

Ao contrário do que os dois imaginaram a agressão e nenhuma palavra ríspida acabou por chegar e sim um Levi abaixando-se até a altura do ouvido de Eren e sussurrando algo apenas para que ele ouvisse.

Nile. – Uma única palavra foi capaz dele deixar a expressão enraivecida e tomar um real medo e preocupação, pois lembrava-se bem de Isabel falando sobre o assunto com tanto medo e raiva incluso. – Mas ainda acha que eu não sei sobre o Israel.  

Puxou a cadeira do lado do rapaz mantendo aquela mão dele na sua sentindo um breve carinho em seus dedos, com a mão livre acabou por abrir dois botões da camisa social apoiando-se melhor naquela cadeira bem mais tranquilo do que o habitual, fato esse que chamou atenção dos três a frente realmente vendo onde Eren sempre via aquela ‘simpatia’ dele, pois estava bem mais relaxado do que o habitual nas aulas, seja pela camisa um tanto aberta ou pelo aspecto mais desleixado que a briga acabou por deixá-lo. Acabou por deixar um breve selinho naqueles lábios ignorando por completo os três pares de olhos atentos sobre si deixando Eren com as bochechas completamente vermelhas surpreso, afinal tinha sido o primeiro "beijo" com alguém os olhando, dado que precisavam ser discretos sempre.  

- Na realidade senti até um pouco de dó dele depois…

“Meus Deus! Eles se beijaram, vocês viram?!” – Era isso que o olhar trocado entre Jean e Berth dizia enquanto o de Armin era algo mais parecido como: “Que delícia de se ver.”.

- Dó?! Daquele filho da puta?! – Perguntou desacreditado na direção do namorado com uma expressão completamente chocada, os outros não estavam entendendo bem de quem ambos estavam falando, mas pela feição deles não era uma pessoa agradável, afinal se fosse não teria recebido socos e agredido o homem de cabelos negros. Eren franziu a testa ainda mais confuso ao vê-lo com a mão livre deixar um determinado espaço entre eles mostrando alguma coisa, mas nenhum deles entendeu aquele gesto. – O que isso significa?

- Tu já viste o tamanho do salto que a Hanji usa vez ou outra? – Perguntou com um pequeno sorriso dolorido apontando para baixo e balançando a cabeça de forma negativa imaginando o quão doloroso tinha sido aquilo. Enquanto Eren abria um sorriso divertido entendendo a dor que Nile sentiu os outros três encaravam aquela conversa boquiabertos pela diferença de personalidade do homem à sua frente que estava inclusive rindo, algo absurdo para eles. – Deve estar sentindo a dor até agora… Ainda bem que a Hanji nunca de fato ficou brava comigo, pois.. Credo...

- Pode me explicar como tudo isso aconteceu? – Mais uma pergunta rindo e apertando aquela mão com certo carinho, pois conseguia ver certa vermelhidão por cima daquelas cicatrizes bem mal fechadas ainda do corte no espelho. – Tu não chegarias batendo nele.

“Ah, mas chegaria sim Eren!” – Jean lhe disse por pensamento, afinal não falaria aquilo em voz alta para que Levi escutasse e lhe mostrasse que poderia mesmo bater nele. – “Não seja inocente Eren! Ele bateria até na própria família!”

- Bem, como sabes a Hanji dormiu comigo ontem a noite... – Começou por dizer e viu os três arregalarem os olhos, pois levaram isso ao pé da letra, mas a única pessoa que precisava que entendesse era Eren e isso que importava para ele. – Então acabei por receber uma carona dela e o encontramos no estacionamento… Então falou merda, eu me irritei, tentei o enfocar, senti um revólver no meu abdômen, troquei socos e até aí tudo bem… 

Novamente os olhares arregalados se perguntando onde estaria o ‘bem’ disso tudo, pois logo no primeira fala sobre o enforcamento que ele tinha feito no homem já estavam assustados, e esse susto aumentava ao ver Eren afirmar com a cabeça para que continuasse. 

- Depois apontou para Hanji e eu meio que o joguei com certo carinho no asfalto, então ela acabou por como ela mesmo disse-me depois… “Ovos mexidos”... E cá estamos nós com um curativo ridículo por falta de atenção e… 

Eren levou a mão livre até o rosto dele passando de forma delicada como se quisesse verificar ele mesmo a situação, o que aumentava totalmente o divertimento deles. 

- Saí do modo mãe pirralho, sério. Foi só desatenção, pois aquele bastardo nunca teria chances...

- Como que tu queres que eu não entre nesse modo ao ver-te saindo aos socos justamente com aquele que pedimos-te para não sair?! – Perguntou com a testa franzida continuando a passar o polegar sobre aquela mão de forma carinhosa. Eren queria ter ignorado ou não percebido o leve tremor nela quando a sentiu contra as suas, mas agora era tarde demais e sabia bem que ele não estava assim tão bem quanto queriam que acreditassem.

- Se eu não tivesse o batido daquela forma talvez ele tivesse certeza que eu sei. – Afirmou de forma calma. – Talvez desde o tempo que éramos colegas nós tivéssemos nossas pequenas conversas…

- Terceira Lei? – Perguntou com um sorriso e viu uma afirmação com um movimento positivo vir da cabeça dele. Nenhum dos três entendeu exatamente que Lei estavam falando, mas o casal em si sabia bem. – Espero que tenha batido bem no rosto dele pelo menos… Mesmo que tenha sido um empate.

“Pronto, incentive-o Eren!” – Jean pensou decepcionado e um pouco assustado com o amigo. - "Vais ser coautor de um assassinato! Seu idiota!"

- Não tanto quanto merecia, mas da próxima vez que eu estiver sozinho talvez. – Afirmou sério, afinal com Hanji perto ou qualquer outro amigo não teria forças de os proteger e sabia bem disso, então teria que o encontrar sozinho. 

Pegou um dos papéis que o rapaz estava escrevendo tão concentrado até então e reconheceu bem o tema, afinal era justamente aquele que tinha ordenado que fizessem. 

- Tch, três erros de português, refaz essa merda pirralho. – Disse sério analisando de forma crítica o papel balançando a cabeça de forma bem negativa e desgostosa por estar lendo aquilo. Eren boquiaberto pelo julgamento não sabia se ria ou ficava chateado, já seus amigos sabiam bem, pois estavam rindo abertamente dele e aquela reviravolta toda de assunto. – Vou ficar imensamente feliz em riscar um grandíssimo zero para ti.

- Eu estou na faculdade, não no primário para ser julgado por erros de português! – Tentou pegar aqueles papéis, mas apenas sentiu uma mão aberta em seu rosto tampando ele por completo enquanto com a outra mão Levi riscava boas partes do papel com um semblante crítico. – Pare com isso! – Pediu ainda tentando retirar aquela mão de seu rosto, se perguntando se era realmente o ‘pirralho’ da relação, pois aquela atitude não era minimamente adulta. – Tu não deverias me dar nota invés de estragar meu trabalho para tirá-las?!

- ‘Deverias’? – Repetiu com uma sobrancelha arqueada retirando a mão do rosto dele, afinal acabou por sentir uma língua passar por ela e estava bem decepcionado por isso. Secou-a no tecido da camiseta de Eren nada incomodado. – Achas que eu comprei a merda do meu diploma?! E te darias notas por qual motivo? – Apontou para uma parte da folha fazendo um belíssimo ‘X’ em um dos parágrafos. – Retire isso aqui, e não coloque informações falsas, pois o zero vem fácil para ti. Mais fácil que para os outros alunos.

Eren estava chocado pela quantia de rabiscos para arrumar seu texto tinha em quase todas as linhas, não poderia deixar alguém destruir seu trabalho em alguns poucos segundos, afinal tinha sido bem difícil escrever.

- Tu és um idiota! 

Novamente os três estreitaram os olhos esperando a agressão que Eren receberia por chamar aquele homem por aquela palavra realmente temendo pela vida dele, mas a agressão não veio.

- Eu sei que não sou, então essa palavra não me afeta minimamente. – Respondeu dando de ombros contrariando tudo que os outros três imaginaram que ele falaria. – Já tu sabes bem que é um.

- Poderia dar uma olhada no nosso.. – Armin sugeriu de forma inocente e recebeu um par de olhos cinzentos em sua direção. – Já que está aqui e…

Arqueou uma sobrancelha crítica para o loiro esperando que fosse uma grande piada, mas parecia sério demais.

- Tch, acham que eu sou o que? 

- O professor. – Eren lhe respondeu ao lado com um sorriso ainda mais divertido. – Deveria mesmo fazer isso, cara.

- Tch, droga, infelizmente eu sou.

A contragosto concordou pegando uma das canetas do rapaz e com a outra mão fez um movimento para que entregasse as folhas.

 Armin sorriu extremamente satisfeito enquanto os outros dois estavam boquiabertos de estarem mesmo vendo isso com seus próprios olhos. Eren orgulhoso de ter conseguido aquilo apenas encostou sua bochecha no ombro dele olhando a folha esperando que a corrigisse. Levi não o afastou, afinal precisava sentir ele ali, pois era para isso que tinha vindo até ele, já os três estavam com uma coisa rondando a própria mente: "Eles são mais melosos do que eu imaginei que seriam!"

- É assim que tu deverias fazer, deveria se inspirar mais nele e não beijá-lo. – Disse na direção de Eren com uma voz um tanto crítica e recebeu um belíssimo beliscão na altura das costelas por estar sendo julgado novamente, ignorou a agressão, menos os amigos que não sabiam como reagir perante a aquilo tudo. – Sabes que é verdade, não adianta ficar me batendo quando eu estou certo e tu estás errado, pois confirma-me ainda mais que estou certo.

- Quanto eu tiraria? – Armin perguntou curioso e um tanto divertido por vê-los daquela forma tão íntima e de certa forma carinhosa. Claro que ouvir um ‘elogio’ do homem também lhe aqueceu um pouco o coração, afinal nunca tinha ouvido um dele para ninguém antes e sentia-se especial.

- Quatro ou cinco. – Respondeu e aos poucos a boca do loiro foi abrindo chocado por uma nota tão baixa. – Tens uma boa dialética, porém colocaste tua opinião pessoal demais no meio. Retire-a e a possibilidade de receber a nota na íntegra torna-se alta. – Olhou interrogativo para os outros dois se eles iriam fazer o mesmo e o mais corajoso foi Berth, afinal Jean ainda estava incerto se deveria mesmo fazer aquilo. – Certo, é agora que eu agradeço que os trabalhos vão ser digitados e impressos quando me entregarem, puta que pariu, tua letra é horrível rapaz!

- Sem críticas sobre ela. – O moreno pediu com um sorriso ainda mais divertido por ouvir algo sobre ela, afinal como trabalhava com certa rapidez anotando coisas no balcão vez ou outra como os pedidos, a letra aos poucos virou praticamente um rabisco rápido e corrido. – Por favor, magoa-me um pouco.

- Refratário? – Perguntou quase a si mesmo fazendo um risco sob uma palavra qualquer dentre muitas com a testa franzida.

- Relatório. – Eren corrigiu com um sorriso divertido sentindo aquele aroma amadeirado de seu perfume, a maciez daquela camisa e o calor que só o namorado tinha. Uma de suas mãos continuava na coxa do homem passando certo carinho para ele, pois sentia que ele precisava disso e era isso que tinha vindo para ter, mas obviamente não falaria com palavras aquilo. – Não estava assim tão difícil… Ou eu que estou acostumado com ela a ponto de saber traduzir… Nunca saberemos.

- Ah, faz bem mais sentido... – Concordou riscando a mesma com a caneta. Mais alguns muitos franzimentos de testa, sobrancelhas arqueadas, alguns bons riscos com aquela mesma caneta de tinta escura sobre algo e até algumas escritas do que poderia melhorar ali. – Não está péssimo, está beirando ao ruim, mas tu podes melhorar isso com algumas boas referências e bem… Talvez eu esteja o julgando por coisas a mais, mas daria-te um seis nessas circunstâncias, tu arrumando pode ser um pouco mais.

- Beirando ao ruim é bom. – Berth concordou com um sorriso perguntando-se essas coisas a mais que estava sendo julgado era por culpa de um moreno de olhos verdes tê-lo chamado de delícia ou não. – Muito bom… Principalmente por não ter muito tempo para fazê-los, afinal trabalho e sempre estou tão cansado...

- Se está tentando que eu fique com dó de ti isso é impossível, desiste. – Levi o cortou com um semblante sério nada afetado pelas palavras ‘tristes’ que o moreno estava lhe dizendo.

- Não custava tentar. – Berth deu de ombros ainda mais divertido por saber que ‘dó’ e aquele homem nunca deveriam ter se encontrado mesmo.

- Certo, vou entregar o meu, mas saiba que ele é apenas o rascunho.. – Jean lhe disse meio incerto pegando a folha em mãos e direcionando a Levi.

- É óbvio que vai essa merda vai ser o rascunho, pois provavelmente vai estar igualmente errado. – Disse dando de ombros e novamente um aperto em sua perna por um Eren decepcionado. Virou seu rosto para o garoto de cabelos rebeldes sem entender. – O que foi? Até o nerd ali não fez exatamente o que eu queria, tu achas que o que dorme nas minhas aulas vai?! Não seja ainda mais idiota, pirralho.

- Eu não durmo nas tuas aulas. – Jean negou mordendo os lábios para não sorrir, pois dormia sim em algumas.

- Tu descansas os olhos então, o que é a mesma coisa. – Revirou os seus por ouvir uma falsa negação de algo óbvio a todos. – Sério, quem foram os professores do primário que liberaram vocês dois sem aulas de caligrafia?! – Olhou para Berth e Jean totalmente crítico que deram de ombros novamente por estarem ouvindo críticas de alguém que tinha uma letra bonita com literalmente as duas mãos. – Parece que escreveram com os pés e não com as mãos. Credo… – Mais uma negação com a cabeça e um sorriso envergonhado dos dois enquanto Armin e Eren riam abertamente, pois já tinham falado boas vezes sobre a letra deles e agora alguém como Levi estar reclamando igualmente era divertido. – Esse aqui é um daqueles que tu não deve se inspirar em circunstância nenhuma, pirralho...

- Pode ser menos crítico? – Eren lhe perguntou movendo o rosto para olhá-lo e viu com certo divertimento uma negação. – Eu tentei cara de cavalo... 

Jean olhou ainda mais decepcionado por ouvir aquele apelido. 

- Estou de mãos atadas.

- Os parágrafos estão bem desconexos uns com os outros, mas se tu retirares esses dois parágrafos do meio e… – Começou por dizer e interrompeu-se novamente por sentir o celular vibrar, largou a caneta na mesa e o retirou do bolso com um semblante crítico por ver o nome na tela. – Alguém já fofocou para o Superior, que infantilidade…

- O tal Pixis? – Eren lhe perguntou por ver que de fato iria sair da biblioteca, pois precisava atender aquilo. Entregou a folha para Jean que não sabia se agradecia essa ligação ou ficava chateado por não saber a nota que receberia, mas já admitia em pensamento que seria bem baixa. – Ele é o teu Superior, não é? Tu estás encrencado?

Imaginar um homem daquele 'encrencado' era divertido demais para os três mais jovens além de Eren então acabaram por rir daquela suposição tão descabida.

- Bom, é o Superior deles, mas para mim no momento é o meu padrinho. – Disse com um pequeno sorriso de canto na direção de Eren. – Então sem problemas, vou indo pirralho. Comporte-se..

- Isso não é nepotismo Levi? – Perguntou um tanto crítico vendo-o levantar-se com o celular na mão levando ao ouvido. – Teu padrinho favorecer-te apenas por ser tua família?

- Ah, com certeza é, mas eu não me importo. – Concordou com uma piscada de olho antes de bagunçar os cabelos castanhos com seus dedos e continuar a caminhar até em direção da porta. – Bom dia velhote, como estás? Ou melhor, como está sua artrite?

Eren ainda deu um sorriso decepcionado balançando a cabeça de forma negativa nada surpreendido pela forma que o namorado estava chamando seu Superior e também o padrinho. Já era de se esperar algo assim, mas o que mais lhe preocupava no momento era saber se estava mesmo bem, pois sentia em seu peito que ele não estava quando chegou.

 

 



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