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História Mistérios - Álcool


Escrita por: Kach

Capítulo 3 - Álcool


Depois da mensagem Eren acabou por responder com um certo tempo de diferença para não parecer desesperado, mas lhe dizendo que possivelmente estaria em casa. Era óbvio que não tinha nenhum compromisso, mas não poderia parecer tão fácil e submisso ao professor, não depois dele ter supostamente ‘esquecido’ da existência de seu número, apesar de já o ter salvo no celular, afinal o tempo que ele demorou para sair de perto dos alunos e Hanji foi curto para que ele precisasse procurar o papel em suas coisas e enfim mandasse aquela mensagem com palavras demais. Então sim, ele tinha salvo no dia logo ao receber o papel e apenas não lhe mandou nada ou ligou por algum outro motivo.

Quando o homem chegou não trocaram muitas palavras ou tiveram algum tempo de realmente impor qualquer diálogo além de Eren ser prensado logo na parede ao lado da porta de entrada. Era um tanto frustrante, afinal ele tinha realmente se esforçado em limpar o apartamento e receber aquela boca e aquelas mãos quase o despindo ali logo na entrada não daria a vista da organização que ele tinha feito no local, principalmente no quarto, mas não teve assim tanto tempo ou vontade de ficar preso nesses pensamentos. 

Novamente aqueles comentários dos amigos sobre ele não o chupar passou em sua cabeça, mas mesmo que só o mais novo fizesse isso o outro compensava maravilhosamente e devido a isso novamente não teve tempo de reclamar. Diferente da primeira vez juntos, essa sim começou a ‘conhecer’ melhor aquele homem, os gostos, as formas que gostava de determinada coisa, um certo padrão de beijos, lugares que poderia beijar ou morder, e principalmente aquilo que ele odiava: Demora. Era apressado a querer mais daquele corpo e boca, Eren sabendo isso fazia o máximo para torturá-lo, mesmo que se arrependesse depois, pois podia sentir ainda um breve formigamento em toda a sua coxa, bunda e costas pela quantia de tapas que recebeu. Era dolorido, mas era gostoso e se odiava por não ter ligado a música naquela noite, pois possivelmente qualquer um que tenha passado pelo corredor naquela hora poderia bem ouvir as palavras que Levi lhe dizia, as que o próprio Eren dizia quase em uma súplica por mais ou pedindo por mais força nas estocadas, e principalmente os gemidos altos que não conseguia conter. De certa forma se envergonhava, mas ouvir uns mais discretos daquele homem sério o faziam esquecer-se totalmente do mundo fora daquele pequeno espaço que compartilhavam no momento.

Uma nova ‘permissão’ de banho por parte do homem mais velho e uma reclamação pela falta de ar do moreno, pois quando chegou ao quarto jogou-se na cama totalmente vermelho tentando controlar sua respiração. Eren ignorou totalmente as críticas forçando seus olhos dessa vez para ficar acordado e pelo menos ter uma despedida e não um bilhete, apesar de ainda guardá-lo no caderno por algum motivo que ao menos sabia.

Se não estivesse tão cansado, com o corpo extremamente dolorido com toda certeza iria tentar uma nova rodada com aquele homem após vê-lo sair do banho com a mesma roupa que tinha pego jogada na entrada do apartamento, os cabelos sendo enxugados de uma forma tão sensual que o mais novo se perguntava se aquilo realmente era possível mesmo que não tivesse intenção.

- Podes dormir aqui se quiseres, está tarde. – Disse na direção dele tentando manter-se o mais indiferente o possível, mas a ideia de realmente apenas dormir e acordar ao lado dele era estranhamente boa.

- Que horas são? – Perguntou nada afetado pela sugestão, não aceitaria, pois tinha seus motivos bem definidos em sua própria cabeça. Ao ouvir um: “Muito tarde.” como resposta deu de ombros sentando-se na cama para colocar os sapatos nos pés, aquilo era a confirmação que ele iria embora mesmo que o moreno insistisse e realmente não queria deixá-lo bravo por uma coisa boba dessas. – Indiferentemente do horário prefiro voltar ao meu apartamento, preciso resolver certas coisas… Além disso, há também…

- Eu sei. – Cortou com um sorriso divertido na direção dele. – Sigilo, eu sei que é apenas sexo e tu achas que não podemos só partilhar a mesma cama para dormir… Pois usar uma cama apenas para dormir deve ser algo bem absurdo. – Ironizou revirando os olhos. – Só estava dizendo que tinhas essa opção se quisesse, não estou propondo casamento a ti ou que se mude para cá. Pois nem quero, seria insuportável..

- Tch, odeio ironias. – Murmurou em um tom baixo quase para si mesmo. Eren arqueou novamente uma sobrancelha se perguntando o motivo de uma pessoa que tinha 90% de suas frases constituídas por elas odiasse algo daquele tipo. Talvez fosse justamente por ser irônico e sarcástico que não suportasse outros sendo com ele. – Vou indo, pirralho.

- Nenhum beijinho de despedida? – Perguntou com um sorriso divertido fazendo um biquinho com seus olhos. – Um elogio sobre a arrumação do quarto?

- E eu lá tenho cara de ser teu pai para elogiá-lo por fazer tua obrigação? – Olhou desacreditado para ele, apesar de por dentro ter admitido o esforço dele em tornar aquele espaço em algo apresentável. Poderia ver diversos erros básicos, como algumas camadas de roupas emboladas no armário e outros tantos, mas não destruiria a autoestima dele, não naquela noite, pois estava cansado e realmente queria dormir.

- Ele não me elogia também. – Disse adotando um semblante sério deixando com que um suspiro pesado saísse de seus lábios por lembrar-se justamente de seu pai naquela situação. – Bom, vou tomar um banho, encoste a porta ao sair…

Sentiu-se ser puxado com certa suavidade para baixo na altura do homem de cabelos negros, arregalou os olhos surpreso por de fato estar recebendo um beijo de despedida. Não movimentou minimamente os braços que estavam ao lado do próprio corpo, enquanto sentia uma das mãos dele em seu queixo o puxando e a outra em seu ombro. Sorriu satisfeito ao ser afastado com brutalidade, aquela diferença de um beijo carinhoso para um afastamento agressivo era um tanto contraditório para o rapaz, mas estranhamente gostava disso.

- Evento único, só porque tu me deste pena, não volta a acontecer. – Disse antes de pegar o casaco em mãos e sair pela porta do quarto.

Ao voltar para o próprio apartamento sentou-se em uma de suas poltronas na sala ainda um pouco vazia pela ausência de móveis, se perguntava o que tinha acontecido com ele para que realmente desse o beijo de despedida que o garoto tinha lhe pedido. Afastou aqueles pensamentos de sua própria mente retirando as peças de roupa usadas para trocar por algo mais confortável. Peito desnudo, calça de moletom cinzenta no corpo sentou-se novamente no móvel com as pernas cruzadas, caneta na mão e aquela enorme pasta novamente sendo folheada.

Realmente deveria dormir, mas colocou o celular para lhe avisar quando fosse o horário para que pelo menos tivesse duas horas de sono dignas. Precisava terminar aquilo o quanto antes e entender a situação que Farlan não estava conseguindo chegar à conclusão. Se ele ignorou seu próprio orgulho para pedir ajuda a ele, era importante e isso ia fazendo sentido aos poucos em sua cabeça ao rabiscar algumas páginas e escrever certos detalhes que tinha chego à conclusão. Ao ouvir o alarme bloqueou a tela do aparelho e continuou ali, olhos cinzentos completamente focados nos papéis cada vez mais curioso sobre o que tanto teria que saber. Eram nomes importantes escritos em cada folha com as respectivas fotos e ligação com o esquema que estavam atrás . Um novo alarme, mas esse era o que deveria ter o acordado, olhou para as janelas abertas vendo a claridade do dia desanimado.

Banho tomado, cabelos secos e a maleta em uma de suas mãos, foi assim que chegou à Universidade, mesmo que uma parte de seu ser ainda quisesse continuar no próprio sofá terminando aquela pasta negra, faltavam tão poucas páginas e ele não poderia fazer nada a não ser esperar pela noite. Apesar de ser um local pouco frequentado por ele acabou por entrar no grande refeitório para comprar um café, se perguntava se até os alunos realmente usavam aquilo, pois era um tanto decadente. Poderia bem sair do local ou ter ido antes ao Café próximo, mas a experiência da vez que ia até ele ou no dia que realmente foi não eram boas, principalmente por ter um certo envolvimento do antigo colega de profissão. Observou com certo nojo alguns mais jovens fazendo coisas estúpidas, mesmo que fossem coisas normais para a idade.

- Nossa, tu estás horrível. – Uma voz feminina lhe disse com uma falsa preocupação indo com suas mãos no rosto do menor querendo puxar as olheiras, mas foi impedida por um tapa leve nelas. – Não dormiu? Conheço teu estresse por falta de dormir...

- Talvez eu tenha esquecido de dormir. – Respondeu indiferente pegando a xícara em mãos da atendente. Já tinha provado cafés melhores em situações bem piores que aquele, mas realmente qualquer coisa que tivesse cafeína naquele momento seria extremamente bom para o professor.

- Tu esqueceste de dormir?! – Hanji repetiu completamente chocada com o melhor amigo como se aquilo fosse a coisa mais absurda que tinha ouvido na vida e para uma mulher do nível de Hanji achar aquilo absurdo era porque realmente era. – Como alguém esquece de dormir?

- Acontece. – Deu de ombros não entendendo todo aquele choque. – É mais normal do que parece.

- Se eu não dormir pelo menos umas oito horas fico um morto vivo no dia seguinte. – Hanji lhe disse totalmente séria pegando sua própria xícara. Levi não queria ouvir isso, preferia mesmo o silêncio, mas sabia que independente do que falasse ela não se afastaria tão facilmente. – Por isso eu durmo mais que nove já para garantir, sou uma mulher precavida!

- Claro, tu és um urso que precisa hibernar. – Disse ácido não querendo se alongar naquele diálogo, então na mínima oportunidade que tivesse sairia de perto daquela maníaca de óculos.

- Um ursinho… – Apontou para o próprio rosto adotando uma expressão angelical que poderia ser classificada como ‘fofa’ para muitos que vissem, mas Levi só estava querendo ressaltar a infantilidade dela naquele momento. – Ou um ursão? – Levantou as duas mãos como se fossem garras lhe mostrando os dentes com uma expressão de raiva.

- Se eu fosse uma caçador e te visse pela floresta invés de matar-te eu faria isso… – Fez uma arminha com a própria mão e levou a sua testa apertando o gatilho imaginário para acabar com a própria vida. Hanji sorriu ainda mais abertamente, pelo menos o homem tinha entrado na brincadeira e realmente o novo trabalho estar funcionando para que ele ‘melhorasse’, pois o mesmo homem que visitou por um tempo, ligou e recebeu no aeroporto não era exatamente esse que fez esse gesto e até sorriu para ela. – Não conseguiria viver mais depois de ver essa aberração que tu chamas de rosto.

- E eu pensando que ouviria um comentário fofo vindo de ti. – Reclamou falsamente decepcionada, mesmo que estivesse rindo por dentro e com o peito mais leve. Em sua própria cabeça estava fazendo uma anotação mental para ligar para Kushel, a qual tinha apelidado desde a infância como ‘Tia’ para contar os progressos com o amigo, pois ambas sabiam bem que ele não ligaria para ela e nem o pai por qualquer motivo. – Tu me magoas dessa forma… – Passou a mão pelos cabelos castanhos enquanto estreitava os olhos para o amigo. – O que estavas fazendo que esqueceste de dormir?

- Nada do teu interesse Han. – Disse segurando um sorriso enquanto apertava o nariz da mulher com dois de seus dedos igualmente fazia quando eram crianças. Olhou para o loiro que estava se aproximando deles um pouco confuso do que estavam fazendo ali. – Que bom que vieste.

- Tu feliz em ver? – Erwin confuso franziu a testa esperando um comentário irônico ou qualquer outra coisa que demonstrasse uma pegadinha, pois apesar de uma ‘amizade’ recente, se é que assim ele poderia definir o que tinham, não tiveram assim tanto contato e o máximo que foi, eram respostas ríspidas, revirares de olhos e um olhar de Levi para Hanji como se perguntasse silenciosamente se ela realmente estava fazendo a escolha certa em ter algum envolvimento amoroso com aquele homem. – Drogou ele Hanji? – Olhou para a namorada que negou com a cabeça para tranquilizá-lo. – Então estás mesmo feliz?

- Não exatamente, feliz em ver que agora posso sair daqui para um local bem longe dessa maluca e dessas tuas sobrancelhas estranhas. – Afirmou na direção do loiro que continuava a não gostar do pequeno apelido ofensivo que tinha recebido dele, acabou por descobrir ao ouvir aquilo de um aluno e obviamente odiou saber quem havia dito isso. Deu dois tapas leves no ombro dele antes de continuar. – Talvez eu aprove esse relacionamento agora, vejo que vai me trazer boas coisas, pelo menos uma desculpa para ir embora logo para bem longe dela.

- Desde quando ele precisa aprovar algo? – Erwin perguntou para a mulher com uma sobrancelha arqueada ignorando que de fato ele tivesse saído sem nem ao menos despedir-se deles. Estava começando a entender ele, mas isso não o agradava assim tanto. O loiro era do tipo de pessoa que ia muito pela primeira impressão que tinha pela pessoa e realmente Levi não tinha sido uma das melhores.

- Ele é o meu melhor amigo, Erwin. – Disse dando de ombros sem entender todo aquele ‘ciúme’ ou falta de confiança que o loiro tinha naquele relacionamento estranho que levavam. – Me agrada saber que ele gosta do relacionamento, assim como sei também caso um dia ele venha a ter algo parecido vais vir me contar. – O loiro achava impossível algo daquele tipo acontecer um dia, mas preferiu se manter em silêncio para que não acabasse por ironizar isso e a mulher ficasse brava, pois era evidente que se um dia tivesse que escolher entre o amigo e ele, com toda certeza seria deixado de lado. – Eu gosto dele e é como o irmão que nunca tive, então aprenda a suportá-lo pelo menos..

- O foda é que eu realmente comecei a gostar dele… – Disse balançando a cabeça de forma negativa, pois mesmo com todas aquelas ironias incluídas em comentários que poderiam ser formados de forma diferente se divertia com ele. – Droga… Depois de conhecê-lo no primeiro dia eu o achei metido e um filho da puta, mas agora apesar de continuar daquela forma me divirto...

- Bom garoto. – Hanji afirmou passando a mão sobre um de seus ombros. – Já subimos um degrau, o próximo é ele aceitar-nos em uma noite de sexo, drogas e muita bebida…

Erwin arregalou os olhos completamente chocado pela naturalidade que aquela mulher ao seu lado lhe disse aquilo. Aquela mesma mulher que demorou meses para convencer de sair para um bar e finalmente ter a coragem de a beijar, era surpreendente como as aparências enganavam, pelo menos para ele, pois em sua cabeça ela era divertida, mas não esse demônio com comentários de duplo sentido.

- Como é que o ‘irmão’ transformou-se no homem que vai comer-te ou me… – Ao se dar conta fechou os olhos e mordeu a própria língua por estar entrando justamente no jogo dela. – Merda...

- Esse é mesmo o espírito, loirinho. – Afirmou divertida por ouvir aquilo, mesmo que não tivesse uma real intenção de um dia ir para a cama com Levi, e o homem de cabelos negros sabia muito bem disso, mas ambos ficavam nessa provocação desde a adolescência, justamente por se divertirem com as respostas depreciativas um do outro. Obviamente quem ainda insistia naquilo era Hanji, mas vez ou outra, principalmente no fim da adolescência ele também tinha um senso de humor sobre essas coisas. – Ainda bem que sabes que se realmente acontecesse quem seria o homem de quatro serias tu… Pois ele… Bem… – Deu um sorriso malicioso que não passou despercebido pelo ‘namorado’ negando com a cabeça.

- Eu sou hétero Hanji, sério, não vamos fazer algo desse tipo. – Disse sério vendo o sorriso dela se desvanecer chateada por ser privada de algo tão banal como aquilo. – E o Levi é hétero, não é?

- Ah sim, com certeza. – Afirmou mordendo os próprios lábios para não sorrir ainda mais. 

Boa parte das pessoas que conheciam o homem baixo sempre tinham a mesma visão, mas só Hanji e a família dele sabiam bem que não fazia distinção de gênero. Qualquer um que prendesse sua atenção poderia ter sua atenção por algumas horas e nunca mais o veria, afinal ninguém nunca tinha visto ele ter o mesmo parceiro mais do que uma única vez. 

A mulher não sabia ainda que ele tinha quebrado sua própria regra pessoal na noite passada, mas não precisava saber disso, pelo menos na opinião dele próprio. 

- Se tem uma coisa que o Levi é, essa coisa é hétero. – Moveu a cabeça de forma positiva um pouco sarcástica lembrando-se de quantos casos casuais já tinha visto o amigo entrar e sair logo após conseguir o que queria, nunca era por sentimento e sim por atração e sexo. – Assim como ele também é extremamente educado e nunca faz comentários irônicos, sarcásticos ou agressivos…

- Então ele não é hétero. – Afirmou pensando se a existência daquele homem desde a sua infância teve alguma influência naquele senso de humor de duplo sentido e na maioria das vezes debochado. – Gay?

- Interessado? – Moveu os óculos com seus dedos divertida ao ver o olhar dele para que parasse de brincar com ele. – Não, bissexual ou pansexual, não sei exatamente em qual ele se encaixa, isso se ele já definiu algo do tipo…

- Interessante. – Admitiu para a mulher realmente surpreso. – Tinha uma visão distinta dele…

- Agora… – Colocou o braço sobre os ombros dele começando a caminhar como se fossem bons amigos. – Voltando ao assunto que realmente importa: Vamos fazer um ménage?

- Hanji… – Seu tom de voz não escondia seu desânimo ao ouvir aquilo naquela hora da manhã e a mulher sabia bem, mas era insistente demais para parar de forma tão fácil.

- Pode ser com uma mulher, não vejo problemas… – Disse com tamanha naturalidade e recebeu um olhar arregalado. – Não achaste que eu era hétero também, certo?

- É indiferente para mim. – Falou sério para não admitir que estava errado novamente, estava realmente errado em tantas visões que até o assustava. – Não vamos fazer isso, gosto de ter apenas você…

- Droga. – Murmurou decepcionada como se tivesse perdido a oportunidade de brincar em seu brinquedo preferido.

Negar um novo encontro para a mesma balada/bar foi quase impossível para Levi que recebeu cerca de cem mensagens irritantes no celular de uma Hanji completamente focada em retirá-lo do apartamento. Novamente a organização foi afastada para o dia seguinte e aquela pasta cheia de coisas para a noite. Justo ele que prezava sempre pela organização ultimamente estava a deixando de lado. 

Sentado em uma mesa qualquer próxima ao balcão de bebidas observava atentamente as tentativas de diálogo da parte de Erwin que depois de algumas bebidas tinha a língua ainda mais solta o que rendeu boas reclamações sobre Levi ser incomunicável. Hanji no quesito bebida não estava assim tão atrás já que naquele instante estava fazendo uma pirâmide com os pequenos onde eram servidos os shots. O homem de cabelos negros preferiu se manter sóbrio naquele dia, por diversos motivos, mas o principal era para que conseguisse terminar finalmente aquela coisa e não precisar mais conviver tanto com Farlan, pois se todas as vezes que fossem se encontrar ele o lembrasse de Isabel não suportaria. Outro motivo para controlar a bebida foi ver Eren ao longe bebendo com os amigos e muito perto deles, principalmente de Armin e um sardento que o professor já tinha visto pela Universidade, mas nunca havia prestado muita atenção.

Vê-lo beber aquela quantia já estava o deixando irritado por uma razão que nem entendia, mas o ver beijando Armin foi o auge de seu mau humor que foi notado até pelos dois bêbados a sua frente que queriam entender aquela aura negra tão repentina em volta dele. Seguiu com seus olhos o moreno que sorria abertamente depois de ter beijado um de seus amigos, até  sentar-se em um dos bancos próximos a bancada encarando fixamente o bartender que também era um de seus colegas de curso e amigo.

- Podes me dizer o motivo do Senhor Infernal estar a poucos metros daqui te encarando com certa raiva e como se pudesse matar o Armin apenas com o olhar? – Berth lhe perguntou tentando se manter sério, apesar dos apelidinhos "idiotas".

- Não sei, o Armin me beijou, mas não entendi o motivo do olhar também, pois a gente não tem nada... Então tudo bem eu beijar outras bocas, não é? – Perguntou com a voz enrolada de álcool. O bartender sabia que sóbrio já era um um tanto lerdo para certas coisas, mas bêbado conseguia ser ainda mais, pois até para ele o motivo de todo esse ódio direcionado aos dois era por um único motivo: Ciúmes. – Não é como se a gente tivesse um compromisso para ter fidelidade, não é? Eu não queria beijar o Armin, mas eu perdi então...

- Beijou o Armin? – Repetiu com um sorriso assustado por aquela reviravolta toda.

- É, perdi uma aposta. – Esclareceu dando de ombros como se aquilo não fosse a coisa mais importante para prestar atenção, mas sua mente regada a álcool nem conseguia raciocinar mais. – Aquele loirinho bebe mais do que aparenta, então era beijar ele ou o Jean, apesar de saber que tenho saliva de cavalo na minha boca, porque eles ficam se beijando a cada segundo... Que nojo… É sério, diga a eles procurarem um quarto…. Credo.. – Mostrou-lhe a língua com os olhos arregalados. – Tem saliva do Marco aí também, não tem?! Ai Meu Deus! Três salivas péssimas na minha boca! Será que faz mal eu tomar algo corrosivo para lavar a língua?!

- Acho que alguém está começando a ficar apaixonado e com ciúmes... – Murmurou olhando para Levi de forma discreta e viu aquele par de olhos verdes voltar-se assustado para ele.

- Shhh! – Levou o dedo indicador nos lábios do amigo pedindo silêncio com os olhos completamente arregalados. Berth sabia indiretamente que se ele já não tivesse corado pela bebida agora estaria completamente vermelho. – Ele não pode saber que eu estou começando a gostar dele...

Berth não estava falando de Eren e sim de Levi, mas ouvir aquela declaração bêbada também foi boa para ele e igualmente surpreendente. Queria sorrir, mas iria se manter o mais sério possível e ajudar o amigo bêbado até o final de seu expediente.

- Tu podes fechar o bar? – Perguntou na direção de um de seus colegas ao lado vendo que a situação de Eren piorava a cada segundo e realmente precisava ajudá-lo. – Vou sair mais cedo hoje, meu amigo não está muito bem...

- Certo, certo, pode ir. – Concordou movendo a mão para que se agilizasse e parasse de o encher.

Saiu da bancada e voltou-se para o amigo, naquela condição ele e nem qualquer outro de seus amigos não poderiam dirigir, já ele apesar de contraditório, afinal trabalhava com bebidas, não havia ingerido nenhuma gota de álcool e nem era muito adepto ao ato de beber como aqueles outros que vinham quase todos os dias ali.

Armin levantou o polegar na direção de Berth e apontou para ele, Marco e Jean lhe dizendo que pelo menos um dentre eles estava o máximo sóbrio para conseguir pegar um táxi, aquilo era mais tranquilizante. Obviamente era o garoto de pele levemente bronzeada, sardas na região do nariz e bochechas, cabelos castanhos cortados rente a testa e eram jogados pelo lado geralmente com o auxílio de um gel, mas quase no fim do dia já estava uma completa bagunça, assim como sua roupa, pois Armin já estava com uma mão dentro da camisa de botões enquanto a outra percorria o pescoço de Jean com um sorriso divertido. Nenhum deles sabiam exatamente como aquele ‘relacionamento’ funcionava, mas era engraçado de se ver.

- Vens bêbado inconsequente, o papai te leva para a casa. – Disse divertido pegando um de seus braços para colocar sobre seus ombros.

Recebeu um dedo indicador na testa impedindo que o levantasse da cadeira, uma expressão torta e uma voz ainda nada entendível do amigo em sua direção.

- Eu não estou bêbado. – Disse completamente sério afirmando com a cabeça querendo acreditar nas próprias palavras, mas aquela voz lenta, o sorriso sumindo e aparecendo não eram muito auxiliares nesse processo de acreditar em sua sobriedade.

- Com certeza Eren. – Confirmou com um sorriso ainda maior pela insistência de afirmar algo que era bem óbvio para ele. – Eu é que estou fedendo a álcool e dizendo coisas estranhas.

- Tu és cheiroso. – Afirmou ainda sentado, não deixando de lado o braço do amigo que tentava de forma delicada que levantasse. Aproximou seu nariz cheirando a camisa dele deixando um suspiro satisfeito pelo aroma que pode sentir. Brevemente forte e marcante, preferia os mais suaves, mas esse era igualmente bom. – Gosto disso.

- Estás me cantando? – Perguntou olhando diretamente para os olhos verdes praticamente pronto para gargalhar.

- E se eu estiver? – Uma sobrancelha arqueada, aquele sorriso traquina que o lembrava uma criança, as bochechas avermelhadas e aquele cabelo bagunçado extremamente bonito. Não poderia negar que era atraente e bem sexy, mas no momento só conseguia rir e imaginar como Eren reagiria no dia seguinte quando contasse isso à ele. Ele levou uma de suas mãos até a bochecha de Berth passando o polegar ligeiramente sob a pele. – Vais fazer o que se eu de fato estiver?

- Credo, tu reclamas de aguentar o Jean bêbado, mas ele pelo menos não fica cantando ninguém. – Reclamou com um sorriso puxando com mais força para que ele se levantasse logo. Ao se levantar reclamou mais alguma coisa que nem Berth entendeu pela língua tão enrolada. – Poderia apagar na bancada como o Jean sempre faz e nós o levarmos no colo igual fazemos com ele, mas não... 

Parou de falar ao sentir as duas mãos dele se entrelaçarem em sua cintura com certa força e possessividade. Estava se divertindo com aquilo, apesar de que se alguém olhasse por outro ângulo pudesse parecer que eram duas pessoas que se pegariam muito naquela noite. Seu sorriso não era de "Estou gostando imensamente de seus carinhos.", mas sim "Eren, pelo amor de Deus, pare de ser insuportável bêbado!". Não queria nem olhar na direção de Levi, pois sabia que agora o ódio de Armin estava sendo direcionado a ele. 

- Eu vou fazer-te desmaiar e te levar como um saco de cimento nos ombros se tu não parares com isso!

- Por que as pessoas são tão brutas comigo? – Perguntou chateado soltando os braços da cintura dele. Novamente uma expressão divertida para Berth, apesar de ter ficado com um pouco de dó, era só drama bêbado, mas tinha uma pitada de verdade naquilo. – Eu sou tão ruim assim? Me batem, brigam, me dizem palavras sarcásticas... Eu mereço carinho, não mereço Berth?

- Como tu és carente! – Disse apertando sua bochecha como se aquele rapaz de quase sua altura fosse realmente uma criança. – Há muitas pessoas que gostam de ti, eu gosto… – Falou e viu um sorriso dele em sua direção então negou com a cabeça no mesmo instante aumentando seu próprio divertimento e medo de falar coisas com duplo sentido naquele momento e situação. – Como amigo! – Corrigiu-se e viu os ombros dele se decaírem novamente. – Tu és quase como um irmão para mim e quero teu bem.

- Às vezes eu tenho a sensação de que não há ninguém que vai gostar de mim… – Reclamou começando a caminhar entre as pessoas, Berth teve que fazer realmente um esforço para que de fato o ouvisse e compreendesse o que dizia, pois o barulho da música, conversas e também a língua enrolada do amigo dificultava completamente o processo. – Sabe, eu também não gostaria de alguém como eu… 

Eren apontou para o próprio corpo de maneira depreciativa deixando seu semblante ainda mais triste. O rapaz ao seu lado realmente estava acostumado a dramas bêbados, pois praticamente todos os dias de trabalho tinha sua cota diária de reclamações, desabafos e perguntas estranhas dos mais variados bêbados que ficavam próximo onde ele geralmente ficava, mas quando o bêbado em questão era um de seus melhores amigos não sabia como agia. 

- Sério, eu sou frustrante… Não trabalho, minha mãe paga a minha faculdade e a merda do meu apartamento…

- Você estuda, então tudo certo ela pagar. – Lhe disse ao ajudá-lo sentar-se no meio fio enquanto tentava com certa sorte procurar a chave do carro nos diversos bolsos que tinha ao seu dispor, dois na calça e mais alguns no casaco. – Pare de se desprezar desse modo. – Queria rir muito pela nova tentativa de beijo por parte do moreno quando se abaixou a sua frente colocando a mão dentro do casaco dele. – E parar de tentar beijar-me, se não vou esquecer que sou hétero e corresponder.

- Não deverias perder a oportunidade. – Falou com um semblante sério para ele encarando fixamente os olhos castanhos próximo dos dele. – As pessoas geralmente só querem se divertir comigo… Tu és pelo menos o meu amigo, então tudo bem para mim…

- Da próxima vez que eu ver-te bebendo vou quebrar-te. – Afirmou de forma séria achando finalmente a chave do carro dele, o problema agora seria encontrá-lo no meio de tantos, mas o seu maior entrave era o próprio Eren lhe despejando aquelas palavras e tendo aquelas atitudes.

Levantou o rosto para ver uma figura com uma roupa escura atrás de Eren, seu semblante sério analisando a cena fez o rapaz ajoelhado sentir-se um tanto aliviado e ao mesmo tempo com certo medo. Aliviado por ter a opção de deixar aquele homem cuidar de Eren, afinal ele era o motivo de tanta ingestão de bebida e reclamação sobre si mesmo; Já medo pelo olhar e um possível erro de interpretação do que realmente estava acontecendo com ele ali apalpando o moreno agachado no chão escuro. 

- Levi?

- Não bobinho, sou o Eren, lembra-se? – Apertou uma de suas bochechas mantendo um sorriso divertido aproximando novamente seu rosto no dele e iria mesmo conseguir o “queria”, pois Berth se mantinha paralisado com o olhar na figura em pé, mas Eren sentiu a gola de seu casaco ser segurada por uma mão extremamente rígida atrás de si. Diante disso, inclinou seu pescoço para trás como uma verdadeira criança procurando confuso o motivo de ter sido parado e abriu um sorriso ainda maior por ver quem era ali. - Levi.

- Pirralhos não deveriam beber. – Disse seriamente para ele ignorando que ainda estivesse segurando o tecido com sua mão ou que estivesse na rua com a possibilidade de literalmente qualquer um o visse, inclusive um de seus colegas que acreditaram plenamente na desculpa de que usaria o banheiro.

- Idosos não deveriam ser tão reclamões. – Falou no mesmo tom lhe mostrando a língua. – Ou deveriam? – Franziu a testa confuso para ele esperando que ouvisse uma resposta para aquela sua dúvida, pois naquele momento sua cabeça embargada a álcool achava extremamente importante que fosse respondida. – Sabe, eu tinha um avô durante um tempo… Ele era bem ranzinza que nem tu és, mas tipo, ele tinha uns oitenta anos e tu até hoje não disseste quantos tens… 

Berth naquele instante poderia muito bem rir, mas ainda se mantinha paralisado naquela posição um tanto desconfortável com a chave nas mãos sem saber se falava alguma coisa ou deixava eles falarem ‘sozinhos’, ou quase isso, afinal estavam literalmente em uma das saídas do bar. 

- Fiquei pensativo nisso, então algumas sugestões de idade apareceu em minha cabeça… Tu disseste que é menos que quarenta então… – Olhou seriamente para Levi esperando sua confirmação que estava mesmo certo. – É trinta e nove, não é?

Arregalou os olhos e enrijeceu seu maxilar para não praguejar algumas palavras bem agressivas para o jovem, inclusive para aquele que se levantou escondendo um sorriso com uma de suas mãos. Sabia que era a bebida falando, mas não poderia deixar de se irritar por ser taxado de velho daquela forma.

- Eu sabia! – Afirmou feliz levantando uma mão satisfeito de ter chegado a àquela conclusão sozinho.

- Tch. – Olhou para o rapaz sóbrio de forma séria ameaçando apenas com seus olhos para que parasse de rir, mas para o moreno era impossível, principalmente por ver a expressão vitoriosa de Eren por ter finalmente ‘descoberto’ aquele mistério. – Eu devo realmente ser um ímã para pessoas idiotas, já te disse que minha idade nem se aproxima dos quarenta, pare de insistir nessa merda de dígito!

- É trinta e oito? – Perguntou novamente com os olhos estreitos. – Tu não me enganas, Levi, tu és bem cuidado, mas não és novo não. Falas como um velho e tem tanta coisa já…  

Berth engoliu em seco querendo no mesmo instante colocar a mão na boca do amigo para poupar ele de uma possível agressão se continuasse a falar com toda aquela normalidade que não existia entre eles. A bebida seria a causa da morte dele, mas não pelo alcoolismo em si, mas pela língua solta em direção do único homem mais estressado que poderia encontrar naquele momento e que o olhava prestes a quebrar cada dente dele de forma bem dolorosa. 

- Formado, com mestrado, é policial, tem esse corpo gostoso… Academia demora a fazer resultado…

O barman queria mesmo rir dos picos de falas do amigo, afinal começou o xingando de velho para depois lhe dizer e elogiar sobre seu corpo, riria muito no dia seguinte e iria fazer questão de lembrar Eren todos aqueles detalhes ditos e expressões de Levi .Abaixou-se próximo ao seu ouvido sob o olhar atento do rapaz em pé que queria ouvir aquilo também, mas manteve-se em silêncio para que não recebesse nenhuma agressão por estar quase beijando Eren quando ele tinha chego até eles.

Se insiste tanto em saber algo tão idiota como a minha idade, pirralho… – Começou dizer em um quase sussurro não vendo que ele tinha literalmente fechado os olhos ao sentir aquele hálito próximo de sua orelha. – Posso dizer-te, sei que vais guardar segredo… – Viu uma confirmação ainda mais curiosa com a cabeça do garoto para que falasse logo, pois iria guardar segredo. – Então para de dizer números tão altos...Tenho vinte e nove anos apenas.

Arregalou os olhos no mesmo instante chocado, virou-se com todo seu corpo para olhar de frente o homem abaixado ao seu lado procurando qualquer sinal de que aquilo era mais uma de suas ‘piadas’.

- Puta que pariu! É sério?! – Disse um tanto alto boquiaberto, não esperava que a diferença de idade deles fosse tão pequena. Berth torcia que a bebida agisse novamente e o amigo repetisse o número, ainda mais agora que ouviu aquelas palavras de choque vindas de Eren, justamente aquele que não se abalava por tanto. Estava se corroendo de curiosidade. – Não parece mesmo que tu tens isso, caralho… – Ia levar os dedos até o rosto pálido dele para passear por ele, mas foi impedido por uma das mãos dele o segurando no punho. – Dói Levi, pare.

Revirou os olhos e largou sua mão se pondo em pé novamente pronto para voltar para o lugar onde estava seus colegas, mesmo que suas pernas estivessem inclinadas a ficarem paradas e ali, não com aqueles lá dentro.

- Sabes, tu poderias mesmo fazer-me um favor. – Berth disse sério para o professor deixando a mão que tinha a chave do carro de Eren ereta. – Eu estou com o expediente dobrado e realmente não posso sair, iria pegar um táxi para ele, mas tu sabes como a cidade fica perigosa e deixar o carro aqui vai ser uma péssima decisão… Podes levá-lo?

- É Levi, leve-o. – Eren confirmou em terceira pessoa brincando de forma delicada e infantil com o tecido da calça de Levi com os próprios dedos. – Ele não pode ficar assim sozinho desprotegido, precisa de uma pessoa forte e responsável como tu, o Berth é cheiroso, mas é tãoo irresponsável...

- Tch, achas que tenho cara de babá? – Olhou falsamente irritado de uma forma bem convincente para o rapaz que ainda segurava a chave em sua direção. Berth iria fingir que acreditava naquele teatro todo, mas por dentro e provavelmente depois iria rir abertamente. – Vou fazer isso apenas porque…  

“Por que mesmo vou fazer isso?!”, era isso que rondava sua cabeça, mas estranhamente era o que seu peito admitia ser o certo. 

- Porque tu estás trabalhando, mas apenas por isso, pois rebaixar-me a ponto de cuidar de um bêbado idiota é até mais do que um dia pensei que faria.

- Claro, muitíssimo obrigado. – Afirmou satisfeito ao sentir a mão gélida do homem pegar finalmente as chaves. – As chaves do apartamento devem estar em um dos bolsos dele, caso não venha a achar deixe-o na recepção e interfone à Dona Vera, ela é a vizinha dele e também a síndica, então vai poder abrir-te a porta. Estás fazendo um enorme favor a mim!

Auxiliar o rapaz a levantar não foi difícil, o real problema eram aquelas mãos em sua cintura passeando e procurando qualquer brecha para sentir a pele do homem. Tinha se despedido vagamente do outro colega dele que lançou um último olhar divertido para os dois enquanto ouvia uma reclamação de Eren sobre o rapto que estava sofrendo e que estava com saudades de seu ‘Berthzinho’ como havia apelidado naquele momento. Era óbvio que o rapaz recebeu um olhar nada agradável em sua direção ao ouvir isso, mas sabiamente apressou-se a caminhar antes que aquele olhar assassino se concretizasse. Haviam esquecido um detalhe extremamente importante: Onde ele havia estacionado o carro.

- Como eras teu carro mesmo? Não lembro-me exatamente…– Disse desanimado na direção dele enquanto parada próximo ao estacionamento pensativo.

- Bom… – Coçou seu queixo pensativo e Levi realmente olhou para ele esperando uma resposta certa dessa vez, mas teve que se controlar novamente para não bater nele. – Até onde eu me lembre ele tinha quatro pneus, realmente quatro, porque o reserva eu perdi na vez que fui à praia com os rapazes… Tem um motor, algumas coisas que eu não entendo minimamente, e tem aquele aparelho legal de água que eu gosto de apertar… – Fez um barulho com a boca imitando um pequeno jato movendo o braço como se fosse um para-brisa. Cada palavra que saía daquela boca era um novo teste de paciência para o mais velho. – Tem aquele que você levanta o carro que tem nome de animal, como se chama mesmo? – Olhou para ele confuso tentando se recordar. – Arara? Morcego? Não, não…– Negou no mesmo instante e logo abriu um novo sorriso. – Macaco! É, ele...O meu carro, no caso, é bem equipado...

- Eu odeio gente bêbada... – Disse sério para si mesmo levantando a mão com a chave apertando o alarme para o alto esperando qualquer sinal de claridade vindo de algum carro.

Foi eficaz, pois depois da terceira tentativa passeando entre as diversas fileiras de carro acabou por ver. Com certa delicadeza e reclamação sobre Eren jogou-o no banco traseiro, pois realmente não queria a possibilidade de algum vômito ou até uma mão nele como já tinha feito quando ele estava no banco ao lado. 

O caminho foi mais rápido que da última vez que tinha o feito no carro do rapaz, pela hora o trânsito não estava tão lento, mesmo que seus olhos estivessem completamente focados no trânsito para que não levasse uma mão até aquela boca que não parava de falar. Eram assuntos que iam desde a necessidade dele comer um bolo de morango à perguntas estranhas sobre o Governo esconder alienígenas em um galpão secreto, pois um de seus colegas já tinha visto. Não sabia se ria, chorava ou socava aquele rapaz por tanto absurdos que ouviu.

Com um de seus braços na cintura dele auxiliando ao caminhar iria andar até a entrada, abrir a porta, procurar a chave pelo corpo do rapaz, o jogaria no apartamento e iria embora. Iria, pois naquele momento outra voz e um rosto extremamente conhecido dele e pela forma que gritou era ainda mais conhecido de Eren estava encostado ao lado de um carro com motorista. Seu semblante estressado lhe dizia que já fazia pelo menos alguns minutos que estava ali. Roupas formais no corpo, os cabelos escuros presos e os óculos bem alinhados sob o nariz. Aquele rosto fino e bem marcado pela idade e seriedade que levava a vida era algo que Levi não esqueceria.

- Eren Jaeger, o que merda pensas que está fazendo com esse filho da puta?! – O homem perguntou irritado intercalando o olhar para Levi e Eren, este primeiro com certeza surpreso, só o mais velho não sabia se era por vê-lo ou por agora saber quem era pai do rapaz que auxiliava entrar no apartamento. – Tu és um imbecil, mas não pensei que era tanto!

"Jaeger?! Como eu não sabia disso? Merda pirralho… Justamente tu tinhas que ser um deles? Como tu és tão diferente deles?! De certa forma que bom que tu és diferente..." – Pensou levemente surpreso e com alguns sentimentos contraditórios no próprio peito sobre aquela nova informação. Não entendia como tudo em sua vida tinha que vir acompanhada de tragédias, surpresas e outras tantas coisas que pessoas normais não teriam. O destino sempre parecia conspirar contra ele.

- Só estou o ajudando. – Levi disse o mais sério que pode, sem as ironias de sempre ou qualquer sarcasmo, a situação poderia ser menos pior se ele tentasse ser um pouco mais simpático, principalmente com aquele homem, que pela forma que agia e agora olhando de mais perto era evidente que seria pai do rapaz. – Vou o deixar em paz após sair do apartamento dele, não precisa tentar me afastar das minhas obrigações ou processar-me.

- Não! – Eren negou apertando sua cintura como se a sua vida dependesse disso ignorando completamente a presença do pai. – Fica comigo Levi, por favor...

- Tu vais aceitar ganhar ajuda justamente do homem que estragou a vida do Zeke? – Seu pai lhe perguntou irritado sentindo os punhos de enrijecerem pela audácia do filho mais novo. – Por causa desse maldito que teu irmão foi preso e o teu pai também! Não se importas com a merda da tua família?!

- O Zeke mereceu, tu sabes disso. – Respondeu dando de ombros pouco afetado pelas ameaças por olhar que estava recebendo daquele que supostamente deveria ser seu pai, mas era apenas o homem que deixava uma determinada quantia em sua conta por obrigação e tinha feito o inferno na vida da mãe dele até que se livrasse desse encosto que agora chamava de ex-marido. ‘Estragar’ era uma palavra muito forte para a situação, mas Grisha, como ele se chamava, sempre colocaria seu primeiro filho como o inocente da história toda e o demônio fosse literalmente qualquer um além dele. – E agora é mais um motivo para que eu fique com esse homem delicioso, quero saber todos os detalhes de como ele prendeu aquele filho da puta... Saibas que vou rir em tudo que ele me falar! Desde as expressões do Zeke e até a tua, vou me divertir muito!

- Mas tu não vais mesmo. – Disse entre os dentes e poderia mesmo puxar a camisa do filho e enchê-lo de socos, mas sabia de alguma forma que se tentasse qualquer coisa independente de quantos seguranças tivesse naquele momento, iria apanhar de Levi, seja pelo olhar que estava recebendo ou pela mão que continuava apoiando Eren. Não entendia qual era a relação entre os dois ou como Eren o conhecia, pois o próprio Grisha havia o conhecido no tribunal em uma cidade longínqua da que estavam e realmente não esperava o ver tão cedo. – Sabes mesmo quem é esse merdinha do teu lado?

- Meu namorado. - Afirmou com certa convicção, Levi arqueou uma sobrancelha, mas não falou nada, afinal estava bêbado demais para raciocinar e possivelmente estava dizendo aquilo para que o homem o deixasse em paz, afinal era evidente que a relação entre eles não era boa. Já Grisha abriu a boca completamente chocado pela audácia daquele que chamava de filho, mesmo que não mantivesse uma relação presente com ele. – É, então eu sei exatamente quem és e estou até mais atraído por ele depois de tudo que tu me disseste.

- É só eu parar de depositar aquela quantia na tua conta que tu voltas de quatro pedindo-me desculpas. – Afirmou tentando não parecer enraivecido, mas era impossível, principalmente ao olhar para Levi. – Em um estalar de dedos tu o deixas ou ele quando descobrir o merda que tu és. Ou melhor, ambos se merecem, já que são dois merdas ambulantes!

- Não preciso do teu dinheiro, nunca precisamos! – Disse em um tom de voz alto e extremamente magoado. – Nunca usei a merda do teu dinheiro! Minha mãe fez o certo em pedir a merda do divórcio, pois tu és nojento!

- Vais se arrepender de falar dessa forma com teu pai. – Falou sério abrindo novamente a porta do carro e lançando um último olhar para os dois. – Tu sabes disso.

- Quando tu precisas de algo és meu pai? - Perguntou sentindo os olhos um tanto molhados. Naturalmente já tinha os sentimentos bem aflorados e bêbado conseguia ser pior. Levi apenas mantinha-se ali sem saber o que fazer, pois não sabia minimamente nada da vida do rapaz, apenas que aquele homem era sujo, muito sujo. – Onde tu estavas quando eu precisei de ti?! – Cuspiu as palavras na direção dele mesmo que sentisse a mão firme em sua cintura apertar mais para que se acalmasse. – Com a merda da tua outra mulher! Enganando-a e também a minha mãe, nunca vou perdoar-te por isso, saibas disso! Tu és homem rodeado de seguranças, pois sozinho és um merda! Tu és sujo e sabes disso! Me deixe em paz e minha mãe também! Se a tua primeira mulher foi idiota o suficiente de perdoar-te por ser um bosta, eu e a minha mãe agradecemos que tu não vivas conosco e não queira conviver, pois é um favor não ver essa tua cara todos os dias!

- Vai se arrepender dessas palavras, Eren. – Disse novamente na direção dos dois lançando um olhar de nojo para Levi e um outro de desgosto para Eren.

Ouvir os pneus do carro cantando no asfalto e um soluço seco saindo da garganta do rapaz foi o suficiente para que Levi saísse daquele transe confuso e fizesse algo que nunca se imaginaria fazendo com absolutamente ninguém na vida, mas com aquele ali ao seu lado chorando pareceu tão natural e o certo a se fazer: Puxou-o para um abraço e sentiu o rapaz apoiar a testa em seu ombro apertando a camisa de Levi com seus dedos aproveitando para despejar todas aquelas lágrimas e soluços presos em sua garganta.

O mais velho não sabia exatamente como reagir a isso, mas levou uma mão até os cabelos dele fazendo um carinho enquanto a outra passeava pelas costas dele como forma de trazer certo conforto. Não sabia se estava fazendo o certo, mas pela forma que aos poucos as lágrimas corriam talvez estivesse melhorando ou piorando, não sabia, mas continuaria em silêncio até que ele se afastasse.

"Namorado?! Por que diabos tu me chamaste assim, pirralho?" – Estava totalmente preso em seus pensamentos, então torcia que ele realmente não falasse nada, pois não ouviria. – "E por que eu talvez tenha gostado?"

Eren lembrava-se bem de quantas lágrimas teve que segurar para ficar ao lado da mãe durante bons anos de sofrimento dela, até que finalmente conseguisse o divórcio. Tinha orgulho da mulher que ela tinha se tornado sem aquele homem que ainda afirmava ser seu pai, mas tudo isso não passava de um sobrenome e quantias de dinheiro que iam direto para uma conta que nunca mexeu. Sabia que fazia isso desde a sua adolescência para que se alinhasse ao seu lado, mas o sofrimento não seria esquecido. Preferia viver de seu próprio esforço sem mexer em um centavo daquela quantia exorbitante. Independente da situação ficaria ao lado da mãe, uma das únicas pessoas que realmente o amava e queria seu bem. Não trocaria aquele sentimento por alguns zeros em um cheque qualquer. Essa espécie de ‘perseguição’ para que morasse com o pai e a primeira família que ele ainda mantinha era quase semanal depois que mudou-se em um apartamento próprio e entrar no curso de direito, o mesmo curso que seu meio irmão Zeke era formado e trabalhava. Foi uma terrível coincidência gostar da mesma coisa, mas seus objetivos eram completamente distintos daquele homem loiro.

- Já estou melhor. – Afirmou para o outro homem sentindo aquele cheiro levemente amadeirado da roupa dele, de fato estava mais calmo, mas queria mais daquele abraço, se não estivessem no meio da rua realmente se aproveitaria um pouco melhor. Forçou um sorriso colocando ambas as mãos em seu ombro para afastar uma tontura. – Mas estou vendo três de ti, sendo um deles meio azulado, então não sei ‘bem’ ainda é como posso me auto classificar…

- Se estás falando idiotices já está bem. – Afirmou com um pequeno sorriso que não foi visto pelo rapaz, pois já estava com aquele olhar longe e Levi sabia que ainda estava com as palavras do pai na cabeça.

Ainda mais silencioso novamente colocou um dos braços sobre o ombro de Levi e com seu auxílio começou a caminhar até o apartamento. Chegar finalmente no andar dele foi bem mais lento do que achou, se perguntava se de fato o elevador demorava aquela quantia ou sua mente estava tão dispersa para achar que estavam há horas ali sem olhar um para o outro.

Eren até tentou procurar a chave da porta em seus bolsos, mas depois de duas tentativas de levar a mão até ele e apenas encontrar o ar por estar tentando colocar em um bolso imaginário cerca de cinco centímetros para frente de seu corpo Levi o parou, balançou a cabeça de forma negativa e ordenou que parasse quieto. Levou as mãos até os bolsos dele e finalmente encontrou o objeto, Eren tinha ficado envergonhado, o máximo que um jovem bêbado poderia ficar com a situação.

- Tu precisas de um banho, um café e comer qualquer coisa. – Enumerou e viu que nada que tinha falado estava entrando nos ouvidos dele, pois estava concentrado igual uma criança com os botões da própria camisa, obviamente o ser racional entre os dois estava ganhando aquela batalha silenciosa: Os botões. Levi realmente queria rir disso e até se estranhava perguntando-se em que momento os risos tinham começado a ficar tão naturais de sua parte, pois até o início da semana tinha sua seriedade intacta e agora não.

"Tch, claro, com essa idiotice quem não iria rir?!" – Concluiu para si mesmo como uma autoafirmação. - "Só estou rindo por isso..."

- Vem, eu ajudo-te nessa tarefa extremamente difícil. – Puxou ele novamente e auxiliou nos botões e como uma verdadeira criança abriu os braços para que o ajudasse a tirar a camisa. Estava se sentindo o pai dele naquele momento. Apertou seus dedos contra o dele para que andasse até o quarto e com a mão livre Eren foi tentando tirar outra peça de seu corpo: A calça. Seu casaco já tinha sido dispensado no próprio carro mesmo que quando saiu do veículo tivesse reclamado sobre o frio.

Ao chegar no quarto sentiu o garoto se aproximar dele como uma tentativa de beijá-lo, apenas por saber que ele não estava bem que não bateu nele, pois se fosse em outra situação provavelmente bateria naquele abdômen de forma agressiva. Já estava irritado pelo beijo que o outro tinha dado em Armin, nas tentativas frustradas de beijar Berth e agora os beijos nele. Era como se quisesse beijar absolutamente qualquer um que tivesse uma boca e isso estranhamente estava deixando Levi irritado, não sabia classificar se era exatamente ‘irritação’ como queria classificar, mas era a única palavra que seu cérebro conseguia lembrar-se.

- O que pensas que está fazendo?! – Olhou irritado com o rosto levemente torto para que o rapaz não alcançasse seus lábios como estava tentando com certo foco. – Para Eren, precisas de um banho e descanso, não é com beijos em qualquer um que vais melhorar.

- Tu me disseste que só estava comigo pelo sexo, então... – Disse com a testa franzida levemente magoada. – Eu preciso dar-te sexo para que tu me ajudes e fique um bocado comigo...

Que merda de pensamento tu tens sobre mim... – Murmurou levemente magoado principalmente ao ver o olhar dele, se sentia mal, pois aquelas últimas palavras que trocou com ele na faculdade eram justamente sobre só ser sexo entre eles, mas como adivinharia que se apegaria a ponto de cuidá-lo naquela situação? Ninguém, nem ele mesmo sabia se isso era possível mesmo. – Não Eren, eu não vou fazer nada contigo nessa situação, vou ajudar-te e depois vou embora.

- Por que você não gosta de mim? – Perguntou com uma voz quebrada sentando-se na cama. – Sou assim tão ruim para que tu me queiras apenas como um passatempo?

"Eu estou com dó? E vontade de rir dele?! Será que estou bêbado também?!" – Pensou irritado consigo mesmo por estar sendo manipulado daquela forma fácil por alguém jovem e com um bom contingente de álcool no sangue.

- Precisa de banho Eren. – Reafirmou para que não respondesse a pergunta, pois nem ele conseguia responder aquilo. Nem o homem que tinha sempre respostas sarcásticas na ponta da língua em qualquer situação tinha uma para aquelas perguntas.

Abaixou-se apenas para retirar os calçados e as meias do rapaz, novamente a pergunta que mais rodeava sua cabeça voltou: "Que merda estou fazendo?!". Não poderia deixá-lo naquela situação e era isso que também repetia para que não se sentisse estranho e abandonasse ele ali por problemas próprios. Abriu a calça dele e o puxou em pé novamente para retirá-la, uma nova tentativa de Eren para algo a mais que foi respondida por:

- Se tentar novamente beijar-me vou morder teu pau com tanta força que nunca mais vai transar na vida. – Ameaçou de forma séria para ele em uma de suas tentativas de deixar as ameaças por palavras, pois sua paciência estava se esgotando e facilmente poderia bater nele.

- Tu nem me chupaste uma única vez. – Devolveu com um sorriso debochado, Levi sabia bem que ele só tinha aquela resposta por estar bêbado, pois se fosse em situações normais se avermelharia e manter-se-ia calado envergonhado por estar sendo despido pelo outro e por falar aquelas coisas. – Duvido que vás ter coragem de colocar a boca ali nem que seja para morder...

Admitiu para si mesmo que bateria nele após a sobriedade começar a aparecer, pois mesmo bêbado estava insolente demais.

- Sabe, eu sou limpinho, tomo banho todos os dias, alguns dias até três vezes… – Disse novamente após sentir o silêncio no ambiente. – Sou nojento para ti? É por isso que tu não fizeste isso em mim? – Aquelas duas perguntas com um tom quebrado fez Levi parar o que estava fazendo para olhá-lo, ver ele sentando-se na cama novamente quase sem nenhuma roupa com os olhos decaídos magoado foi um pouco estranho, justamente por vê-lo sempre com um sorriso estúpido no rosto e até então estar com piadas estúpidas. – O problema é que tu tens nojo de mim, não é?

- Não tenho nojo de ti Eren. – Afirmou e viu os olhos verdes voltarem para ele confusos e realmente surpresos por ouvir aquilo. – Apenas há certas coisas que nunca fiz a ninguém e é um pouco difícil para conseguir fazer de forma tão repentina, mesmo que sejam em ti… Posso parecer bem liberal às vezes, mas sou igual a todos, tenho receios e certas dificuldades como qualquer um. Então levo algum tempo até realizar algumas coisas e o oral é esse meu problema… Em mulheres faço normalmente, mas em homens nunca de fato senti desejo de fazer, nunca… Não é nem por nojo ou coisa parecida, é por falta de desejo...

- Desculpe… – Murmurou ainda mais desanimado por estar passando aquela tristeza para o outro, não queria ter entrado nessa situação e se pudesse voltar não teria bebido tanto. – É que eu fiz em ti…

- Exato, tu fizeste. – Concordou repousando a mão sobre a coxa dele para que o olhasse novamente e parasse de ficar se culpando por coisas idiotas. – Justamente por isso que perguntei-te antes que iniciasse de fato tudo… Perguntei a ti se eu poderia fazer o que queria, se tu tivesses me dito um não eu iria seguir e continuar com outras coisas igualmente boas que te agradasse…

- Não negarias, pois eu gosto muito de chupar. – Afirmou mordendo os lábios com um sorriso divertido. Levou o dedo indicador nos lábios de Levi fazendo um breve barulho de ar com sua própria boca. – Shhh! É segredo isso!

- Claro que é segredo. – Concordou sentindo o dedo dele se afastar de seus lábios. – Isso que estou fazendo também é um segredo nosso.

- Ah, mas eu sou péssimo com segredos. – Reclamou amuado. – Vou acabar falando para todos que tu me deste banho… Eu deveria estar envergonhado….

- E péssimo em calar a boca também.. – Murmurou divertido em um tom baixo para que o rapaz não acabasse por ouvir e o enchesse de questões, falas estranhas e comentários absurdos novamente.

O banho foi difícil, principalmente por ouvir diversas reclamações sobre a água fria e sentir a água sendo jogada nele como uma criança, o que gerou uma roupa completamente molhada. Murmurava para si mesmo algum mantra de calma para não socá-lo, pois desmaiado com toda certeza seria mais fácil. Sem nenhuma paciência olhou crítico para aquele guarda roupa pegando uma calça e uma camiseta qualquer fácil de vestir em alguém que estava levemente melhor. Enrolado na toalha, sentado na cadeira do banheiro apoiando a testa com uma de suas mãos começando a sentir uma dor intensa por todo o seu corpo. Nem entendeu como e nem se foi de fato extremamente rápido ou ele não havia percebido, mas quando abriu os olhos não viu mais a toalha e sim roupas quentes no próprio corpo. Andou reclamando da claridade e jogou-se na cama sob ameaça de que se dormisse antes que Levi preparasse um café ele o acordaria na base da pancada. Forçou seus olhos para que se mantivessem abertos e poderia bem abraçá-lo ao ver entrando no quarto com uma xícara em mãos, mas sabiamente apenas sentou-se para receber o líquido.

- Merda! – Reclamou ao queimar a língua com o líquido negro quase derrubando a xícara das mãos. Tinha sido uma ideia estúpida e sabia bem disso, agora, pois antes era algo esperto a se fazer, pelo menos em sua própria cabeça. – Está quente isso! Puta que pariu!

- Óbvio que está quente, idiota! – Respondeu como se aquilo fosse óbvio olhando para o teto para procurar qualquer pingo de calma que ainda existisse em seu sangue, mas ele nunca teve assim tanto e naquele dia tinha usado absolutamente todo seu estoque, talvez até do ano todo. – Achou que café se fazia com o que?! Água fria?! Os cafés verdadeiros e não aquelas merdas que tu tomas são dessa forma, modéstia a parte prefiro muito mais esses... – Ao ouvir mais uma reclamação passou a mão pelos cabelos negros desanimado se perguntando que merda tinha feito para merecer estar numa situação dessas, o problema mesmo era que não poderia nem reclamar, afinal foi ele mesmo que se colocou nela por escolha própria. – Não sejas reclamão, café é preto, sem açúcar e extremamente quente. Não sejas um frouxo, bebe logo e cales a boca.

Tomou o resto e antes que Levi pudesse sair segurou seus dedos com uma expressão tão necessitada na direção dele.

- Não me deixe sozinho. – Pediu em um tom baixo olhando diretamente para os olhos cinzentos, não sabia de onde tinha tirado aquela coragem, afinal a bebida já não estava o influenciando tanto, mas fez o pedido e apenas temia a resposta negativa e agressiva em sua direção. Pensava que ele tinha tido todo aquele trabalho então se importava pelo menos um pouco, então poderia ficar ali com ele pelo menos até dormir.

Aquilo era quase um pedido implorando para que ficasse, seria insensível de sua parte ignorá-lo e novamente se perguntava desde quando tinha começado a se importar com o rapaz.

- Não vou, pirralho. – Afirmou sem nem perceber, apenas viu a merda que falou ao ver aquele sorriso enorme em sua direção e um aperto novo em seus dedos agradecido pela resposta positiva, mesmo que não soubesse bem o quanto aquela confirmação era difícil para o homem.

Se afastou murmurando alguma coisa sobre emprestar suas roupas, pois não dormiria com as mesmas, mas obviamente a única coisa que recebeu foi uma respiração tranquila de alguém que já dormia. Já sabia o caminho então pegou aquilo que julgava ser confortável para dormir e tomou seu próprio banho. Deitou ao lado do rapaz pensativo se estava mesmo fazendo o certo, por dois motivos: O primeiro e mais assustador é que talvez o único apegado que deveria se preocupar não era o moreno de olhos verdes como admitiu ao reencontrá-lo na universidade. O segundo era os pesadelos que o perseguiam todas as noites, não queria acordar daquela forma com alguém ao seu lado, era justamente por isso que não dormia mais com ninguém, nem com Hanji como faziam antes do incidente. Ninguém além dele mesmo sabia dos pesadelos, nem a própria mãe.

Em algum momento da noite foi inevitável fechar os olhos e dormir, com o passar das horas acordou assustado, mas não foi por qualquer imagem sangrenta ou coisa parecida e sim um braço pesado sobre seu peito e um rosto colado em seu pescoço murmurando algumas coisas. Sentiu um arrepio breve pela pele ao sentir aquele hálito quente e o movimento dos lábios sobre ela.

O máximo de movimento que tinha era sua cabeça, pois o resto do corpo estava completamente impedida, seja pelos cobertores ou aquele corpo pesado praticamente sobre o seu. Viu no relógio que havia deixado na cabeceira que era o horário que deveria ir embora. Estranhamente aquela noite tinha sido uma das mais calmas que já tinha tido em meses, não sabia se era pelo cansaço da noite anterior não ter dormido ou pela presença do rapaz ao seu lado. Com certa força retirou aquele braço pesado e deu uma cotovelada nele ao sentir-se apertado em sua cintura com extrema força.

- Huh? – Perguntou dolorido ao sentir aquela dor repentina na barriga. Abriu os olhos tentando focá-los, mas a claridade e principalmente quem estava ao seu lado não o ajudavam minimamente. As memórias da noite acabaram por chegar naquele instante, bem desconexas e totalmente sem sentido, ainda mais por ver o professor ali deitado e bem irritado ao seu lado. – Levi?

- Não, tua mãe. – Negou sério com uma pitada irônica, se na noite passada controlou sua irritação com o rapaz por ele estar bêbado agora não precisaria mais. – Óbvio que sou eu, filho da puta. Quem mais seria?!

- Credo, tu já acordas mal humorado? – Perguntou divertido, era um terreno perigoso, mas estava feliz que pelo menos ele tinha aceitado dormir ali, mesmo que não lembrasse muita coisa.

- Não, apenas quando um idiota me sufoca com esses braços e pernas me confundindo com uma pelúcia! – Uma nova reclamação e um novo riso de Eren divertido pela comparação. Quando dormia com os amigos ouvia a mesma reclamação, mas ouvir ela vindo da boca de Levi era triplamente engraçado. – Sério, entrei no banho tu estavas de um modo, saí de lá tu estavas igual, mas foi só deitar-te ao teu lado e dormir que tu veio com esses tentáculos!

- Ah, mas tu és fofo igual uma pelúc....- Ia dizer mais alguma coisa, mas apenas viu em um movimento rápido Levi ficar sobre seu corpo segurando seus pulsos com as mãos, aquele olhar e o joelho dele bem no meio de suas pernas apertando o membro de uma forma um tanto dolorosa foi a resposta para Eren que não deveria chamar aquele homem de "fofo", mesmo que fosse um elogio. – Certo, certo... Não chamo-te mais de fofo. – Desculpou-se com uma expressão dolorida para que o homem pelo menos retirasse o joelho de lá, pois o corpo sobre o seu poderia continuar. – Mas saibas que tu és... 

Um novo aperto e um gemido de dor saindo de sua boca quase implorando para que parasse com aquela dor, pois sua cabeça e estômago já estavam doloridos, não precisava realmente de uma dor no momento. Mas era impossível para ele não dizer que aquele homem era mesmo fofo, pois aqueles cabelos negros levemente caindo em seus olhos diferentes do habitual bem bagunçados, bochecha levemente vermelha por estar dormindo até aquele momento e os olhos levemente cansados e inchados era uma visão boa demais e sabia que era uma restrita a poucas pessoas, sendo que ele era uma dessas agora. 

- Sabe, eu quero filhos um dia, então podes parar de machucar-me lá em baixo?! Vais me deixar infértil!

- Com essa informação deveria até apertar mais. – Disse sério não desviando seus olhos dos dele apertando um pouco ainda com o joelho enquanto via ele se avermelhar de dor. Depois de tudo que sofreu na noite passada aquilo era o mínimo. – Para não passar esses genes idiotas teus para frente...

- Não sei o que dói mais… – Reclamou levando uma mão até o peito dele para que saísse de cima de seu corpo. – Minha cabeça, meu estômago, meu pau ou essas palavras tuas no meu coração…

- Ainda falando coisas sem sentido? – Perguntou afastando alguns centímetros o joelho para que não o machucasse, mas lhe mostrasse que poderia muito bem fazer isso novamente caso viesse a ouvir mais alguma coisa que julgava ser estúpida. – Ou tu que és dramático até sóbrio?

- Ignore todas as merdas que disse ontem. – Pediu com uma expressão envergonhada, sabia que falava coisas idiotas sóbrio, mas bêbado sempre tinha histórias péssimas que os amigos sempre o faziam lembrar-se para passar vergonha. – Não lembro exatamente o que disse a ti, mas ignore… Sei que quando bebo me torno insuportável, mas não queria dar-te trabalho, não lembro nada, mas sei que fiz coisas que vou me arrepender...

- Sério? – Arqueou uma sobrancelha deixando um sorriso malicioso surgir em seus lábios. Eren arregalou os olhos confuso tentando entender o que aquilo significava. – Justo agora que eu estava mesmo pensando em realizar uma coisa que tu me disseste ontem? Uma pena Eren desperdiçar isso, mas vou fazer o que tu me pediste…

Saiu de cima do corpo de um jovem ainda mais curioso, vermelho e frustrado por ter perdido o que supostamente ele iria fazer nele. Se odiava por realmente não lembrar o que havia pedido na noite passada. O ver deitar-se ao seu lado e colocar os dois braços atrás da cabeça foi ainda mais frustrante, pois agora tinha a confirmação de que não teria nada mesmo.

- Nada que eu fizer para ti mudas a tua ideia? – Perguntou em um tom beirando ao implorador na direção dos olhos cinzentos. – Que maldade! Estou curioso!

- Não. – Negou sentando-se na cama, espreguiçou seus braços de forma totalmente natural mesmo que estivesse com um sorriso divertido por imaginar exatamente a expressão desacreditada do garoto para as suas costas naquele mesmo instante. – Vou tomar um banho e tu deverias fazer o mesmo… Depois de mim, obviamente.

Pegou as roupas da noite passada em uma de suas mãos e seguiu para o banheiro. Encostou a porta, mas não a fechou como das outras vezes que esteve ali. Ligou o chuveiro e não demorou nem o tempo que pensou para ver pelo canto do olho a porta ser aberta e um Eren surpreso e envergonhado entrar por ela, o mais novo esperava que estivesse trancada, mas ver o corpo pálido do outro sendo molhado aos poucos pela água o fez morder os lábios e não pensar muito no que falaria a ele pela intromissão. A desculpa de escovar os dentes não foi minimamente aceita pelo professor, só sentiu ser encostado ainda com roupa na parede fria sentindo aos poucos a roupa ser molhada pela água morna e aquele corpo bem torneado o prensando com certa rigidez enquanto depositava beijos e chupões pelo pescoço.

As roupas totalmente encharcadas foram aos poucos sendo descartadas para um canto onde não fosse os atrapalhar. Arregalou os olhos ainda mais surpreso ao ver ele continuar a beijar seu abdômen e não parando aí como das outras vezes. Os lábios bem avermelhados se abrindo gradativamente, aqueles cabelos negros totalmente molhados colados levemente em sua testa, a cena era ainda mais excitante para ele entendendo o que havia pedido na noite passada. Não queria pensar em outra coisa a não ser aquela visão, deixaria as lembranças para tentar recordar-se em outro momento.

- Não precisas… – Começou por dizer lembrando-se vagamente de algo que explicasse o motivo de não ter feito aquilo até então nele, não sabia exatamente o que era, mas era algo ruim para ele, então tentaria o impedir de fazer algo por obrigação.

Foi cortado no mesmo instante pela boca abocanhando totalmente o membro com ela, Eren deixou um gemido surpreso por de fato estar recebendo algo daquele tipo do homem. Molhado e quente eram as coisas que poderia definir aquele momento, principalmente pelo chuveiro ainda ligado fazendo com que as gotículas de água se chocassem em sua pele trazendo certos arrepios pelo contraste do líquido quente e da parede fria. Já seu corpo poderia bem pegar fogo naquele momento, tentava ao máximo se manter parado, mas era impossível. Não acreditava minimamente na possibilidade de ser o primeiro nesse quesito para Levi, pois estava incrivelmente bom, ou talvez nunca tenha recebido um da forma certa, afinal esse era o melhor até aquele dia. Puxou aqueles fios negros com uma de suas mãos para guiá-lo mais fundo, não apresentou nenhuma resistência a isso. Pela primeira vez de todas as vezes que tiveram algum envolvimento sexual tinha qualquer dominância com aquele homem, puxando com certa força o fazendo gemer contra seu membro. Chegar ao seu ápice olhando fixamente para aqueles olhos cinzentos dilatados imersos em prazer foi uma das melhores formas de esquecer-se de sua ressaca e qualquer cansaço matinal que poderia sentir.

Levi levantou-se passando a língua sobre os lábios como se estivesse saboreando criticamente o gosto do líquido ainda bem presente em toda sua boca.

- Estranho. – Afirmou colocando as duas mãos do garoto sobre seu membro para que fizesse o que deveria ser feito, pois não tinham assim tanto tempo. Não precisava de ordem ou pedido, Eren sabia. – Mas admito que foi melhor do que imaginei que seria… Hum… Foi bom para ti? Mesmo nunca tendo feito acho que fiz um bom trabalho...

- Uhum, maravilhoso… – Afirmou intercalando diferentes tipos de ritmo para arrancar mais daqueles gemidos do mais velho, mesmo sem perceber aquilo tinha se tornado um de seus sons favoritos. – E isso aqui? – Olhou para o membro do homem com um sorriso malicioso. – Preferes com a minha mão ou quer que dê bom uso a minha boca?

- Precisas mesmo de uma resposta, pirralho? – Arqueou uma sobrancelha deixando com que um sorriso surgisse mostrando aqueles dentes alinhados e brancos a mostra, era a primeira vez que tinha visto um daqueles e realmente tinha ficado um pouco surpreso. Não teve tempo para observar, afinal logo ele se desfez para uma mordida contendo um gemido.

Mais alguns minutos de um banho que deveria ter demorado bem menos ambos saíram de lá satisfeitos, mesmo que não tenha passado de um oral foi bom o suficiente. Roupas trocadas Levi saiu apenas dizendo um ‘Até mais’ apressado, pois precisava passar no próprio apartamento, trocar de roupa, praguejar-se pela irresponsabilidade de não ter voltado para casa e terminado aquela pasta ainda incompleta com suas coisas.

Já era de se esperar que quando chegasse à faculdade e os amigos o encontrassem iriam perguntar boas coisas sobre ele que provavelmente o envergonhariam. Nem isso o faria retirar aquele sorriso satisfeito de seus lábios e a leveza de todo seu corpo.

- Vivo? – Puxou as olheiras do rapaz com os dedos como se estivesse o analisando clinicamente. – É, está vivo… Agora eu rio da sua cara por ter tentado me beijar durante um bom tempo e me cantado ou espero mais alguns minutos?

- Berth. – Cumprimentou com um sorriso envergonhado coçando a nuca por aquilo, lembrava-se vagamente de algumas lamentações sobre sua solidão e algumas tentativas de beijos, mas realmente queria ser poupado disso. – Desculpe por aquilo… Nunca mais eu bebo…

- Na verdade deverias me agradecer por ter sido eu a te levar lá fora... – Afirmou divertido o olhando de cima a baixo procurando qualquer sinal de uma noite insana, mas apenas marcas bem leves no pescoço que se confundiam a aquelas de dias atrás.

- Berth nos contou que tu recebeste uma ajudazinha de um certo conhecido nosso. – Armin falou igualmente feliz com aquilo, lembrava-se bem do momento que um Berth quase gargalhando voltou para dentro e atrapalhou as carícias discretas que Jean, Marco e o loiro estavam trocando. Contou sem detalhes que um conhecido do moreno havia chego e ele deu um jeito discreto de deixar o amigo como responsabilidade dele. Aquela piscada divertida em sua direção o respondia exatamente quem seria o suposto ‘conhecido’. – Consegues andar?

- Há um bom tempo já, Armin. – Respondeu decepcionado por continuar a ouvir aquelas coisas daqueles que deveriam ser seus amigos e não inimigos como pareciam ser. – Podem parar de trabalhar essa mente maligna pensando besteira, ele me ajudou sim, mas só dormimos ontem a noite… – De fato na noite tinham só dormindo, mas não precisava contar que a manhã foi animada. – Dormindo lado a lado e recebendo agressões pela manhã...

- Dormiram de dormir ou…. – Berth olhou confuso fazendo alguns movimentos sexuais com as mãos. Eren levou a sua na própria testa deixando um tapa estalado pela falta de vergonha na cara deles naquela hora da manhã.

- Só dormimos. – Reafirmou sério e viu eles se entreolharem, como se sexo bêbado naquele caso fosse normal, mas dormirem juntos fosse absurdamente surpreendente, pois imaginar aquele professor dormindo com alguém era estranho, mas Eren estava levando isso de forma até natural, então fariam seus comentários sarcásticos depois. – Ele levou-me para casa e… Meu pai estava na.... – Logo se interrompeu por uma nova memória chegando em seu cérebro. – Meu Deus! – Disse com os olhos se arregalando gradativamente, bochechas se avermelhando realmente chocado por ter se lembrado. Os amigos de entreolharam confusos esperando a explicação. – Eu o apresentei como namorado! – Murmurou baixo para que apenas Berth e Armin escutasse. – Puta que Pariu!

- E teu pai? – Armin perguntou curioso sobre a reação do homem, mesmo não o conhecendo sabia da relação conturbada que levavam e saber que Levi estava ao seu lado talvez rendesse mais alguns fatos surpreendentes, pois um homem agressivo e explosivo contra um folgado que não aceita a negação do filho seria com certeza motivo de brigas.

- Lembram-se do meu irmão Zeke? – Perguntou para os dois que afirmaram com a cabeça. – E da vez que eu lhes disse que ele havia sido preso no tribunal durante um dos casos mais importantes da carreira dele por desacato à um policial? – Arqueou a sobrancelha para eles que iam aos poucos chegando à conclusão da situação toda. – Ele foi levemente humilhado e algemado na frente de todos, até do meu pai… Depois disso lembram-se que eles quiseram fazer o inferno na vida do homem por aquilo, mas se deram mal e até meu pai acabou preso e com um leve hematoma que nunca disse quem fez?

- Não brinca! – Berth disse gargalhando pela situação que o amigo tinha entrado mesmo sem saber. – Era ele?!

- Era. – Confirmou com um sorriso. – Uma falta de sorte do destino, mas ver o rosto do meu pai daquela forma só por saber que justamente o homem que ferrou o outro filho está saindo com o mais novo dele foi engraçado demais… Mesmo que depois eu tenha ficado meio mal por tudo que ele me fez lembrar… 

Lembrar-se do abraço apertado que recebeu até as lágrimas pararem fazia coisas surgirem em sua cabeça, mas não contaria isso aos amigos e nem para si mesmo, não queria admitir nada a ninguém, apenas seguir normalmente até onde fosse. Sem preocupações, sem expectativas, apenas aproveitar tudo. 

- Ele ficou puto com a possibilidade de eu continuar a sair com o Levi, mas o professorzinho não falou nada para contradizer o ‘namorado’, então acho que entendeu que era para deixar o velho daquela forma, pois não parece gostar muito dele também...

- Queria participar dessas reuniões de família. – Berth afirmou para o moreno com um sorriso completamente divertido por tudo que ouviu. – Imagine só o Natal?! O Levi na frente do Zeke e do Grisha, e tu no meio, vai ser engraçado! Se não acabar em assassinatos, pois...

- Não vai haver uma ‘reunião de família’. – Disse sério na direção dele negando com a cabeça. – Primeiro e talvez um dos motivos mais óbvios é que eu não mantenho mais tanta ligação com meu pai e muito menos com aquele que se intitula meu irmão. – Arqueou uma sobrancelha negando novamente como se fosse a coisa mais absurda que tinha ouvido até então. – E o segundo é que eu não tenho nenhum envolvimento com ele, nada amoroso ou algo como namoro para levá-lo nessas coisas caso viessem a acontecer. E nem quero ter algo com ele a esse ponto.

- Tens certeza que não quer? – O moreno insistiu com um sorriso sarcástico nos lábios lembrando-se bem do amigo lhe pedindo silêncio sobre estar apaixonado pelo professor na noite passada. Eren pela forma que o olhou não lembrava-se minimamente de ter dito aquilo, mas Berth não esqueceria tão fácil disso, pois ajudaria-o entender esses sentimentos. – Não tens nenhum sentimento por aquele homem, mesmo?

- Não, não tenho nenhum sentimento por ele a não ser atração física e sexual. – Disse o mais sério que pode, mesmo que por dentro estivesse com uma sensação estranha como se estivesse mentindo sobre isso, apesar de não saber realmente. – Por?

- Nada… – Admitiu desviando o olhar divertido. Armin o olhou curioso e Eren deu de ombros não insistindo naquilo. – Tu vais nos contar o que ele sussurrou no teu ouvido? Contou-te a idade dele finalmente?

- Contou. – Respondeu com um sorriso satisfeito por mudar o assunto. Armin que não tinha presenciado isso arqueou as sobrancelhas curiosos com mais esse detalhe se arrependendo um pouco de não ter ido auxiliado o amigo com Eren, pois havia perdido muita coisa. – Mas eu não vou contar a nenhum de vocês, apesar de achar o número bem surpreendente...

Aquela frase não ajudou em nada a curiosidade deles, não tinham nem vontade inicial de descobrirem a idade dele quando o viram pela primeira vez, mas agora só de haver esse mistério que apenas Eren sabia lhe deixavam igualmente curiosos. Ao vê-lo caminhar na direção da sala de aula murmurou na direção do loiro.

- Ouvi declarações bêbadas do Eren ontem dizendo que estava começando a se apaixonar, e ver o Levi te olhando como se pudesse matar-te com qualquer coisa a disposição, foi uma resposta sobre algumas dúvidas minhas…. Não esquecendo-se dele indo atrás do Eren lá fora, tenho certeza que é mútuo, mas nenhum dos dois admite isso ainda. – Afirmou com certa convicção na direção do loiro que não sabia se ria ou ficava boquiaberto com tudo aquilo. – Começa assim Min, primeiro tu sentes esse ciúme absurdo e depois admite para si mesmo que gosta da pessoa… E só dele ter o cuidado ontem a noite já nos responde que gosta do Eren, mesmo que não saiba ainda...

- Não acredito que vou influenciar meu melhor amigo a ir atrás de alguém misterioso daquele tipo. – Disse no mesmo tom satisfeito com o que estava ouvindo, queria principalmente a felicidade do moreno de olhos verdes e se para isso precisasse dar um empurrãozinho era isso que faria. – Vale mesmo o risco?

- Vale. – Afirmou dando dois tapinhas de concordância em seu ombro. – Ele é estranho, já matou pessoas, têm respostas sarcásticas e é extremamente bruto e estressado sem razão, mas é isso que agrada o nosso Erenzinho, então…

- Não vou julgar gostos estranhos, afinal… – Deu uma boa olhada para o homem entediado sentado na cadeira com as pernas cruzadas deslizando o dedo sobre a tela do aparelho celular. As mesmas tonalidades de roupas sociais no corpo, cabelo bem alinhado esperando o tempo certo para que iniciasse a aula logo. – Atraente ele é e estranhamente quando nós estávamos com o Eren e iniciaram aquele meio flerte ele estava mais gentil, então não é tão masoquista da parte do nosso amigo o querer...

- Lembrando-se como ele trata a… – Aproximou-se ainda mais do loiro para dizer o nome da outra professora. – Hanji, tenho certeza que ele não é exatamente como deixa os outros pensarem que é…

Levi para sua sorte acabou por desviar facilmente o trajeto até a sala para não encontrar a melhor amiga e Erwin no corredor, ignorou completamente as ligações que recebeu de Hanji depois de ter literalmente sumido do bar, mas sabia que uma hora ou outra teria que afirmar que acabou por sair com alguém. Não precisava dizer exatamente com quem ele tinha saído, mas se aqueles encontros casuais continuassem talvez não tardasse para que descobrisse, afinal sempre foi uma boa investigadora. Tinha feito coisas que nunca se imaginou fazendo em questão de pouquíssimos dias e isso era um pouco assustador.

Primeiro sentir aquele ciúme sem razão, pois naquela altura do campeonato já estava nomeando aquele sentimento conturbado como ciúme, afinal não haviam outras palavras para explicar o que era aquilo. Segundo ir atrás dele quando o viu saindo com o mesmo amigo que lhe jurou tentar bater caso fizesse algo de ruim à Eren, vê-lo tentando abraçar o moreno foi igualmente irritante para ele que novamente sentiu aquele gosto amargo na boca com vontade de afastá-lo e foi justamente isso que tinha feito. Terceiro ter abraçado ele e sentido as lágrimas dele molharem seus ombros, não conseguia o afastar a não ser tentar confortá-lo. Nunca tinha feito ou ao menos se importado naquele tanto com alguém e agora estranhamente estava até demais. Quarto foi ter dado banho e dormido ao lado dele sem nenhuma intenção de ter algo além de sono, só dormia assim com seus pais e já fazia um bom tempo que nunca mais tinha feito isso; e também Hanji, mas essa era quase de sua família. Quinto foi ter realmente se ajoelhado e o feito um oral, seu primeiro e estranhamente sentiu desejo naquilo, principalmente depois de ficar um bom tempo na cama observando aquele semblante calmo dormindo ao seu lado, lembrava-se bem daquele olhar dolorido enquanto lhe perguntava se tinha nojo dele. Admitir seus receios e estranhezas que nunca havia admitido para ninguém era outro fato de tantos outros que rodeavam sua cabeça.

- Professor? – Um dos alunos lhe perguntou retirando de seus pensamentos. Ergueu a cabeça procurando com o olhar quem estava lhe chamando. – Podemos fazer aquela atividade novamente?

- Atividade? – Repetiu com a testa franzida confuso, tinha dado poucas aulas, mas não se lembraria exatamente de todas que havia direcionado a tantas turmas. – Especifique, criança.

Aquele substantivo direcionado ao aluno não o ajudava a parecer menos velho, e foi isso que o olhar de Eren lhe disse, mas apenas o ignorou dando total foco ao rapaz próximo a ele que provavelmente estava sendo o porta-voz de outros que não tinha coragem de falar isso diretamente a ele.

- Falares um caso hipotético para que nós descobrirmos o final e como agiremos com a situação… – Esclareceu engolindo em seco pelo olhar sério que estava recebendo.

- Olhem, aquilo foi uma coisa única apenas para conseguirem as perguntas que queriam, mas não vejo uma real necessidade de fazer novamente, não vai acrescentar em nada, pois não vai ser cobrado em testes e… – Deu de ombros e viu ele suspirar insatisfeito por ter perdido aquilo. – Claro que trabalhar em casos reais possa vir a trazer certa experiência e olhar crítico, mas não quero que vão se basear apenas por isso, então… Enfim posso tirar quinze minutos do final para isso vez ou outra se fazem tanta questão, mas o conteúdo que a Universidade me obriga… – Deu uma tossida para esconder o tom desgostoso que disse aquilo, afinal não esperavam um comportamento de um professor daquela forma, mas esse sempre reforçava o quanto odiava estar ali, então agora com certa intimidade diferente do primeiro dia de aulas deram a chance de abrir um sorriso ao ouvir aquilo. – Agradavelmente me sugere, é claro, pois eles não me pagam um salário ridículo e ainda me obrigam algo, eles tem certo planejamento de conteúdo e eu devo finalizar isso...

Cutucou Armin com o cotovelo e com um sorriso malicioso o viu arquear uma sobrancelha confusa em sua direção pela interrupção, pois era sempre ele que o atrapalhava e não o contrário, principalmente na aula daquele homem.

- Sobre tua pergunta de dias atrás, é… – Afirmou com a cabeça sorrindo ainda mais abertamente, mesmo que o loiro não estivesse entendendo minimamente o que aquilo significava. – A sensação é realmente muito boa. - Piscou com um de seus olhos de forma maliciosa. - Se as mãos são macias, a boca consegue ser ainda mais…

Aos poucos abriu a boca gradativamente, não precisava nem dizer todas as palavras para entender o que o moreno estava se referindo. Aquelas bochechas avermelhadas e sorriso traquina já lhe respondiam exatamente o que ele tinha recebido do professor. A teoria de Berth fazia ainda mais sentido para ele agora naquele momento.

Sentiu o bolso da calça vibrar e antes que retornasse o conteúdo de onde havia parado pegou em sua mão encostando-se na parede, giz na mão e o semblante levemente desinteressado esperando que a janela de conversa abrisse. Não era nada profissional interromper a aula por uma notificação qualquer, mas sentia que era necessário.

“Babaca, deixei-te o número para ir me informando tudo e não ignorar-me, obviamente consegui teu número e cá estou novamente suprindo sua incompetência. Consegui novas coisas, vou mandar em anexo. Não seja um idiota em ignorar-me, pois quanto menos tempo contigo vai ser melhor para nós dois.”

Sabia exatamente quem havia lhe mandado a mensagem um tanto agressiva, entretanto qualquer humor ou resposta sarcástica que tivesse em seu corpo para mandar algo agressivo para ele tinha cessado no momento que o anexo chegou a sua disposição. Mesmo que discreto seus olhos arregalaram um pouco e uma mão foi até o lado de sua testa massageando-a em uma tentativa de ver se estava lendo certo: Relatório Jaeger.

Bloqueou a tela sem ler de fato o relatório em questão, pois precisava de tempo, colocou no bolso novamente e mesmo que visse certos olhares interrogativos pela clara mudança de humor continuou a despejar o conteúdo neles, ainda que em seu subconsciente estivesse se perguntando o que estaria escrito naquilo.

 



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