1. Spirit Fanfics >
  2. Mistérios >
  3. Afilhada

História Mistérios - Afilhada


Escrita por: Kach

Capítulo 55 - Afilhada


Ao chegar foi direto para seu apartamento, organizou boa parte dos pertences e então tomou um demorado banho para enfim ir até os pais. Mereciam uma visita e também falar sobre a menina, os dar detalhes, pois sabia que queriam ouvir isso presencialmente e não através de um celular. Diante disso, foi até lá e jantou com os dois, trocaram algumas palavras e então retornou estranhando a sensação de ficar sozinho naquele apartamento.

Era estranho estar tão incomodado e o achando tão vazio, apesar dos diversos móveis, das coisas que gostava e tantos detalhes que foi colocando ao passar dos anos, mas sabia que o que estava sentindo falta não era um móvel ou algo nesse sentido e sim um rapaz em específico que estava na casa da mãe.

“Será uma semana difícil e os meses serão piores ainda…” — Admitiu em pensamento, mas ali sozinho deitado em sua cama olhando para o teto poderia gritar que ninguém ouviria. — “Pelo menos ficaremos perto durante essas férias, não é o suficiente, mas pelo menos é um pouco…”

- Tch, és um idiota, Ackerman, pare de falar sozinho. 

No dia seguinte foi até a Delegacia, finalmente retornar a aquele lugar com a consciência limpa, sem aquela sensação suja do sangue de Isabel em suas mãos, sem os olhares julgadores dos colegas, esqueceria disso, pois só queria entrar naquela sala de sempre e encontrar seus amigos. Sentia mais falta daquele lugar do que pensou que sentia, mas manteve-se com a expressão neutra de sempre. O primeiro destino foi a sala do padrinho, não negou o sorriso ao vê-lo descaradamente esconder uma garrafa de bebida em uma de suas gavetas ao ver que a porta tinha sido aberta. O segundo destino foi aquela sala onde Isabel e Farlan o esperavam com sorrisos no rosto, logo de primeira recebeu um abraço apertado da mulher e mesmo pedindo que o soltasse não passou tanta credibilidade, pois queria sim aquele carinho. O loiro deu um abraço meio incerto, durou poucos segundos, mas o suficiente para darem boas risadas.

Disse que tinha uma novidade e queria os informar, obviamente teve toda a atenção deles para que falasse. Descartou qualquer suspense e contou em detalhes sobre Beatriz. Não demorou nem alguns segundos para que recebesse mais bons abraços de Isabel animada com a ideia querendo saber mais sobre ela e como Eren estava reagindo com aquilo. Os contou com alguns detalhes, já que quando contava sem muitos deles recebia palavras críticas de quão insensível era.

Ao longo dos dias sua atenção era dividida entre suas obrigações e aquele celular, odiava-se por ser tão dependente, mas toda vez que o celular vibrava dava uma verificada para ver se era Eren ou qualquer outra coisa, preferia que fosse o moreno, mesmo que fossem mensagens quaisquer falando sobre seu dia a dia. 

Toda noite aquela cama parecia se tornar maior e fria, Eren não havia o dito por mensagens e muito menos quando o ligava, mas a sua cama na casa da mãe também estava desconfortável. Portanto, vez ou outra entrava no quarto da mãe para que pudesse dormir juntos.

Eren, por sua vez, chegou com algumas boas malas e mochilas na casa da mãe preparado para uma semana com ela e logo em seguida partiria para uma nova fase de sua vida. Estava ansioso, animado e tantos outros sentimentos no peito que nem sabia nomear. 

Ao chegar deu aqueles habituais abraços apertados sufocando a mãe, porém logo a puxou seriamente para que se sentasse no sofá da sala, pois precisavam conversar. Obviamente estranhou e sentiu-se estranha até o filho começar a falar o que de tão importante precisava tratar a ponto de que precisasse se sentar.

- Como posso começar a falar um negócio desse... — Pensou por instantes, mordiscou os lábios olhando para o chão da sala, pois se levantasse o olhar sabia que encontraria um par de olhos castanhos quase o obrigando a começar a explicar antes que surtasse internamente. — Bom, vou ser direto igual meu namorado é e fez com meus sogros.

Carla descartou qualquer término, afinal se fosse não falaria “namorado”, porém não a deixava mais tranquila, pois se até Kushel e August tinham sido notificados, boa coisa não era.

- Fala logo, Eren, está me preocupando enrolando dessa forma.

- Eu e o Levi conversamos dias atrás e chegamos a uma decisão em conjunto, gostaria de a partilhar contigo, pois… — Disse calmamente, pois se começasse a falar rápido temia que sua mãe não entendesse ou falasse coisas que não iria querer ouvir. — Sei que sou jovem, irresponsável, mas quero isso com ele… Sinto-me pronto e gostaria do teu apoio nisso… 

- Fala logo, Eren. — Repetiu cada vez mais inclinada para dar uns tapas no filho para que a explicasse.

- Eu e o Levi vamos adotar uma criança! — Disse rápido após tomar aqueles cinco segundos de coragem.

Não queria encarar a mãe e muito menos julgar se ela estava feliz ou crítica sobre a notícia. Se olhasse veria apenas um semblante chocado se transformando gradativamente em um sorriso.

- Bom, se falasse isso meses atrás irá te xingar chamando-te de irresponsável e até sem noção, pois não tens estrutura nenhuma para uma criança, Eren. — Disse tranquilamente fazendo com que o rapaz  levantasse seu rosto para olhá-la bem menos nervoso e até um pouco magoado, mas com uma vontade de rir, afinal sua mãe estava certa. — Mas o Levi tem essa responsabilidade, então se ele admitiu que podem fazer isso, sou parceira em achar uma ótima ideia.

- Como assim: “Se o Levi admitiu”? — Estreitou os olhos falsamente incomodado e até enciumado por ver a mãe se bandear para o lado do genro invés do próprio filho. — Eu sou responsável também.

- Filho, és a pessoa que esquece de vestir meias de cores parecidas e ao menos lembra-se de pentear o cabelo após acordar. Diversas vezes tive que avisar-te para desvirar a camiseta antes de sair de casa, pois nem tinha notado que estava ao avesso. E eu poderia até defender-te dizendo que isso acontecia quando eras apenas uma criança, mas Levi já me disse que teve que avisar-te recentemente sobre isso. Então, tens mesmo a certeza que és tão responsável assim? — Negou não esperando respostas. — Não és, mas é meu filho, então estou feliz que arrumaste alguém para pôr-te esse juízo necessário nessa sua cabeça avoada. Estou feliz com a notícia, muito feliz e animada em os apoiar em tudo que precisarem para uma coisa assim, pois pelo que sei do Levi ele não aparenta ser alguém que sabe como cuidar exatamente de uma criança e tu menos ainda… Posso os ajudar nisso e vou ficar muito feliz em estar por perto quando fizerem isso. Agora vem cá para o colo da mãe e conte-me com detalhes sobre a adoção.

- Então está feliz?

- Não vejo motivos de não ficar.

- É que… — Começou e logo descartou vendo o quão estúpido tinha sido em pensar que a mãe pensaria coisas erradas ou os julgaria. Sentou-se ao seu lado pronto para despejar a ela tudo que sabia sobre Beatriz. — Desculpe... Fui idiota em pensar que você seria contra… 

- Não seria contra, meu amor. Sempre soube que teria netos vindos de ti, pois baba em crianças desde que conheço-te, porém ao conhecer o Levi admiti que isso nem seria ponderado, pois ele não tem o perfil de gostar dessas coisas… Enfim, obviamente iria apoiar-te nisso, gosto de vocês dois e estou feliz com o passo que estão dando nesse relacionamento. Até poderia falar sobre casamento ou coisa do tipo, mas conheço-te bem o suficiente para poupar meu tempo, já que sei que não fará isso, até mesmo com o Levi… Infelizmente… Portanto, deixamos isso de lado, fale-me sobre a criança.

- É, sem chances de casamento. — Mordeu os lábios com certa diversão pronto para despejar informações sobre Beatriz para que a mãe não percebesse sua clara diversão.

 

Após uma semana Levi  pensou que logo receberia uma mensagem de Eren o dizendo que estava partindo, mas recebeu uma que o deixou completamente frustrado logo ao acordar. 

“Bom dia, meu amor, desculpe-me, mas vou ter que ficar mais uma semana, preciso ajudar minha mãe em algumas coisas por aqui. Conversei com a Sarah e ela deixou, desculpe-me mesmo.”

Passou o resto da manhã em um mau humor que foi notado até por quem nem o conhecia. Almoçou com os amigos, porém sem qualquer diálogo, apenas olhares típicos pedindo paz e que o deixassem na dele sem conversas.

Uma das únicas coisas que o trazia uma real felicidade era ir visitar Beatriz no orfanato, já que seu pai havia tido sucesso em conversar com seu amigo e a transferir para perto. Logo no primeiro dia de mudança Levi foi visitá-la e a notificar que tinha sido ele para que ficassem juntos, recebeu um dos melhores sorrisos que já tinha visto e um beijo na bochecha falando que tinha sido uma ótima ideia. Finalmente a comprou os lápis de cor e sempre que era possível ia até ela receber boas aulas de coordenação motora para melhorar seus desenhos, já que a Professora Beatriz era crítica demais com seus rabiscos.

- É sério, estou quase a raptar o Eren para trazê-lo para cá logo, puta que pariu, uma semana sem o pirralho e já está nesse mau humor. — Sussurrou para a mulher de cabelos ruivos torcendo que tivesse sido baixo a ponto de Levi não ter ouvido, pois não queria mais um olhar de ódio vindo do colega. — Já imaginou o inferno que isso aqui vai ser quando se passarem meses deles longe um do outro?!

Nos outros dia estava até normal, ou apenas conseguia disfarçar bem, ninguém sabia a resposta, mas naquele em especial até o próprio padrinho havia recebido um olhar estreito deixando evidente que não estava tão aberto para piadas ou qualquer palavras a não ser trabalho. 

Já o tinham visto diversas vezes estressado e sem paciência, mas era sempre com algum motivo, pois apesar de sério não destilava ódio a qualquer um como estava naquela tarde em específico. Haviam algumas hipóteses na mente dos dois, mas não sabiam se eram as certas e nem queriam arriscar questionar Levi.

- Estamos fodidos. — Isabel concordou quase vendo uma aura escurecida de raiva em torno do corpo do homem que estava sentado e de costas para eles. — Acho que vou pedir férias de um ano ou mudar-me de cidade… 

Iriam ficar mais naqueles sussurros, mas uma figura entrando silenciosamente por aquela porta com um sorriso gigante os fez sentirem-se extremamente aliviados. Cabelos bagunçados claramente pelo vento da viagem que fez, uma camiseta larga verde, uma bermuda até os joelhos e chinelo nos pés. Tão desleixado que até dava um contraste divertido ao lado de Levi que sempre era organizado. Nenhum deles faria qualquer piada, pois estavam quase a abraçar Eren em agradecimento pela visita.

Levou o indicador até os lábios pedindo silêncio já que Levi ainda não tinha notado sua presença e continuava focado a digitar algumas coisas em seu computador.

Eren caminhou ainda mais silencioso até atrás daquela cadeira e colocou os dois braços em torno daquele corpo com certo carinho confiando que Levi reconheceria e não o agrediria pensando que era algum dos colegas. Confiaria em sua sorte, mas mesmo se recebesse algum soco o receberia com um sorriso, pois estava morto de saudades daquele homem enfezado.

- Isa, sem abraços idiotas, solte-me. — Pediu e abaixou o olhar para retirar com a mão aqueles braços, mas não encontrou os pálidos finos de sempre e sim dois bronzeados e em um dos dedos aquela aliança cinzenta igual a sua.

Deveria ter reconhecido pelo perfume, mas não se julgaria por não ter acertado de primeira já que Eren havia dito que ficaria mais uma semana com a mãe. Mordeu os lábios em negação por ter caído tão fácil naquela mentira e o principal: Ter seu humor tão alterado por culpa disso.

Sentia-se completamente manipulado.

- “Isa?” — Eren repetiu apertando ainda mais aquele corpo com certa diversão ignorando que Farlan e Isabel estavam o encarando com sorrisos nada discretos. — Normalmente me chama de “idiota”, "pirralho" ou “amor”, mas quiser inovar nos apelidos carinhosos por mim tudo bem. — Levi moveu um das mãos até o braço do moreno e o beliscou com certa força para que parasse com aquelas palavras e o soltasse logo. Foi eficiente, mas não o suficiente para que se calasse ou o largasse. — Hey, sem beliscões, hoje eu quero carinho. Vim fazer-te uma surpresa. — Beijou a lateral de sua cabeça algumas vezes brincando com perigo de continuar o apertar e se manter daquela forma carinhosa com Levi. — Gostastes?

Era óbvio que tinha gostado e todo seu mau humor misteriosamente já tinha deixado seu corpo apenas ao sentir aquele braços e os beijos, mas ninguém precisava visualizar o efeito que Eren tinha em si, poderia disfarçar bem por alguns minutos.

- Não acreditaste mesmo naquela minha mentirinha, né? — Mais um aperto sentindo aquele perfume forte entrar em suas narinas, sentia tanta falta daquele cheiro e nem tinha se dado conta o quão viciado era em Levi. — Acreditaste… — Admitiu ao ver todo aquele mau humor exalando do corpo do namorado. — Muito bem, garoto, era a intenção para te surpreender no trabalho e se você não acreditasse em mim eu ficaria bem frustrado… Eu sou um ótimo mentiroso, não achas?

- Vá para o inferno, Eren. — Devolveu apertando mais uma vez para que o soltasse, mas independente de quanta força colocasse Eren não o soltaria.

- Ah, posso ir, Jean vive dizendo que você é o “diabo”, então se eu for para o inferno encontrarei-te por lá comandando tudo e me sentirei em casa. — Mais uma aproximação para deixar um beijo na lateral de sua cabeça, apesar de querer nos lábios e não ali. — Não estou certo, esquentadinho? 

Os dois policiais riram sabiamente baixo pela interação que estavam vendo, poderiam mesmo os deixar sozinhos, mas queriam se divertir mais um pouco às custas daquele casal. Talvez nunca fossem acostumar com aquele relacionamento, principalmente com Eren chamando Levi com aquelas palavras e até apelidos engraçados sem receber olhares mortais ou agressões realmente com intenção de machucar.

- Está muito engraçadinho para o meu gosto, andou usando que tipo de droga para achar que tens qualquer palavra contra mim?

Gargalhou baixinho pela frontalidade, mas não afetou-se minimamente com as palavras grossas que ouviu. Após tanto tempo as suportando poderia admitir que já era quase blindado a alguma delas, e naquele dia ouviria todas com um sorriso no rosto, pois só queria ficar perto de Levi.

- Única droga que usei nesses últimos dias foi “saudades” e agora estou matando ela te agarrando. Bem melhor trabalhar comigo por perto, não acha? Não vou largar-te nem que me ameace com mordidas, vou até gostar, pois estou com saudades de tudo seu, inclusive tuas mordidas e palavras ríspidas me chamando de idiota.

Levi tentou soltar-se mais uma vez e fracassou, talvez não tivesse tentado ser tão efetivo também, pois nem tinha beliscado com tanta força ou forçado as mãos dele para se soltarem. Queria um abraço digno e não aquele, mas também era igualmente bom e o trazia sensações boas.

- Estou armado, Jaeger, solte-me antes que bata ou queira usar essa arma em ti. Estou a falar sério, garoto, não teste até onde minha paciência pode chegar.

- Não seria capaz. — Descartou com um risada baixinha ao ouvir aquele tom de voz ameaçador e sério, porém para ele não surtia o efeito desejado e sim o contrário de o apertar ainda mais. — Diz-me palavras brutas, mas sei que estava com saudades de mim. Não minta, Ackerman. — Aproximou-se dele para que nem Farlan ou Isabel ouvissem, apenas Levi. — Eu amo você.

Levi julgava impossível manter-se normal quando Eren o dizia que amava, apesar de tantos meses acostumando-se a ouvir aquelas palavras toda vez seu coração falhava uma batida, a respiração ficava estranha e os olhos se desviavam para qualquer lugar, apesar de em alguns momentos nem estar fazendo contato visual com o rapaz. Sentia-se embaraçado em ouvi-las, mas era um sentimento bom e vez ou outra quando Eren merecia dizia que o amava também. Entretanto, ele não estava merecendo naquela tarde, não na frente dos amigos, não depois de ter mentido descaradamente que iria ficar longe por mais tempo.

- Vá se foder, Eren. 

Apoiou seu queixo no ombro de Levi para sussurrar algumas palavras novamente, poderia até ter algumas frases sarcásticas e algumas respostas ao mau humor do namorado, mas estava com as bochechas bem vermelhas e um sorriso gigante nos lábios aproveitando aquele abraço desajeitado. Estava embaraçado, mas não se importava de estar daquela forma tendo plateia e possibilidade de qualquer colega de serviço de Levi entrar por aquela porta e os encontrar assim.

- Sim, eu vou foder, mas contigo quando for liberado daqui e então irá me apresentar sua cama aqui nessa cidade. — Sussurrou com certo desejo para que apenas ele ouvisse, Levi deu um sorriso malicioso e logo mordeu os lábios finalmente gostando de alguma frase que havia saído daquela boca naquele dia. — Estou ansioso para marcar território nela e ter você dentro de mim.

- Proposta interessante. — Admitiu no mesmo tom baixo, mas que dessa vez foi ouvida pelos dois colegas que se entreolharam curiosos, mas nem tanto, pois vindo daquele casal, não queriam realmente saber de tudo que conversavam.

Eren afastou-se do abraço e se espreguiçou tentando controlar aquele rubor no rosto, mas sabia que seria impossível. Apoiou-se na mesa do namorado e cruzou os braços olhando para os amigos com certo embaraço por tê-los o olhando com tamanho interesse, principalmente para as suas bochechas bem avermelhadas. Levi sentado ao seu lado o olhava com desdém ainda desacreditado com a mentira que recebeu e que até Carla foi cúmplice, apesar de ter gostado da surpresa.

- Quanto tempo ainda você tem que ficar aqui? — Questionou curioso querendo bons beijos, mas não faria isso na frente de Farlan e Isabel, apesar de querer.

- Mais duas horas e estou livre. — Voltou-se para o computador, apesar de saber que já não teria qualquer foco, não com uma criança hiperativa ao seu lado batendo o pé e olhando para seus lábios com certo desejo nada discreto. Eram mútuos, mas Eren não estava merecendo recebê-los. — Não temos brinquedinhos para que pessoas da sua idade possam passar o tempo, então não mexa em nada, pirralho. E muito menos saía explorar por aí.

- Na realidade tem sim. — Concordou sério mordendo o lábio inferior, os três o olharam estranhando aquilo tão repentinamente, mas não o perguntaram, sabia que Eren era falante a ponto de falar algo e logo os despejar informações sem que nem tivesse tempo de pensar em questioná-lo. — Seu padrinho sempre tem cartas, posso dar uma passadinha lá jogar umas partidas com ele para matar o tempo. Talvez eu aposte com ele para que te libere mais cedo, vou até me esforçar para ganhar do Pixis.

- Não ouse sair dessa sala, Jaeger. — Ameaçou sabendo bem que Eren era capaz de ir até lá e o padrinho com certeza aceitaria, já que era um viciado. Então teria que buscá-lo na sala do careca a força, pois com certeza estaria a beber enquanto jogava com o homem. — Não vais incomodar o Pixis com tua estupidez e falta de senso.

- Pode ser. — Deu de ombros descartando uma opção que nem tinha sido verdadeiramente ponderada em sua mente. — Olhar-te trabalhar também é bom, gosto da visão.

Olhou-o sentado naquela cadeira, o uniforme bem colocado no corpo, os cabelos caindo ligeiramente na testa, aqueles lábios avermelhados e aquela pele pálida que queria muito marcar com seus dentes. Moveu a cabeça e fechou seus olhos por alguns segundos para afastar aqueles pensamentos maliciosos da mente, afinal tinha sido muito óbvio neles a ponto de todos ali terem percebido.

Voltou sua atenção para Farlan e Isabel forçando uma expressão mais séria e até preocupada. 

- Facilmente posso ficar aqui se não for os atrapalhar… 

- Relaxa, Eren, sinta-se em casa. — Farlan descartou movendo a mão indiferentemente a presença do rapaz de olhos verdes naquela sala que normalmente não era tão receptivas a qualquer visita, já que diversos colegas de uniforme nunca tinham pisado por ali anteriormente e até se surpreenderam com Eren, naquele vestuário, ganhar acesso com facilidade. — És nosso amigo, podemos suportar-te por algumas horas.

- Trouxe algum doce contigo? — Isabel mordeu os lábios com certa ansiedade e desfez aquela animação no instante que viu uma negação do rapaz, então cruzou os braços e fez um bico chateada. — Eu mataria por um docinho hoje… Que pena…

- Então, vais morar com o Levi durante as férias? — Farlan perguntou para Eren curioso, apesar de saber da resposta, não deixava de ser divertido ter aquelas confirmações.

- Sim… Não faria sentido eu ficar em um hotel, não acha? 

O loiro sorriu em falsa decepção por Levi ter passado o péssimo costume daquelas respostas ao rapaz, mas o próprio Farlan já tinha sofrido boas vezes com aquelas palavras de Eren, então não sabia se Levi era realmente o culpado daquilo e sim apenas a personalidade do próprio Eren.

- Quase uma vida de casados, então. — Sugeriu segurando um sorriso cada vez mais inclinado a deixá-lo desconfortável ou tirar reações engraçadas de Levi.

Levi colocou força nos pés e girou aquela cadeira para encarar os dois amigos com um desdém evidente os julgando.

- Tch, vão ficar a conversar ou fazer aquilo que é o motivo de receberem salários? 

A ameaça poderia ser efetiva em outros momentos e para outras pessoas, mas não para aqueles dois, ainda mais com a presença de Eren rindo de sua cara por vê-lo autoritário daquela maneira e aquele brilho no olhar de alguém que claramente estava bem feliz com a presença do moreno ao seu lado.

- Credo, impressão minha ou ele parece meio mau humorado hoje? — Eren perguntou para os dois amigos com uma falsa confusão tentando não sorrir pela expressão estreita e até ameaçadora que estava recebendo de Levi para que se calasse antes que sofresse consequências. — Eu deveria ter imaginado após ouvir um “Boa sorte” do Gunther ao me dar passagem por aqui. Ele normalmente faz piadas e não resmunga como fez, então… — Olhou para Levi interrogativo procurando qualquer mudança de postura ou de expressão, mas mantinha-se inabalável como se fosse inocente naquilo. — O que fizeste com ele?

- Nada demais, por que achas que eu fiz algo? — Arqueou uma de suas sobrancelhas e lançou um olhar estreito rápido para os dois amigos antes de voltar-se para o namorado com certo desafio para que respondesse aquilo. — Tch.

- Ahn… Não acho mesmo que preciso de respostas para essa pergunta. — Recordava-se de Gunther estar sem nenhum hematoma na pele, então admitiu que Levi apenas tinha utilizado suas palavras “amorosas” com o colega. Diante disso, não valia tanta a atenção de Eren. — Enfim, minha mãe mandou lembranças a ti e disse que está animada para visitar seus pais daqui um tempo no Natal.

- Suponho que sim, os meus estão também e ficam a despejar informações que eu ao menos queria saber… 

Isabel deu um pequeno sorriso orgulhoso pensando se um dia em todo o tempo que conviveu com Levi imaginou que estaria presenciando um diálogo como aquele em que os dois estavam tendo a sua frente. O homem que saía com diversas pessoas sem se importar em lembrar-se de nomes, o que era ríspido e descartava qualquer possibilidade de relacionamento sério, agora estava ali a falar tranquilamente com o namorado sobre os pais terem uma boa relação com a sogra. Era divertido, mas também aquecia o coração dos amigos satisfeitos daquilo ter acontecido na vida de Levi.

- Sabe o que eu andei pensando? — Suspirou fundo prestes a ouvir algo irônico, mas se surpreendeu ao receber apenas o silêncio dele aguardando que concluísse o que queria falar. — Será que conseguimos ganhar um dia com a Bea? Queria ela com a gente nesse dia e sei que ela vai gostar… Não queria ficar longe dela… 

- Precisamos a apresentar para a família, não é? — Concordou com um pequeno sorriso no canto dos lábios imaginando o quão animada aquele pequeno ser humano ficaria com aquela atenção de pessoas babonas em cima dela. Talvez no início ficasse inquieta e até envergonhada, mas sabia que não demoraria tanto tempo para se soltar e agir normalmente. — Acho válido tentarmos. Meus pais ainda não conseguiram acesso para visitas e suponho que a melhor forma seja na casa deles e não no orfanato com tempo limitado, além disso sua mãe também merece e já que estará presente… Vai ser a melhor data para isso.

- Qualquer coisa eu vou raptá-la. — Eren disse sério olhando para frente adotando uma expressão de alguém que estava planejando em pensamento fazer mesmo isso. — Posso ir preso, ok, é errado roubar uma criança, mas vai valer a pena ao ouvir aquelas gargalhadas gostosas que só ela tem. — Sorriu e olhou para o homem sentado que estava ao seu lado. Passou a língua ligeiramente em seu lábio inferior. — Ainda mais dependendo do policial que me coloque algemas, não vai ser ruim para mim, vou até gostar…  

- Tch, tenha senso, Jaeger. 

- O que? — Fingiu não entender o semblante julgador que Levi o tinha direcionado. Apontou para o amigo de cabelos loiros. — Não seja convencido, Levi. Eu estava a falar do Farlan, ele é até bem bonitinho. — Isabel concordou no mesmo instante divertida, mas aquela diversão não foi partilhada por Farlan que arregalou os olhos prestes a fugir daquela sala, pois claramente o ódio de Levi se voltaria a ele. — Meu tipo é você, amor, cabelos pretos e agressivo… — Passou os dedos na cabeça de Levi afastando aqueles fios de cabelo com seus dedos em um carinho desajeitado, apesar do policial encará-lo para que parasse com aquilo. — Mas não resisto a um loirinho… 

Farlan queria mandar Eren calar a boca, pois estava claramente a brincar com o perigo e em breve perderia todos os seus dentes, inclusive perderia o relacionamento, mas ao contrário do que pensaram a expressão de Levi estava até tranquila. Tranquila até demais, e isso os assustava também.

- Sim, eu sei, igual o Armin que até já beijaste na minha frente. — Disse encarando aqueles olhos verdes lembrando-se exatamente daquela noite no bar onde ainda eram dois amigos que não tinham nada um com outro. — Sei bem de seus gostos, pirralho.

Sorriu envergonhado e coçou sua bochecha por terem retornado naquele tópico, mas gostava de ver aquele lado ligeiramente enciumado do namorado. Era bom, mas sabia que tinha limites e não deveria brincar tanto.

- Aquilo foi só uma aposta idiota e que não se repetirá. Eu era solteiro na época, supere isso. Vamos mudar de assunto, por favor…  

- Talvez sobre esse seu vestuário. Que tipo de roupa é essa? — O olhou de cima a baixo um tanto crítico, principalmente para aquelas pernas e os chinelos nos pés. — Deveria vestir coisas apropriadas para a sua idade, depois tu reclamas que chamo-te de pirralho, mas olhe-se no espelho. — Mais um olhar antes de estalar a língua, era falso, apesar de apenas ele saber disso. — Parece um adolescente que acabou de acordar do “soninho” da tarde.

- Está criticando ou me elogiando? — Olhou para baixo não entendendo as reclamações já que Levi deveria estar bem acostumado em vê-lo com aquele mesmo estilo de roupa quando estavam sozinhos em casa. — Não quis perder tempo, vim direto da minha mãe e estava assim lá. Então acabei não trocando de roupa… — Coçou sua nuca um pouco embaraçado por estar tão desleixado daquela forma no ambiente de trabalho de Levi que sempre usava roupas nas proporções certas e sempre tão organizado. — Não achei que veria problema, mas dá próxima venho visitar-te mais formal, acho que teus colegas vão estranhar que seu namorado vista-se igual um adolescente… 

- Tch, eles não devem opinar em nada. — Interrompeu-o e puxou com certa delicadeza o tecido esverdeado daquela camisa sentindo a maciez do algodão em seus dedos. Não estava ruim, o estado desleixado de Eren o atraía, mas definitivamente não iria o elogiar na frente de tantas pessoas curiosas que estavam aguardando o momento que algo assim ocorresse para rir. — Vista-se como se sentir confortável e pare de se importar o que as pessoas pensam de ti, principalmente pessoas idiotas que estou pouco me fodendo para o que acham sobre coisas relacionadas a mim ou de ti. Se alguém falar um ‘a’ sobre você terá consequências, pois até onde me lembro não dei intimidade a ninguém para conversar sobre isso e sequer criticar-te.

- Obrigado? — Estreitou seus olhos confuso sem saber se realmente deveria agradecer, pois aquilo que ouviu mais lembrava uma ameaça aos colegas de uniforme, então não queria mesmo compactuar com algumas mortes. 

- Acho que a surpresa não vá ser pelo vestuário e sim por alguém realmente namorar com ele. — Farlan apontou para o amigo que já havia soltado a camisa de Eren e cruzou seus braços. — Sem críticas, Levi, mas sabes que estou falando a realidade, as pessoas comentam… 

- Quero ver ambos saindo juntinhos, vão atrair bons olhares. — Isabel sorriu e por instantes Eren visualizou uma versão ruiva de Hanji com aquela feição assustadora e um tanto maníaca. Já deveria ter previsto algo assim, afinal ambas eram amigas de tempos. — És lindo, Eren, tem esse charme meio selvagem todo bagunçadinho. Vai atrair bons olhares, mas relaxe, ninguém vai se importar com suas roupas e sim o quão bonito está nelas.

- Acho teus olhos muito bonitos, garoto. Isa está certa, estás bem assim, combina mais contigo do que se viesse até aqui com roupas mais adultas. — Farlan completou a fala da ruiva com certa diversão ao ver Eren claramente desconfortável com tantos elogios. Em seguida lançou um olhar discreto para Levi que mantinha aquela postura indiferente de sempre e semblante entediado. — Relaxa, as pessoas aqui são até agradáveis, um pouco curiosas, mas não vão falar mal de ti e se falarem sabemos que não irão durar por tanto tempo.

- És bonitão, “pirralho”. — Isabel forçou uma voz grossa utilizando o apelido que Levi sempre chamava o rapaz, foi de propósito para tentar tirar qualquer reação do amigo, mas sabia que seria inútil, pois se mantinha inabalável.

Eren coçou a nuca embaraçado com tantos elogios e seu olhar abaixou-se até encontrar com o de Levi que estava estreito de alguém que daria seu jeitinho de ninguém olhar com tanto interesse em Eren ao saírem daquela sala. Péssimo sinal na opinião do moreno.

- Não vai falar nada? — Perguntou para Levi cada vez mais desconfortável, pois de Isabel era uma coisa que já até tinha se acostumado, mas até Farlan entrar naquilo estava sentindo-se estranho questionando o que de errado tinha acontecido para receber tantos elogios, quase como se tivessem o agradecendo por estar presente ali entre eles. — Mesmo?

- Sobre o quê? — Olhou-o falsamente desentendido. Eren apontou para si mesmo e para os dois outros presentes naquela sala que estavam elogiando e esperava uma atitude de Levi para os mandar calar a boca por achar desnecessário tantos elogios ao seu namorado em sua frente. — Sobre os elogios exagerados? — No mesmo segundo Eren confirmou com a cabeça enquanto Farlan e Isabel aguardavam pacientemente a resposta que ele os daria. — Tens um espelho em casa, Eren, sabes que és bonito, não preciso impedir que alguém diga o óbvio a ti. Não incomoda-me e nem vou inflar seu ego por uma coisa que que já digo desde que te conheci.

- Desde que me conheceu?! — Repetiu confuso podendo bem gargalhar se não estivesse bem embaraçado. — Me ameaçaste na primeira noite por ter ido atrás de ti e só aceitou ir para o meu apartamento após eu chamar-me de idiota! Não lembro-me de dizer que eu era bonito.

- Você disse que era bonito e eu concordei, pois tenho olhos e sei que és, não precisava que me disseste coisas óbvias, pirralho. És bonito, agora chega, sem mais elogios desnecessários.

- Uau. — Farlan abriu a boca surpreso para Isabel ao seu lado por aquela declaração. — Que romântico! 

Levi encarou o colega com certo desdém, respirou e negou com a cabeça sem insistir, não valia o esforço, sabia que era inútil. Além disso, ver aquele sorriso pequeno de Eren já era o suficiente para não restar qualquer vontade de palavras bravas e sim apenas aproveitar aquela presença e aquele perfume bom.

- Nossos colegas já notaram algo novo no dedo do Levi, ouvi até boatos curiosos sobre quem seria a pessoa corajosa e sem amor pela própria vida que está a partilhar uma aliança com ele. — Farlan disse para Eren que sorriu pensando que as pessoas eram realmente fofoqueiras, até mesmo no ambiente de trabalho, pois seus colegas da Universidade já eram insuportáveis nesse quesito. Jurava que quando entravam para o mercado de trabalho se tornavam menos enxeridos, mas tinha se enganado. — Devo dizer que há boas pessoas curiosas sobre ti, Eren.

- Acho que algumas já se ligaram que és tu, afinal está aqui há bons minutos e até então não foi tirado da sala a pontapés ou palavras grossas. — Isabel completou. — Normalmente não somos tão receptivos a visitas.

- Alguns até devem ter ficado decepcionados por você aparentemente parecer alguém gente boa, pois vindo do Levi sempre imaginamos alguém tão estúpido como ele. — Falou rindo e seu sorriso poderia bem sumir do rosto, mas não pelo olhar de Levi e sim pela expressão séria de Eren para que se calasse e não chamasse o namorado daquela forma. Engoliu em seco. — És uma pessoa boa, Eren, mas vindo dele sempre esperávamos o pior. 

- Tch, tratam-me como um monstro apenas por falar a realidade e querer fazer meu trabalho?

- Não, tratam-te como um monstro, pois és estressado e em ação os dá medo. — A ruiva corrigiu tranquilamente imune aos olhares sérios para que se calasse. — Mas sabes o quão exagerados eles podem ser, se aproximassem-se um pouco de ti veriam que a situação é bem distinta.

- Tch, pouco importa-me o que idiotas acham sobre minha personalidade.

- Enfim, vocês deveriam trabalhar, não é? — Desconversou torcendo que parassem de chamar Levi de grosso e ele agisse em concordância deixando aquele espírito mal educado apoderar de seu corpo.  — Ainda os restam duas horas a cumprir, então sem papo furado. Finjam que não estou aqui, prometo não atrapalhar.

- Nossa, lembrei-me agora que esqueci um papel na mesa do… — Isabel pensou por instantes e apertou o pulso do policial loiro o puxando para que se levantasse sem resistência e entrasse naquela desculpa esfarrapada para deixar o casal sozinhos por alguns minutos. Os faria bem e era isso que precisavam. — Gunther! Então preciso da ajuda do Farlan para isso. 

- Um único papel e precisas de ajuda, Isa? — Levi arqueou uma de suas sobrancelhas para a mulher ruiva que continuava a puxar um Farlan em completa diversão para fora da sala. — Em que momento se tornaste tão fraca a ponto de não conseguir carregar uma única folha?

Eren não conseguiu segurar uma risada baixa de sair de seus lábios, poderia bem o beliscar para ser mais educado, mas sabia que era inútil e até se divertia em vê-los tendo aqueles diálogos com seus amigos.

- Sem ironias, seu idiota, só estou os dando um tempo a sós para que você se torne menos insuportável e possamos olhar para ti sem que nos fuzile querendo nos matar. Agradeça-me depois por ser essa amiga maravilhosa, e se preocupe por agora em trocar bons beijos com o Eren antes que eu mesma faça isso nele.

- Talvez eu queira. — Piscou para a ruiva e sorriu largamente prestes a receber uma boa pisada de Levi. Estando de chinelo aquilo seria bem doloroso e não queria ter a experiência de sentir aquele calçado quebrar seus dedos.  — Mas prefiro os dele.

- Mantenham-se com roupas, logo retornaremos. — Farlan pediu e aos poucos Eren sentiu as bochechas queimarem pela cara de pau do loiro em lhe falar aquilo. — Não quero mesmo ouvir coisas ou na pior das hipóteses ver. Quero manter minha inocência intacta e protegida.

- És um idiota, Farlan. — Eren o falou com completo desgosto. 

- Vês, eu tinha razão, sempre disse isso a ti. — Levi disse e o moreno ao seu lado concordou no mesmo instante, já o loiro deu de ombros apressando-se para sair com Isabel.

Ao serem deixados sozinhos Levi deu um sorriso e levou a mão até o braço de Eren para que se aproximasse mais e não ficasse reticente ali parado igual uma estátua. Levantou-se e enlaçou seus braços naquela cintura o trazendo ainda para mais perto sentindo aquele aroma bom de seu perfume entrar nas narinas e aquele calor típico do rapaz contra si. 

Sentiu mais saudades do que um dia já havia sentido de alguém em toda sua vida e nem conseguia entender como aquilo era possível, afinal tinha o visto na semana passada e todos os dias que ele se manteve na casa de Carla mantiveram contato direto por mensagens e até ligações.

- Senti sua falta. — Eren admitiu apertando aquele uniforme com seus dedos e ignorava o fato de ter próximo de seu corpo uma arma, já que Levi tinha uma na cintura. — Tantas saudades… Pensei que o próximo ano seria fácil e que levaríamos tranquilamente, mas porra, só uma semana longe de ti e eu só conseguia sentir saudades de você e desse teu abraço.

- Só do abraço? — Deu um sorriso de canto o analisando com extremo cuidado, principalmente aqueles olhos esverdeados um tanto dilatados e as bochechas com tons fracos de um rubor discreto.

- Dos beijos também… Do teu cheiro, dos carinhos e até de você me mandando calar a boca presencialmente, não sirvo para isso de distância… 

Levi soltou uma de suas mãos da cintura e a direcionou para a camisa de Eren a puxando para que se abaixasse logo e parasse com aquele diálogo, não queria conversar, queria aquele beijo e sabia que Eren também o desejava.

- Vem cá. — Pediu olhando com extremo desejo para aqueles lábios entreabertos.

Eren sentia saudades daquela sensação quente e macia em sua boca, do gosto, daquela língua habilidosa contra a sua e principalmente daquelas mãos possessivas de Levi apertando seu corpo. sabia que as saudades daqueles gestos de carinho eram mútuas e que mesmo o policial talvez não admitindo através de palavras deixava claro através de seus gestos.

Ao interromperem aquele beijo Levi o olhou mais uma vez e em seguida apoiou sua testa no peito de Eren com extremo carinho fechando os olhos e apertando com ainda mais força aquele corpo para que nem ponderasse a ideia de quebrar aquele abraço independente do que acontecesse.

- Também senti saudades de ti, pirralho... — Admitiu.

Poderia até se sentir patético por estar assim, mas não iria se julgar por Eren ter o deixado mal acostumado com sua presença. 

- Meus pais convidaram-te para jantar quando você chegasse de viagem, mas… — Afastou sua testa para encarar o namorado. — Vamos fingir que chegaste amanhã, pois hoje tenho outros planos para ti. Sei que não vai se arrepender e apesar de sempre pensar com teu estômago vai preferir o que faremos.

- Certamente, mas também podemos pedir pizza depois. — Sorriu em concordância sabendo que os sogros não veriam problemas em adiar o jantar, afinal entendiam que deveriam sim matar um pouco das saudades do tempo que estiveram longe do toque um do outro. —  Comer é importante, Levi.

- Sim, de fato, extremamente importante, por isso já estou abraçado na coisa que vou comer essa noite. — Deu um sorriso malicioso que aumentou gradativamente para uma risada baixa ao ver Eren claramente embaraçado abrir a boca algumas boas vezes sem emitir qualquer som em completo desgosto. — Podemos pedir comida depois, sem problemas, não vou manter-te em cativeiro até me satisfazer, apesar de querer isso para que não mintas mais que irá ficar longe tanto tempo desnecessariamente.

- Ouvir essas coisas deveria me deixar com medo de ti, mas estranhamente isso me deixou com vontade de que me sequestre e faça tudo que queres com meu corpo. — Segredou-lhe perdido naqueles olhos cinzentos e aquele sorriso fácil no rosto de Levi. — Não esqueça das algemas hoje, tenho saudades delas.

- Definitivamente não esquecerei. 

- Não marque-me em lugares visíveis, quero passar credibilidade nos meus primeiros dias de trabalho. Mas onde a roupa esconde sou todo seu para que faça o que quiser.

Piscou com um dos olhos em concordância e suspirou cansado por ter que se afastar daquele abraço, afinal tinha obrigações.

- Ficas bem assim. — Apertou aquela camisa com seus dedos para indicar sobre o que estava falando. Em frente de seus amigos não precisava inflar o ego de Eren, mas com a ausência deles não via problemas em falar alguns poucos elogios. — Parece um pirralho, mas gosto dessa tua bagunça, és bonito. Sabes que combina contigo e eu gosto de ver-te desse jeito. Portanto, reitero: Vista-se como se sentir melhor.

- Nos próximos dias serei mais organizado, verás meu lado adulto de camisas sociais e sapatos nos pés. — Sorriu querendo mais daqueles lábios e calor, mas aquele abraço e aperto também era bom. — Cabelo organizado e...

- Impossível, Jaeger. — Mordeu os lábios e levantou uma das mãos para tocar aqueles fios castanhos, passou entre eles sentindo a maciez e aquele aroma de shampoo se tornar presente. — Esse seu cabelo sempre é uma bagunça. 

Eren fechou os olhos por alguns segundos sentindo aquele carinho em sua cabeça, estava com saudades de ficarem os dois deitados e receber aqueles dedos carinhosos mexendo neles. A mãe até poderia o ter feito diversos enquanto assistiam algum filme durante a noite antes de dormirem, mas o de Levi conseguia ser o seu preferido.

- Mas é bom para cafuné, não acha? 

- Nunca disse o contrário. — Sorriu e soltou seus dedos os colocando na bochecha dele sentindo aquela pele quente contra suas digitais. Estava um tanto áspero e esperava que Eren fosse retirar logo aquele projeto de barba, mas poderia o deixar naquela noite, pois não estava assim tão paciente para esperar tanto tempo.  — Quase ponderei adotar um cachorro nesses últimos dias… 

Eren pensou ter escutado errado, afinal não fazia sentido nenhum uma informação aleatória daquelas e aquele carinho em sua bochecha com os dedos dele.

- O que? — Perguntou esperando respostas boas o suficiente, pois se fosse adotar um era parceiro, afinal gostava de animais. — O que diabos isso significa? Vamos adotar um cachorro?! Posso ir junto quando for fazer isso?! Apoio-te, pode o levar para passear quando for correr, já faz as duas coisas, apoio-te demais nisso!

Ficou até com dó de negar e fazer Eren murchar aquela expressão animada, mas Levi não estava mesmo ponderando aquela ideia.

- Não, não vou adotar, apenas senti falta de ter alguém babando em cima de mim enquanto dorme. — Sorriu ao ver a expressão confusa e empolgada dele transformarem-se gradativamente em um falso de desagrado pela insistência de o comparar com um cachorro após tanto tempo juntos. — Um cachorro ia ser bem semelhante pela quantia de baba que tu deixas em mim quando dorme comigo.

- Vou ignorar tudo de sarcástico que disse e vou focar na parte: "Senti falta de ter alguém em cima de mim enquanto dorme". Também senti falta das agressões matinais, dos sorrisos, o cafuné, os abraços e principalmente dos banhos contigo. Amo-te, meu amor e agradeço que o restante das férias vou passar grudado em ti todas as noites. Vou torcer que meu último ano na faculdade passe como um piscar de olhos, pois quero diminuir essa distância entre a gente e morar contigo logo, ter seu sobrenome e além dessa aliança de prata quero uma de ouro para finalmente chamar-te de marido e ter a Bea perto da gente para completar isso tudo.

- Tch, meloso demais para um horário desses, Jaeger… — Desviou o olhar claramente sem jeito e percorreu com o polegar o rosto até chegar aos lábios de Eren com desejo sentindo aquela maciez. — Mais um e devo trabalhar… Sei que aqueles inúteis logo retornam e preciso mesmo manter seriedade aqui, apesar de estar bem inclinado a ter você apoiado aqui mesmo nessa mesa… 

Mais um beijo calmo apertando aquele corpo, não poderiam se animar tanto, se não em questão de minutos Isabel e Farlan teriam que encontrar uma outra sala, então Levi mordeu o lábio inferior de Eren com certa força para que interrompesse aquilo e o largasse. Eren ao se afastar alguns centímetros fez um biquinho chateado implorando por mais um.

Levi negou com a cabeça, levantou-se um pouco e deixou mais um selinho naqueles lábios para então soltar-se daquele abraço. Sentou-se novamente naquela cadeira para dar atenção ao computador.

Eren ficou parado ao seu lado com os braços cruzados analisando com certa atenção o que o namorado digitava. Era bom vê-lo focado e realmente não queria atrapalhá-lo, afinal a saudade dos beijos já tinha amenizado um pouco.

Não demorou tanto tempo para a porta ser aberta gradativamente e com extremo cuidado, quase como se as pessoas que estavam atrás dela estivessem meio receosas de abri-la e encontrar alguma coisa. Ambos suspiraram aliviados por vê-los apenas conversando e até sérios enquanto Levi apontava para algo na tela e Eren concordava.

Parecia bem menos estressado e os amigos eram agradecidos a Eren pelo bom desempenho naquela tarefa que eles próprios julgavam impossível alguém conseguir sucesso, mas o rapaz de cabelos castanhos bagunçados havia conseguido com certa facilidade e maestria em pouquíssimos minutos.

Após entender o que Levi o dizia sentou-se em uma cadeira próxima ao homem. Deixou os chinelos no chão, esticou-se e colocou as duas pernas sobre as coxas do policial enquanto mexia no celular jogando um jogo qualquer com os amigos. Cômico demais para qualquer um que entrasse e os visse daquela maneira, mas nem Farlan ou Isabel falaram qualquer coisa, apesar de vez ou outra focarem nos dois com extrema diversão. Principalmente Eren que algumas vezes apertava a língua entre os dentes e girava o celular com extremo foco para que conseguisse ganhar naquele jogo. Só o fato de Levi não ter o afastado de estar daquela forma já era sinal de que queria sim sua presença por perto enquanto trabalhava, independente do que falasse.

- Nossa, que dor nas costas… — Reclamou e apoiou seus pés com mais força nas coxas de Levi para que conseguisse arrumar sua postura, pelo menos um pouco. 

Recebeu um aperto no tornozelo para que parasse de se mexer tanto e se aproveitar de sua boa vontade. 

- Estranho, eu nem consigo imaginar o motivo das dores nas suas costas. — Levi olhou criticamente para aquela postura jogada e esticada. — Por que será, Jaeger?

Eren sorriu nada afetado pelas palavras irônicas, mostrou-lhe a língua demonstrando o quão adulto era.

- Sente-se igual uma pessoa normal e as dores nas costas irão acabar. Pare de se aproveitar de minha boa vontade, pirralho. 

Continuou com a mão naquele tornozelo enquanto a outra continuava focada no trabalho. Apesar de suas palavras estarem quase significando que Eren deveria parar de se apoiar nele sua mão era contrária o apertando para que continuasse assim.

- Já passei uma hora assim e não reclamastes, então calado. — Mostrou a língua para o homem de cabelos negros e uniforme policial. — Não posso te abraçar, então deixe pelo menos meus pés em você. 

"Realmente não me importaria em sentar no seu colo, mas não acho que você conseguiria trabalhar e também seus amigos não iriam achar legal ver isso…" — Pensou inocentemente passando o pé carinhosamente naquela coxa rígida, queria sentir aquela pele e não o tecido, mas por ora era bom o suficiente.

- Calado, Jaeger, foque nesse teu joguinho estúpido e deixe-me trabalhar.

- Sim, papai. — Moveu a mão ereta até sua testa em um aceno militar nem se ligando na forma que o chamou, mas ao ver o olhar estreito dele e algumas risadas de Farlan e de Isabel sorriu pensativo, mordeu os lábios e logo deu entrada a um semblante malicioso. — Eu poderia facilmente chamar-te de “Daddy” como muitos chamam. Tens o perfil, Levi. — Coçou o queixo analisando-o. — É mais velho, usa roupas legais, às vezes fala igual um idoso, tens dinheiro e tens tara por mim que sou claramente mais jovem que você. 

Poderia o encarar com desdém, mas preferiu manter seu olhar focado na tela do computador decepcionado em estar ouvindo aquilo do próprio namorado. Aquele que no início o dizia que parecia ter quarenta anos estava ali em sua frente o chamando de velho mais uma vez.

- Poupe-me, Jaeger.

- Seria sexy, vamos ver se adoto isso ou não.

- Jaeger… — Avisou entre os dentes quase colocando uma mão na boca de Eren para que se calasse, mas sabia que seria falso, pois até aquela idiotice de Eren o trazia saudades no tempo que ficou longe.

- Certo, certo, sem apelidos, daddy.

Mais um aperto, porém esse fez Eren morder os lábios para não demonstrar a dor que sentiu.

- Chame-me desse apelido estúpido mais uma vez e dê adeus aos teus dentes. — Ameaçou. — Estou a falar sério, tenho nome, chame-me por ele.

Eren sorriu para os dois amigos e deu de ombros retornando ao jogo, não demorou tanto tempo para alguém bater na porta e pedir licença. O rapaz olhou não o reconhecendo, mas o homem aproximou-se da mesa de Levi tentando esconder a surpresa por ver alguém daquele modo íntimo com ele e até carinhoso sem receber agressões ou pedidos que se afastasse daquele que muitos tinham medo e tentavam ao máximo não se aproximar. 

Foi difícil concentrar-se no motivo que o trouxe até a sala, mas tratou de focar e conversar com o policial, pois apesar do rapaz de olhos verdes não receber agressões ele possivelmente poderia receber se enrolasse mais do que o necessário. Portanto, não queria arriscar.

Levi deu um tapinha no pé de Eren para que erguesse um pouco e conseguisse se abaixar para pegar um relatório em uma das últimas gavetas. O rapaz fez isso e iria os retornar para o chão acreditando que já tinha abusado da boa vontade do namorado, mas sentiu um aperto em um dos tornozelos e um olhar rápido significando um: "O que pensa que estás fazendo? Coloque-os aqui de novo". Eren sorriu envergonhado e fez isso ignorando as risadas de Farlan, Isabel e até do estranho que tentou disfarçar não ter notado o olhar e o aperto que Levi deu ao moreno.

Ao serem deixados sozinhos Eren riu e lançou um beijo para o namorado, foi plenamente ignorado, mas não importava, afinal continuava a sentir aquela mão em uma de suas pernas e vez ou outra até um carinho automático.

Após o fim daquelas horas Eren esticou seu corpo se espreguiçando com extremo cansaço podendo até bocejar por ter ficado aquele tempo inativo apenas a receber um carinho no tornozelo vez ou outra e palavras ríspidas enquanto jogava. Entretanto, não poderia negar o quão bom tinha sido passar aquele tempo a observar Levi daquela maneira, sendo que vez ou outra a tela do celular perdia seu foco e ficava o olhando fixamente decorando cada centímetro daquele rosto sério, dos dedos digitando e daquele uniforme escuro que combinava muito bem com aquele corpo e rosto sério. 

- Como dizia a nossa adorável Bea: “Acabou a chatice”. — Disse divertido para os três que estavam organizando suas coisas para poderem enfim finalizar o expediente. — E agora?

- Agora vamos embora, é assim que funciona. — Deu de ombros colocando as mãos nos bolsos da calça esperando com paciência Isabel terminar de guardar suas coisas para enfim serem liberados. — Trabalhas até determinado horário e depois és dispensado para que possa descansar.

- Faz sentido. — Concordou ignorando o sarcasmo e pegou aquele capacete escuro dele com uma das mãos analisando-o. — Vais de moto?

- Não, caminhando. Eu coloco o capacete na cabeça e vou correndo pelas ruas. — Levi disse no mesmo instante pegando o objeto das mãos de Eren para que parasse de mexer nele igual uma criança curiosa. Sabia que ele queria que fossem juntos, mas não faria sentido ganhar uma carona e deixar a moto ali, então teriam que seguir separados e então se encontrarem no prédio. — Tch, não seja idiota, pirralho. Obviamente se vim de moto vou retornar com ela. Você vieste de carro, vais a um lugar e volta como? Com ele nas costas? Não, então pense um pouco antes de falar besteira.

- Ainda mau humorado? — Farlan olhou criticamente para Eren com uma vontade imensa de o bater para que dobrasse a quantia de carinho, pois a quantia atual ainda era insuficiente. O moreno não pareceu abalado com o sarcasmo que recebeu, apenas deu risada admitindo que realmente tinha sido idiota naquele comentário. — Credo, vão embora logo, quem sabe amanhã melhore isso e se torne mais suportável com o convívio entre humanos.

- Bom restante de dia, garotos. — Isabel deu dois tapinhas nas costas de Levi e ignorou a expressão de poucos amigos que recebeu, mostrou-lhe a língua e chamou Eren para um abraço, o qual não foi recusado pelo moreno que logo a apertou contra seu corpo movimentando-a um pouco para os lados com certa força. — Sentimos saudades de ti também. — Tentou não gargalhar pelo abraço que estava recebendo, mas era impossível quando até Levi estava desviando o olhar para não sorrir. — Amanhã suponho que irá começar o estágio e também ir na casa dos sogros, mas qualquer noite vamos sair todos juntinhos beber alguma coisa. — Recebeu um beijo em cada bochecha vindo de Eren e o aperto dos braços dele se afrouxarem. — Preciso te mostrar diversas coisas por aqui.

- Vamos fazer isso. — Concordou e a soltou finalmente mantendo  a empolgação igual a da ruiva. — Na realidade me disseste algo que fez-me pensar…

Mordeu os lábios ignorando Levi com aquela feição que estava o irritando com tantos pensamentos, porém Farlan e, principalmente, Isabel estavam o incentivando a continuar a falar e expor para eles.

- Bares, eu o conheci em um. — Olhou para Levi que concordou não entendendo o motivo de falar algo óbvio repentinamente. — Desde então a maioria dos nossos encontros foram feitos em ambientes assim… — Mais uma concordância, apesar de poucas vezes que se encontraram poderem fazer algo a mais do que apenas olhares discretos. Além da vez que Eren tornou-se aquela mulher e também a noite de comemoração que Levi simplesmente descartou a discrição. — Não deveríamos ter tentado em restaurantes, Levi, na realidade somos um casal de Bares. Os encontros românticos deveriam ser feitos lá e não em restaurantes. Noites regadas a álcool e não jantares chiques.

- Tch, não entro de novo em um restaurante contigo tão cedo. — Negou sério trazendo mais vontade dos amigos rirem, mas não o fizeram, pois a última experiência não tinha sido nada engraçada e temeram perder o amigo. — Mais alguns meses e quem sabe eu te leve para um lugar assim, mas ainda está cedo demais para novas tentativas.

- Quem sabe um jantar com a Bea, tenho certeza que nada ruim irá acontecer se não estivermos sozinhos. Podemos até levar seus pais para garantir. Acho que o problema é quando tentamos sozinhos.

- Tch, tens razão, vale o risco, mas irei armado e irei bater em ti se você falar qualquer coisa em relação à término. — Falou sério e Eren admitiu que fosse real aquela proposta, pois Levi estava sério demais para uma piada e normalmente não era uma pessoa muito humorada a ponto de as fazer. — Claro, se um dia quiser terminar tudo bem, aceito. — Deu de ombros indiferente e logo adotou novamente aquela expressão fria e ameaçadora que Eren até tinha certo respeito, porém não o suficiente como outras diversas pessoas ao recebê-la. — Mas sério, se fizer essa merda em um restaurante de novo eu vou bater tanto em ti que vais lembrar-se de mim até ser um idoso de tantas marcas que vou deixar no seu corpo… Término tudo bem, mas nunca mais na merda de um restaurante, Jaeger.  

- Relaxa, nunca mais tomarei uma decisão tão estúpida como aquela. Aprendi a cometer erros apenas uma vez e não repeti-los, então relaxa, não volta a acontecer. Prometo-te, meu amor.

Eren levantou ambos os braços na direção do loiro que os encarava com um sorriso divertido, mas gradativamente foi sumindo ao ver que seria o próximo alvo daquele abraço apertado. por instantes pensou que iria ser poupado, afinal o casal entrou naquele diálogo, mas admitiu que tinha sido inocente em acreditar que sairia ileso.

- Vem cá, Farlan, eu sei que queres.

Olhou para Levi em busca de qualquer saída, mas viu aquele brilho de que não moveria um dedo sequer para impedir que Eren realizasse aquilo que queria. Péssimo sinal para o loiro.

- Certo, um abraço, mas sem mãos demais ou apertos exagerados. — Disse seriamente para o rapaz e deu um passo para se aproximar dele, obviamente foi ignorado, pois logo sentiu-se sem ar pelo aperto do rapaz que estava fazendo de propósito. Ao sentir aquelas unhas arranharem suas costas cada vez mais divertido arregalou os olhos e tentou desfazer aquele abraço o quanto antes, pois não queria mesmo saber até onde aquelas mãozinhas perigosas poderiam chegar. — Eren! 

Levi puxou Eren pela camiseta para que soltasse Farlan e parasse com aquilo, foi eficaz, pois se afastou ainda mais divertido.

- Já é suficiente, pirralho. — Levi interrompeu vendo o desespero do amigo loiro, poderia até deixar o namorado se divertir mais um pouco, mas estava com pressa.

- Agradeço o ciúme, Ackerman. — Suspirou pesadamente e passou uma das mãos em sua própria testa aliviado por Eren ter sido afastado daquelas brincadeiras estúpidas que sempre tentava fazer para o tirar essas reações para o divertimento próprio do moreno de olhos verdes. — Controle teu garoto.

Levi negou indiferente soltando a camisa de Eren.

- Não é ciúme, não és um perigo, Farlan. — O olhou criticamente de cima a baixo, a ponto de Farlan até sentir seu orgulho ferido por não ser um “perigo”. — Só estou cuidando do que é meu.

Eren sorriu, piscou com um dos olhos para o loiro e fez um joinha com o polegar orgulhoso em receber aquela palavra possessiva de pertencimento vindo de Levi.

Caminharam para fora daquela sala, Eren com o celular em uma das mãos e a outra livre pensando se procurava a de Levi, mas admitiu que não iria a querer, então a manteve ali ao lado do corpo balançando vez ou outra. Ficou um pouco incomodado ao receber um olhar de cima a baixo de uma mulher, pelo vestuário admitiu que fosse alguma advogada qualquer. Iria continuar a caminhar e ignorá-la pensando que era coisa de sua cabeça, mas sentir Levi pegar sua mão com força e mostrar aquela aliança rodeando seu dedo para ela o fez sorrir completamente envergonhado sentindo as bochechas queimarem pelo olhar de ódio que o policial deu a ela.

A mulher desviou o olhar e os ignorou, Levi soltou a mão de Eren fingindo não ter feito nada demais. Notou que o namorado encarava o chão querendo rir e os dois amigos nem disfarçavam a diversão por vê-lo claramente marcar território enciumado por um simples olhar no corpo do moreno.

- Tch, não quero ouvir uma única palavra sobre isso que aconteceu agora. Estamos entendidos? — Arqueou uma das sobrancelhas em ameaça para todos eles, o que tornava ainda mais cômico na opinião dos amigos e dos poucos colegas que acabaram por vê-lo daquela maneira quase a colocar a mão de Eren no rosto da mulher para que visse bem aquela aliança cinzenta rodeando aquele dedo do namorado. — Estamos.

- E como anda a situação entre vocês dois? — Eren perguntou a Farlan e Isabel para desconversar e seguir o que Levi havia ordenado. — Ainda naquela amizade estranha?

- Ainda naquela amizade estranha. — Isabel concordou enquanto Farlan olhava para um ponto qualquer da Delegacia notando que tinham a atenção dos colegas por ver que o rapaz desleixado de olhos verdes estava entre eles agindo até naturalmente perto de Levi.

- Que pena, vocês fariam um casal bonitinho, não acha, amor? — Apertou o braço de Levi para chamar sua atenção e entrar naquele diálogo, já que estava direcionando um olhar de ódio para mais alguma pessoa, não sabia o motivo, mas admitiu que era o normal do namorado e não o criticava por isso, não em voz alta.

Voltou-se para o moreno e logo para os amigos vendo que agora eram eles que estavam sendo alvo daquelas palavras de Eren. Se fosse alguém vingativo poderia até entrar na onda e auxiliar Eren com bons comentários, mas não queria perder tanto tempo ali com conversas, tinha planos bem melhores.

- É, concordo contigo, pirralho, mas eles decidem o que fazem. Não temos que achar nada.

- A pedi em namoro três vezes já, estou tentando pela insistência. — Farlan coçou sua nuca mantendo um sorriso envergonhado por admitir aquilo e Isabel enrijeceu sua postura pronta para o dar um bom pisão para que parasse de expor aquilo. — Tudo bem, no tempo dela, a respeito se quiser continuar a ser apenas minha amiga, apesar do que estamos vivendo estar longe de apenas uma amizade… 

- Relaxa, daqui um tempo será ela que pedirá a ti. Achas que foi fácil aqui entre nós dois? — Apontou para o próprio peito e para o de Levi com humor explícito por ver o loiro ligeiramente embaraçado. — Claro que não, precisei de muito esforço para ouvir um pedido e então afirmar o óbvio.  Mas a espera vale a pena... — Sorriu apaixonado ao lembrar-se do pedido, não esqueceria mesmo que se passassem meses ou anos, tinha sido especial e gostava de guardar na memória. — Pode acreditar.

Apoiou o cotovelo no ombro de Levi ignorando o olhar estreito do próprio namorado para que parasse com aquilo. Aquela foi a confirmação de que o moreno desconhecido era o que partilhava a aliança com o colega de cabelos negros estressado, pois conseguiu durar alguns bons segundos antes de receber um tapa bem leve para que parasse de usá-lo como apoio.

- Relaxa, confia em mim que um dia ela aceita. Apesar de achar que deverias investir no Gunther. — Apontou para o moreno sentado que franziu a testa questionando ao longe o que Eren estava falando. — Ele aceitaria de primeira, vale a tentativa.

- Tch, não seja tão enxerido, pirralho. — Apertou o pulso dele o puxando para que parassem de andar tão lentos e saíssem logo dali longe de olhares tão curiosos. — Vamos embora logo.

Despediram-se dos colegas e Eren colocou o peso do corpo em uma das pernas pensativo em como seguiriam. Sentiu sua camisa ser puxada e não negou o que Levi queria, um bom beijo de "despedida". Apertou os ombros do policial entregando-se a aquilo pouco se importando de estarem os dois no estacionamento do local com a possibilidade de qualquer um os ver, não importava mais e o sentimento era bom. 

Terem liberdade de fazer o que queriam sem qualquer receio, sem mais discrição, sem fingirem que não eram namorados. Era uma coisa nova para o casal e que queriam explorar ao máximo em todos os lugares possíveis, menos em restaurantes.

- Siga-me até o meu apartamento. — Levi disse ao se afastar do moreno ainda sentindo aquela maciez dos lábios dele presente nos seus. — Vou apresentar-te tudo por lá e podemos arrumar suas roupas no meu armário amanhã, pois agora estou com fome.

- Não iremos comer pizza, não é? 

Eren não recebeu resposta, apenas aquele sorriso malicioso de Levi que já respondia exatamente que teriam boas sensações antes que se lembrassem de qualquer alimento.

Sentou-se na moto, passou uma das mãos no cabelo e sorriu de canto maliciosamente para Eren vendo aquelas bochechas avermelhadas pela surpresa de receber aquele beijo. Colocou o capacete na cabeça e o moreno apressou-se em seguir para seu carro para que não perdesse o namorado de vista.

 

_______________________________________________________________________________

 

Naquelas semanas Hanji foi passar ao lado da mãe, pois queria aquele apoio que só a mulher mais velha poderia dar. Obviamente o loiro apoiou-a na decisão e acompanhou, afinal queria o melhor para ela e que ficasse confortável para o parto de sua filha. Levi até recebeu algumas visitas dos dois e ignorou algumas boas piadas de Erwin sobre Eren estar a morar com ele.

A ideia de ter alguém para partilhar uma cama todos os dias era boa, principalmente ao ver Eren animado abotoar suas camisas todos os dias pela manhã e tentar ao máximo organizar os cabelos após o banho. Sentia uma pitada enorme de orgulho em vê-lo daquela maneira e ouvia atentamente o que dizia que havia feito durante o dia ao lado de Sarah quando retornavam e ficavam lado a lado aproveitando a presença um do outro esticados no sofá ao descansar, ou quando iam tomar um banho juntos e Eren não calava-se nem por um segundo. Era bom e queria muito mais daquilo. 

Nunca havia se imaginado morando com alguém, mesmo que apenas por aquele pequeno período de férias que seguiriam lado a  lado, mas a experiência estava sendo positiva, apesar de receber em poucos palavras divertidas de Farlan e Isabel sobre como estava sendo morar com o "pirralho", os ignorava, mas seu bom humor o denunciava fácil. Em determinados momentos se irritava com a bagunça que Eren poderia ser, mas não resistia quando ele coçava a nuca e ia pegar a roupa caída no chão ou retirar a toalha da cama e lhe dava um beijo na bochecha de desculpas.

Em uma tarde qualquer recebeu uma ligação afoita de Erwin e logo levou ao ouvido pronto para falar qualquer coisa irônica sobre estar o incomodando aquela hora da tarde, mas se interrompeu ao ouvir aquela respiração pesada e palavras agitadas do homem: "Hanji, estou indo para o hospital com ela!". Claramente estava desesperado enquanto Hanji estava ao seu lado sorrindo tão tranquila que nem parecia que estava em trabalho de parto. Levi arregalou os olhos franzindo sua testa olhando aquela tela já escurecida após a ligação ter sido finalizada, olhou para Gunther que estava próximo dele e notou aquela agitação e expressão nítida naquele rosto sempre tão inexpressivo.

- Puta que pariu. — Murmurou sem saber exatamente o que fazia naquele momento, se avisava os pais e Eren ou apenas ia e depois verificava se já sabiam daquilo. — Aparentemente minha afilhada está nascendo, então, bem, faça o meu trabalho e depois eu retorno.

Gunther deu um sorriso confirmando que deveria ir, mas não disse nada sobre o trabalho, pois provavelmente tentaria fazer que outro policial resolvesse aqueles problemas. Viu o homem fardado correr para a saída com a chave da moto e o capacete com certo nervosismo nem se importando de trocar aquela roupa.

Não demorou muito para chegar ao hospital e encontrar Hanji sentada em uma cadeira de rodas apertando a mão de Erwin com certa expressão de dor, mas ao ver o amigo se deu a liberdade de sorrir. O loiro agradeceu silenciosamente, pois já não aguentava seus dedos serem esmagados daquela maneira, só queria que a filha saísse logo e acabasse aquela tortura para os dois.

- Não deveria estar em uma sala? O que está fazendo aqui ainda?! — Perguntou sem ao menos os cumprimentar, nunca na vida pensou que ficaria daquele jeito quando alguém especial para ele fosse ter um filho, mas não se julgaria pelo próprio comportamento.

- O recepcionista mandou aguardar e…

Erwin começou a dizer e viu aquele olhar frio de ódio vindo de Levi se direcionar a ele e logo em seguida voltar-se para o funcionário que anotava algumas coisas pacientemente. Péssimo sinal para o professor, pois ver Levi daquela maneira super protetora com Hanji, fardado e, principalmente, armado não seria agradável para aquele homem que apenas estava fazendo seu trabalho. 

- Tch, vou dar um jeito nisso. — Disse e não aguardou qualquer resposta, Hanji apenas deixou um suspiro doloroso sair dos lábios nem escutando o que o amigo de infância tinha dito.

Se aproximou do rapaz jovem que logo ergueu seu olhar para a figura a sua frente, engoliu em seco e ia dizer as palavras padrões, porém não teve tempo, pois sentiu uma das mãos dele em sua camisa o puxando para perto em ameaça.

- A minha amiga está em trabalho de parto, se algum de vocês a deixar ali parada por mais cinco segundos eu vou quebrar você. — A voz terrivelmente baixa, aquela expressão funda, as olheiras um pouco escuras e os cabelos bagunçados, tudo deixava Levi ainda mais assustador, pelo menos para ele e até alguns seguranças que passaram perto e ponderaram por instante intervir, mas o homem uniformizado era, teoricamente, superior a eles, então apenas se mantiveram ali esperando que o clima se suavizasse. — Estamos entendidos? Vai a levar para um quarto ou, sei lá, qualquer merda que façam com grávidas para que ela fique mais tranquila para dar a luz a minha afilhada. O que mesmo você vai fazer?

- Não há quartos disponíveis ainda, senhor. — Respondeu tentando se sentar novamente e fugir daquelas duas orbes cinzentas que o encaravam com ódio. — Calma, alguns minutos e vamos a encaminhar.

- Qual é seu nome?

- John.

- Certo, John, estou pouco me fodendo com a ausência de quartos, você vai dar um jeito e algum médico dessa merda de lugar vai vir até a minha amiga, certo? 

- Sim… sim senhor!

Sorriu em agradecimento e soltou o rapaz mais jovem como se não tivesse feito nada demais, andou novamente até Hanji que apesar de estar com uma dor absurda se deu a liberdade de sorrir por ver o amigo fazendo aquilo ao seu favor. Agachou-se em sua frente apoiando uma das mãos em uma das coxas dela com certo carinho não lembrando em nada o homem de poucos segundos atrás. Erwin ainda olhava assustado sem saber digerir exatamente como alguém poderia se transformar assim tão rapidamente, mas tinha outras preocupações bem mais importantes para o momento.

- Vai ficar tudo bem, logo nossa menina está por aqui e então descobriremos se terá sobrancelhas estranhas e essas coisas.

Não demorou tanto tempo para que alguns enfermeiros levassem Hanji e Erwin para um local afastado, Levi até olhou para o recepcionista agradecido, apesar do rapaz ter encarado aquele olhar como mais uma ameaça que o fez engolir em seco temendo que o policial descarregasse aquelas balas em seu corpo caso fizesse algo errado.

Sentou-se naquela cadeira e batia o pé incansavelmente sentindo uma ansiedade absurda tomar conta de seu corpo. Olhou diversas vezes para aquele celular vendo os minutos passarem tão lentamente que seu maior desejo era jogar aquele aparelho na parede. Suspirou aliviado ao ver um médico qualquer o notificar pedindo que acompanhasse, pois a paciente quase o ameaçou para que Levi estivesse presente. Não negou, apenas acompanhou querendo verificar com seus próprios olhos se ela estava mesmo bem. 

Entrou por aquela porta e observou uma das cenas que sempre julgou impossível de ver: Hanji com uma criança recém nascida envolvida em um cobertor, feição cansada, mas com aquele sorriso gigante nos lábios, Erwin com uma mão carinhosa o fazendo um carinho no ombro a babar pela filha.

Manteve-se a uma distância segura sem saber exatamente o que fazer em uma situação como aquela.

- Estão bem? — Perguntou, apesar de estar visualmente bem e extremamente feliz, além do cansaço visível.

- Sim estamos e nossa garotinha está saudável e curiosa para conhecer o padrinho briguento. — Poderia bem gargalhar pela expressão até nervosa do melhor amigo, mas não o julgaria tão cedo. —  Vem cá.

- Hum, bem pequena. — Disse olhando a menina nos braços da amiga um tanto inquieto mantendo os braços cruzados em um claro sinal de que não iria pegá-la tão cedo.

Erwin estava quase a babar em cima da filha, mas conseguiu olhar para o outro homem cada vez mais divertido por vê-lo claramente de longe com certo receio de se aproximar.

- Pegue-a no colo um pouco. — Hanji disse séria para que parasse com aquilo e agisse como o Levi que conhecia.

Levi moveu a cabeça negativamente no mesmo instante.

- Ah, não, estou tranquilo assim. — Descartou mantendo-se o mais neutro possível ignorando o divertimento que estava causando a Erwin e sabia que se Eren estivesse ali estaria rindo descaradamente de sua cara por ter medo de pegar uma criança recém nascida no colo. — Vejo ela bem daqui, tranquilo, pode ficar.

- Levi Ackerman, não faça te bater para que possa pegar sua afilhada no colo. — Ameaçou não conseguindo desfazer aquele sorriso nos lábios toda vez que olhava para aquele pequeno ser que dormia tranquilamente em seus braços cansados.

Ainda o viu reticente apertando os dedos nos braços pensando em uma tentativa de fuga, mas caminhou até próximo da cama não fazendo qualquer impulso ou movimento para desfazer os braços cruzados. 

- É, agora continuo a vendo e ela continua da mesma forma. Não mudou muita coisa, estou vendo bem ela daqui. — Concordou e sentiu um beliscão na barriga vindo da melhor amiga para que parasse de enrolar e arrumasse seus braços para que ela colocasse a menina neles. — Tch, é pequena demais, eu vou machucá-la, quatro olhos.

- E quando for a sua criança no colo, não vai querer? — Recebeu um olhar estreito vindo do policial e um divertimento ainda mais explícito do loiro com aquela sugestão. — Bem, você sempre foi meio pé atrás com isso, mas acredito que teu moreninho goste muito de crianças a ponto de você considerar a ideia de ter algum um dia, além da Bea.

- Tch, calada. Não ouse usar o pirralho contra mim.

Não era uma confirmação de que poderia aumentar aquela família um dia, mas o casal próximo ao policial admitiu naquele instante que as chances eram bem altas daquilo ocorrer.

Levi pegou aquela pequena criança nos braços sentindo o calor daquele cobertor que a envolvia. Parecia tão frágil que tinha certo receio de a pegar, mas o olhar insistente de Hanji dizia que teria que fazer aquilo e até ele mesmo queria, apesar de ter medo no início. O mais cuidadoso possível e não conseguiu impedir mais qualquer sorriso e aqueles olhos brilhantes ao ver a pequena menina recém nascida abrir a boca algumas vezes e mover-se um pouco.

Passou o polegar delicadamente na lateral daquela pequena cabeça perdido naquela figura tão frágil. Não conseguia reconhecer qualquer traço físico semelhante com os dois pais dela, mas discordava com sua personalidade de meses atrás que disse que a menina era um ser enrugado lembrando um idoso, pois aquela ali que dormia em seus braços era muito bonita para ser chamado daquela forma.

- Ei, garotinha. — Disse em um tom baixo continuando aquele carinho nela querendo decorar aquela expressão tranquila de alguém que ainda não sabia de nada sobre o mundo. Olhou para Erwin que nem disfarçava o sorriso babão por ver a filha nos braços do amigo. — Ela não puxou suas sobrancelhas, Smith. 

Naquele instante não havia qualquer sarcasmo, e mesmo se tivesse ninguém conseguiria levar Levi a sério, não enquanto estivesse com o bebê no colo e aquele sorriso gigante nos lábios fascinado com ela. Não depois de quase fugir da responsabilidade de pegar a afilhada, mas estar ali agora praticamente a babar a segurando como se fosse a coisa mais importante de sua vida.

Voltou-se para a pequena mais uma vez. 

- Um ponto pra ti, garotinha, padrinho ficou muito orgulhoso que não puxaste isto do Erwin. Se não teria que parar com o apelido do teu pai e iria ser bem difícil para mim não o chamar de sobrancelhas, pois você as teria e eu ficaria triste se você ficasse chateada. Você entende, não entende? Sei que sim. 

Deixaria para depois adotar aquela expressão séria que não dizia qualquer coisa, pois a afilhada, apesar de jovem, era merecedora de algum carinho vindo dele e não se importava com Hanji ou Erwin o encarando surpresos pelas palavras e com aquela conversa não muito participativa com a menina.

Tinha a pele pálida igual a de Erwin, as bochechas gordinhas bem amassadas e avermelhadas, a pequena boca aberta mostrando aquela gengiva sem dentes. Os cabelos ralos e bem finos em um tom castanho lembrando exatamente o de Hanji. Era a combinação perfeita dos pais.

Olhou para Hanji cada vez mais fascinado. 

- Ela é linda, Han.

- Ela é minha filha, óbvio que seria. — Disse o mais confiante que pode sentindo-se derreter por dentro ao ver Levi daquela maneira tão boa e imaginava quando tivesse um bebê seu nos braços, pois com Bea já conseguia ser aquele homem babão.

- Tch… Não a contamine tão cedo com teu ego.

Deu indícios de que iria começar a chorar, abriu a boca algumas vezes com uma expressão que Levi admitiu que não era nada boa na linguagem dos bebês. Diante disso, fez um carinho delicado em seus finos fios de cabelo com seus dedos.

- Nada de chorar, não tens nem idade, pare com isso. — Pediu seriamente como se a garota estivesse mesmo entendendo suas palavras. Pareceu eficaz, pois fechou a boca mais uma vez e mexeu os braços ainda sendo segurada por Levi para dormir novamente. — Isso mesmo, és obediente ao contrário da lunática da tua mãe. Mais um ponto para ti, garotinha.

- Pode parar de contabilizar pontos por algo que a minha filha faz? — Erwin questionou, mas não estava sequer irritado, apenas divertido e querendo guardar aquele dia na memória e aproveitar cada segundo dele. — Fofo, admito, mas prefiro que ela não aprenda a ser competitiva logo após o nascimento.

- Tch, és um estúpido, Smith. — Não o deu tanta atenção, não naquele dia, nos próximos talvez pudesse perder seu tempo a xingá-lo, mas ali com aquele pequeno peso nos braços não importava. — Qual será o nome dela?

- Lívia. — Responderam os dois ao mesmo tempo e no mesmo segundo receberam um olhar cinzento um tanto estreito.

- Por que esse nome lembra-me algum em específico? — Questionou-os vendo aqueles sorrisos divertidos dos dois, não incomodava-se com a semelhança, mas não julgava-se tão merecedor para isso. 

- Não recordo-me de nenhum assim. — Hanji descartou tentando passar qualquer credibilidade, mas logo sorriu. — Foste uma das pessoas mais importantes para mim, Levi, desde a infância. Então, nada mais justo do que homenagear-te com um nome bem parecido, não é exatamente a versão feminina do seu, mas é semelhante e ambos concordamos que é um bom nome para ela. És quase um irmão para mim, Levi.

- Tch, belo nome, garotinha. 

Não demorou muito tempo para que Isabel chegasse igualmente uniformizada com certo desespero entrando no quarto. Suspirou aliviada ao ver os rostos conhecidos e, principalmente, Hanji bem com a pequena nos braços mais uma vez, pois Levi não queria por tanto tempo assim, . Aproximou-se a passos mais tranquilos do que aquela corrida pelos corredores do hospital até chegar próximo e ver aquele rosto pequeno em um sono tranquilo, não sabia exatamente o que fazer ou falar, só queria olhar para a afilhada.

- Por que diabos não me avisaste que nossa afilhada estava nascendo?! — Reclamou em tom baixo para Levi o dando um beliscão na barriga. — Eu queria uma carona, seu idiota!

- Esqueci de ti, desculpe, Isa. Mas você poderia facilmente ter pego alguma corrida pelo aplicativo...

- Ah, pois, realmente eu poderia, mas esqueci-me disso. Então… — Coçou sua nuca mordendo os lábios para tentar não rir ao ver Levi estreitar os olhos. — Bom, era uma emergência, então… Bem, você sabe…

- A viatura está lá fora, não está? — Completou interrompendo aqueles gaguejos da mulher ruiva que sorriu em concordância nada arrependida.

- Talvez esteja… 

- Usaste até as sirenes para ganhar preferência, não é? — Insistiu sabendo a resposta mais uma vez, principalmente ao ver aquele sorriso traquina de alguém que foi pego e nem se arrependia.

- Uhum, talvez sim, mas não importa. — Descartou aproximando-se ainda mais da cama para ver a pequena nos braços de Hanji. — Quero morder essa garotinha! Se esqueceste de mim suponho que nem se recordou de avisar o Eren, não foi? — Isabel perguntou criticamente à Levi, apesar de seus olhos ainda estarem fixos naquela pequena figura no colo de Hanji. — Sabes melhor que eu que ele vai ficar chateado de não ter vindo agora e principalmente por você ter esquecido dele.

- Ele está no trabalho, obviamente não iria sair se eu avisasse qualquer coisa, apesar de querer. — Esclareceu sem se importar tanto, sabia que Isabel estava certa e que ele merecia uma mensagem, mas seu foco tinha sido tomado pela afilhada e só ela importava naquele tempo que ficou ali. Eren entenderia seu lado. — Ele vem cumprindo os horários a risca para mostrar que conseguiu o estágio por merecimento próprio e não por ser meu namorado. — Revirou os olhos em falso desagrado. — Tch, um tanto estúpido e orgulhoso da parte dele, mas não o julgo por isso. Entretanto, relaxa, não sou um insensível, vou mandá-lo algo.

Afastou-se daquele grupo de pessoas enxeridas e digitou algumas coisas, tanto para o moreno como para os pais, os quais já sabiam, afinal a vizinha havia os contado, porém aguardariam Hanji retornar para casa e então a visitariam, pois ela precisava de um tempo apenas com poucas pessoas.

- Lívia, essa é a madrinha. — Hanjji apresentou mostrando o bebê para a ruiva que levou uma das mãos em seu próprio rosto empolgada querendo morder aquelas bochechas, mas se empolgaria depois de algumas semanas.

- Deus, és tão fofa, garotinha, quero apertar-te tanto!

Levi acabou por aceitar depois de um tempo a pequena novamente em seus braços, pois Isabel queria ver aquilo. Ignorou as risadas das duas mulheres e até de Erwin que não deixaria de se divertir com aquela interação entre eles.

Eren entrou pela porta que foi indicado e no mesmo instante parou, levou a palma da mão até a direção de seu peito indicando o coração e sorriu apaixonado observando a cena.

- Chamem um médico, pois vou enfartar com tanta fofura que estou presenciando! — Disse na direção do homem de cabelos negros e afilhada. Todos voltaram-se para a direção da porta vendo Eren daquela maneira e não resistiram ao impulso de sorrir por alguém expor algo óbvio em voz alta. — Está tão fofo, Levi!

Enrijeceu o maxilar fazendo com que seu rosto deixasse evidente uma expressão de desgosto e se estivessem sem a afilhada presente no quarto, inclusive nos seus braços, já teria o agredido para parar de ser idiota e lhe falar aquelas coisas na frente de tantas pessoas.

- Só não bato em ti porque…

- Me ama. — Piscou interrompendo e logo levantou ambas as palmas da mão em forma  defensiva para que Levi parasse o olhar com aquele ódio bem explícito. — Todos sabemos disso, mas isso não é o importante agora e sim a pequena. — Descartou sentindo as bochechas um pouco quentes por ver os três amigos darem risadas pela resposta na ponta da língua que deu a Levi e conseguiu o calar. Era um feito enorme demais para que ninguém se surpreendesse. —  Posso a pegar no colo um pouquinho?

- É um pirralho, mas podem confiar, não é tão irresponsável como aparenta. Apenas não a contamine com sua idiotice.

Passou a criança com extremo cuidado surpreendendo-se que ele era mesmo bom a ponto de saber exatamente como deveria a pegar. Manteve-se ao seu lado, cruzou os braços e tentou com o máximo de sua força interior não sorrir ao vê-lo daquela maneira, mas foi impossível. Os sorrisos gigantes de Eren enquanto segurava a criança como se fosse a coisa mais importante de sua vida, o olhar brilhando, tudo era bom demais na opinião de Levi.

- Oi, coisa fofa, chamo-me Eren. — Apresentou-se para a menininha pouco se importando de estar fazendo uma voz estranha para que a bebê entendesse e que todos estivessem o olhando fixamente enquanto fazia isso. — Bem vinda ao mundo, o que está achando dele até agora? Meio chatinho, não é? — Concordou respondendo sua própria pergunta naquele diálogo nada participativo. — Mas aproveite bastante, vais gostar e se divertir muito. Quando crescer mais um pouco podemos brincar tanto! Cá entre nós, seu padrinho é meio sério e duvido que vai fazer você rir, mas deixa isso comigo, beleza?

Hanji olhou séria para Levi e moveu os lábios sem emitir qualquer som: "Dê um bebê a ele também, se não vou bater em ti". Erwin acabou por fazer a leitura labial e rir, pois concordava plenamente com a namorada. Entretanto, Levi desviou o olhar voltando-se para Eren que continuava a conversar com a criança nos braços.

- Como será o nome dessa princesa? — Arqueou as sobrancelhas curioso e os viu se entreolharem. — Já decidiram, certo? Se não fizeram isso agilizem, pois é o momento.

- Lívia. — Erwin respondeu mordendo os lábios para não rir ainda mais ao ver Eren olhar para Levi pensativo.

- Lembra-me um nome, só não recordo-me qual... — Deu de ombros com certa confusão, mas descartou logo em seguida não achando tão importante para o momento.

Focou-se na garotinha mais uma vez sob o olhar atento de todos questionando-se internamente se ele estava fazendo uma piada qualquer ou de fato era lerdo. Levi mordeu os lábios em concordância, afinal os pais tiveram que o avisar sobre uma aliança que estava em seu dedo meses atrás ao firmar de fato aquele namoro.

- Eai, Lívia, tudo bem? Oh… — Abriu a boca surpreso e deu uma gargalhada baixa para que não acordasse a menina com tanta agitação. Olhou para Levi que tentava ao máximo se manter sério, apesar da lerdice do namorado continuar a surpreendê-lo após tanto tempo juntos. — Lívia, Levi. Levi, Lívia, é… — Sorriu para o namorado que ainda tinha aquela expressão falsa em seu rosto. — Acho que agora consigo ver a semelhança de nomes... 

- Tch, não fale idiotices perto dela, vai a deixar tão lerda como tu és.

Recebeu apenas uma língua de Eren o ignorando nada afetado pela critica, atitude não muito adulto ou que combinava com aquela camisa de botões bem arrumada em seu corpo, aquela calça escura, os sapatos e até o cabelo um pouco organizado.

- Bom, já que pessoas importantes estão reunidas aqui e uma que eu esperei há meses ansioso para conhecer. — O loiro tomou a palavra atraindo a atenção de todos, principalmente de Hanji enquanto apertava uma das mãos no bolso da calça. — Nunca planejei algo assim com a Hanji descabelada, cansada por causa do nascimento da nossa filha e minhas mãos extremamente doloridas pelos apertos que recebi para essa garotinha finalmente nascer, mas… — Sorriu e levou a mão livre até a testa da mulher lhe fazendo um carinho, pois ela era a pessoa mais linda que já tinha visto. — Acho que não existe momento mais perfeito para algo assim… 

- Diz logo, Smith, sem enrolaçōes. — Levi pediu com certa diversão sabendo exatamente o que Erwin estava fazendo com aquele nervosismo novo e a mão inquieta dentro do bolso da calça.

- Se eu não estivesse com a menina nos braços você iria receber um soco agora mesmo. — Eren forçou um sorriso simpático, mas que para Levi aquilo não tinha qualquer pingo de humor e sim conseguia até ser assustador. — Mas eu ainda posso chutar-te com minhas pernas. Então, cale a boquinha, para o teu próprio bem, meu amor.

- Tch… 

Erwin deu uma risada baixa e concordou com Levi, retirou a mão do bolso com uma pequena caixinha de veludo com colorações escuras. A abriu sob o olhar atento de todos e principalmente de Hanji que estava boquiaberta e a primeira vez em anos completamente sem palavras.

- Hanji Zoe, quer casar-se comigo e ser finalmente minha esposa? 

- Ah… — Abriu a boca algumas vezes vendo aquele único anel presente naquela caixinha, fino e com uma pequena pedra de algum material precioso que ao menos sabia qual era. — Eu… — Engoliu a saliva em completo choque tendo aqueles dois olhos azuis a olhando fixamente esperando um positivo ou negativo quanto a proposta, assim como seus amigos. — Aceito? 

- Isso foi uma resposta ou uma pergunta? — Riu baixinho mordendo os lábios ansioso para a mulher ainda segurando aquele anel esperando pacientemente para verificar se poderia o colocar no dedo dela. — Não sei, Hanji, diga-me você. Aceita?

- Aceito, eu acho… Deus, eu aceito, óbvio que aceito, homem!

Colocou aquele anel em um de seus dedos sob o olhar atento de todos, Isabel extremamente animada partilhando aquele brilho no olhar com Eren por ver Hanji feliz e com aquela proposta de casamento. 

- Parabéns, quatro olhos. — Levi disse com certo humor, mas apesar do sarcasmo e apelidos estava orgulhoso e realmente feliz em ver a evolução daquela melhor amiga de infância se tornando aquela mãe. Era bom para ele e se orgulhava imensamente da mulher que se tornou. — Irá casar com o sobrancelhas estranho, estou orgulhoso de ti.

- Isa, pegue esse pacotinho, por favor. — Eren pediu delicadamente para a policial ruiva que logo aceitou pegando a afilhada com extremo carinho em seus braços. No momento que ficou com as mãos livres, Eren olhou para Levi com raiva e apertou aquela camisa dele com força em um beliscão colocando força o suficiente para ficar marcado e que ele sentisse dor. — Pare de falar assim com ela. Não gosta de apelidos, então não use contra os outros, seu idiota!

- Eren, vai se foder antes que eu comece a me estressar contigo e te bata, mas não serão só beliscões, posso fazer bem pior, pois anda merecendo. — Ameaçou apertando os dedos do namorado com extrema força para que o soltasse, porém aqueles olhos verdes estreitos e nada incomodados dizia que a ameaça não surtiu o efeito desejado. — Então não arrisque ao ser um idiota insuportável que acha que manda em mim. Não mandas nem em si mesmo, tenha senso, criança!

- A parabenize igual um ser humano normal, não com essas palavras sarcásticas, tenha modos que então eu não vou reclamar. — Devolveu nada afetado pela ameaça.  — Conversamos sobre isso que aconteceu aqui só nós dois mais tarde no seu apartamento.

Poderiam rir por imaginar como seria aquela conversa entre os dois, mas naquele momento só temiam pela vida de Eren, pois Levi claramente não seria tão gentil em suas palavras e até possíveis agressões.

Levi enrijeceu seu maxilar em um claro sinal de que Eren estava em péssimos lençóis se continuasse com aquilo por mais um segundo sequer.

- Não tens mesmo amor por teus dentes, pirralho.

- Casem-se logo também, pois depois dessas briguinhas vemos que mais parecem casados do que apenas namorados. — Erwin deu uma gargalhada e foi acompanhado por Isabel e Hanji que concordavam plenamente, apesar de já estarem esperando que o ódio de Levi voltasse para o loiro em questão de segundos por aquela sugestão que o policial sempre julgou como “estúpida”. — Brigam igual dois avôs casados há anos. Deveriam se casar, ou melhor, só formalizar o que já estão vivendo há tempos e nem perceberam. Morando juntos, compartilhando obrigações, tendo discussões idiotas…É um casamento.

- Já foi decidido que será apenas ano que vem quando eu me formar, mas isso não é o importante agora e sim… — Eren respondeu sem nem perceber, pois seu foco ainda estava naqueles cinzentos que estavam o ameaçando bater. 

Ao se dar conta do que tinha dito em voz alta arregalou os olhos deixando aquele semblante sério para um chocado e com extrema vergonha não querendo olhar para os amigos. Levi negou com a cabeça em falsa decepção podendo o chamar de fofoqueiro, mas apenas deu um sorriso de canto nada incomodado.

- O quê? — Hanji perguntou para confirmar se todos haviam escutado certo, mas não restava dúvidas e só queriam os parabenizar e rir pelo feito que Eren havia conseguido.

- O que o quê? — Eren franziu a testa falsamente confuso torcendo que passasse despercebido, mas suas bochechas vermelhas o entregavam facilmente.

- O que o que o quê? — A mulher insistiu e deu uma gargalhada pelo que estavam falando não ter sentido nenhum.

- O que o que o que o quê? — Mais uma vez e sorriu igualmente ao ver o ar chocado de Erwin e aquele sorriso maníaco que era partilhado por Hanji e Isabel quase da mesma proporção. 

- O que disseste? — Isabel interrompeu aquelas palavras sem sentido dos dois, pois não queria ver até que ponto eles poderiam chegar, admitiu que seria uma longa conversa até Eren responder algo válido. — Falou que o casamento será ano que vem após se formar, explique-se, que casamento?

- Eu?! — Apontou para o próprio peito fingindo confusão, apesar das bochechas vermelhas e os olhos nervosos o denunciasse naquilo. — Eu disse algo?! — Negou com a cabeça diversas vezes insistindo naquela mentira que ninguém acreditou. — Não disse nada, minha boca esteve fechada esse tempo todo, não disse nada. Vocês se confundiram. Casamento? — Deu uma risada nervosa e apontou para Levi. — Achas que ele faria isso com alguém? Nem fodendo.

Levi apertou seu pulso com seus dedos e afirmou que poderia os contar e parar com aquele disfarce que ninguém havia acreditado e não o deixariam em paz até ter a confirmação. 

- Ok, não adianta fugir… Estamos noivos há um tempinho já…  — Respirou fundo e deixou os ombros decaírem em auto-depreciação. — E eu sou um grande fofoqueiro… 

- Quantos taxistas já sabem do noivado? — Levi perguntou com um sorriso curioso ignorando plenamente as risadas chocadas e desacreditadas dos próprios amigos.

- Hum… apenas aquele que disse a ti… — Desviou o olhar para o chão e mordeu os lábios não passando qualquer confiança no que disse. — Mas, a moça da padaria sabe também… E aquela moradora velhinha do segundo andar do teu prédio, quando a ajudei com as compras acabei por contar, ela disse que gosta de você, apesar de ter certeza que tu a odeia.

-  Eu ao menos sei o nome dela, mas a cumprimento com "bom dia" sempre. Não vejo como eu poderia ser mais educado que isso.

- Um dia te ensino como fazer isso. — Eren garantiu com um meio sorriso. — E então verá a diferença entre ser simpático ou ser igual você. Dona Maria tem razão imensa em achar que tu a odeias, pois você diz um "bom dia" com tanto ódio que às vezes penso que está puto, mas está normal… 

- Tch, as pessoas têm uma visão completamente distorcida de quem eu realmente sou… — Reclamou, mas realmente não se importava se alguém de seu prédio gostava ou desgostava de si, lhe era indiferente e Eren sabia disso.

- Com certeza, pedido de noivado, Levi? — Hanji disse animada esperando mais detalhes daqueles dois, pois não havia sido notificada e nem havia percebido qualquer coisa distinta em Levi, mas não o julgava por ter guardado o segredo. — Por que não me contaste?!

- Não perguntou-me, como eu iria adivinhar que gostaria de saber? — Deu de ombros nada incomodado e ao ver a expressão de poucos amigos vindo de Eren admitiu que deveria deixar o sarcasmo de lado. — Tch, já tem um tempo… Sabem, depois que você quase morre toma algumas decisões estúpidas. — Deu uma risada pela piada, mas viu Eren murchar-se gradativamente e encarar o chão. Diante disso, procurou sua mão e entrelaçou para que parasse de levar aquilo a sério. Ao ter a atenção dos olhos verdes continuou a falar pouco se importando que aqueles três e até a afilhada deveriam estar a rir de sua cara por demonstrar aquele lado preocupado e carinhoso com o moreno. Um lado que muitos julgavam inexistente. — Estou apenas brincando, garoto, as palavras que te disse aquele dia ainda são válidas. Quero isso contigo, não tenha pensamentos estúpidos ou me leve a sério, sabes que é brincadeira.

- Eu sei, estava só dramatizando para ver o que você faria. — Apertou aqueles dedos e piscou com um dos olhos não querendo encarar os amigos, pois ficaria mais envergonhado do que já estava. — Eu sei que as palavras eram reais, afinal lembro-me bem do pedido e do que vivemos naqueles dias. Mas és bonitinho todo preocupado, amor.

- Tch, calado. — Descartou por continuar a ouvir aqueles "amor" na frente de tantas pessoas que claramente se divertiam ao ouvir. Gostava, mas sentia-se estranho quando muitas pessoas ouviam. — Sim, pedido de noivado, o pedi naquela viagem que fizemos para a praia, é um insuportável com palavras bonitinhas que me deixam estranho e tive que o pedir. — Soltou o ar pelos lábios em negação, mas mesmo reclamando sabiam que era algo romântico em uma escala Levi de ser. — Por mim casava escondido mesmo naquele dia que fiz a proposta, mas determinados idiotas são românticos e querem cerimônia. — Deu de ombros. — Tch, faça o que quiser, não importo-me.

- Eu perdi pra ti? — Erwin  negou com a cabeça em falsa decepção por Levi ter pedido Eren antes que ele ter proposto casamento para Hanji. — Deveria ter me adiantado no pedido… Que merda… 

- Estávamos competindo? — Levi arqueou uma das sobrancelhas um tanto desafiador para que o loiro respondesse. — Deveria ter avisado-me antes, mas sim, perdeste, Smith. Entretanto já deve estar acostumado a isso, não? 

Antes que o loiro falasse qualquer coisa igualmente sarcástica Eren tomou a frente retornando a aquela expressão séria, pois aquele não era mesmo o momento para briguinhas infantis e farpas entre os amigos.

- Levi Ackerman, mais uma palavra sua e eu vou dormir na casa dos teus pais hoje.

- Tudo bem, podes ir, como tu mesmo disseste é a casa dos meus pais. — Frisou aquelas duas últimas palavras nada incomodado. — Na qual tenho um quarto e duvido que irão me impedir de dormir lá também, até vão querer. Então, pirralho, fique na sua, pois suas ameaças são inúteis a mim.

- És irritante. — Apertou aqueles dedos sabendo que era inútil discutir e também não queria estragar o momento feliz de Hanji e Erwin com suas discussões sem sentido.

- E você não?

Eren mordeu os lábios e desviou o olhar tentando conter uma risada, afinal Levi estava certo

- Ok, ganhaste essa.

- Só essa? — Estalou a língua em negação e continuou a falar. — Todas, pirralho.

- Acho que agora precisamos contar para os nossos pais, porque…

- Hanji é uma fofoqueira e vai contar a eles? — Completou e confirmou antes que Eren o agredisse ou fizesse algo em desagrado pelo que ouviu. — Eu sei, eles merecem um jantar para expor algo assim vindo de nós e não de pessoas insuportáveis e enxeridas na vida alheia.

- Podemos arriscar um restaurante…  

- Tch, vale a tentativa.

- Dessa vez leve uma arma. — Aconselhou com certa diversão e até naturalidade fazendo com que Erwin fosse o único a arregalar os olhos esperando que fosse apenas uma piada de Eren e não algo sério como estava parecendo.

 

 


Notas Finais


Observação rápida: Não explorei muito essa parte deles morarem juntos, partilharem obrigações e até como o Eren está lidando com o estágio, pois planejo fazer isso no próximo com mais calma, já que ao editar certinho vi que já se passavam das 16 mil palavras e não queria abusar da boa vontade de vocês em lerem capítulos tão enormes assim. Portanto, passei alguns dias após a chegada do Eren, mas não tantos...
Poderia até deixar o nascimento da filha da Hanji para o próximo capítulo, mas pelos cálculos já já a filha dela ia fazer anos dentro de sua barriga haahah, então quis trazer logo essa nova integrante para a história sem enrolar-me mais <3

Espero que tenham curtido, até o próximo <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...