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História Mistérios - Relembrando os velhos tempos


Escrita por: Kach

Capítulo 72 - Relembrando os velhos tempos


Victor bateu uma vez na porta e adentrou, Yohan sorriu, levou as mãos até o fone de ouvido e o retirou deixando sobre seus ombros. Com os pés impulsionou a cadeira um pouco para trás liberando um espaço entre seu corpo e a mesa, sem nenhum cuidado ou aviso puxou Victor para perto fazendo com que sentasse sobre suas pernas. Gesto esse que fez o rapaz loiro morder o lábio inferior com força tentando não se envergonhar ou avermelhar-se até o último fio de cabelo. Foi inútil, pois estava um verdadeiro pimentão sentindo o chão contra seus pés. Victor descartou qualquer coisa, pois o rosto do enfim namorado a sua frente lhe tirou qualquer coisa da cabeça: O sorriso gigante, os cabelos bagunçados ligeiramente úmidos devido a um banho recente, o cheiro de colônia que sempre tinha em seu corpo, a camisa escura larga não marcando nada de seu corpo e a bermuda curta que estava sentindo contra sua calça.

- O que foi? — Yohan arqueou uma sobrancelha mantendo as mãos apoiadas em torno da cintura de Victor que forçava seu corpo a se manter completamente imóvel, dado que estava bem desconfortável com a forma que estavam.

Era a primeira vez que estava ali após a afirmação do relacionamento, então, não era a mesma coisa de que quando eram amigos, chegava, cumprimentava os pais de Yohan, subia as escadas e se jogava na cama dele para jogarem, estudarem ou apenas conversarem. Agora estava, literalmente, sentado sobre ele e sem muita reação a não ser deixar os braços ao lado de seu corpo sem nenhum impulso para tocá-lo.

- Não posso abraçar o meu namorado, Vic? — Sorriu aproximando-se dele e apertando a cintura do loiro com força afundando seu rosto na camiseta branca dele, fechou os olhos gostando do calor que aquele meio abraço estava lhe proporcionando. — Porra, você é cheiroso demais e tão confortável que eu facilmente ficaria horas assim contigo.

Arqueou-se mais um pouquinho e mordeu fraquinho a barriga dele para que falasse alguma coisa ou o tocasse, pois o silêncio, apesar de divertido, estava incomodando Yohan.

- Não me ignore. — Mais uma mordida para enfim erguer seu rosto. — Diga-me o que passa nessa cabecinha e talvez eu possa te ajudar.

- É que… — Victor levou a mão até a nuca do outro, sentiu a pele macia e subiu para os fios curtos de cabelo escuro brincando com eles sob o olhar atento cinzento incentivando que continuasse a falar. — É estranho ficar em cima de ti assim… 

Olhou para o calção amarrotado de Yohan e também para sua calça, ambos tão próximos que o fazia engolir em seco, mesmo que o de cabelos escuros aparentasse estar agindo normal perante aquilo. Diante disso, o mais velho teve a única reação possível, ou seja, riu baixinho e aproximou sua boca da de Victor procurando-o para um beijo.

Soltou a mão da cintura de Victor e sem finalizar o beijo seguiu com seus dedos para o botão da calça, abriu-o e notou que a postura do menor ficou claramente mais tensa. Iria interromper qualquer próxima ação se ele não quisesse, mas iria até onde desejasse e estivesse confortável. Puxou o zíper e chupou a língua prensando-a com os dentes, abriu os olhos mantendo-se assim vendo aquele rosto extremamente vermelho. "Adorável", pelo menos para ele quando via o outro completamente embaraçado.

Afastou o tecido da calça deixando livre um trecho reduzido da boxer escura, passou o polegar na região soltando a língua dele para questionar algo de extrema importância:

- Bom?

Victor desviou o olhar e moveu a cabeça em um aceno positivo imerso em vergonha, mas inclinado a pedir que continuasse, apesar de seu coração estar quase saindo de sua boca em diversos sentimentos distintos, desde nervosismo a excitação.

Retornou a beijá-lo cada vez mais viciado naqueles lábios macios e o gosto de menta que sempre estava ali devido às balas que Victor adorava comer em todo momento de seu dia. Manteve os dedos sobre a boxer, mas estava quase a puxando para baixo, pois se com o tecido ele já estava tendo aquelas reações queria ver como reagiria contra sua pele.

A porta foi abrindo sem nenhum dos dois perceber, nem mesmo o homem velho com os olhos semicerrados e mão esticada com o celular nela completamente confuso com aquela tela pequena.

- Filho, lembra-se qual é a senha do meu… — Kenny interrompeu-se ao levantar o olhar e ver os dois daquela maneira, principalmente a mão de Yohan dentro da calça do outro, abriu a boca não emitindo nenhum som, abaixou a cabeça novamente desviando o olhar, bloqueou a tela do celular e deu um sorrisinho sem graça fechando a porta. — Depois eu converso contigo, sem pressa. — Elevou o tom de voz indo para longe da porta após ter destruído praticamente qualquer chance que o filho teria em evoluir as carícias. — Eu, definitivamente, não estive aqui!

Além disso, o que aumentou ainda mais a vergonha de ambos por terem sido tão descuidados em não trancar a porta e principalmente estar daquela maneira com os dois adultos em casa, foi ouvirem uma gargalhada rouca completamente divertida de Kenny.

O antigo policial era grato por uma única coisa: Não ter chegado minutos depois, iria se traumatizar. 

Se entreolharam assustados e qualquer mão boba já não existia, curiosidade de Yohan para puxar aquela calça ou Victor mover-se sobre as pernas do outro. Qualquer início de ereção também sumiu tão rápido quanto existiu. Nada, além de um genuíno desespero entre os olhos escuros e castanhos.

Yohan respirou fundo, levou as mãos até as bochechas do namorado, passou carinhosamente os polegares naquela pele quente lhe transferindo um conforto, o qual naquele momento era extremamente necessário. Curvou os lábios em um sorriso e deu-lhe um selinho rápido.

- E aí, preparado para enfrentar os teus sogros? — Disse divertido, riu ao ver as sobrancelhas claras se esticarem para cima e o rapaz fugir de seu colo fechando o zíper e o botão para manter determinada dignidade.

Colou suas costas contra o guarda roupas do outro adolescente, apertou as mãos na cintura tentando respirar como um ser humano normal. Naquele momento se questionava se possuía asma ou alguma doença respiratória e não sabia, pois estava sentindo os pulmões implorando por oxigênio e queimando nesse meio tempo.

- Calma. — Yohan se levantou e ajustou o calção na cintura, ficou em frente ao loiro que se conseguisse falar qualquer coisa iria gritar: "Calma?! Como diabos eu vou manter a calma?! Eu estou surtando!". — Você conhece eles desde que éramos pequenos, em algum momento vou conversar com o Tio Berth e o Tio Reiner na cara dura também… Relaxa, você pode estar na merda, mas meio que eu estou também, então vamos lá enfrentar a situação.

- Meus pais não irão te ver sobre minhas pernas enquanto minha mão está dentro da sua calça como acabou de acontecer com o Tio Kenny, Yohan! — Murmurou e apertou a palma da mão contra seu rosto indicando um desespero absurdo, o que fez Yohan rir baixinho.

Até poderiam encontrá-los assim, mas Yohan não iria falar nada e insistir naquele tópico. Havia ultrapassado limites demais e sabia que tinha que ter calma com o mais novo, iria respeitá-lo e faria tudo para que estivesse confortável com toda situação. Queria que fosse um momento especial para Victor, logo admitiu que havia se adiantado demais naquele dia. Na próxima seria mais cuidadoso, prepararia tudo e provavelmente quando os pais estivessem fora. O namorado merecia algo mais romântico.

Apoiou o queixo na curvatura do pescoço do mais baixo, roçou seu nariz pela pele clara e deixou alguns beijinhos delicados por toda a extensão. Procurou a mão que pendia ao lado do corpo de Victor e entrelaçou seus dedos nos dele.

- Quando parar de surtar vamos até ele.

- Oh, maravilha, vou criar raízes no seu quarto e nunca iremos sair daqui. — Ironizou ligeiramente mal humorado fazendo com que Yohan sorrisse ao deixar mais alguns beijos naquele pescoço motivado a relaxá-lo. — Merda, maldita hora que vim até aqui hoje… "Venha me ver, vamos jogar alguma coisa e aproveitar um tempo juntos…" — Repetiu a mensagem que recebeu e foi convencido a visitá-lo, visto que nos últimos dias vinha enrolando para não ficar sozinho com Yohan após aceitar o pedido de namoro. — Maldita hora que cai no papinho do meu namorado, merda, merda, merda… 

- Pare de ser fofo desse jeito, porra. — Mordeu fraquinho com seus dentes e afastou deixando uma breve marquinha que logo iria se apagar. — A primeira vez que me chama de namorado e está completamente puto comigo por uma coisa que nem foi nossa culpa. Não imaginava que seria assim, mas mentiria se dissesse que odiei. Gosto de ouvir que sou seu namorado.

Victor soltou a mão do próprio rosto, respirou fundo torcendo que não estivesse mais tão vermelho e afastou Yohan de seu corpo, assim como as mãos entrelaçadas.

- Vamos conversar com seus pais e depois… — Deu um sorriso assustado aceitando seu fim. — Vou ligar para os meus pais dizendo que amo eles e tenho algumas sugestões para o meu velório. Será uma quarta ensolarada bem aproveitada para eles… Será bom… — Suspirou pesado fitando o rosto pálido do outro e aqueles lábios carnudos avermelhados, talvez tivesse sido seu último beijo neles. — Espero que chore sobre meu caixão, Yohan, se não voltarei como fantasma e puxarei seus pés toda noite.

O jovem de olhos cinzentos e cabelos escuros mordeu o interior das bochechas querendo gargalhar, mas se manteve firme e sério por respeito ao outro. Apertou uma mão no ombro de Victor e sorriu entrando naquele drama desnecessário do próprio namorado.

- Pode deixar, Vic, eu vou chorar no seu enterro. — Massageou carinhosamente com os dedos para que relaxasse ainda mais, mesmo que inútil. Sorriu para enfim utilizar as mesmas palavras que utilizava quando algum companheiro de equipe surtava antes de um jogo, óbvio que com o namorado seria mais carinhoso e não dando tapas na cara ou empurrando até a parede gritando. — És um homem ou um rato covarde, Victor?

- Um rato covarde. — Respondeu convicto movimentando a cabeça em um sinal positivo, nem precisou pensar, a resposta foi imediata fazendo com que Yohan tivesse a única atitude possível: Gargalhou uma nova vez. A incontável do dia e provavelmente não seria a última se continuasse a ouvir coisas semelhantes a aquelas. — Um rato assustado e covarde, ou melhor, um ratinho, pois nem no nível rato eu consigo chegar… 

- Caralho, você é tão fofo. — Yohan deu um tapa em seu próprio rosto para acordar, pois se continuasse naquele ritmo ficaria ali olhando para o mais novo por horas esquecendo que deveriam conversar com seus pais.

Inspirou fundo mantendo a postura de sempre e finalmente soltou o loiro. 

Victor fez um sinal religioso com a mão tocando seu rosto e peito antes de seguir até a porta.

- Que ele não esteja armado, que não esteja armado. — Cruzou os dedos repetindo aquilo como mantra e escondeu a mão no bolso da calça para a pura diversão do namorado que não se compadecia com tamanho nervosismo desnecessário. — Minha vida foi boa, não tenho o que reclamar, uma pena que o único filho dos meus pais será assassinado agora… Uma pena, mas foi bom enquanto durou.

Logo ao saírem do quarto já viram Kenny e Sarah saindo do deles, aparentemente normais e a mãe claramente não tinha sido notificada sobre o ocorrido, ou apenas não se importava. Era uma incógnita.

- Pai… — Respirou fundo para tomar a coragem necessária a partir daquelas duas orbes cinzentas envelhecidas e sérias, ao mesmo tempo com uma pitada de divertimento pessoal.

Kenny levantou as palmas das mãos em defensiva rindo.

- Relaxa, pirralho, não precisa falar nada, é normal. Já fui adolescente.

- Não é sobre isso que quero falar. — Mordeu os lábios incerto buscando coragem no loiro, totalmente inútil, pois ele estava tão nervoso que logo mais ficaria visível as pernas tremendo. — É que… 

Nenhuma forma parecia certa de se contar isso, ainda mais que a mãe o incentivava para que falasse sem rodeios. Diante disso, descartou enrolações, falaria sem pensar muito.

- Pedi o Victor em namoro, estamos namorando há algumas semanas…

Sua mãe teve a reação esperada, sorriu satisfeita lançando um olhar gentil para os dois, iria abraçá-los e falar palavras de apoio logo mais. No entanto, interrompeu qualquer possível carinho ao notar que Kenny estava prestes a enfartar, logo teria que acudir o marido ou bater aquela cabeça na parede, carinhosamente, com toda força de seu ser até que recobrasse a sanidade agindo como o pai que ela esperava que fosse.

- Namoro?! — Surtou elevando o tom de sua voz, repousou a mão em sua cintura e a outra na lateral de sua cabeça com uma respiração tão pesada que só demonstrava o quão abismado estava não conseguindo digerir a informação.

Victor, pensou por instantes, em simplesmente sair dali correndo e talvez nunca mais se aproximar daquele homem. Iria sim tentar manter o namoro com Yohan, os sentimentos eram reais, mas o medo de ser jogado para fora por alguma daquelas janelas era maior que qualquer coisa.

Obviamente Kenny não estava reagindo assim pelo fato de serem dois garotos ou talvez fosse, Victor não sabia e mesmo conhecendo Kenny desde que era uma criança o vendo como um tio, aquele homem era um mistério para ele.

- Pare de surtar, amor. — Sarah disse despreocupada com um sorriso até orgulhoso confortando o filho e agora também o possível genro.

- "Parar", mulher?! — Repetiu em desdém e se fosse humanamente possível seus olhos estariam ainda mais arregalados. — Porra, meu garoto tem quinze anos! Nessa idade eu estava pegando a espingarda que meu pai mantinha em casa e ia caçar, saía com diversas pessoas e ele com QUINZE ANOS me aparece namorando?! — Massageou sua cabeça ainda sem acreditar naquele absurdo que estava ouvindo. — Onde erramos, Sarah? — Apoiou as costas na parede fechando os olhos. — Criamos um romântico, Sarah, a merda de um romântico… 

Passou os dedos entre seus cabelos longos.

- Tens quinze anos, vá aproveitar, não namorar, pirralho… 

Lamentou-se tão amargurado que Sarah até ficou com dó de ir pelo método agressivo de sempre, Yohan e Victor apenas se olharam sem saber reagir. Talvez devessem falar algo ou o melhor era ficar em silêncio, simplesmente não faziam a mínima ideia de como se portar em uma situação como aquela.

Uma mulher alta, cabelos escuros ligeiramente ondulados, feições divertidas adentrou pela porta, subiu as escadas e cruzou os braços perante a cena que estava vendo. Ao seu lado, uma mais baixa, cabelos lisos curtos e sorriso fácil com as mãos no bolso da calça também estava curiosa querendo entender a pequena reunião familiar.

- O que está rolando? — Mia perguntou, pois havia escutado as palavras altas do padrasto vindo logo ao abrir a porta e ficou curiosa, pois apesar de tudo dificilmente ouvia aquele tom tão elevado saindo dele.

- O pai está surtando porque eu disse que estou namorando com o Vic. — Yohan disse indiferente com uma expressão beirando ao tédio e se Victor já estava desconfortável, naquele momento tinha triplicado abaixando o rosto com Kenny ainda o olhando com a expressão enojada de: "Não acredito no que eu estou vendo, namoro?!".

Os olhos castanhos da irmã se abriram em surpresa, teve a única atitude possível, foi até Yohan e bagunçou os cabelos escuros com os dedos sem parar, não iria mesmo se ouvisse qualquer reclamação do caçula, a qual sequer era cogitada, apenas apertou uma mão em torno da cintura dela pelas saudades, visto que já faziam semanas que não tinham a visita dela.

- Meu irmãozinho está namorando? — Perguntou continuando aquele carinho fazendo com que a mãe, o irmão e até a própria namorada sorrissem. — Ah meu Deus! — O trouxe para ainda mais perto em um abraço apertado brincando com o tecido da camiseta dele, além de dar um beijo na bochecha. — Estou tão feliz por você, irmão! 

Olhou para o loiro e sorriu para concluir, fechou o punho e esticou o braço incentivando e indicando sua mão para que o jovem chocasse contra a sua. Foi isso que fez sorrindo nervoso sentindo o lábio inferior tremer e todo seu corpo estar em puro suor gelado.

- Finalmente, Vic, estava até ficando com dó por meu irmão ser tão cegueta.

- Era óbvio, não era? — Coçou sua nuca completamente desconfortável fazendo com que Sarah, Mia e até a outra mulher concordassem, pois já tinham visto isso antes que Yohan.

- Era? — Yohan voltou-se para ele e sorriu em sinal de: "Foi mal, mas vamos recuperar o tempo perdido. Desculpe por ser idiota e não ter visto."

- Era. — Victor, Sarah e Mia disseram ao mesmo tempo fazendo com que o garoto não tivesse mais nenhuma palavra, havia sido lerdo e nada que dissesse iria contradizer isso.

- Ah… — Mais uma coçada na parte traseira de sua cabeça. — Certo.

- Caralho… Eu deixei o inimigo ficar dentro da minha casa. — Kenny murmurou se lamentando por aparentemente Yohan não ter sido o único cego dentre eles, pois sempre visualizou o loiro com um inocente amigo do filho, apesar de na infância ter suas suspeitas, descartou com o tempo, afinal sempre era julgado como “idiota” quando pensava aquele tipo de coisa. — Tch, foi maldição do pirralho Jaeger, ele disse que nosso garoto não ia puxar os genes agressivos dos Ackerman's e seria romântico, sem amor pelas armas, mas isso já é demais para o meu coração velho...

- Eu não entendi ainda. — Mia pontuou confusa ainda querendo entender e até intermediar, pois seu caçula teria todo apoio naquele namoro, principalmente por Victor ser uma boa pessoa para o irmão. — Ele está puto pelo namoro, por ser com o Victor ou pelo o quê?

- Acho que é ainda por aquela parada de eu achar chato ir atirar no Centro de Treinamento com ele. — Yohan esclareceu lembrando-se das vezes que quase foi obrigado a acompanhá-lo, porém não apresentou tanto interesse e Kenny não insistiu, apesar de demonstrar sempre que estava chateado com isso, uma manipulação direta no emocional do filho, infelizmente ineficaz. — Preferir estudar ou ficar jogando invés de ficar batendo nele, essas coisas padrão que ele vive fazendo quando vê o Tio Levi.

- Diversas influências desde que ele era um bebê. — Lamentou-se confirmando a hipótese do filho. — Eu lia para ele histórias ainda na barriga da mãe… Tantos brinquedos de armas e o garoto chega nessa idade gostando de vídeo game. — Olhou enojado para um ponto aleatório demonstrando seu desgosto pelo aparelho apertando os punhos. — Meu parceirinho desde bebê… Agora um adolescente apaixonado. Tch, e para fechar o pacote: Nem gosta de armas. Eu poderia até achar normal ser amoroso, tudo bem, mas tudo isso e ainda odeia coisas agressivas, quase um pacifista igual aquele idiota do Jaeger.

- Ah, Tio Kenny, se quiser atirar ou caçar qualquer dia podemos ir juntos. — Victor expôs meio incerto e teve a atenção novamente de todos, mas dessa vez vindo do homem barbado, um até curioso. — Pescar, sei lá, podemos. Eu gosto… 

Olhou-o de cima a baixo criticamente.

- Por acaso sabes atirar, pirralho?

- Claro. — Deu de ombros e não passou nenhuma confiança. Respirou fundo mantendo a educação pelo descrédito, não era por normalmente ser alguém de sorriso frouxo que não poderia saber uma coisa daquelas. — Meu padrinho é o Tio Eren, ele não gosta dessas coisas de armas e blá blá como o senhor mesmo disse, mas nas vezes que o Tio Levi leva os gêmeos para atirar sempre passa escondido me buscar e eu vou junto…

Fazia sentido, seria uma atitude óbvia do sobrinho e certamente mudou um pouco as impressões de Kenny perante aquele namoro do filho com o garoto. Apesar de saberem que mesmo "escondido" Eren deveria saber sobre as idas ao Centro.

- Não sou o melhor, mas Tio Levi sempre me elogia… 

De tudo que ouviu, isso foi talvez o mais surpreendente, pois Levi não elogiava com facilidade alguém, nem mesmo a família ou a pessoa que era casado. Portanto, se elogiou o garoto loiro de olhos castanhos e expressão assustada, valia a pena para Kenny verificar pessoalmente o desempenho e então tirar suas próprias conclusões.

- Então se quiser algo assim qualquer dia, posso acompanhar o senhor.

Imediatamente a postura depreciativa de Kenny transformou-se em uma divertida, surpresa e até orgulhosa.

- Não me chame de "senhor", garoto. — Descartou extremamente simpático contrariando a postura de segundos atrás. Sua esposa, a enteada e também o filho olharam com as expressões de: "Sério que você se comprou tão fácil só por causa disso, Kenny?"; A resposta era positiva, havia sim e não iria nem tentar disfarçar. — Somos família, Victor, és meu genro preferido, garoto. — Mais um sorriso torto, dessa vez fazendo até Sarah sorrir. Victor ignorou o fato de ser o único e ficaria até triste se não fosse o preferido, talvez daqui uns anos ficasse mais confortável com a situação a ponto de brincar, mas naquele momento ainda não.  — Posso chamar-te de Vic?

- C-Claro. — Gaguejou incerto e só teve tempo de uma última respirada antes de sentir um braço pesado se pôr sobre seus ombros o puxando para perto indicando que descessem as escadas.

Ao chegarem lá embaixo o velho o largou, mas garantindo que iria com Sarah realizar um lanche para eles em forma de comemoração pelo namoro. Mia e a namorada se jogaram no sofá ainda rindo da situação, Yohan se aproximou do namorado satisfeito que estivesse mais relaxado após aqueles minutos conturbados do pai surtando.

Yohan discretamente o deu uma cotovelada na barriga chamando sua atenção, abaixou o rosto um pouco para sussurrar em sua orelha:

- Você não sabia beijar na boca, mas sabe atirar? 

- Cale a boca, Yohan. — Olhou-o em ameaça, um olhar frio e uma expressão tão estreita e séria que fez o rapaz por segundos se questionar quem era aquele ali, pois não lembrava em nada o Victor que tinha acesso desde a infância. — Lembre-se desse detalhe importante: Eu sei atirar.

- Foi uma ameaça?

- Foi.

- Hum… — Ergueu as sobrancelhas e fez um biquinho peculiar. — Eu gostei. — Deu um sorriso torto, tão semelhante com aquele de seu pai que fez Victor querer reafirmar o quão parecidos aqueles dois conseguiam ser.  — Da próxima vou garantir de não esquecer de trancar a porta.

 

Certamente após um tempo Yohan achou a forma perfeita de fazer o que gostava e também o que o velho preferia na companhia do pai, ou seja, a mãe comprou um vídeo game novo com os controles em formato de armas. Uniu as duas coisas. No início, Kenny não pareceu muito satisfeito, dado que preferia o tradicional revólver em mãos, o soco que recebia cada vez que apertava o gatilho, mas não trocava nem mesmo isso por um momento ao lado do filho rindo e se divertindo como duas crianças.

Amava aquele garoto e se estava feliz era justamente isso que importava para si mesmo. Inclusive ir verificar presencialmente com a companhia do filho se Victor realmente atirava bem, surpreendeu-se ao admitir que sim e murmurar para ele em tom de aviso: "Não brigue com o garoto, tenha cuidado, porque você é péssimo atirando e provavelmente vai levar algumas balas dele. Vou rir se acontecer isso, não vacile".


 

Em uma tarde qualquer quando Eren estava de folga, Levi descansando antes de retornar para o trabalho após o almoço, Victor e Yohan chegaram para aguardar os gêmeos que claramente estavam atrasados correndo contra o tempo. Sendo assim, sentaram no sofá e foram interrogados sobre uma coisa que desde que o casal viu os dois de mãos dadas estavam curiosos: Como havia sido a reação de Kenny.

Tinham tido conhecimento que ele soube do namoro, afinal Kenny comentou sobre o assunto, até mesmo Sarah conversou com Eren rindo, mas nenhum se aprofundou.

Sendo assim, contaram sob o olhar atento dos mais velhos que não disfarçavam a curiosidade, inclusive ao ponto de falar: "Mais detalhado, garotos, como foi exatamente a expressão que ele fez?". 

 

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Eren amava a profissão que escolheu para sua vida, mas seria hipócrita em afirmar que todo dia gostava de tê-la, pois em algumas situações simplesmente queria poder mandar todos a merda e sair do local. Contudo, como autoridade máxima precisava manter a compostura e seguir adotando a melhor estratégia perante os casos.

Uma das coisas mais divertidas era encontrar antigos colegas de faculdade nos tribunais, tanto como advogados e em pouquíssimos casos como acusados, até mesmo seu irmão, ambos tentando manter o profissionalismo, mesmo que todo fim de processo saíam para beber juntos ou jantar na casa um do outro em comemoração. Naquele fim de tarde em especial, Armin estava defendendo um homem de meia idade, os crimes que cometeu não haviam prejudicado tanto as pessoas a sua volta, porém o advogado de acusação estava sendo uma grande pedra no sapato de todos tentando interferir ao máximo e indiciar para uma pena mais severa do que a que Eren planejava para o acusado.

- Advogado, aproxime-se. — Eren o chamou com um movimento de mãos desinteressado mantendo a postura rígida e séria que todos estavam acostumados.

O advogado loiro, aspecto franzino, apesar de ligeiramente envelhecido, olhos azulados claros e um sorriso que teimava em surgir em seus lábios quando ninguém estava prestando atenção em si, foi até o local que o juiz estava se aproximando e inclinando-se um pouco erguendo os pés para conseguir conversar com ele.

- Olha, sinceramente, Min, não consigo diminuir a pena mais do que cinco anos, será bom para ele esse tempo preso. — Sussurrou seriamente fingindo que fosse um desconhecido e não seu melhor amigo de anos, não precisavam daquela informação para que utilizassem a favor deles. — Não vai me convencer, então, por favor, termine logo e pare de argumentar, facilita para mim, cara.

- Cinco anos? — Suspirou emburrado fitando os olhos verdes do amigo imersos naqueles cochichos perante o silêncio absoluto do tribunal. — Talvez serviços comunitários? Te pago uma cerveja, igual nos velhos tempos.

Segurou um sorriso de surgir em seus lábios, quase como se sua vida dependesse disso e moveu a cabeça em um positivo sério por já ter negado quantias exorbitantes de dinheiro, mas estar aceitando uma única bebida ao se vender.

- Um drink do Berth e não se fala mais nisso.

Armin se afastou mantendo a compostura, ficou ao lado de seu cliente enquanto recebia olhares estreitos do colega. 

O juiz escreveu algumas coisas em um papel qualquer e ergueu seu rosto novamente para o veredito final.

- Sendo assim, o réu deverá cumprir serviço comunitário, pagará uma quantia em dinheiro que estipulei neste papel aqui. — Movimentou-o na direção da defesa do homem, ou seja, Armin, e continuou sério. — Durante cinco anos em regime semiaberto, tendo liberdade utilizando uma tornozeleira eletrônica e apresentando-se a cada dois meses na Delegacia mais próxima.

Apertou o martelo de madeira com uma das mãos e o bateu firme finalizando a sessão.

- Apenas isso?! — O advogado de acusação arregalou os olhos completamente assustado e gargalhou negando. — Inadmissível um crime desses o senhor ser tão brando, Meritíssimo. Tens certeza do seu veredito?!

Justamente aquele que todos ouviam boatos de sua seriedade e penas árduas tinha sido bondoso demais. Não queria isso, não ao notar que havia perdido e provavelmente o escritório não iria lucrar muito com a simples pena de prestar alguns serviços comunitários.

Olhou seriamente para o homem, sem nenhum pingo de humor, arqueou uma sobrancelha em desafio e adotando o tom mais estressado possível lhe disse:

- Estás mesmo tentando ensinar-me como devo fazer o meu trabalho, advogado?

Engoliu em seco sem muita coragem de o responder, apenas passou a língua nos lábios os molhando e pronto para falar mais alguma coisa. Entretanto, se interrompeu, pois Eren ainda não havia finalizado.

- O senhor está insinuando que toda minha carreira jurídica até então foi inútil, pois aparentemente após cerca de dezessete anos na área simplesmente não sei o que é justo ou não em um julgamento, mas o senhor sim?

Apoiou os cotovelos na bancada sobre os papéis e as mãos em seu queixo incentivando o outro a respondê-lo enquanto Armin tratava de focar em seu cliente, pois se prestasse muita atenção iria rir.

- Não foi isso que quis dizer, Meritíssimo.

- Por que não vem aqui mostrar como devo fazer meu trabalho? — Incentivou-o o chamando com uma das mãos ignorando Armin mordiscando o lábio escondendo um sorriso perante a situação que estava visualizando, que o amigo tinha má fama ele já tinha tido conhecimento, mas que era naquele nível nunca havia visto até então. 

- Desculpe, Meritíssimo. — Disse entre os dentes. — Você está certo.

- Dessa vez irei deixar passar essa reclamação, apenas espero que não retorne a acontecer. — Afirmou sério e soltou as mãos ajustando sua postura na cadeira confortável. — Estão liberados. Como já disse: A sessão foi encerrada.

***

Do outro lado da cidade, haviam duas pessoas em uma sala, sendo que uma delas estava claramente mais impaciente batendo o pé freneticamente no chão, braços cruzados tão apertados um no outro a ponto de machucar, lábios secos, coração ansioso, ninguém menos que Farlan. Além dele, apoiado sobre a mesa, Levi olhava-o com uma diversão discreta, mãos no bolso e um desejo interno crescendo gradativamente no peito para dar uns tapas no rosto do colega, pois aquela preocupação toda estava irritando.

Isabel, que havia chamado os dois com um único objetivo em mente, saiu do banheiro segurando um objeto em especial com uma das mãos, cabelo uma bagunça, pele pálida e praticamente o mesmo nervosismo que Farlan.

- Positivo. — Sem coragem de olhar para o loiro, focou-se na figura do melhor amigo sorrindo satisfeito, pois logo ao receber os dois, uma caixa peculiar saindo no bolso dela, Farlan fechando as cortinas e ela correndo para o banheiro, entendeu perfeitamente a situação. — Eu sou muito velha para isso, não está certo, não pode estar certo… É um falso negativo, eu sou velha, sequer posso engravidar nessa idade, é difícil e… Impossível… 

Levi respirou fundo com toda sua paciência, delicadeza e compreensão sobre ser um momento delicado e difícil para o casal, tirou uma das mãos do bolso e com força deu um tapa nas costas de Farlan o empurrando para frente indicando que fosse abraçar a mulher e não se manter babando completamente estático.

- Nós vamos ser pais? — Perguntou baixo apertando com extremo cuidado aquela cintura enquanto Isabel se mantinha imóvel segurando aquele teste com força. — Puta que pariu, nós temos maturidade para isso?

- Como chefe eu diria que não. — Levi expôs divertido se questionando se quando descobriu sobre o sucesso do procedimento dos gêmeos tinha ficado com aquela cara ridícula também, provavelmente sim, então não iria julgá-los. — Como amigo de anos e um dos maiores apoiadores do relacionamento de vocês desde o início, diria que sim, irá dar tudo certo e serão bons nisso.

- Acho que temos uma idade avançada demais para pensar que somos imaturos. — Isabel concordou com um sorriso assustado sentindo-se colada contra o corpo quente do loiro. — Porra, Farlan… Uma criança… 

Farlan respirou fundo, deu um breve selinho sorrindo e abaixou-se apoiando as mãos ao redor da cintura da ruiva, olhou para aquela barriga e beijou uma única vez.

- Se fosse anos atrás eu iria surtar, mas tivemos um bom desempenho com os gêmeos, lembra? Vamos encarar facilmente uma criança nossa.

- Os gêmeos possuíam um detalhe diferente do nosso...

- O fato de serem dois? — Arqueou a sobrancelha loira com certa confusão.

- O fato de eu poder devolver aos pais quando faziam algo que eu não entendia como ajudá-los, diga-me como vou devolver esse bebê aos pais se os pais somos nós?

Isabel tinha razão e Farlan concordou igualmente desesperado lembrando das tantas vezes que tiveram essa mesma atitude tão descaradamente que fazia até os meninos rirem enquanto recebiam olhares de decepção do casal de amigos.

- Isso é um bom ponto.

- Ok, eu não sou bom em discursos motivacionais, mas vocês estão me dando uma vontade genuína de bater nos dois. — Levi começou por dizer interrompendo aquela tensão, era desnecessária, se até ele tinha se dado bem nisso de ser pai de alguém, ainda mais em dose tripla praticamente, eles também iriam. — Não é difícil, terão apoio e vocês entenderão tudo, não entendiam os gêmeos porque eles não eram seus filhos, eu e o Eren entendíamos perfeitamente porque eles eram nossos, então nós conhecíamos as particularidades, vontades, desejos, tudo... Para terminar, pois estou educado demais, não sejam imbecis com essas atitudes idiotas.

- Nós vamos nos dar bem. — Farlan afirmou repleto de incertezas e inseguranças.

- Sim, acho que vamos. 

- Normalmente eu sou incrível em apostar sobre os bebês. — Levi coçou seu queixo focando naquela barriga inexistente, mas que em alguns meses tomaria proporções maiores. — Acertei que seria uma menina para a Hanji, disse ao Berthold que seria um garoto, se eu tivesse descoberto a gravidez da Sarah antes que o Eren dissesse que era um menino, iria apostar isso também… 

Ambos escutaram atentos e curiosos, pois um exame de sangue ou ultrassom iria demorar muito tempo, logo estavam acreditando na eficácia da aposta do amigo.

- Vocês são difíceis, é um tanto recente… — Resmungou e estalou a língua antes de dar de ombros. — Um pirralho talvez, mas confirmo isso daqui um tempo, ainda não tenho certeza se é minha aposta final. — Viu Farlan se levantar e sabia que aqueles sorrisos durariam tempos, afinal de contas em seus próprios lábios demoraram a conseguir perder espaço por conseguir controlar. — Agora deem o fora da minha sala, nem fodendo deixe esse negócio nojento aqui, Isa, por favor. — Forçou um som de ânsia. — Fizeste xixi nisso, que nojo, queime isso..

- Ele conseguiu com sucesso estragar nosso momento paternal. — Farlan se lamentou, mas estava feliz demais para se importar e sabia que era apenas um modo do amigo dizer-lhes que deveriam aproveitar aquela notícia sozinhos, até mesmo sem sua companhia, pois era um momento deles. — Vou lembrar que o dia que soube que seria pai, meu melhor amigo reclamou de um teste repleto de urina… 

- Tch, nojento.

Isabel pegou o teste e indicou que iria levar até Levi que imediatamente adotou uma postura séria apontando para a porta. Gargalharem e saíram deixando-o sozinho, sentou-se na cadeira agradecendo as cortinas fechadas e o momento sozinho para ficar preso em seus próprios pensamentos.

- Mais uma criança…  Eren vai adorar saber disso. Tch... — Suspirou pesado bagunçado o cabelo com seus dedos, afundou-se na cadeira e fechou os olhos naquele papo silencioso consigo mesmo torcendo que ninguém entrasse e o vesse daquela maneira. — Vai ficar triste porque terei que negá-lo novamente, mas... Não consigo sentir-me preparado ainda... Apenas essa sensação angustiante de que devo esperar, mas não faz sentindo nem a mim mesmo, então como poderia explicá-lo o que sinto? Tch... Justamente você que sempre diz que devem conversar quando existe algo, fica guardando para si mesmo, seu hipócrita, Ackerman... 

***

Eren deixou o carro estacionado em sua casa, Armin seguiu-o para enfim buscá-lo e pudessem dar uma volta antes.

- Ele ficou com medo, não foi? — Disse rindo ao encaixar o cinto de segurança lembrando com exatidão a expressão que o advogado adotou.

Não era muito ético estar falando aquilo, mas ali ao seu lado era seu amigo de anos e parceiro, logo poderiam sim fazer coisas como aquelas às custas de outras pessoas, principalmente uma que era um tanto prepotente e arrogante com todos.

- Ficou. — Apertou os dedos no volante partilhando o mesmo sorriso divertido. — Suponho que o Levi já tenha te visto em seu ambiente de trabalho. — Eren concordou com um murmúrio baixo, foram muitas vezes, principalmente pelas vestes que utilizava, Levi não disfarçava o quanto gostava de vê-lo assim e autoritário. — Uma dúvida: Jean já te viu em algum julgamento durante todos esses anos?

- Não, mas seria divertido vê-lo assustado. Eu mudo um pouco quando estou lá, não é? — Coçou o queixo lembrando dos primeiros olhares assustados de seus colegas, inclusive de Sarah ao vê-lo adotar aquela postura séria e inabalável nada semelhante ao jovem divertido que todos conheciam. — Já ouvi sobre isso, mas não acredito que seja tão drástico assim.

- Torna-se outra pessoa, Eren, até eu quase fiquei receoso de ti.

- Sem exageros, Min. 

Não iria insistir, mas que estava certo no que disse, isso estava.

- Vamos juntar todos em um bar como os velhos tempos? — Armin perguntou apoiando o celular na coxa, mas ainda completamente focado no trânsito enquanto dirigia. Eren ao seu lado esteve pronto para negar, mas não resistia aos olhos azulados implorando para que aceitasse. — Por favor, Eren… Antigamente todo final de semana estávamos grudados, aos poucos nos afastamos devido às nossas obrigações, precisamos relembrar.

Aceitou vendo um sorriso vencedor surgir no rosto franzino do outro e em sequência apertar o celular algumas vezes quando parou no sinal vermelho. Estava enviando uma mensagem, já escrita anteriormente, no grupo que mantinham desde a universidade.

Fez a mesma coisa, mas com o número de Levi para avisar sobre seu paradeiro naquela noite. Não era um dos maiores fãs de sair sem o marido, nem mesmo o Oficial gostava, mas vez ou outra admitiam que precisavam daquilo.

Aproximou o celular da boca gravando um áudio rápido:

“Amor, vou beber um pouco com o Armin e os outros, não volto tarde, lembre os dois irresponsáveis que precisam comer e não esqueça você também de fazer isso, pois quando entra naquele escritório esquece que tens vida. De resto, amo vocês!”

- Tch, abandonado pela pessoa que casei… — Levi resmungou para si mesmo enxugando os fios de seu cabelo com a toalha enquanto fitava a tela de seu celular escurecer aos poucos e bloquear novamente.

Respirou fundo, sentou na cama ainda de toalha e tratou de digitar: “Tudo bem, divirta-se com os idiotas, se precisar de carona ligue-me que eu vou até ti, independente do horário.”

Eren colocou a mão sobre suas orelhas sentindo-se queimar aleatoriamente.

- Tenho certeza que ele está me chamando de insensível por abandoná-lo essa noite. — Murmurou rindo devolvendo as mãos até às coxas. Suspirou analisando a paisagem pela janela aberta. — Saudades da Mika nessas saídas. Posso mandar uma mensagem para que ela venha?

- Estás me pedindo permissão? — Gargalhou virando seu rosto para encarar o amigo que logo deixou sua expressão para a mesma brava que adotou no tribunal quando começou a ouvir reclamações durante o julgamento. — Deve mandar, cara, quanto mais pessoas para relembrar os tempos antigos melhor.

- Não fale assim, sinto-me velho pensando que faz tanto tempo desde a faculdade.

- Aceite a idade e sem crise, estamos envelhecendo é normal e o esperado.

Procurou o contato da amiga dentre tantos e enfim a mandou um convite também, assim como o local que iriam, caso ela desejasse. Recebeu um positivo, apenas iria demorar um pouco.

Ao chegarem, Jean já estava reservando uma mesa sentado, braços cruzados e pernas esticadas, celular sobre a mesa e uma única lata de cerveja já aberta. Marco havia ido ao banheiro, mas retornou a tempo de ver os dois chegando, sorriu em cumprimento e sentou-se ao lado do que já estava ali aguardando que se aproximassem.

Berthold foi o que mais demorou a chegar, camisa social amassada, botões abertos, cabelos escuros bagunçados e olheiras fundas de alguém que há dias não tinha tanto descanso. 

- Porra, nos tornamos algo que nunca imaginei que seríamos ou, sei lá, que iríamos sobreviver até esse ponto. — Jean referia-se apontando para a camisa básica preta dele ligeiramente colada no peito, pois não teve muito tempo de se organizar após retirar a farda. Em seguida, apontou para cada um com aquelas camisas de botões, não tão certas no corpo, pois naquele horário pós expediente já estavam uma bagunça amassada com alguns botões abertos. — Principalmente você, Cabeça Oca. — Deu um tapa forte nas costas do amigo ao seu lado quase o afogando com a bebida que havia ingerido em um único gole. — Jurava que você não durava até o fim da faculdade, mas cá está, vivíssimo para nossa infelicidade. — Tossiu para que as palavras se sumissem, apesar de ter sido inútil. — Digo, “felicidade”.

Armin e Marco, consecutivamente, cerraram seus maxilares e estreitaram os olhos para que se calasse. Naquela altura do relacionamento, não precisavam expor em voz alta, Jean sempre sabia que deveria calar a boca.

Não tinha muita liberdade de expressão naquele relacionamento.

- Ah, de fato. — Gargalhou igualmente orgulhoso de como estavam ali, sentia um orgulho extremo por todos terem seguido as carreiras que queriam. — Eu também não pensei que durava, mas… Para a felicidade geral, estou vivo, Cara de Cavalo.

- Já foste sequestrado. — Berth pontuou concordando com Jean, de fato dentre todos eles ali, o que menos tinha chance de sobreviver até o fim da faculdade era o moreno de olhos claros e sorriso traquina, visto que sua família e namoro eram complexos. — Um policial corrupto interrompeu um jantar seu, armado e apontando uma arma para o teu namorado e com certeza iria levar-te junto.

- Seu pai quase te matou. — Armin infelizmente também colaborou com aquilo, apesar de nunca ter imaginado que um dia estariam falando sobre aquelas coisas com sorrisos nos rostos.

- Estamos de boa agora. — Eren deu de ombros mantendo um sorriso. — Desde que ele saiu da prisão tenta vir pelo menos uma vez por mês lá em casa ver os três netos, a relação dele com o Zeke melhorou, mas prefere se manter afastado morando em outra cidade seguindo a vida com o restante das economias dele.

- Ou seja…

- Realmente, ele tinha uma porcentagem baixíssima de sobrevivência. — Berthold completou as duas palavras de Jean recebendo um levantar da lata agradecido.

Mikasa chegou nesse instante, abraçou todos, deu um tapa fraco na nuca de Jean rindo e enfim sentou-se ao lado de Berthold que piscou com um dos olhos.

- Sentiram minha falta, vadias? — Perguntou arqueando as sobrancelhas escuras, a pele pálida sem muitas marcas de expressão, uma camiseta escura de manga curta colada no corpo, calça jeans e os cabelos negros ligeiramente úmidos indicando que era a única dentre eles que havia tido tempo de pelo menos tomar um banho antes de vir.

- Pare de viajar tanto. — Eren resmungou como uma grande criança mimada cruzando os braços, e enfim deixou aquele semblante de lado. — Sinto inveja da quantidade de fotos que recebemos vindas de ti no seu perfil, inclusive por mensagens.

- Ela faz de propósito. — Berthold afirmou convicto movimentando a cabeça e arqueou-se para o lado fugindo de uma cotovelada. — Anda tão sumida da nossa vida que a última vez que vieste lá em casa o Victor era criança, Mika, agora está até namorando.

- O garoto se deixou levar pelos Ackerman’s, meus ensinamentos para que ele se afastasse foram inúteis. — Jean apertou a lata vazia com sua mão ligeiramente depreciativo, dessa vez os olhares frios não vieram de Marco e Armin, mas sim, consecutivamente e até mais ameaçador, de Berth e Eren. — Yohan é um bom garoto, isso que eu queria dizer. — Mostrou as palmas em defensiva para que aliviassem as expressões. — O Vic tem sorte por ter escolhido o Ackerman menos pior dentre todas as opções.

Eren respirou fundo, ergueu a mão e com força deu um tapa na nuca de Jean, um aviso das agressões piores que se seguiriam se insistisse naquele tópico no restante da noite.

- Pare de falar mal da minha família.

- Qual foi? Seu marido é o pior dentre todos! — Defendeu-se massageando a nuca enquanto Mikasa concordou para então levantar a mão chamando um garçom, Berthold e Armin em uma sincronia perfeita riram e desviaram o olhar para não precisarem concordar o óbvio, Marco manteve-se neutro.

- Marido? Foda-se ele. — Abaixou a mão repousando sobre a mesa e sorriu. — Não estou defendendo-o, sei que ele é o pior e até me orgulho disso, estou defendendo meus filhos e até a mim mesmo desse teu preconceito com os Ackerman 's. Não nos inclua nisso de sermos opções piores que o Yohan, estamos igualados, eu diria.

- Ah, verdade, não és mais Jaeger, esqueço disso.

- Há um bom tempo e pretendo me manter assim até a morte.

Jean bateu os nós dos dedos na mesa.

- Credo, não fale assim, Cabeça Oca.

Pediram as bebidas aproveitando-se do agrado que apenas o álcool poderia fornecer após um dia extenso e cansativo de trabalho.

- Diga-me, Mika, como é ser a preferida de Deus? — Berthold chamou sua atenção após receberem as bebidas em frente a eles, em breve seguiria para o bar verificar se poderia preparar algo, como Armin havia pedido por uma mensagem privada contando a situação. — Viagens a cada semana, uma vida tão incrível, eu ando atolado de serviço e quando vejo as pilhas de relatórios naquela porra de Fórum triplicam, porra, eu fiz o concurso querendo vida fácil… Diga-me: Como diabos tens essa vida boa? Se for assaltando um banco sou parceiro para o próximo, pois estou quase largando o serviço para vender meu corpo em uma esquina qualquer.

- Sem filhos. — Apertou um de seus dedos enumerando. — Namorada apaixonada por viagens e que me acompanha nas loucuras do meu trabalho. — Mais um dedo e outro curvando os lábios em um sorriso arteiro antes de reiterar o que já havia dito. — Sem filhos. — Abaixou os dedos rindo da expressão que Berthold e Eren adotaram para si mesmo, afinal de contas os outros três não possuíam um. — Isso já responde muito. Não ter alguém dependente de nós facilita, não temos preocupações e onde meu trabalho pede que eu vá, estou com as malas prontas para resolver os problemas em qualquer lugar que possuímos empresas.

- Viagens em família com uma criança reclamando a cada cinco minutos é incrível, ter adolescente chatos que te ignoram para ficarem presos nos quartos em seus próprios mundos também é indescritível. — O moreno de olhos castanhos disse erguendo um pouco seu rosto para em sequência rir, até mesmo Eren que se inclinou sobre a mesa esticando a mão para que Berthold chocasse contra a dele em uma concordância divertida. — Não trocaria isso por nada, mas entendo sua vontade de não tê-los, deve fazer o que sinta-se melhor.

- Vocês três. — Eren apertou os braços mais próximos, ou seja, Jean e Armin, mas lançou um olhar pidonho para Marco mais ao longe. — Tenham um bebezinho, por favor… — Fez um beicinho implorando. — Façam um por mim, eu ajudo cuidar! Eu sinto saudades de segurar um neném no colo, pode ser até uma criancinha, adotem, sei lá… — Soltou-os e desviou o olhar cruzando os braços claramente emburrado. — O insensível do meu marido nega-me isso toda vez… 

- Insista mais um pouco que em algum momento ele aceita. — Jean disse antes de ser fuzilado com dois pares de olhos e expressões manipuladoras para que aceitasse o pedido do amigo, pois por eles já haviam tido há anos.

Eren respirou fundo e negou sem nem precisar pensar, para a surpresa de todos, visto que estava tão empenhado durante anos e finalmente havia parado com aquilo. Chegava até a ser estranho.

- Desisti. — Sorriu amargamente e passou o dedo no copo gelado limpando a superfície ligeiramente molhada e embaçada. — Somente brigamos quando eu entro nesse assunto, cansei e entendo o lado dele em negar… Um dia se ele quiser mais um, óbvio que aceitarei, mas não vou insistir mais, apenas se um dia ele vir até a mim e pedir. — Ergueu os ombros e abaixou rapidamente. — Então se ele chegar um dia e falar: "Vamos ter um neném com a nossa carinha"; vou aceitar, mas preciso ouvir vindo daqueles lábios, pois dos meus isso não irá mais sair.

Jean massageou a têmpora com o dedo indicador, apertou os olhos fechando suas pálpebras, firmou a mandíbula em completo desgosto.

- Merda… — Resmungou consigo mesmo e focou-se nos namorados que não sabiam se riam ou lhe perguntavam se estava sofrendo um avc. — Vamos ter um bebê.

Não era uma pergunta, apenas uma afirmação e sem deixar opções aos dois. Desnecessário verificar se queriam, afinal há anos vinha sofrendo em dose dupla pedidos e indiretas. Portanto, sabia que receberia sorrisos aliviados e felizes, os quais não demoraram a surgir nos lábios deles e até no de Berth e Eren.

- Fiquei com pena desse imbecil repugnante. — Disse entre os dentes e daquela vez, após tantos anos de relacionamento, não receberia agressões por tratar o amigo dessa forma. — Porra, Ackerman, por que diabos não aceitasse mais um, seu filho da puta?

Eren gargalhou perante tantas palavras ríspidas para o marido que sequer estava ouvindo-as para responder carinhoso como sempre era quando seus subordinados falavam assim.

- Chame ele de mais alguma coisa nesse nível que vou garantir que ele descubra e te ferre na delegacia.

Jean apoiou suas costas na cadeira sem nenhum incômodo e sequer levando a sério aquela ameaça.

- Não seria capaz.

- Será que não? — Deu um sorriso arteiro e piscou com um dos olhos, ações traduzidas à: "Será exatamente isso que farei".

O policial respirou fundo, colocou um dos braços sobre o apoio da cadeira do amigo ao lado, apertou o ombro dele com seus dedos, justamente para que machucasse e disse:

- Teremos um filho ou uma filha justamente porque você pediu, precisa me tratar melhor daqui para frente, sou um cara generoso.

Desta vez, Eren admitiu que Jean estava certo, sorriu confirmando e tratou de beber, obviamente cuidando da quantia ingerida, pois tinha determinados receios que alguns hábitos antigos retornassem, como o caso de: Agarrar e tentar beijar os amigos; Falar idiotices e expor seus segredos; Aceitar flertes de estranhos.

Depois do início do namoro, consequentemente noivado e casamento, nunca mais ficou bêbado, então tinha medo de como iria reagir. Não queria descobrir, não quando os amigos não possuíam aquela preocupação, sendo que Mikasa e Berthold estavam em uma competição para secar as garrafas o quanto antes enchendo rapidamente seus copos e rindo. Armin sempre era fraco e ficava animado com poucos copos, Marco era o mais resistente, mas até ele devido ao cansaço estava empolgado e virando o líquido para dentro sem se importar. Jean, definitivamente não era parâmetro, sempre fazia merda também. Portanto, sem chances de Eren ficar bêbado em segurança mantendo a integridade de sua dignidade.

Afastou-se deles sentindo os efeitos mais imediatos em seu corpo: Bexiga cheia e sensação das pernas moles.

Foi até o banheiro, aliviou-se e ao tentar retornar para a mesa que os amigos conversavam entre eles foi interceptado por alguém. Seu momento de paz havia sido duradouro demais para agradecer, infelizmente.

- Posso pagar-te uma bebida?

Parecia até piada vindo de alguém que não parecia ter mais vinte anos, cabelos castanhos claros raspados na lateral em um degradê, no topo alguns cachinhos pequenos caindo em sua testa, olhos amendoados e um sorriso brilhante. Possuía a mesma altura que Eren, mas ao contrário dele, vestia-se com uma camiseta escura quase colada no corpo evidenciando um porte físico bom, calça jeans azul e tênis. Contrariando totalmente a camisa de botões, a calça social, o cinto afivelado e os sapatos, além do rosto que evidenciava que já havia visto muitas coisas durante sua vida, não como o rapaz que parecia tão inexperiente.

- Dá o fora, garoto, tens a idade para ser meu filho. — Sorriu em negação desacreditado com tal coisa acontecendo justamente consigo. — Poupe-me e não encha o saco.

- És bonito, não ligo para sua idade, mas não aparenta ser tão velho. Se quiser posso chamar-te de “senhor”, sem problemas, quer ir para um lugar mais tranquilo?

Eren fechou sua expressão quando sentiu a mão dele se colocar sobre seu ombro impedindo que seguisse seu caminho. Olhou para ele adotando uma feição e postura carregada e sem nenhuma delicadeza ou intenção de ser educado deu um tapa forte sobre os dedos dele, afastando a mão do rapaz de seu corpo.

- Eu sou casado, garoto, não me encha a paciência que já está curta hoje. 

Caso não tenha sido direto o suficiente mostrou-lhe a aliança dourada girando em seu dedo sem nem piscar ou vacilar naquela feição ameaçadora.

- Essa pessoa deixou-te vir sozinho, isso já diz muita coisa. Não quer mesmo experimentar algo melhor? — Insistiu passando a língua e molhando os lábios carnudos desviando o olhar para os do mais velho com malícia sem nem disfarçar indicando o que queria realizar e até tentaria em breve: Dar-lhe um beijo. — Não irá se arrepender, quem quer que seja não precisa saber do que rolar entre nós, uma única noite e provavelmente inesquecível, garanto.

- Deixe-me em paz antes que de fato eu experimente algo melhor hoje, mas a sensação disso aqui. — Fechou a mão da aliança em um punho firme levantando um pouco indicando o rosto do mais novo. — Batendo diversas vezes na sua cara, pirralho.

Não aguardou respostas, apenas estalou a língua murmurando algumas reclamações e seguiu para a mesa que seus amigos o olhavam rindo pela reação agressiva que teve. Sentou-se na cadeira largado em completa decepção, moveu a cabeça ainda em negação e nada aberto para olhar para os amigos daquela maneira.

- Porra, o quão baixo eu desci para ser cantado por crianças? — Massageou a lateral da testa fechando os olhos por alguns segundos. — Tendo um puta homem gostoso e amoroso me esperando em casa, com certeza iria ficar com um que ao menos saiu das fraldas. Ah, vai se foder.

- Ele está falando igual ao general. — Jean murmurou escondendo o sorriso com o copo de bebida.

- Deveria ter visto hoje mais cedo. — Armin falou no mesmo tom recebendo um olhar cerrado do melhor amigo e alguns curiosos dos outros integrantes daquela mesa que iriam questioná-lo quando Eren estivesse fora, dado que enquanto estivesse na mesa se tornaria impossível. — Não disse nada.

Pegou a garrafa e encheu seu copo vazio com um pouco de ódio torcendo que pelo menos dessa vez alguém aceitasse um “não” facilmente, pois as experiências que já havia tido com pessoas que não aceitaram, foram quase traumáticas, como, por exemplo, Rico com Levi. Sendo assim, como estava sentado ao lado de Jean simplesmente levou a mão até a barriga dele tateando com seus dedos próximo a calça, este que arregalou os olhos enrugando a testa confuso com o que estava sentindo, principalmente quando a mão continuou o trajeto até as costas e somente parou quando sentiu um volume conhecido.

- Verificando se vieste armado. — Deu de ombros com um brilho nada inocente ignorando que o amigo adotou uma postura desconfortável com aquela mão o apalpando. — Nunca se sabe quando precisamos usar.

- Eu esqueci de deixar em um lugar seguro. — Esclareceu trocando um olhar assustado com os amigos transferindo a mensagem silenciosa de: “Foi só eu ou vocês também ficaram assustados com o que ouviram? Tipo, ele era o nosso pacifista de estimação, lembram dos discursos anti violência?”. — Mas tenho plena consciência de que não posso utilizá-la e preciso cuidar para que ninguém pegue. Sou um policial, isso é uma ferramenta de trabalho e…

- Ah, cale a boca, Jean, que chatice, prefiro-te até me chamando de “Cabeça Oca” do que ouvindo esses discursos moralistas.

***

Em casa, Levi após organizar-se com uma roupa mais confortável desceu até a sala, televisão ligada e dois adolescentes esticados nos sofás sem se importar em assisti-la. Afastou Théo para o lado indicando que queria se sentar, não se surpreendeu quando o filho se inclinou para que ele se sentasse e assim que fez isso deixou a cabeça repousando sobre suas coxas, foco total no celular, apesar de ter encontrado meio segundo de tempo para sorrir em sua direção.

Ethan, entediado, bocejou prestes a pegar no sono, coisa habitual entre os gêmeos após os treinos do futebol, que apesar de terem diminuído a frequência ainda eram puxados, além da rotina escolar do colégio.

Quando se deu conta, Yohan e Victor estavam ali também, quase como se fosse a casa deles, de fato praticamente era, dado que sempre estavam pela região na companhia dos outros dois. Era bom ver as pequenas demonstrações de carinho entre eles, afinal já havia notado a existência de sentimentos, então era satisfatório que sem enrolações conseguissem com sucesso aquele relacionamento. 

Nunca amou na adolescência, mas se caso conhecesse Eren com aquela mesma diferença de idade dos garotos, seria agradável passar todas as fases da vida ao lado de um único alguém, apesar de gostar de como as coisas haviam se desenvolvido em sua própria vida.

A porta foi aberta, arqueou a sobrancelha vendo Hanji com Lívia, uma mochila nas costas da garota e a amiga de infância acenando em despedida. Inclinou seu rosto confuso se questionando em que momento ela havia lhe avisado sobre o fato dela provavelmente dormir ali naquela noite. Bem, Hanji era Hanji, logo não deveria se surpreender se simplesmente tivesse esquecido disso.

Indicou o dedo para cima, sinal de: “Sabes onde fica o quarto que era da Bea, acomode-se lá como sempre”. Foi isso que fez a passos rápidos, desceu a escada ainda mais rápido, deu-lhe um beijo na bochecha e também nas dos outros rapazes ficando sentada ao lado de Ethan. 

Levi discretamente analisou aqueles dois, pernas cruzadas e a mão batendo delicadamente no estofado do sofá enquanto Théo estava apoiado com a cabeça em uma de suas coxas vidrado no jogo de seu celular. Ethan estava no outro, Lívia praticamente agarrada nele completamente divertida conversando sobre alguma coisa que estavam vendo em seu celular. Mais ao lado, Victor estava com a cabeça apoiada no ombro de Yohan e para a infelicidade e até diversão de Levi, estavam todos ali de vela, pois o garoto de feições mais sérias estava deixando alguns beijos delicados no topo da cabeça do outro sem se importar em possuírem companhia.

Aclarou sua garganta quebrando o silêncio entre todos.

- Você dois. — Apontou para o filho e Lívia que imediatamente olharam para o homem, assim como o casal e até Théo que pausou o jogo inclinando sua cabeça um pouco para trás para visualizar o rosto do pai, igualmente curioso. — Não está rolando nada, certo?  

Frontal como sempre, odiava papos furados e enrolações desnecessárias, então não se surpreenderam com tal frase.

Os considerava quase como primos, afinal Hanji era quase como uma irmã para si, mas era apenas consideração, então se caso existisse alguma coisa entre eles, somente lhe restava apoiar e até os achar fofos, apesar de nunca ter percebido aquilo antes.

Beatriz e Gustav; Victor e Yohan, eram possíveis casais previsíveis, afinal desde pequenos já viam certa aproximação e gestos carinhosos, sorrisos demais e seu instinto já lhe dizia que em algum momento teriam alguma coisa. No entanto, com os gêmeos nunca viu nada em relação a nenhum amigo ou amiga da escola, até mesmo com Lívia.

- Se estiverem, tudo bem, não há problemas, somente fico curioso e todos sabem que se quiserem conversar sobre qualquer coisa, estou aberto a isso.

- Nah. — Ethan negou rindo como se o que ouviu fosse a maior piada que já havia ouvido em sua vida, sendo acompanhado pela garota. — Impossível, pai, a Lívia gosta de mulher.

- Ah, a Lívia gosta de mulher. — Repetiu indiferente e quando se deu conta do que ouviu e saiu de sua boca arregalou os olhos em surpresa encarando a afilhada e os filhos. — Espera… A Lívia gosta de mulher?

Todos riram, excluindo Levi que estava apenas tentando digerir a informação, Ethan e Lívia se entreolharam rindo, sendo que a garota estava com o pensamento na mente: “Deveria ter sido mais suave, assustou-o”.

- Por que nunca disse ao padrinho? — Perguntou com uma expressão ligeiramente chateada e enciumada por todos ali saberem, menos ele.

Não precisava saber, mas era inegável que queria que ela tivesse lhe contado, até mesmo para que se sentissem mais próximos.

Sentiu a mão de Théo puxar a sua até os cabelos castanhos, voltou-se para ele que estava com um sorrisinho indicando silenciosamente: “Cafuné, pai, por favor”. Obedeceu aguardando respostas da afilhada que deu um sorriso arteiro.

Lívia mostrou-lhe os dentes em um sorriso divertido.

- Oras, nunca me perguntaste.

Sentiu na pele o sarcasmo vindo contra si, da mesma maneira que durante toda sua vida havia feito com a mãe da garota. Independente de onde Hanji estivesse naquela altura da noite com Erwin, provavelmente sentiu-se vingada e satisfeita.

Descartou o divertimento para respondê-lo, gostava imensamente de Levi desde que o conheceu pela primeira vez. Então, merecia respostas, era apenas seu padrinho, mas poderia considerá-lo quase um pai.

- Mas o Ethan exagerou, eu não fico apenas com mulheres, tenho preferência por elas, mas às vezes tenho escolhas erradas, então… — Ignorou a risada de deboche do rapaz colado ao seu corpo, o qual tinha certo humor sentido por um detalhe em especial que guardavam entre eles, mas que nenhum dos outros precisavam ter conhecimento. — Bissexual como você, padrinho.

- Erwin não falou nenhuma merda sobre isso, certo? 

- Na realidade apenas minha mãe sabe ainda, mas… — Desviou o olhar e quando retornou a olhar para Levi ele afirmou uma única vez entendendo a situação, provavelmente Hanji havia a visto em uma situação que deixava sem explicações a não ser o óbvio. Não precisava falar mais nada. — Enfim, acredito que tudo bem, o pai também achará tranquilo.

- Se ele falar merda, conte-me e eu mesmo vou dar alguns tapas nele para se tornar um ser humano. — Garantiu gentilmente como se não estivesse literalmente ameaçando o pai da menina, Lívia sabia que faria tudo, mesmo sem que pedisse, valorizava isso, mas não iria precisar, apesar de Erwin não saber, iria apoiá-la caso mantivesse um relacionamento com uma garota em algum momento de sua vida. — Se for namorar, não a traga aqui e fique nessa melação como esses dois. — Apontou discretamente para o casal fazendo com que o sobrinho risse nada incomodado e Victor se afastasse um pouco, incomodado. — Tch, crianças, até agora não viram problemas, não será agora que irão ver, podem continuar a serem melosos, não há problema.

Ethan apertou delicadamente o braço da garota ao seu lado chamando sua atenção, abaixou o rosto um pouco agradecendo o volume da televisão e também a nova conversa de Levi com Théo que lhe explicava sobre o jogo do celular ao receber o cafuné. Levi definitivamente não se importava, mas prestava atenção justamente por ser o filho e aquilo ser importante para ele. Yohan e Victor retornaram a conversar entre eles, também sem prestar mais atenção ao mundo à sua volta.

- Acho que podemos fingir que todas as vezes que ficamos não existiu, certo?

- Com certeza. — Movimentou a cabeça em um aceno igualmente discreto cooperando naquele segredo que guardavam há cerca de um ano. O único que sabia além deles era o jovem de olhos verdes recebendo cafuné do pai, por alguns motivos em especial, afinal estava no mesmo barco. — Eles não estão preparados para uma informação dessa.

- Não estão. — Roçou seu nariz próximo a orelha dela sentindo o aroma adocicado do perfume dela entrando em suas narinas.

- Foi um erro, Ethan, não irá se repetir.

Sorriu em negação e se pudesse estaria gargalhando, mas, teoricamente, ainda falavam sobre o celular da garota. 

- Um erro não se comete tantas vezes, Lívia. — Mordeu fraquinho ao lado de seu pescoço. — Não finja que não gostou, “priminha”.

- Meu quarto, após todos dormirem.

- Tch, estarei lá.

Ajustou sua postura focando finalmente em uma conversa normal ao notar que o pai estava olhando-o sério, Ethan deu seu sorriso mais falso e inocente possível, não sabia se havia passado qualquer credibilidade, talvez não, mas não iria receber qualquer pergunta direta, apenas se quisesse ir conversar com o homem.

- Então… — Levi puxou assunto novamente contrariando aquela pessoa silenciosa que era desde criança, mas com os jovens queria conversar, principalmente algo importante que há um tempo estava curioso. — Lívia ano que vem já começará a prestar vestibulares, suponho, tens noção do que quer?

- Estive pensando em arquitetura. — Expôs pensativa gostando do rumo que as conversas estavam tomando. — Até poderia seguir o ramo do meu pai, o Direito, contudo não gosto tanto da ideia, textos grandes me dão sono… Biologia ou coisa parecida, é um tanto chato… 

Levi segurou-se na neutralidade de seu rosto, pois se a amiga de infância estivesse ali iria rir dela lhe falando que sua única filha considerava sua profissão "chata".

- Sou boa em desenhar estruturas e adoro matemática, acho que consigo unir as duas coisas com esse curso… Mas tenho tempo, até ano que vem irei decidir, talvez civil, mas cálculo demais...

- Entendi, é um bom curso, garotinha, combina contigo. — Piscou com um dos olhos focando-se naqueles azulados sentindo novamente o peso da idade, pois relembrava-se exatamente da primeira vez que sentiu medo de pegá-la no colo e também de quanto era leve a ter nos braços, ali a sua frente era praticamente uma mulher. —Será incrível em qualquer uma que escolher, sabes disso.

Independente do que ouvisse, as palavras seriam as mesmas, até mesmo se ela não quisesse seguir para uma universidade, teria seu total apoio. Priorizava a felicidade deles para que seguissem seus sonhos, assim como ele próprio havia feito naquela idade ao decidir ir para o Direito e depois seguir a carreira da família, foi um desejo individual seu.

- Se tudo seguir meu planejamento, farei medicina. — Ethan esticou os braços se espreguiçando cansado, os pais já sabiam do desejo dele, principalmente por alguém em especial que estava mais animada com aquilo do que o rapaz. — Tia Hanji diz que combina comigo e eu acho interessante o ramo da psiquiatria, vou tentar… 

- Sabem, quando vocês dois nasceram fui eu quem decidiu os padrinhos de ambos, escolhi a Hanji para madrinha  do Théo justamente para você não ser afetado com a insanidade dela e as idiotices biológicas que ela sempre fala. — Fez um carinho nos fios castanhos deixando claro que também não queria que ele se contaminasse, de fato não se contaminou, mas Ethan sim. — Porém, desde sempre você era um grude com ela, na mínima oportunidade pedia colo, quando começou a entender as coisas vivia grudado nela e até a defendia, ouvia sem nem piscar as coisas que ela falava, realmente interessado, mesmo que não entendesse mais do que cinco palavras que saíam daquela boca… Foi inútil tentar afastar-te dela e olha que eu tentei.

Ethan sorriu, assim como todos os outros, qualquer pessoa da família sabia das farpas que Levi e Hanji trocavam, mas também o sentimento de irmandade. Portanto, mesmo falando mal um do outro, eram pessoas que igualmente não se largavam.

- A tia Hanji é incrível, talvez ela tenha tido uma mãozinha nessa escolha minha, mas eu gosto.

- E você, Théo? — Puxou os fios castanhos com os dedos para que largasse um pouco o celular, foi totalmente efetivo recebendo um sorriso largo.

- Não sei ainda, pai, mas logo ao me formar quero viajar por alguns países, tentar me encontrar enquanto conheço o mundo. A Bea vive fazendo isso por causa das lutas e sempre manda as fotos, é incrível, até mesmo o Gustav com as gravações ou quando acompanha a maninha. Preciso descansar, entendes?

- "Descansar"? — Repetiu desacreditado arqueando a sobrancelha esquerda. Puxou os fios com um pouquinho de força, mas cuidadoso para que não machucasse o jovem. — Apenas estudas e fica o dia todo jogando vídeo game, descansar do quê, pirralho?

- Tch, a vida é cansativa, beleza? — Defendeu-se com o orgulho ferido pelo próprio pai, enquanto o irmão ria de sua cara, além dos outros três, se Beatriz estivesse ali faria a mesma coisa.

- Cansativo é eu trabalhar o dia inteiro, chegar em casa e precisar ouvir um pirralho dizendo que o que ele faz é "cansativo".

Théo passou a mão nos olhos os coçando e mantendo o sorriso fixo sem se afetar com a crítica que ouviu, não era real e todos sabiam disso. Recebeu um novo carinho do pai e um sorriso pequeno.

- Tudo bem, leve o tempo que precisar, sabes que qualquer coisa que irá fazer nos deixará felizes e orgulhosos de ti, desde que você esteja também. O que importa é que esteja bem.

Indicou sua testa com o indicador, Levi respirou fundo negativamente e abaixou-se deixando um beijo delicado se questionando o quão carentes os filhos conseguiram ser. Com certeza mais do que os pais, pois Ethan fez um beicinho pedindo um daqueles também. Saiu do sofá rapidamente e foi até o pai inclinando sua bochecha para ganhar um daqueles, além disso recebeu um beliscão para deixar de ser carente.

- Tch, Victor, sabes cozinhar? — Perguntou com um sorrisinho para o rapaz loiro, já que os filhos serviam para colocar fogo da casa se estivessem em uma cozinha, Lívia fazia bagunça demais, Yohan era preguiçoso e ele, modéstia a parte, estava com preguiça.

- Infelizmente não sou o melhor... Foi mal, bebidas sim, comida é demais para mim.

- Pedimos comida? — Ethan apertou o celular nas mãos pronto para apertar os comandos, desde que ouvisse as ordens.

- Seu pai vai encher meu saco por isso, teoricamente eu garanti que não iriam comer besteiras... — Coçou seu queixo procurando uma brecha e sorriu ao encontrá-la. — Na realidade eu não disse que faria isso, apenas disse para se divertir. Portanto... Mesmo assim, vai encher meu saco...  

- Relaxa, ficamos do seu lado e inventamos que imploramos para você deixar isso, não por preguiça. — Théo garantiu com um sorriso esticando o braço para cima puxando uma das bochechas do mais velho com certa diversão até receber um tapa fraco.

- Tch, peça comida, Ethan.

***

Ficaram tão imersos conversando, bebendo e rindo entre eles que sequer se deram conta do horário, das pessoas entrando e saindo, até o instante que as cadeiras começaram a ser viradas indicando discretamente que deveriam pagar e enfim saírem do local. 

Armin deixou o veículo estacionado na rua, pegaria no dia seguinte, pois em hipótese nenhuma iria dirigir com álcool no sangue. Ele, assim como os outros dois, partilharam um carro através do aplicativo de corridas, já Berth recebeu uma carona de Reiner que se prontificou em deixar Mikasa e Eren em suas respectivas residências.

Quando Eren chegou, as luzes já estavam apagadas, entrou o mais silencioso o possível, tirou os calçados os segurando com uma das mãos tornando os ruídos quase nulos ao caminhar apenas de meia. Iria subir as escadas, mas viu a tela de um celular clarear por alguns segundos e logo apagar, se aproximou do sofá e sorriu ao ver Levi com o aparelho sobre o peito completamente esticado dormindo. 

Diante disso, ajoelhou-se ao seu lado, passou delicadamente os dedos em torno do rosto pálido sem muita iluminação disponível, subiu até a testa retirando diversos fios de cabelo e beijou-a carinhosamente. Afastou-se um pouco podendo ficar por horas observando-o dormir, sempre teria aquele sorriso estúpido tomando conta de seu rosto quando o via.

Aos poucos as pálpebras foram abrindo cansadas e a respiração se tornando um suspiro pesado indicando que havia acordado.

- Dormiu me esperando? — Sussurrou tentando não se sentir um péssimo marido por ter ficado horas em um bar ao invés de em casa com a família. Contudo, não iria se lamentar por isso, Levi iria chamá-lo de idiota dizendo que deveria sim sair e aproveitar.

- Não… — Ergueu-se levantando do sofá para ficar sentado, apoiou o cotovelo em uma das coxas e coçou os olhos extremamente ensonado. — Fiquei aqui porque pensei que iria precisar que te buscasse. — Segurou um bocejo com a mão e Eren pode entender o motivo do celular estar colado no homem, afinal estava esperando uma notificação e iria acordar imediatamente quando recebesse. Além disso, a chave do carro disponível no encosto do sofá, fácil acesso também. — És um perigo bêbado, Eren, então… Já esperava que estivesse bêbado e causando tumultos, agarrando seus amigos, os quais iriam me ligar para salvar-te de si mesmo, ficando por aqui seria mais rápido eu ir até ti… 

- Não mereço-te, meu amor. — Murmurou sorrindo ainda mais apaixonado por toda aquela preocupação e cuidado que o marido teve consigo, aproximou-se deixando um selinho estalado e querendo se aprofundar, apesar de estar com um gosto forte de álcool na saliva que provavelmente seria motivo de reclamações. — Não fiz merda, na realidade a última vez que fiquei bêbado foi há tantos anos que nem recordo-me a sensação.

- Gosto da sua personalidade bêbada. — Curvou os lábios mostrando os dentes em um sorriso torto imerso naquela sensação cansada podendo dormir sentado. Bocejou uma nova vez e coçou seus olhos para afastar aquele maldito sono que o perturbava. — Quer ouvir uma fofoca?

Eren segurou-se no último fio de sua sobriedade para não apertar aquelas bochechas, tanto com seus dedos como dentes, pois elas amassadas e aquele semblante cansado estavam o fazendo ter diversos pensamentos, principalmente em torno de quão fofo estava. Por outro lado, sua curiosidade ganhou vez, os olhos praticamente brilharam em expectativa curioso sobre o que seria.

Já haviam aceito há anos que eram um casal fofoqueiro e até sentiam orgulho disso.

- Uhum.

Respirou fundo fazendo um pequeno suspense antes de sorrir perante o claro pedido do marido para que se agilizasse, pois estava morrendo de curiosidade. Havia guardado aquele segredo por horas demais enquanto a vontade de contar a Eren corroía suas entranhas.

- A Isa está grávida.

Eren abriu gradativamente a boca e arqueou as sobrancelhas completamente chocado, tentou falar uma coisa que Levi sequer entendeu, pois encarou aquilo como um grunhido qualquer.

- A Isa? — Sussurrou baixinho sem nenhuma reação além de felicidade e uma ansiedade extrema de parabenizar a mulher e Farlan. — Tipo, literalmente, a nossa Isa?! A baixinha ruivinha, a nossa Isa?!

Perante aquelas frases desesperadas, antes que o moreno se animasse ainda mais e esquecesse que havia alguns adolescentes dormindo pela casa, apertou a mão na boca dele interrompendo qualquer outra pergunta sair.

- Eren, diga-me com sinceridade antes que me chame de grosso, mas porra, quantas Isa’s a gente conhece? 

Grunhiu contra a mão dele “respondendo”, Levi não retirou-a de lá admitindo que com a idade que tinham não receberia uma lambida. Estava enganado, pois recebeu uma língua molhada contra sua pele e um olhar arteiro de alguém que não sentia nenhum arrependimento por isso.

Retirou finalmente a mão e sem incomodo nenhum limpou a mão contra a camisa amarrotada do moreno de olhos verdes.

- Então sabes a resposta, pirralho. Fez o teste hoje à tarde, positivo. Creio que fará logo o de sangue para a confirmação, mas tenho certeza que realmente está.

- Quer ouvir uma fofoca? — Repetiu a mesma frase com um sorriso igualmente divertido vendo Levi incentivá-lo a falar logo, pois obviamente queria ouvir. — O Jean finalmente aceitou ter uma criança com o Armin e o Marco.

Até ele tinha conhecimento de quão insuportáveis aqueles dois eram pegando no pé de Jean, talvez até mais que Eren consigo mesmo. Portanto, estava verdadeiramente satisfeito com o desempenho daquela dupla com o subordinado.

- Fico feliz.

- Quer ouvir mais uma coisa? — Riu baixinho ao ouvi-lo murmurando um "Huh?" ensonado demais para raciocinar muito, mas ainda acordado para sorrir aguardando o que se seguiria. — O Jean te chamou de filho da puta.

- Fofoqueiro. — Esticou a mão e apertou o nariz de Eren com o dedo indicador e o polegar. — Entrega seu amigo tão facilmente assim para o Superior dele?

- Claro, eu amo o Superior dele e só eu tenho permissão para chamar-te dessas coisas grossas.

Apertou mais uma vez movimentando o rosto do marido e finalmente o soltou.

- Tch, já ouvi coisas piores, não farei nada quanto a isso.

- Gostava de quando eras estressadinho e batia em qualquer um que falasse um "a" sobre você. — Murmurou fazendo um beicinho falsamente chateado e até nostálgico lembrando daquela má fama que ainda existia, mas havia diminuído bastante após alguns anos. — Esperava ouvir os boatos de como pegou o Jean pelos cabelos, bateu a cabeça dele contra a mesa, jogou-o no chão e depois apoiou o pé no rosto dele falando autoritário.

Específico demais e que fez Levi semicerrar seus olhos por um tempo mínimo se questionando se o marido realmente queria que fizesse isso com um amigo dele. Talvez não, mas se fosse um outro desconhecido que tivesse dito aquelas palavras sobre si mesmo iria sim ter uma atitude semelhante para mostrar quem era o "filho da puta" ali.

- Tch, é cansativo ser processado por abuso de autoridade, sabia? — Rolou os olhos e focou-se no moreno que ria pela desculpa esfarrapada que antigamente não o impedia de realizar coisas agressivas. — Ainda mais que o juiz de agora é um porre.

Não se afetou com a crítica, mas forçou uma face magoada como se aquele xingamento causasse de fato uma chateação em si mesmo. Passou os dedos no rosto pálido uma nova vez fazendo um carinho e viu-o se aconchegar na palma de sua mão de uma maneira tão fofa que novamente segurou-se para não apertar as bochechas e chamá-lo de "adorável".

- Se eu pudesse te julgar iria dar a pena: "Afastamento de um mês da Corporação para ficar coladinho no Juiz dando todo carinho do mundo a ele. Pela manhã beijos, massagem nas costas e sexo. A tarde, beijos, sexo e programação de colocar as nossas séries de tv em dia. A noite, beijos, sexo e um cafuné para dormir agarradinho no teu corpo".

- Seria bom, faça isso, meritíssimo… 

Abandonou o carinho no rosto do homem, mas quase retornou a vê-lo claramente não apoiando aquela atitude, visto que queria continuar a sentir a mão ali.

- Quase tive que bater em alguém hoje.

Levi manteve um sorriso ensonado e ergueu as sobrancelhas enrugando a testa surpreso com tal coisa, dado que um dia aquele homem já havia sido um jovem pacifista que não apoiava agressões.

- Jean?

Negou emburrado, uma feição tão séria que fez Levi sentir uma curiosidade genuína para que agilizasse a falar o que havia acontecido, pois era curioso e ao mesmo tempo tinha certo orgulho para manter, então não iria apressá-lo.

- Acredita que um idiota deu em cima de mim e mesmo eu falando que era casado tentou me persuadir? — Arregalou os olhos desacreditado não notando nenhuma reação enciumada no rosto do outro, apenas aquele sorriso e sem nem piscar analisando sua face. — Quase tive que socá-lo para parar de ficar me tocando e falando merda.

- Tch, pelo menos após tantos anos aprendeste a visualizar quando estão dando em cima de ti sem que precisem te avisar isso. Parabéns, pirralho.

Eren fechou sua expressão, mas com uma diversão escondida, esticou a palma da mão e colocou sobre a testa de Levi, em seguida nas bochechas, no pescoço, levantou a camiseta dele colocando sobre o abdômen para medir a temperatura.

- Estás doente, meu amor? — Perguntou e sorriu saindo do personagem quando sentiu uma mão firme em seu pulso fazendo com que retirasse a mão de dentro da camiseta dele. — Cadê o ciumentinho que eu gosto tanto?

- Confio no cara que eu amo. — Deu de ombros aproximando seu rosto do de Eren e deixou um selinho rápido. — Sei que nunca faria nada que prejudicaria essa confiança que conquistaste desde o namoro, da mesma maneira que eu também não farei nada do tipo. Não há necessidade de ciúmes nesse caso.

- Foda-se, se eu ver alguém dando em cima de ti vou ficar com ciúmes e eu mesmo vou lá fazer um barraco. Não sou maduro assim nesse nível.

O casal se olhou e riu motivado pela mesma coisa:

- Eu sei… — Eren murmurou mordendo o lábio ao sentir um aperto firme em torno de seu pulso com aquela mão fria se mantendo ali, era a forma silenciosa de Levi lhe confirmar que também partilhava a opinião mesmo sem ouvi-la na íntegra. — Eu sequer iria perceber que a pessoa estaria dando em cima de ti ou de mim, porque normalmente sou um tanto desligado, admito isso.

- Perguntou-me como seria se naquela noite que nos conhecemos fosse eu a dar em cima de ti e não o contrário… Será que iria entender o que eu queria, Eren, ou ficaria me tratando com um amigo e pensando que eu não estava dando em cima de ti?

- Talvez eu não percebesse, sou meio lento para essas coisas, mas… — Beliscou a coxa do antigo professor para que soltasse seu pulso e foi isso que conseguiu. — Do jeito que tu és provavelmente iria dar seu jeitinho de me mostrar na prática que tinha interesse. Do nada ia ter sua língua dentro da minha boca e eu iria pensar: "Uau, acho que ele me quer".

- Sim, "ele" te quer. — Aproximou mais uma vez daqueles lábios roçando-os contra os seus sem se aprofundar, apenas em uma tortura breve sem nem piscar. — "Ele" sempre vai te querer.

Mordiscou o lábio inferior de Levi que logo abriu um pouco a boca para deixar a língua dele entrar em contato com a sua. Logo ao sentir a saliva dele misturando-se com a sua afastou-se, fez uma feição enojada e apertou a mão contra o rosto de Eren para que não tentasse beijá-lo mais.

- Eca, tens gosto de bebida ruim e barata, sai de perto de mim, pirralho.

O mais novo mordeu com força fazendo com que a mão se afastasse Diante disso, apertou uma das suas ao lado do rosto dele trazendo para perto para mais um.

- Desde o dia que deixaste um dos teus filhos quase comer areia, eu disse a ti que não ouviria reclamações dos gostos que tenho na minha boca. — Olhou em ameaça para os olhos cinzentos cerrados sem muito humor, apesar de conseguir ver sim um brilho de diversão explícita. — Mais um beijinho e então vamos dormir, não tenho culpa se sua boca é gostosa e parece implorar para que eu beije ela.

- Tch. Que moral tens? Quase deixaste o Ethan colocar a língua no corrimão de apoio da escada rolante do shopping uma vez quando os pirralhos tinham seis anos.

- Cale-se, Ackerman, aquela vez foi descuido. Beijo, agora, estou carente precisando de ti.

Obedeceu, afinal o gosto amargo poderia ser retirado ao escovar os dentes novamente, mas a sensação de tê-lo ali lhe direcionando aquele carinho era indescritível e inegável que queria. A forma como tentava obter a dominância e ditar o ritmo do beijo, mas falhava facilmente, era divertida para o Oficial.

- Não me provoque. — Sussurrou contra os lábios de Eren sentindo uma necessidade absurda de puxá-lo pelo colarinho da camisa e jogar sobre o sofá para aproveitar daquele corpo na íntegra pouco se importando com a possibilidade de alguém ouvir ou aparecer por ali. — Sabes que não aguenta, Eren, então não me provoque antes que se recorde que não é uma boa ideia brincar com fogo, você sempre se queima.

Eren confirmou respirando fundo e saindo do chão, passou os dedos entre os fios castanhos bagunçados e o outro também se levantou pegando o celular em mãos, pois nunca era uma boa ideia deixá-lo longe de proteção, os motivos principais eram: Era o Delegado e todo momento recebia ligações, mensagens e chamados urgentes de importância absurda, logo precisava estar perto para ver; O segundo motivo era o fato de sua galera estar repleta de coisas que Eren achava super aceitável gravar e tirar fotos enquanto estavam sozinhos.

Subiram as escadas, passaram pelo corredor, sendo que Levi franziu o cenho adotando uma expressão atenta, poderia estar com sono, mas não desligado ou com seus instintos aéreos. Eren não pareceu notar, afinal continuou caminhar ao seu lado distraído em direção do quarto. O que não sabiam e sequer suspeitavam era que o próprio filho segundos antes deles aparecerem ali, ao ouvir os passos rapidamente se escondeu apertando-se contra a parede em um canto mais afastado e escuro para que não fosse visto, limpou sua boca que ainda estava ligeiramente úmida até o queixo e sem dúvida nenhuma não queria ser visto saindo do quarto que Lívia estava “dormindo”. Ethan pensou erroneamente que estavam todos apagados e não iriam perceber sua rápida fuga, mas suspirou aliviado quando ouviu a porta se fechar indicando que estava seguro para ir para o seu quarto. Talvez não fosse uma ideia muito esperta ir tomar um banho para resolver seu próprio problema, mas teria que dar o seu jeito de se aliviar, apesar de após o susto de quase ser pego já não restasse qualquer vontade de nada.

 

Logo ao entrarem no quarto, o casal fechou a porta e Eren ia se direcionar para o banho. Porém, parou quando Levi se abaixou pegando um par de meias que estava caído no chão, provavelmente no momento que trouxe as roupas para dobrar e guardar nos respectivos lugares no armário e gavetas havia se desviado das outras e não percebeu. Tocou-a com seus dedos mantendo-se agachado e direcionou um sorriso amargo para Eren que também tinha lembrando-se de algo em especial correlacionando a aquela peça.

- Se fossem em outros tempos nunca mais iríamos ver essas meias caídas. — Levantou-se apertando as duas com a mão, Eren riu baixinho concordando. — Encontraríamos aquela peste mastigando isso e com uma cara inocente como se não soubesse quem havia deixado a meia lá, mas com certeza rindo da nossa cara.

- Ele era um bom garoto.

Virou de costas indo até o armário, abriu uma das gavetas, organizou-as com as outras e então respondeu Eren em um tom igualmente baixo:

- Tch, ele era.

- Sem chance de outro, não é?

- Sem. — Concordou respirando fundo, nem mesmo Eren estava preparado para uma coisa daquelas. — Ele é insubstituível, não consigo ter outro sem lembrar dele.

- Pelo menos a birra acabou entre vocês.

- Ele sabia que nunca existiu uma birra entre a gente, era um bom garoto.

 

Ethan ao garantir terreno seguro foi diretamente para seu quarto, abriu a porta e sem surpresa nenhuma sorriu ao ver Théo jogado em sua cama, quase como se estivesse esperando-o.

- Estava com a Lívia, não? — Disse quase em um sussurro para que apenas Ethan ouvisse, este que confirmou, no final das contas não tinha segredos com o gêmeo, principalmente um que partilhava com ele. — Ela diz que eu tenho uma língua flexível. — Mostrou-lhe e colocou o indicador e o do meio apertando as laterais de sua boca antes de rir desfazendo o gesto pervertido com sua mão. — Porra, Tanthan, nós pegamos as mesmas pessoas sempre?

Puxou a cadeira afastando ela da escrivaninha e sentou nela esticando suas pernas até alcançar a cama com seus pés descalços deixando uma risada anasalada em concordância.

- Até então sim, parceiro. Mesmo sem saber acabamos ficando com os mesmos…  

- Nosso primeiro beijo foi com a mesma menina. — Pontuou pensativo puxando algumas coisas pela mente. — Nossa primeira vez também foi com a mesma pessoa em intervalos pequenos de tempo, a diferença foi de três dias se não me engano… 

- Pegamos o antigo Capitão do time de futebol. — Bateu delicadamente com seu pé contra a canela do outro imerso em diversão. — Eu adorava aquele cara, pena que mudou de colégio… 

Théo suspirou sendo bombardeado de lembranças do rapaz que o irmão se referia.

- Aquela boca fazia milagres.

- Credo, Théo, transamos com as mesmas pessoas também. — Ethan pontuou surpreso por nunca ter percebido aquele detalhe em especial.

Para os dois não era um problema, sempre partilhavam tudo desde crianças, então adolescentes também não viam qualquer problema, desde que as pessoas também não vissem, o que obviamente nunca tinha acontecido de serem negados pelo fato da pessoa ter saído anteriormente com o outro gêmeo. Algumas experiências fizeram juntos em alguém, também não viram problema entre os três, mas guardavam aquilo como segredo entre eles. 

- Menos o veterano da natação. — Théo coçou sua nuca com uma expressão séria negando fazendo com que o irmão quisesse gargalhar, se não fosse o silêncio que precisavam manter. — Nos beijamos algumas vezes, um único oral dele em mim e o cara achou que eu iria dar para ele… — Fez um gesto com a mão dispensando aterrorizado e até desconfortável com a ideia. — Estou fora de ser passivo, desconversei, me vesti e meti o pé.

- Sério? — Arqueou uma sobrancelha e entrelaçou seus dedos apoiando-os na barriga. — Ele tornou-se passivo rapidinho para mim. — Estalou a língua fechando os olhos com as lembranças que retornaram em sua mente. — Aquele vestiário tem história, Tethéo.

O moreno de olhos verdes sorriu maliciosamente concordando em um suspiro demorado.

- Tem…

- Só espero que não se case com a pessoa que um dia eu proponha noivado. 

Théo piscou um dos olhos e negou.

-  Nah, pretendo aproveitar minha vida solteiro até uns trinta e cinco, depois eu me caso se aparecer alguém que eu goste, mas… — Novamente um sorriso travesso tomando conta de seus lábios e também compartilhado nos do irmão. — Mas se caso for a pessoa que você goste, teremos que dividir como sempre, Ethan, apenas aceite que seu destino está ligado ao seu irmãozinho.

- Dorme aqui hoje? — Fez um biquinho para o irmão esparramado na cama que até tinha trazido seu travesseiro para o quarto de Ethan, um sinal evidente de que mesmo sem convite iria. Théo concordou dando um tapinha ao seu lado para que se deitasse logo ali. — Muito bem, sinto saudades de dividir o quarto contigo, maninho.

- Tch, eu odeio dormir sozinho.

- Claro, desde pirralho és um bebê chorão e eu como teu irmão preciso cuidar de ti.

- Bebê é o caralho, idiota. — Théo estreitou os olhos, apertou o travesseiro de Ethan com as mãos e o atingiu na barriga não medindo suas forças. 

Acabaram os dois rindo e o garoto de cabelos negros se jogando na cama, colocou o travesseiro embaixo da cabeça e piscou para o moreno antes de fechar as pálpebras para dormirem.

- Boa noite, maninho.

 

Pela manhã, Eren entrou no quarto de cada um para acordá-los, no de Théo encontrou apenas a cama bagunçada, mas sem sinal de que havia passado a noite ali. Portanto, sorriu em negação seguindo para o de Ethan sabendo que encontraria o filho desaparecido e o outro, vez ou outra até Beatriz agarrada aos dois, apesar de após começar o namoro com Gustav dificilmente preferia ficar com os irmãos do que partilhar o quarto com o rapaz. 

Escorou-se na porta os vendo completamente largados pela cama, um pé do moreno sobre a coxa do outro, o braço esticado sobre o peito praticamente babando no travesseiro. Ethan apertando com cuidado o ombro de Théo como forma de o proteger, mesmo inconscientemente, de qualquer perigo inexistente.

- Ownt, os nossos bebês estão dormindo juntos? — Disse audivelmente para acordá-los, apenas se mexeram, mas sem nenhuma intenção de abrir os olhos e muito menos afastar um do outro. Eren inclinou-se para trás vendo o marido passar com as roupas de corrida, parar, enlaçar os braços em sua cintura e despejar diversos beijos nas costas e ombros em sinal de "Bom dia". — Tão fofos e continuam com a mesma mania de dormirem juntos como quando eram dois bebês.

"Se tivesse visto as camisinhas que eles escondem nas gavetas das meias não iria considerá-los fofos, mas tudo bem, talvez você até saiba, mas não conte para mim para manter como segredo deles e sequer imagine que eu também saiba." — Levi pensou consigo mesmo, havia visto quando foi guardar as roupas deles após lavá-las. No entanto, poderia dizer a eles que se quisessem esconder deveriam escolher um esconderijo melhor, ao mesmo tempo não se surpreendia, afinal de contas aqueles dois eram filhos da pessoa que sempre esquecia de utilizar meias iguais e era um desligado nato. Portanto, era óbvio que às vezes seriam cabeças ocas iguais a Eren. — "Pelo menos seguiram certinho o que ensinamos, possuem consciência na cabeça e se protegem."

Da mesma maneira que Beatriz em uma tarde qualquer teve uma conversa mais séria, os dois também tiveram. Obviamente só uma reafirmação de alguns tópicos já tratados entre eles, pois ao longo da criação dos três já vinham falando de maneira delicada e lúdica sem tabu. Eram bons filhos, mas o casal definitivamente não queria ser avós com eles ainda adolescentes ou em hipóteses ainda mais complicadas com alguma dst.

- Tch, só aumentaram de tamanho, pois são os bebês que conhecemos ainda. — Murmurou continuando a despejar aqueles beijos e até mordidas sobre a camiseta do pijama do moreno. Carência matinal, totalmente normal e aceitável entre ambos. — Pode deixar que durmam mais um pouco, está cedo, até me surpreende que você já esteja acordado.

- Sente saudades de quando eles eram pequenos e podíamos pegá-los no colo? Porque eu sinto… 

Ao ver que o diálogo iria se inclinar para mais uma criança, ainda mais com a notícia que Isabel estava esperando uma e o trisal também, afastou-se do corpo de Eren adotando uma distância segura.

- Vou tomar um banho, pirralho, já desço para o café.

Acompanhou-o até o quarto novamente, sorriu em uma quase despedida ignorando o beicinho de Levi indicando que o acompanhasse para tomarem o banho juntos. No entanto, não cairia naquele charme. Nunca era apenas banho e seria arriscado qualquer coisa, mesmo que em um banheiro com a possibilidade de alguém ouvir.

Deitou-se para aguardar o tempo normalmente demorado que Levi utilizava para se limpar, mas valia a pena, porque adorava cheirar aquele pescoço após o banho, tocar os fios molhados do cabelo e ter aquele frescor compartilhado pela sensação de limpeza que o marido sempre exalava.

Ouviu um pedido audível para que pegasse uma toalha, pois havia esquecido. Então, diante disso, Eren saiu da cama espreguiçando uma nova vez, foi até o armário e quando foi puxar a toalha bateu sem querer no compartimento que Levi escondia suas armas.

Normalmente evitava mexer, mas daquela vez abriu sem nem pensar muito para verificar se não havia retirado nada do lugar ou estragado o compartimento que os filhos nem suspeitavam da existência. Sequer lembrava quais tipos de armas o marido guardava ali, mas ao abrir sua mente ficou em branco.

Ignorou a presença de algumas folhas aparentemente importantes, dois revólveres, um canivete e outras que sequer saberia nomear no espaço pequeno extremamente organizados e limpos, dado que duas coisinhas extremamente delicadas roubaram toda sua atenção. 

"Ele guardou! Ele guardou! Porra, ele guardou!" — Pensou consigo mesmo querendo gritar animado, um gritinho fino e agudo, mas manteve a compostura compatível com sua idade.

Passou os dedos nos sapatinhos de fio rosa que havia "presenteado" o marido tempos atrás, um sorriso tomou conta de seu rosto sentindo aquela maciez contra suas digitais. Levi não havia descartado como pensou, apenas guardado em um dos lugares que Eren nunca iria encontrar, nem mesmo se procurasse, pois de fato nunca pensaria em mexer ali.

- Está tecendo a toalha, pirralho?! — Ouviu a voz de Levi vir diretamente do banheiro. — Já já não precisará trazer mais nada, pois toda água evaporou da minha pele, inútil… 

- Já estou levando, meu amor!

Sendo assim, lançou um último olhar para o sapatinho e guardou tudo como estava anteriormente, fechou e abraçou a toalha para abrir a porta e entrar lá o encontrando com um dos braços apoiados na parede pingando gotículas de água.

 

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Receberam os ingressos para o filme vindos da mão da própria Kushel, a qual tinha um brilho de ansiedade suspeito naqueles olhos escuros. No entanto, tanto Levi como Eren acreditaram que estivesse assim pelo fato de seu livro estar saindo das folhas e se tornando, finalmente, em filmagens.

Gustav não pode acompanhar o casal, nem mesmo os cunhados e a namorada, afinal se tentasse iria ser soterrado por fãs e por enquanto queria poupar todos eles daquilo, principalmente na estreia do filme.

Sentaram-se naquelas poltronas, lado a lado, Beatriz entre os gêmeos atacando as pipocas e vez ou outra dando tapas fracos para que eles parassem de roubar da sua e comer das próprias.

Prestaram totalmente atenção na tela, principalmente devido a Gustav, mesmo que o casal tivesse um motivo diferenciado para alguns sorrisos trocados e alguns apertos na mão entrelaçada. No final das contas, aquilo que estavam vendo era basicamente um trecho de suas vidas, com diversas mudanças e informações erradas, mas o material bruto era sobre eles, ou seja, importante.

A tela escureceu e aos poucos foi clareando novamente indicando uma cena final, a qualidade parecia bem inferior, quase como se tivesse sido gravada escondida por um celular qualquer, detalhe que foi confirmado por escurecer novamente e mostrar um estofado escuro, depois de dois homens sentados lado a lado em um sofá semelhante.

Um com as pernas cruzadas, papéis nas mãos olhando criticamente para aquilo, aliança dourada no dedo. Ao seu lado, um aparentemente mais jovem sorrindo divertido inclinava-se para rir. Não conseguiam ter acesso aos rostos, por culpa do papel que muitos estavam odiando, porque a curiosidade era gigante para descobrirem quem eram o casal e não queriam ser impedidos.

- "Aproximei-me da orelha dele, sorri e sussurrei em um tom apaixonado: Eu amo você". — Repetiu criticamente enquanto o homem ao lado simplesmente gargalhou, uma voz grossa com tons roucos, consideraram um voz bonita e imaginavam como seria o dono dela. — Como diabos isso está certo? Eu disse que amava-te, não foste tu o primeiro a falar, pirralho… Fui eu, todos sabemos disso. Eu dei a aliança enquanto você dormia e antes do café falei que te amava.

- Ah, amor, cá entre nós, faz mais sentido que eu tenha dito e não você. Até no filme o público iria esperar isso, tinha coração de gelo até eu chegar, até no livro estás descrito como insensível e frio.

- Porra, foi a primeira declaração amorosa que eu fiz a ti sem ser grosso e me tiram até isso? — Suspirou audivelmente bravo, pelo menos pensavam que sim, mas se vissem através das folhas veriam ambos trocando um olhar rápido e sorrisos. — O pedido de namoro… 

- Errado também. — O outro gargalhou divertido, lembravam-se que no livro já estava errado, mas naquela época não acreditavam que iria ter uma expansão tão grande a ponto de tantas pessoas lerem — Bom… Prefiro dessa forma mais fofa igual está escrito, vamos fingir que rolou assim e não antes de dormir contigo me chamando de idiota.

Virou a folha e inclinou seu corpo mais um pouco, admitiram que deixou um beijo delicado na bochecha do outro ou até um selinho. A curiosidade matava aos poucos os espectadores, menos dois deles que sabiam exatamente o que havia através dos papéis. 

- O Gus vai ficar fofo atuando como você, será que conseguirá recriar suas expressões que até dava medo em mim quando te conheci?

- Tch, o garoto não será tão inútil nesse aspecto, espero que o… Como é o nome dele? Yuri? Tch, que o garoto consiga ser um grande Cabeça Oca como você foi no início e depois um mandão insuportável exatamente como agora. 

Mais uma risada divertida daquele que julgavam ser o homem inspirado e iria ser retratado pelo ator Yuri.

- Nossa, amor, cale a boca.

- Ah, outra coisa, só torço que não esqueçam de deixar uma meia de cada cor para o Yuri, pois nunca usava-as iguais e até hoje se não lembro-te saí como um pirralho bagunçado.

Beliscou-o com força por cima da camiseta apertando uma boa quantia daquela pele, apesar de pouca devido aos músculos definidos que impossibilitavam.

- No início quem batia em ti era eu, espero que no filme mantenham isso para elevar um pouco minha moral. Ninguém precisa saber dessa mudança.

- Pena que o final do filme será apenas um namoro fofinho com o fim da minha faculdade e nós assumindo o namoro, se existisse uma continuação conseguiriam ver que consegui um casamento foda contigo, três filhos e até um cachorro… Se soubessem que conseguimos seguir nossos sonhos iria ser incrível, mas… Uma pena.

Quando as folhas foram abaixando e pensaram, por instantes, que veriam os rostos dos donos daquelas vozes e matariam a curiosidade, a tela se apagou e passou finalmente os créditos finais.

Imediatamente a sala de cinema tornou-se uma série de: "Uhhhh"; em decepção por não saberem quem era o casal inspirado para a produção do filme.

Inadmissível, enquanto Beatriz abriu a boca surpresa entendendo perfeitamente algumas coisas semelhantes, como o corte de cabelo de Gustav, as profissões que o casal da trama exercia, afinal de contas era sobre seus pais. Não restava dúvida, não depois de ouvir as vozes, as quais provavelmente o avô ou avó haviam gravado escondidos ao mostrar o roteiro do filme a eles em um dia qualquer.

-  Eu vou matar meus pais. — Levi sussurrou próximo ao ouvido do marido por aquela exposição, seus amigos facilmente saberiam ao ouvir as vozes de ambos, mas a grande parte nunca iria descobrir.

Certamente seriam alvo de boatos e especulações por semanas a fio na mídia cinematográfica.

Os gêmeos também se surpreenderam, não eram inocentes em não reconhecer a voz dos dois, se fosse apenas um deles até pensariam estarem confundindo, mas os dois não havia como.

- Vão contar finalmente para a gente como se conheceram? — disseram ao mesmo tempo em tom baixo encarando os pais que se entreolharam e Eren apertou os dedos do marido sinalizando que não. — Merecemos depois disso.

- Não, vocês são meio jovens ainda, mais alguns anos, beleza?

- Eu sou adulta. — Beatriz apontou para si mesmo cerrando os olhos em desgosto por continuarem a esconder aquilo, claramente porque o pai de cabelos castanhos não querer expor, pois por Levi já havia dito há anos. — Mereço, não?

Levi respirou fundo entendendo que Eren não queria que soubessem, desde o nascimento dos dois já havia dito que ficaria desconfortável por não ser romântico. Portanto, faria seus gostos e os enrolaria mais um pouco.

- És pirralha ainda, espere seus irmãos ficarem adultos também e então irá saber a verdadeira maneira que nos conhecemos e nosso relacionamento se desenrolou.

 

O filme teve uma boa quantia de visualizações, diversas suposições de quem poderiam ser, mas nenhuma nota vinda da autora, dado que o produtor do filme também não sabia e apenas foi presenteado com aquele material para incluir no final. Com o passar dos meses, apesar de ainda curiosos e com diversas teorias, não esteve tão à tona. Os amigos do casal já haviam dispensado as risadas, as quais nem mesmo se importavam de receber.

Gustav engatou diretamente em outros trabalhos, algumas participações curtas em séries e um filme em andamento, tudo isso fazendo com que sua fama começasse a aumentar, além de alguns trabalhos com a fotografia. Era visto sempre com um boné na cabeça, óculos escuros e as mãos entrelaçadas a uma jovem, além daquela aliança de prata que só retirava ao gravar as cenas. Beatriz que sempre o apoiava e não media esforços para incentivar a continuar, até mesmo quando se afastava pelos treinos e lutas em outros países, estavam conseguindo manter o relacionamento mesmo com a distância os incomodando vez ou outra.

A barriga de Isabel ia crescendo gradativamente, as missões desde o dia que fez o teste de gravidez sequer eram cogitadas e quando tentava fugir para entrar em uma, qualquer um dos policiais impedia, tornando a convivência, na opinião da ruiva, insuportável de tão super protetora.

Justamente em uma dessas que havia sido pega por Levi que a viu pegar uma arma em mãos, sorrateiramente um colete e estava prestes a seguir com alguns novatos quando ele viu suas intenções através da grande vidraça de sua sala, largou tudo que tinha em mãos e saiu correndo para impedir um absurdo daqueles acontecendo.

- Pare aí agora! — Gritou bravo sem nem precisar forçar qualquer autoridade, muitos não viram para quem se referia, mas automaticamente a Corporação toda ficou imóvel. — Não ouse dar mais um passo sequer!

Farlan saiu da sala que compartilhavam, assim como Jean, logo entendendo perfeitamente a situação e a expressão brava do amigo, tinha razão.

- Não é meu pai para achar que manda em mim, Levi! — Devolveu igualmente brava pouco se importando que aquele ali era seu Superior e teoricamente deveria respeitá-lo, principalmente na frente dos novatos que não sabiam tanto sobre o círculo de amizades dele e engoliam a saliva nervosos sem reação. — Então pare de se portar como um!

- E tu não és nenhuma criança para continuar a ter atitudes estúpidas, não irá sair dessa corporação sem alguém do teu lado para garantir que não irá fazer merda, Isabel, não irá.

- Pare de me chamar de velha, nós temos a mesma porra de idade, filho da puta! — Disse entre os dentes e também apertando as unhas nas palmas da mão, sinal óbvio de: "Eu vou matar qualquer um que falar um 'a' para mim de novo!".

- Sim, nós dois somos velhos, mas eu não tenho uma criança na minha barriga que depende exclusivamente de eu estar em segurança, sua irresponsável sem noção.

Deu um tapa fraco na nuca de um policial qualquer, olhou sério indicando que liberasse a cadeira e a puxou indicando para a ruiva. Uma agressão gratuita sem sentido, mas não era como se policial pudesse ter voz para reclamar, iria receber mais uma se demorasse a obedecer, apenas isso.

- Senta aqui e cale-se, antes que eu mesmo te pegue no colo, leve para casa e te amarre para que não saia mais de casa. Quer arriscar a qual nível posso chegar para garantir a merda da sua segurança, Isabel?

- Sou parceiro nisso. — Farlan disse para o amigo, que sequer o olhou, pois estava direcionando seu melhor olhar sério para a mulher ruiva que nem piscada, dado que também estava em ameaça. — Por mim nem trabalhava mais, gravidez complicada, amor, lembre disso. Nosso menino precisa da mãe 100% saudável e descansada, não uma que entrar em missões, olhe o tamanho da sua barriga, Isa.

- Eu não preciso que fiquem em cima de mim todos os segundos da merda do meu dia, estou de saco cheio de vocês dois.

- Não me estresse, Isabel, sabe que nesse quesito você perde fácil para mim. — Levi manteve sua mesma expressão sem vacilar, todos ali concordaram sem pestanejar, mas a atenção do Oficial estava voltada totalmente para a mulher, subordinada e horas vagas uma das mulheres mais importantes de sua vida. — Vai por mim, não quer que eu me estresse, Isa, vai por mim.

Sentou na cadeira, a contragosto, enquanto sua expressão ia do "Espera o garoto nascer, você está fodido, Ackerman" e "Eu quero explodir essa Corporação maldita com vocês todos dentro dela!". Completamente adorável como a ruiva sempre era.

- Seus filhos da puta, eu odeio vocês dois, eu quero dar um belo chute no meio das pernas de ambos e torturá-los com uma faca! Seus… — Começou por dizer e toda aquela postura agressiva sumiu ao arregalar os olhos e abrir a boca levando a mão até a barriga. Se assustaram pensando que havia algum problema, estavam prestes a levá-la a força para algum hospital quando ela sorriu. — Ele chutou...

E toda aquela postura de estresse adotada anteriormente sumiu, Levi e Farlan ergueram as sobrancelhas e rapidamente se abaixaram para tocar aquela barriga tendo as mãos puxadas pela mulher indicando onde exatamente deveriam colocar para sentir melhor.

- Caralho, chutou mesmo. — Levi olhou para Farlan com a mesma expressão em seu rosto ao sentir mais um toque em sua mão, era leve e delicado, quase imperceptível, mas existia e o deixava com um sorriso. — Que forte… 

O loiro abriu a boca podendo até deixar a saliva escorrer, mas não se importava, não enquanto continuasse a sentir aquilo contra seus dedos.

- Chutou… Vai ser um garotão forte, olha esse chute, cara. Chute mais uma vez para o papai, vamos lá.

- Tch, deve chutar sua mãe sempre quando notar que ela está sendo idiota e te expondo ao perigo por ser hiperativa desse jeito, pirralho.

- Ele vai, eu tenho certeza, é um "pirralho" obediente.

- O pai dele nunca foi. — Levi riu olhando para o amigo que invés de bravo apenas riu baixo.

- Nunca fui.

- Deus… — Suspirou cansada demonstrando que queria ficar brava com eles por impedirem de seguir sua vida como antigamente, apesar dos dois estarem certos. — Vocês parecem dois grandíssimos idiotas, estão patéticos assim.

- Shhh. — Farlan soltou o ar pelos lábios pedindo silêncio, Isabel cerrou o maxilar querendo bater principalmente nele por estar indiretamente mandando calar sua boca. — Não assuste o neném sendo assim conosco, ele precisa acreditar que nós três sempre somos amorosos uns com os outros.

- Estranho tocar em uma barriga e realmente ter um bebê dentro. — Levi fez um carinho breve sentindo o tecido contra as digitais. — Eu ficava tocando a do Eren na gestação dos gêmeos para irritá-lo, obviamente a sensação agora é completamente distinta e melhor, isso é bom.

- Lembrando disso, quando a Hanji estava grávida você deu para a Lívia dois amiguinhos… — Isabel adotou uma expressão entristecida, lábios em um beicinho e até os olhos esverdeados marejados. Poderiam culpar os hormônios por toda aquela sensibilidade, mas apenas ela sabia o quão boa atriz estava sendo para agir em favor de determinado moreno de olhos verdes. — Você não me ama, Levi? — Escorreu uma lágrima por um dos olhos enquanto Farlan estava quase desesperado pensando em como acalmá-la e Levi sem reação. — Você quer que meu filho não tenha um amiguinho também? Você gosta mais da Hanji do que de mim? É isso? Seu insensível… 

Levi buscou apoio no amigo ao lado, mas notou rapidamente o quão inútil seria, pois até ele estava com um olhar ameaçador para que aceitasse logo mais uma criança, não por Eren, mas por Isabel.

- Ahn, Isa… 

Jean que estava analisando aquela interação notou que seria seu momento de interferir em favor do Superior. 

- Teoricamente a menininha que eu, Marco e Armin estamos esperando terá a mesma faixa etária que o seu garoto, logo… 

Isabel dispensou a feição chateada por uma estreita e carregada, apenas demonstrando o quão falsa estava sendo até então.

- Sabemos que irão ser amigos, mas o assunto não é esse, Kirstein. — Piscou com um dos olhos para ele que entendeu perfeitamente que não deveria interferir para que ela conseguisse efetivar a manipulação. Voltou-se para Levi novamente. — E aí? Agilize a produção de mais um bebê com o Eren, antes que eu obrigue você.

Se levantou colocando uma das mãos no bolso da calça e a outra passando em sua nuca.

- Tch, não, ainda é um não. Seu filho terá que ser simpático e conquistar sozinho os próprios amigos.

Colocou a mão na barriga massageando e olhando para baixo em uma conversa privada com o filho.

- Vês, neném, ele não gosta de nós.

Não aguentava aquelas situações, não quando era Hanji com Lívia no ventre e conversava com ela para manipulá-lo com algo que queria, e não seria diferente com Isabel com a criança até então sem um nome.

- Ah, por favor, Isa, está fazendo com que me sinta um ser humano desprezível por negar uma coisa dessas. — Levi rolou os olhos e ficou principalmente em Gunther ao longe que sorriu arteiro prestes a concordar, diante do olhar agressivo ninguém teve coragem de falar qualquer coisa que de alguma forma concordaria com tal coisa. — Tch.

Farlan se levantou, direcionou um sorriso torto e deu dois tapas fortes nas costas do outro.

- Você é um ser humano desprezível, Ackerman.  

- Sim, você é. — Isabel fez carinho novamente em sua barriga focando nos olhos cinzentos estreitos. — Quem consegue negar algo a uma grávida, Ackerman? Eren sempre teve razão em chamar seu coração de pedra de gelo, acredito que o "pirralho" não te derreteu o suficiente.

Tinha adquirido um genuíno ódio pelas pessoas utilizando seu sobrenome daquela maneira, principalmente porque aquele costume foi ampliado a níveis altíssimos após Eren começar a ter aquela mania consigo.

- Tch, cuide de sua mulher que eu vou voltar ao trabalho. — Dispensou todos com uma mão, tocar no tópico “Eren” era complicado e não tinha tantas respostas no repertório. — Mexam-se antes que eu bata em vocês por estarem sendo inúteis invés de estarem trabalhando e cuidando das obrigações invés da vida alheia.

Obedeceram.

***

Como a finalização da gestação finalmente conheceram o pequeno: Um garoto forte, os fios de cabelo eram uma incógnita, mas tinham quase certeza que era o tom da mãe. 

Levi e o marido chegaram para conhecer finalmente o pequeno rapaz, mãos entrelaçadas e um aviso do moreno para que não chamasse o bebê de joelho ou qualquer coisa naquele sentido, se não iria apanhar.

- Tiago. — Farlan apresentou o filho aos dois parado ao lado da cama que Isabel estava deitada com a criança nos braços sem intenção nenhuma de largá-lo, até mesmo para os amigos ou o parceiro pudessem pegar.

- Belo nome. — Levi era grato por ter tudo dado certo, tinham conhecimento de quão complicado poderia ser o parto, mas apesar de tudo foi um sucesso, estava aliviado por Isabel e também pelo rapaz que há meses queria conhecer, pois foi seu defensor com unhas e dentes impedindo a amiga de esforços desnecessários. Valeu a pena ao ver aquele rostinho corado. — Tens bochechas fofas, Tiago.

- Ele está com aquela cara de: "Eu quero chamá-lo de cara de joelho". — O homem loiro riu divertido tendo certeza que se estivessem apenas os quatro ali, sem Eren, Tiago já teria ouvido aquilo vindo do amigo dos pais.

- Ele está. — Concordou rindo e sendo acompanhada do Eren que já havia perdido a atenção deles, pois estava olhando fixamente para o garotinho mantendo um sorriso largo nos lábios. — Mas é um joelhinho tão fofo que até eu estou chamando ele assim.

- Posso pegá-lo só um pouquinho? — Eren perguntou ansioso por um positivo, o lábio sendo mordiscando e o olhar expectante como uma grande criança.

Diante disso, só restou a Isabel afirmar e deixar que ele realizasse isso, além de lançar um olhar bravo para o amigo por estar impedindo Eren de algo que claramente o faria extremamente feliz e realizado.

Um serzinho que tinha tido diversas chances de não ter existido, se Isabel não tivesse fugido daquele cativeiro, se não encontrasse a família de Marco na estrada, que por sorte era amigo de Eren e auxiliou fazendo com que tudo aos poucos retornassem aos eixos. Aliviador que Levi tivesse se mantido firme e estivesse presente em um momento como aquele ao seu lado e de Farlan, o trio inseperável.

Era grata ao rapaz, a Levi e Farlan, assim como o homem de feições sérias que via o marido ao lado segurando o bebê sequer conseguia disfarçar o brilho nos olhos por vê-lo assim com o bebê.

 

A criança que Armin, Jean e Marco estavam esperando nasceu um mês após Tiago, uma garotinha franzina, quietinha e que praticamente não chorou após o nascimento. Certamente todos ficaram babando, Jean com um medo genuíno de pegá-la em seus braços e os dois ao lado só não batendo nele porque não se importavam em ficar com a pequena Ana até que o outro pai deixasse de ser idiota.

Jean quando recebeu a ligação ficou completamente nervoso, havia chego de uma missão, sequer tomou uma ducha, apenas retirou o colete fazendo com que quase sua camiseta fosse junto, jogou tudo, inclusive as armas, sobre uma mesa qualquer e saiu correndo avisando a Farlan que não voltava naquele dia, pois precisava conhecer a mulher de sua vida.

Os três se apaixonam à primeira vista, utilizaram o método novo, possuíam receios, mas vê-la ali com aqueles fios praticamente transparentes de tão loiros e provavelmente o formato do nariz de Marco, já lhes respondia que a mistura dos dois foi efetiva, como decidiram entre eles.

Tanto Ana como Tiago chegaram para fechar o time de crianças e mudar completamente a rotina dos pais de primeira viagem que precisavam aprender muita coisa, mas possuíam diversos amigos para os ajudar nesse processo.

 


Notas Finais


Último deles adolescentes para fechar essa fase e mais algumas criancinhas, pois nunca é demais <3
Vem aí, o time adulto (Ou quase isso, pois dezoito para mim ainda é meio jovem demais, mas enfim hahaha), e infelizmente o famigerado "fim".


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