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História Mnemósines - III


Escrita por: Sra_Smith

Notas do Autor


As duas primeiras partes foram meio que uma introdução para explicar o contexto dessa hihihi
Me empolguei e ficou grande desgulpa
Ah, hoje volto pra minha cidade, então tenho três horas no ônibus sem fazer nada, vou adiantar as fanfics tudo pq esse feriado vai ser foda postar

Capítulo 3 - III


 

 
  A garota negra correu entre os colegas, tropeçou em uma pedra, teve a saia do uniforme levantada pelo vento e caiu com tudo sobre a amiga.
  "Mika! Tome cuidado!" a moça de cabelos negros e curtos sussurrou, repreendendo a amiga atrapalhada.
  "Poxa, Mikasa, para de ser chata. A Kim me mandou isso" Ela sacudiu uma folha meio amassada, que aparentemente continha um recado da garota mais tímida de sua escola - e paixão platônica de Mika.
  Mikasa e Mikasa, além de possuírem o mesmo nome, eram melhores amigas.
  Porém, onde Mikasa Hill era linda e cobiçada por praticamente todos os homens mulheres de seu círculo social, Mikasa Jeager era um fracasso romântico catastrófico. Mesmo com o sobrenome que possuía, em vez de aproximar, as pessoas se afastavam.
  Duzentos anos se passaram desde que a última batalha pela liberdade da humanidade das muralhas ocorreu. 
  As pessoas que nasceram nos anos de paz, em sua esmagadora maioria, possuíam o nome dos heróis da Era dos Titãs. Era esse o caso de Mika, sua amiga, e de tantos outros colegas de turma.
  Seu próprio caso era mais particular.
  Mikasa era descendente do grande herói Eren Jeager, e seu nome era uma tradição de família, transmitido de geração a geração. Um nome especial que pertencera a uma grande guerreira.
  De especial a garota estudante não tinha nada. Somente o sangue e o sobrenome. Mas era bom ter algo em comum com alguém tão incrível do passado.
  A professora continuou a falar, os alunos mais interessados anotando as informações, e andando pela grama vagarosamente. 
  Normalmente Mikasa tentaria prestar atenção, mas não hoje. Estava estranhamente aérea.
  Só o que sabia era que sua classe faria uma visita às ruínas das muralhas, em uma aula de História.
  Mika trocando bilhetinhos com Kim, a professora Lou falando empolgada sobre a preservação da memória e o diretor Erwin encarando-a desavergonhadamente. E Mikasa pensando em uma forma de fugir daquilo tudo.
  Poucas partes da Muralha resistiram a passagem do tempo. Os destroços das pedras mais conservadas ficavam ao norte, e nem eram tão bem conservadas assim.
  Enquanto a professora falava e todos prestavam atenção, Mikasa escorregou entre a multidão de turistas e andou sozinha até uma área mais afastada.
  O grande paredão oco maltratado pelo tempo era grande, mas uma escada de metal fora acoplada em seu comprimento, facilitando a subida.
  Algo sempre faltou em sua vida. Mikasa nunca se sentira completa. Talvez não se encaixasse naquele mundo.
  Ou talvez não se encaixasse em lugar nenhum. 
  Crescera uma criança melancólica e quieta, a sombra do legado de sua família, sem muitos amigos e coisas que gostasse. Sempre só.
  Até o pequeno sobrinho, uma criança risonha de olhos verdes brilhantes no alto de seus dois anos, mal conseguia colocar um sorriso em seu rosto.
  A solidão combinava com ela. 
  Disfarçava o vazio que trazia dentro de si, que sempre surgia ao ver-se cercada de gente, mas sem a pessoa certa.
  Por mais que estivesse na companhia de várias pessoas, eram as pessoas erradas.
  Segurando a saia para que o vento não a levantasse, Mikasa subiu até o topo da Muralha. 
  O vento soprava forte, o cabelo curto voava e ela se sentiu bem.
  Muito bem.
  Bem como não se sentia há tempos.
  Melhor do que quando estava com o pequeno bebê Eren.
  Ela suspirou e apreciou o vento rugir ao redor de si.
 
 
  Aquilo estava um saco.
  Não acreditava que saíra de sua casa apenas para ver o orientador babar por uma professora.
  Levi poderia estar escrevendo. Mas estava ali. Com um bando de pirralhos barulhentos visitando uma velharia do passado.
  Só aceitou o convite de Erwin porque o homem era o orientador de sua pesquisa, e achou que ganharia mais pontos com o professor.
  Outro ponto que ele não entendia, era o motivo de um professor universitário tão competente ainda ser diretor de uma escola.
  Muita gente andando e tirando fotos.
  Um inferno.
  Levi andou até um bar e pediu chá.
  O homem olhou-o como se fosse louco. 
  Qual era o problema de tomar chá? 
  Pessoas eram esquisitas.
  Sempre foram, sua vida inteira o olharam com estranheza.
  Até mesmo sua família não o compreendia direito, por isso não tinha lá muito contato com eles. 
  Sua irmã Hanji era insuportável, mesmo a distância. Parecia sempre cuidar dele e ter medo que ele fizesse alguma coisa contra si.
  Por Deus, ele podia ser depressivo, mas isso não queria dizer que era uma bomba relógio ambulante pronta para se detonar. 
  O atendente lhe entregou a xícara de chá.
  Horroroso. 
  Nem deu um segundo gole, pagou e saiu quase correndo dali.
  O lugar começava a encher, e Levi tinha pavor de barulho. 
  E de gente.
  Apertou o cachecol vermelho no pescoço e fugiu para o lugar mais afastado dali. 
  Não havia quase ninguém na base da Muralha, então imaginava que não haveria ninguém lá em cima. 
  Apoiou-se no corrimão da escada prateada - mesmo achando ser o jeito errado de subir - e partiu em direção ao vento uivante no topo.
 
 
  Ela deveria ter pego um casaco.
  Por mais que se sentisse bem com a sensação de liberdade no alto do mundo, não poderia negar que estava frio demais. 
  O vento era brutal.
  Mikasa se abraçou, esperando conservar o calor.
  Esqueceu-se da escola, de Mika a esperando lá em baixo.
  A paisagem era linda.
  Lembrava-a de um sonho antigo, tentando irromper de sua consciência a todo custo.
  Era uma sensação estranha.
  Mikasa teve muitos sonhos anormais na vida, muitos ligados à um homem desconhecido, mas sempre esquecidos ao abrir os olhos. 
  Só restava a sensação.
  Seu psicólogo lhe dissera que o homem sem rosto era uma representação de si mesma.
  Passos na pedra, não muito longe de si, romperam o silêncio. 
  A pessoa suspirou, como se não quisesse encontrar alguém ali, mas não foi embora.
  Mikasa não olhou para a pessoa.
  Pela visão periférica, viu que era um homem, e ele parou afastado dela.
  Usava um tecido vibrante e vermelho no pescoço.
  A descarga de adrenalina acelerou tanto seu coração que Mikasa viu turvo.
  Uma vontade insana de chorar subiu pelo seu peito e ela ofegou. Virou, desesperada para sair dali, cambaleando e tropeçando nos próprio pés. 
  O homem a amparou antes que sucumbisse no chão.
  "Hey, você está bem?" Por Deus, aquela voz.
  O que estava acontecendo?!
  "Eu..."
  "Quer que eu chame alguém?"
  Podia sentir os olhos cinzas - ela sabia que eram cinzas - perfurá-la.
  "Não!" 
  Ela respondeu rápido demais.
  O homem ainda a segurava, com força, contra seu peito.
  Era mais baixo que ela, porém Mikasa sabia que ele era capaz - e muito - de sustentar seu peso.
  "É só frio"
  Ele a encarou por meio segundo e tirou o cachecol vermelho, enrolando-o no pescoço da garota.
  Sem dizer nada, puxou-a para baixo e ambos se sentaram na pedra fria da Muralha.
  "Obrigada" 
  Mikasa disse depois de um minuto de silêncio, com os dois olhando o horizonte.
  "Não há de que" era uma voz ausente, mas se prestasse atenção ouviria a chama ardendo por trás.
  Mais silêncio. 
  Mikasa não sabia por que estava sentada no alto da Muralha com um estranho. Deveria se levantar e ir embora.
  Faria isso.
  Mas então ele começou a falar. 
  "Me chamo Levi" 
  Eu sei.
  "Mikasa"
  Ele agora a olhava e ela confirmou o que já sabia, olhos cinzas. E bonitos. 
  "O que faz aqui?" Ele inclinou o rosto e fitou-a com atenção.
  Parecia devorá-la.
  "Fugindo da excursão da escola" 
  As palavras saltaram de sua boca. Mal pensou direito, e já dizia a verdade.
  "Eu também" 
  O cinza se perdeu nos raios dourados da tarde, e Mikasa pôde apreciar as feições de Levi.
  Lindo. 
  Mas não estranho.
  Outro arrepio sacudiu seu corpo.
  Levi tirou o casaco preto e o envolveu nos seus ombros.
  Mikasa se constrangeu, se continuasse assim, ele ficaria nú antes do sol se por.
  Porém o olhar dele deixava claro que não aceitaria uma negação. E ela sabia que perderia em um embate de forças. 
  Não sabia como, mas sabia.
  Corada, Mikasa mudou de assunto.
  "Não parece um estudante" 
  Ele sorriu de lado, com escárnio.
  "Segundo ano de Estudos Literários"
  Oh.
  A faculdade que ela queria fazer.
  "Mas estou fugindo dos seus amiguinhos" 
  Ele completou, o olhar desafiando-a.
  Não precisou perguntar por que fugia.
  "Eles são muito barulhentos" 
  Disse, e Levi a olhou surpreso por um segundo.
  "São" 
  A noite caíra calidamente.
  Se sentiu tão bem ao lado de Levi que não viu o tempo passar.
  Nunca se sentiu assim.
  Estava... Completa.
  Finalmente.
  "Acho que conheço-a"
  Ele falou.
  "Eu também"
  Mikasa encarou-o.
  Levi era muito familiar. Além da família, da amiga, dos sonhos. 
  Procurou-o a vida inteira.
  Mas agora ele estava ali.
  "Posso beijá-la?"
  Parecia temeroso por uma negativa.
  Mikasa jamais o negaria.
  "Sim"
  A voz saíra em um sussurro.
  Levi entrelaçou as mãos as dela, e seus lábios tocaram os da garota.
  Delicado como uma pluma.
  Ambos choravam quando olharam nos olhos do outro.
  As lágrimas dela derramando-se em rios pelo rosto, as dele represadas e contidas nos olhos.
  "Eu me sinto..."
  Ela disse, mais para si mesma do que para ele, como se assegurasse de que era real. Mas Levi a interrompeu.
  "Completo" 
  E ele a beijou novamente.
 
 
  Mikasa era uma mulher peculiar. 
  E perfeita para ele.
  Luminosa e exata, completava-o tão bem que pareciam um só ser em dois corpos.
  A identificação que sentiam um pelo outro impediu que Levi surtasse por ter beijado uma desconhecida, pior, uma estudante ainda no ensino médio. 
  O tempo passara e aquele encontro casual não ficara no passado. 
  Estavam juntos há um ano agora, e ela cursava o mesmo curso que ele, na mesma faculdade. 
  Até mesmo sua depressão melhorou significativamente desde que Mikasa entrara em sua vida feito um cometa.
  Não queria precipitar-se, mas não via sentido em sua existência se a garota não estivesse presente.
  Então terminara de terno e gravata, parado na base da Muralha onde a encontrara pela primeira vez, vendo o sobrinho de Mikasa - agora seu sobrinho também - pular e gritar ao seu redor.
  Tudo bem que era natural uma criança dessa idade não parar quieta, mas o menino ultrapassava o limite do normal. E parecia ter uma devoção pelo novo tio.
  As pessoas já o cumprimentaram, sua irmã já gritara e chorara como uma louca, ele só queria levar a esposa dali.
  Mas Mikasa estava presa com a amiga que tinha o mesmo nome e os fotógrafos. 
  Permitiu-se admirar a beleza do vestido branco envolvendo seu corpo.
  Não via a hora de tirá-lo.
  "Vamos?" Ela dissera, se aproximando a olhando-o com os olhos brilhantes que lembravam-no das estrelas do céu. 
  "Vamos"
  Ele dirigia calmo pela estrada, apenas apreciando as estrelas, a lua e a mulher ao seu lado. 
  Seria eternamente grato por viver aquilo ao lado dela.
  "Levi?" A voz doce interrompera seus pensamentos. 
  "Sim?"
  Mikasa pareceu pensar, e o homem esperou pacientemente. 
  Apreciava todos os momentos ao lado dela, sempre com a sensação de que logo se findariam e ele veria-se só. 
  "Eu prometi, não foi?"
  Ah, sim.
  Ele não sabia exatamente a que ela estava se referindo, mas algo em si se agitara e ele soube que sim.
  Mikasa prometera.
  E finalmente cumpria.
 
 
  O fio prateado não era mais visto, pois as mãos estavam unidas.
 

Notas Finais


Shazam carai


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