[Tamatoa On – 2 anos depois]:
- ...scrub the deck and make it look shiny!! ...because I'm beautiful baby!! ♫
- Você não acha que essa música já tá chata não, ô Tamatoa?
Eu poderia me virar rapidamente com um único giro para ver o dono daquela voz tão insultante, porém eu já sabia a quem ela pertencia...
Maui.
Ainda de costas, estreito meus olhos. Ele não veio para ter apenas uma conversinha.
- Hahahhauiasfhiasuf, Maui! – Vou me virando devagar. - Que prazer tê-lo novamente na minha humilde casa. A que devo a sua solene visita, caro amigo? – Ele apenas me observava com uma das sobrancelhas erguida, claramente sem entender coisa alguma. - Mas você não perde o senso de humor mesmo, hein?! Veio apanhar de mim mais uma vez, Semi-demi-mini-deus?
- Há! Não sem antes de eu arrancar todas as suas patas desta vez, seu caranguejo fedorento!
- Hmmm... Não pense que vai me atingir desse jeito. – “Nossa, será que eu tô fedendo mesmo?”, penso.
- Ah, é? E que tal deste? – Ele vem correndo pra cima de mim com seu anzol.
Eu já sabia o que ele iria fazer em seguida, então tento ir pra cima também. Só que eu estava errado e o que ele realmente faz foi inesperado.
Transformou-se em um pequeno besouro verde, voou por sobre minha cabeça, e pousou em meu casco. Lá, transformou-se em humano novamente e me deu uma cacetada na cabeça, ao passo que caí como uma linda e dourada abóbora no chão.
Fico zonzo por alguns segundos, até me levantar novamente e tentar rebater seu ataque.
- Veio tentar uma revanche, Mauizinho? – Pergunto a ele.
- Bom... Se passa pela sua cabeça que daquela outra vez você tenha me batido, então sim, considere isso uma revanche. Mas o fato é que eu nem senti cócegas e estava até curtindo a música... – disse isso em um tom de sarcasmo.
- Sério? – Pergunto com um bocado de esperança. Ninguém tinha elogiado ela assim. – Você gostou mesmo?
- Não exagere, grandão! Eu disse que estava curtindo, não necessariamente quer dizer que gostei dela. – Meu sorriso se desfaz. – Porém, você tem uma voz boa, já pode ir pro The Voice Kids.
Por um momento eu me sinto lisonjeado. Até realmente ter entendido o que ele quis dizer.
Seguimos com a pancadaria. Ele acerta mais alguns golpes em mim, até eu realmente conseguir fazer algo e jogá-lo contra a parede, o que parece não ter efeito algum, já que ele rapidamente se recupera transformando-se em um falcão e vindo em minha direção.
Vou confessar uma coisa aqui, ok? Eu estava cansado. O que eu queria mesmo era ter ficado de boa na minha humilde casa, ouvindo Simply the Best da Tina Turner e bebendo um uísque 50 anos. Mas o fato é que nem sempre as coisas acontecem como queremos, não é mesmo?
- Maui, pare. – Tento dizer isso a ele, mas ele não para de me atacar com diversos golpes. – Maui, please! Stop this! “Oh shit!”.
- Qual foi, grandalhão? Não aguenta mais o trampo? – E com isso ele dá uma gargalhada. – Eu estou apenas começando, afinal, como você disse, isso é uma revanche.
- Qual é, Maui. Nós dois sabemos que isso não é necessário. Tu é meu broder, pô! – Tento persuadi-lo mesmo sabendo que aquilo não era verdade e que ele provavelmente não iria cair.
Maui dá uma gargalhada ainda mais alta e eu começo a ficar com raiva delas.
- Eu? Teu broder? Qual foi, tá querendo se redimir pra não apanhar, Tamatoa?
- Você sabe que se eu quisesse, te partia em dois. Mas não quero perder meu tempo com você. Então quer fazer o favor de sair da minha casa?!
- Claro, com o maior prazer! Mas antes, se me permite... – E ele faz o que eu já temia desde o início.
- AAAARGH! – Dou um grito de dor. – Seu... @$#%@#$%!
- ... Levarei isto como uma lembrancinha. – E ele olha para a minha perna recém arrancada como se fosse um troféu.
- Você irá pagar por isso, Maui! – Digo com dificuldade de conter a dor.
- Hmmm, talvez. Mas não hoje, ok? Já estou um pouco atrasado. – E ao finalizar a frase, ele dá o fora.
Fico ali parado por alguns instantes pensando. “Atrasado pra quê?”
Porém não precisei pensar muito mais. Eu já sabia.
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[Maui On – 2 anos depois]:
“Foi mais fácil do que roubar doce de criança”, penso enquanto saio de Lalotai. Mas no fim, confesso que até fiquei com um pouquinho de pena por ele ter pedido pra que eu parasse.
Bobagem!
Olho para mini-Maui que estava a me encarar, claramente dizendo “Cê tá doidão?”.
E ele tinha razão.
Tamatoa expôs minha pior tattoo aquela vez quando eu e Moana estávamos em seu covil. Fora as outras coisas que eu ele havia feito. Ele mais é que merecia essa surra.
Mas enfim, eu não iria me concentrar nessas lembranças. Eu estava atrasado, eu sabia. Ela iria querer me matar. Mas nada que uma pernoca de caranguejo e algumas flores do campo não a fizessem esquecer desse pequeno detalhe.
Ah! Que saudades daquela nanica...
Sou pego por mini-Maiu tendo esse tipo de pensamentos e fico envergonhado.
Imagina eu, Maui, Transmorfo, Semideus da água e do ar, Herói de todos, com saudades de uma mera mortal? Jamais! Mas era verdade.
Então dirijo-me a Motunui na forma de falcão, chegaria à noitinha. Espero que ela ainda esteja acordada.
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[Moana On – 2 anos depois]:
- TRÊS URRAS PARA A FILHA DO CHEFE! – Gritou um. E então todos em coro:
- HIP HIP URRA! HIP HIP URRA! HIP HIP URRA!
Depois só vi aquele montaréu de gente vindo pra cima de mim pra me dar um abraço. Quase morri sufocada no meu décimo oitavo aniversário.
Houve muita música, comida e dança. Mas, por mais que todo aquele clima fosse contagiante, eu não me sentia como eles.
Era como uma festa comum em que as pessoas se reuniam para festejar, comer e beber até não conseguirem ficar mais de pé. Por esse, e por outros motivos que eu realmente gostaria que meus aniversários fossem mais discretos. Apenas um jantar com a família e os amigos mais próximos, talvez.
Mesmo eu sabendo que Motunui é uma família.
E não era só isso. Havia também o fato de que aldeias de ilhas vizinhas também vinham prestigiar o evento. Era definitivamente um saco, já que mais que duplicava o número de pessoas. Todas elas querendo “conhecer a filha do chefe”.
Mas havia uma dentre elas que eu definitivamente detestava em especial. A ilha de Hamatui.
O pessoal de lá parecia ser muito ‘espontâneo’, por falta de uma palavra melhor que os definisse. Eles traziam bastante presentes, por mais que nenhum deles fossem direcionados a mim, e sim à aldeia no geral. Frutas, artefatos, tapeceria...
Mas o fato de eu detestá-los era outro e tinha nome: Akahata, o filho do chefe.
Jovenzinho de uns vinte e poucos anos, alto, bonito (não vou negar), sarado e insuportavelmente chato.
Sempre andando de narizinho empinado, se achando o supremo (só porque esse era o significado de seu nome). Não aceitava ser contestado e adorava dar ordens em seus subordinados, lembrando-os de que depois que seu pai morresse, seria ele quem comandaria tudo, então era melhor eles irem se acostumando desde agora.
E o que o seus pais ou as pessoas achavam disso? Absolutamente nada. Era como se ‘tolerassem’ por ele ser o filho do chefe.
Seu egocentrismo supera até o do Tamatoa, se duvidar.
Mas é claro que ele tinha outras características; um ótimo navegador, aprendera com o pai. Conhecedor dos antigos costumes, mulherengo...
Só os deuses sabem o quanto aquele cara é chato!
Volto meus pensamentos e meu olhar para as pessoas na festa. Dou um longo suspiro observando toda aquela gente se divertindo, e eu, para quem a festa foi feita, não aguentava mais ter que ficar ali.
E pensando bem...
Vou para o outro lado da ilha, perto da caverna onde os barcos outrora ficavam escondidos. O clima lá era totalmente diferente.
Paz, silêncio e o vento a soprar como uma leve brisa por entre meus longos cabelos. Perfeito!
Olho para o céu, contemplando a sua imensidão e a beleza de suas filhas brilhantes. Então meus olhos recaem sobre o horizonte, e lá, ainda no mesmíssimo lugar, repousava o anzol de Maui.
Dou outro longo e profundo suspiro, quando sou surpreendida por um sussurro atrás de mim:
- Só não sugue todo o oxigênio daqui, princesa.
- MAUI?! – Dou um grito quase não acreditando e corro para dar um abraço.
- Em carne e osso! – Ele me pega no ar. – Vim prestigiar a festinha, soube que tem bastante comida...
Ele me solta e dou um tapa em sua cara.
- Por que demorou tanto? – Eu quis saber. – Pensei que não viesse mais!
- Eu não deixaria de vir. Ainda mais se fosse pra trazer isto daqui – E ele tira de trás das costas uma enorme pata de caranguejo com uma coroa de flores silvestres.
Fico olhando para aquilo por alguns segundos, sem demonstrar qualquer reação. Eu não estava acreditando no que via.
- Você... não gostou? – Ele perguntou meio inseguro.
- Hã? Ah, claro! Claro que gostei. Gostei sim! É só que... – Me perco nas palavras.
- É só que...?
- É só que eu não esperava um presente desses. É a perna dele mesmo?
- HAAHAHAH! Pode apostar que sim! – Falou naquele jeitão dele. – E ele mais que mereceu por ter feito aquilo comigo. Quero dizer, com nós.
- Ah, entendi. Então você foi ter uma revanche?
- O quê?! Não! Eu só...
- Tá, tá, ok! Mas o que é que eu faço com isso?
- Olha, dizem que dá sorte. – E ele dá uma piscada com o olho.
- Você não tem jeito mesmo, Maui!
- Tomarei isso como um elogio. – E sorrimos um para o outro.
Mas nossos sorrisos logo se desfasem ao ouvirmos uma voz ao longe chamando por mim.
- Droga, é o meu pai. – Falo com um tom desanimado.
- E qual é o problema nisso?
- Acontece que eu não quero voltar lá onde as pessoas estão. – Abaixo meus olhos. – Mas acho que vou ter que ir. – Ergo meu olhar para ele. – Você vem comigo?
Ele parece pensar um pouco antes de responder, mas no fim concorda.
- Tudo bem, acho que posso ficar um pouquinho. Mas vai ter comida, né?
- Claro que sim, seu bobo!
Encontramos meu pai pelo caminho, ele tinha uma expressão preocupada, mas ao ver que eu estava bem e com Maui, tranquilizou-se.
Chegando lá, percebi que havia menos pessoas, e minha mãe me explicou que algumas aldeias já tinham ido embora, inclusive a de Akahata. Fico muito aliviada e até me sinto melhor depois de ouvir isso.
Vou para um lado ajudar minha mãe a guardar os presentes, e deixo Maui na festa, comendo, é claro.
Depois de um tempo, volto, mas não o encontro. Tento procurar e o vejo conversando com meu pai e alguns convidados. Fico o observando impressionada ao perceber que ele não mudara absolutamente nada desde a aventura de Te Fiti. Sempre o mesmo Maui. Tanto no jeito de ser como na forma física.
Já eu, pelo contrário. Não que eu tenha mudado muito, mas você com certeza perceberia. Cresci, meus pensamentos mudaram e tive cada vez mais responsabilidades. Esse era o preço a ser pago por ser quase a chefe de uma aldeia.
Subitamente ele olha para mim. Desvio o olhar, envergonhada. Não queria que pensasse que estava o observando. Falou mais algumas coisas cumprimentando todos, parece estar se despedindo, e logo depois vem em minha direção.
- Olha, a comida estava realmente uma delícia. Mas terei que partir agora, princesa.
- Eu sinto muito. - Finjo-me de afetada. - Mesmo sabendo que talvez tenha vindo mais pela comida do que pela data em si.
- Não me faça escolher. – Ele disse, arqueando uma das sobrancelhas.
- Adeus, Maui.
- Adeus, Moana. – E ele me puxa para um de seus abraços de urso.
Ficamos assim por um tempo, até que pega o seu anzol, e, antes de se transformar em um falcão, diz uma última coisa:
- Você até que ficou bonitinha com essa coroa de flores.
- Vai se danar! – Digo sorrindo.
E então ele alça voo.
Sabe-se lá quando eu o veria novamente.
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