1. Spirit Fanfics >
  2. Moe Uhane Aloha - Um Sonho De Amor >
  3. Capítulo 57 Nos braços do oceano. Parte 1

História Moe Uhane Aloha - Um Sonho De Amor - Capítulo 57 Nos braços do oceano. Parte 1


Escrita por: Minejas

Notas do Autor


Olá, eis mais um capítulo! Sua trilha sonora é Ellie Goulding - How Long Will I Love You, se quiser entrar no clima, dê play. <3

"Por quanto tempo vou te amar?
Enquanto as estrelas estiverem em cima de você
E por muito mais tempo, se eu puder"

Será?

Capítulo 101 - Capítulo 57 Nos braços do oceano. Parte 1


Fanfic / Fanfiction Moe Uhane Aloha - Um Sonho De Amor - Capítulo 57 Nos braços do oceano. Parte 1

 

“ A vida é a perda lenta de tudo o que amamos. ”

- Maurice Maeterlinck 



 Leva um oceano para não quebrar, leva um tempo para se acalmar. Estremeceu os meus ossos, até pânico define. Viver sem uma pessoa a quem eu tinha amado feito louca durante toda a vida.


 Era como se eu estivesse muito exausta. Com os movimentos lentos de quem se move debaixo d’água. Olhando através das pessoas como se elas não estivessem presentes.
 Os raios do sol atravessavam as janelas de caleidoscópios produzindo um espetáculo de cores no chão e no rosto das pessoas, deixando o salão abarrotado da igreja bem iluminado, quase alegre. Isso era ao mesmo tempo desorientador e bonito, da maneira mais triste possível.
 Havia gente de pé e algumas se aglomeraram do lado de fora, perto das porta principais. Julia tocava violão baixinho perto do altar. Ainda se ouvia o burburinho de pessoas chegando, mas no interior da igreja o silêncio era quebrado apenas pelo choro que tentavam sufocar. Ninguém parecia saber o que dizer, ninguém acreditava no fim da vida de alguém como o vovô.
 Não, vô, você não é feito de ferro.
 Meu pai tinha as mãos no fundo dos bolsos da calça, era difícil dizer onde seu olhos estavam focados. Ele não chorava, se mantinha inexpressivo, quieto, taciturno. Ao seu lado minha mãe se esforçava para se conter, mas as lágrimas nunca deixavam de descer pelo rosto. Eu estava ao lado deles no primeiro banco. Meus amigos estavam próximos, alguns bancos atrás. Daqui eu via o corpo inerte do meu avô no caixão. 
 Andei até lá.
 Tinha arranjos tropicais decorando o ambiente, estava tão claro, tão quente.  Ele vestia uma calça bege, sapatos marrom-escuros e camisa azul estampada de botões. Eu sorri, olhando para seu rosto que nunca mais me sorriria de volta, olhos que nunca mais mirariam nos meus... Sentindo a realidade me rasgar, porque eu nunca mais ouviria sua risada rouca, o Vô Antony foi embora.
 Como conceber que os braços que me acolheram jazem sem vida? E enquanto meus olhos o fitavam eu sentia que morria por dentro, podia sentir tudo ruir dentro de mim. Deixei que minhas lágrimas caíssem em no rosto dele, deixei que me abraçassem, mas não reconheci os braços que me seguravam.
 — Na verdade, nada morre. De cada morte não surge uma nova forma de vida? As folhas caídas no outono renascem na primavera. Deus dá e cancela vidas. — A voz adquiriu firmeza e expressividade. — Como o salmão, retorna para o lugar de sua origem, para o amanhecer do nascimento de seus espíritos. Quando o sol se levanta as sombras se tornam mais pronunciadas e definidas. Antony é agora parte de uma força maior, não devemos lamentar por ele, pois ele está acima disso tudo.
 Depois que ouvi as palavras do pastor me senti quase bêbada de gratidão. Foi como se ele tivesse penetrado em meu coração com precisão habilidosa e tomado pé da situação. Era um tipo de compreensão, um consolo. Pensei que ele fosse me salvar. Mas parou por aí.
     
Os olhos dele estavam sempre pousados sobre mim, em meio aquilo tudo eu não parei para pensar, que ele estava ali somente por mim.
 Olhei para Santiago e sai pela porta lateral, fui para o jardim. Sentei a mesa de madeira, passei as mãos pelo rosto, respirando fundo e entrecortado. Santiago passou por mim e sentou na cadeira a minha frente. Apenas nos olhamos e ficamos em silêncio.
 As pessoas começaram a se dispersar, todos iam para Angra dos Reis, ainda era manhã e nos reuniríamos ao pôr do sol para a dispersão de cinzas.
 — Isso tudo não te faz lembrar seu irmão? — Olhei para Santiago por detrás dos óculos escuros e de alguns cachos ruivos. Pensando no quanto devia ser tortuoso para ele estar ali no funeral, tendo perdido o irmão há tão pouco.
 — Faz sim, mas eu nunca vou esquecer. — Falou em português claro.  Olhando firme para mim, inspirou pesadamente.
 — Não vai ficar mais fácil, não é? Com o tempo. — Minha voz embargada tremulou, lágrimas quentes rolaram por meu rosto. Santiago travou o maxilar, seu ar altivo com a dor estava severo. Mas seu olhar dominador estava tão indefeso quanto eu.
 — As coisas mudam. Um dia essa dor será diferente, não vai mais te cegar. — Engoliu em seco, um vinco marcando-lhe a testa.
 — Você ainda está cego?
 Ele fez que sim em um gesto rígido. Eu não disse nada. Fiquei imaginando quando meu coração voltaria a respirar, a ver além da dor.
 — Acho que é a hora de irmos. — Santiago fez um gesto com a cabeça e se pôs de pé me oferecendo a mão.
                        
                       
Nós voltamos ao salão que estava vazio agora, bem a tempo de ver o caixão ser fechado e removido. Bruno também.
 Eu parei sob o arco da porta dupla, sentindo a mão quente de Santiago na minha, com os olhos inchados atidos nas costas de Peter. Ele falava com meus pais, balançava a cabeça de maneira amena. Vi sua testa estava um pouco franzida quando virou, usava terno preto e óculos escuros.
 Eu fiquei tonta. Tive a sensação de que ele tinha morrido também e estava de volta. Como se ao vê-lo ante ao caixão do Vô Antony a vida estivesse me tirando um e devolvendo outro.
 Eu senti esperanças.
 Peter abraçou minha mãe, depois o meu pai, e virou-se para mim. Ficou me olhando, com o ar mais triste que eu já vira em seu rosto. Um misto de sentimentos que na hora eu vi mas não fui capaz de interpretar.
 Continuei parada por um momento, entre Santiago e Peter. Então avancei, soltando a mão que me segurava e Peter e eu nos abraçamos. Delicadamente ele levantou meu rosto e me beijou na boca. Havia menos paixão do que a sensação dolorosa da perda, menos desejo que a dor compartilhada. E eu saboreei aquele beijo. Ele sempre seria isso para mim, a essência da vida, as soluções, o universo, onde o buraco negro e perdido se torna o infinito pleno e sempre, sempre, sempre absoluto. O que está sendo agora. Nessa fração de segundo. Quando nada mais importa. Por este momento.
 Enquanto de olhos fechados sinto toda a dor por tê-lo perdido. 
 Meu coração bate tão forte, e eu queria que pudéssemos concertar. 
 Mas ele vai embora. Bruno vai embora. Como o vovô. 
 Vai embora... Sussurrei tão baixo que eu mal pude ouvir.
 Quando abri os olhos estávamos sozinhos, Santiago não estava mais a porta. Nem meus pais estavam ali.  Segurei na mão de Peter, trêmula, apenas segurei a mão dele. Ele estar ali era o bastante. Não falamos uma palavra se quer. Percorremos o corredor no meio da igreja e saímos ao sol da manhã. 
 Algumas pessoas estavam em grupos, falando baixo ou apenas próximas umas das outras, fui abordada por algumas, recebi cumprimentos fúnebres enquanto caminhávamos até o carro. Minha mãe já estava lá dentro, meu pai se despediu de um amigo e entrou também.
 Eu parei ao lado da porta, Victor vinha para falar comigo.
 — Eu te amo — ele sussurrou, com olhos injetados, me puxou para ele e abraçou calorosamente.
 — Também amo você — sussurrei de volta.
 — Eu achei que Bruno devia estar com você nesse momento — Victor disse baixinho. — Eu sei que vocês andam tendo problemas, e eu não sei se fiz o certo... Mas... Caralho, sei lá. — Olhou para mim confuso.
 Eu assenti com a cabeça — tudo bem. Falei sem conseguir pensar naquilo ou ter certeza de como me sentir.
 Acima de seu ombro eu vi Julia se aproximar, acompanhada de Pedro, seu marido. Vi também Santiago subir na moto e dar a partida. Olhei para Bruno, não podia ver seus olhos por causa dos óculos. Mas tinha certeza de que há pouco eles estavam focados no mesmo ponto que os meus. Ele não disse nada. Apertou a mão de Victor e pousou a mão em minhas costas. Eu entrei no carro e segurei a mão da minha mãe, Bruno sentou a minha direita e segurou a minha. É pesado, o meu coração bate como chumbo.
                                                             
(Dê play!)

 A cerimônia foi breve e muito íntima. Bruno e Victor ficaram do lado de fora e apenas meus pais e eu entramos no crematório. Não houve mais discursos, nem palavras de consolo. 
 Apenas o adeus. 
 Demos as mãos sabendo que o corpo poderia ser convertido em cinzas, o Vô Antony não estava mais ali entre nós, mas sim em nós. Nos esforçávamos para pensar assim.
 A viagem de carro até Angra dos Reis, a cidade favorita de nossos finais de semana em família, foi em torno de três horas.  
 O céu lavanda corria acima de nossas cabeças, pela janela do carro. E em algum momento algo inexplicável aconteceu, minha alma foi tomada por uma letargia profunda e mesmo que ainda doesse eu parei de desmanchar por aquele momento. O entorpecimento estava intensificando, e eu me senti grata por isso.
 Com a cabeça deitada no peito de Bruno eu ouvi o barulho do motor da Harley Davidson de Santiago logo atrás durante o percurso, às vezes mais distante, às vezes perto.
 Céu de um azul aquarela, aguado e simples ganhou nuances rubi ao cair do crepúsculo frio. O sol florescente na cor fantástica de rosa afundando entre as pedras ao longe não esquentava mais, porém sua luminosidade fantasmagórica atravessava nossas almas.
 Suportando aquilo só com a força de nosso amor pisamos na areia branca da praia e caminhamos em direção ao mar. A praia estava cheia, todos estavam ali. Havia flores, tochas acesas e pranchas enterradas na areia, coloridos. Por mais que eu tentasse não conseguia ultrapassar o véu que enevoara minha mente e tudo era um borrão em câmera lenta. Meus pais e eu fomos rodeados pelos rapazes surfistas, isso foi uma total surpresa, eles entoaram um verso em homenagem ao Vô Antony e em sequência pegaram suas pranchas e entraram no mar, um após o outro, dezenas de pessoas, houve gritos e aplausos. Não importa o quanto eu desejasse viver esse momento, e guardá-lo como um ultimo ritual, tudo era som de fundo distante, uma dança vertiginosa da qual eu queria emergir desesperadamente. Mas todos entraram na água, e eu também, as ondas quebraram em nós, e do alto de uma rocha as cinzas do vovô voaram para o infinito. 
 Ele queria fazer parte do brilho que reflete o sol. Para que algum dia alguém encontrasse o abrigo que ele encontrou e aprendesse a olhar além. O Vô Antony se tornou parte do que sempre foi tudo para ele.
 — Temos que seguir em frente — horas mais tarde, perdido em seus sentimentos, papai olhou para mim e suspirou, buscando força, querendo dar a que tinha a mim.
 Bom, sabíamos que aquela era uma dor que não passaria. Para que tentar? Eu assenti, segurei na mão dele por um instante e saí. Abracei a minha mãe antes de ir, e não havia como diminuir a dor.
 A volta para casa foi mais impossível do que a ida. Era inconcebível de onde eu estava vindo, o vazio, o eco da partida do vovô reverberava ali na casa de meus pais.
 Bruno voltara conosco da mesma maneira, ao meu lado no carro. Agora me esperava no corredor, e o medo se abriu em meu peito como uma flor lunar, e suas pétalas são grandes tentáculos agarrando meu coração. 
 A cada passo que eu dava partes de mim quebraram e ruíram, ficando para trás. Tudo o que eu era, o meu sol, a fé com a qual eu vivia, a potência da minha voz, se fora. O entorpecimento deu lugar a realidade e a dor arrebentou em meu peito.
 Leva um oceano para não quebrar, leva um tempo para se acalmar. Estremeceu os meus ossos, até pânico define. Viver sem uma pessoa a quem eu tinha amado feito louca durante toda a vida.


Continua...
:'(
Comentem... Comentem...
Beijos...
 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...