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História Moe Uhane Aloha - Um Sonho De Amor - Parte 3. Final. - 1


Escrita por: Minejas

Notas do Autor


Aloha, meninas! Que saudade!! Desculpem a longa espera e muito obrigada pela mesma!
Vamos lá! Saber o desfecho dessa história. Como e se nossa querida Jas vai sair desse oceano obscuro de águas densas. O que será dos romances.
Esses foram os momentos seguintes a perda do Vô Antony, término com Bruno e partida de Santiago. Jasmin está muito ferida, como ela diz nos capítulos anteriores, está destruída, morta, sem fé. Não consegue absorver, tudo ainda gira em sua mente bloqueada, confunde suas emoções, uma mistura desastrosa de acontecimentos e sentimentos. O tempo passando obtuso. Entorpecida.
No próximo teremos uma surpresa agradável, no entanto, que deixará nossa ruiva um pouco melhor.
Deixe seu comentários, grande beijo!

Capítulo 104 - Parte 3. Final. - 1


Fanfic / Fanfiction Moe Uhane Aloha - Um Sonho De Amor - Parte 3. Final. - 1


 E eu me calei, recolhi-me em silêncio. Quando se está em uma tormenta, e sua mente oscila no mar de sentimentos pesarosos e doloridos, não adianta lutar contra isso, tentar se levantar quando ainda está tonto. Tempos difíceis não passam assim.  

Vô Antony morrera. Peter e eu não nos acertamos, e também não fiquei com Santiago. Uma sucessão de foiçadas que fraturou ossos e borrifou chuva de sangue. A única coisa que consegui fazer foi recuar. E de alguma maneira tinha que conseguir também sobreviver, e quem sabe lá na frente inalar o ar da superfície. Na tempestade o raio caiu na Torre Alfa, uma explosão crepitante e fragmentou-se o sistema. Meu interior desligou em um paf, apagou-se a luz, fez-se silêncio.  
 De algum jeito eu tinha que seguir com a minha vida. Mas qual é o sentido de continuar caminhando sem direção, sem chão, ou se não tem nada lá na frente para alcançar? Como não sabia o que fazer, continuei lecionando e clinicando.  Os meses seguintes passaram num borrão. Em uma bolha de torpor. De certa maneira, a rotina prática que adotei me ajuda, como uma terapia. No modo automático, submersa em uma melancolia agridoce. Eu sabia o que esperar do dia, não havia surpresas, nenhum susto. A monotonia irrigava minha vida de paz, isso era tudo que eu queria. 
 É difícil dizer se minha vida mudou muito. A maioria das coisas continuavam as mesmas. Eu ainda tinha meu trabalho, as contas continuaram a chegar, os dias alvoreciam e se punham em seu copioso ciclo. Não parecia que meu avô tinha morrido, parecia que ele tinha saído em uma de suas viagens e logo estaria de volta. E eu também não achava que tivesse muita diferença, quando Peter foi embora, ele já tinha ido embora tantas vezes. 
 Eu sabia que um dia a dor viria, mas esperava aproveitar enquanto ainda não sentia a nova realidade.  Minha mente ainda não era capaz de absorver, então deixe assim. 
Ainda almoçava com meus pais, às vezes, ou amigos, no intervalo do trabalho, mas ao sair da universidade voltava direto para casa e ficava até tarde na biblioteca com meus estudos e tarefas. Havia uma necessidade profunda de quietude e acolhimento, e cada vez mais eu sumi de vista. Ficava muito em casa, não procurava ninguém ou facilitava que chegassem a mim, mas eu não me dava conta disso.  
Certo dia eu fui à casa de meus pais, o apartamento estava silencioso quando entrei, janelas e portas fechadas. Papai me ligara pela manhã dizendo que terminaria o mosaico esta noite, e pediu que eu fosse até lá para ver como ficou.   
Percorri o corredor devagar, talvez com medo, esgueirei-me na porta e espiei a sala-estúdio. Não era algo declarado, e sim uma dor reprimida, de lembranças sufocadas e impedidas. De alguma maneira consegui bloquear as imagens em minha mente, e apenas fiquei observando meu pai limpar os rejuntes entre os azulejos e pedras. Mamãe estava ali observando também, ela levantou o rosto e sorriu docemente para mim. Fui até ela e acariciei seus cabelos.  
— Está muito lindo... — Eu disse, e percebi o tom que minha voz adotara. Baixo e abafado. Mas eles ouviram. Assentiram em silêncio. 
Papai continuou esfregando a esponja pelo mosaico, percebi que ele ia falar alguma coisa, mas não o fez. Logo nós três estávamos limpando, em silêncio, a sala, os materiais, e depois ficamos contemplando a paisagem primaveril. Era aconchegante e singela, alegre de maneira tranquila e quente. Ficamos felizes que por mais que o Vô não o tivesse terminado, chegara bem perto disso. Ou talvez tivesse deixado para nós, algo para fazermos juntos, como se mesmo com sua partida aquele momento não tivesse acabado. Um prolongamento daqueles últimos dias.  
Três dias depois o mosaico foi exibido na praia de Copacabana, juntamente com a pintura da vó Dulce. Turistas e moradores fotografaram, e até passou na TV, pois o tamanho daquilo era estonteante, as cores e a imagem, eram encantadoras, e a complexidade das peças eram incríveis. O vovô e o papai sabem causar. E eu... eu desejei que eles tivessem visto aquilo, eles que foram embora. E depois fez-se silêncio novamente, eu não dei espaço a tais pensamentos. 

Segundo Kübler-Ross há cinco estágios de luto, cinco fases pelos quais as pessoas passam numa situação de perda pessoal catastrófica. Revejo-os todos os dias agora, e reflito mas parece estúpido ficar rotulando algo tão terrível, como se fosse fácil. Cito-os a seguir. 
 Negação; a dor é tão grande que não pode ser possível. A psique bloqueia a realidade e o isolamento pode persistir por muito tempo. Raiva; aliada à negação, a pessoa sente raiva, recusa-se aceitar, há questionamento do porquê e qualquer palavra de consolo parece-nos falsa. Negociação; barganha com Deus. Depressão; quando o indivíduo toma consciência que a perda é inevitável e incontornável. Não há como escapar do espaço vazio que deixou aquela pessoa, toma consciência de que nunca mais verá aquela pessoa e com o desaparecimento dela vão todos os planos, sonhos, e todas as lembranças associadas à ela ganham um novo valor. Aceitação; quando aceita-se a perda com paz e serenidade, sem desespero e negação. O espaço vazio deixado pela perda é preenchido. E depende muito da capacidade da pessoa de mudar a perspectiva de preencher o vazio. Porém estes estágios não necessariamente ocorrem nessa ordem ou todos as pessoas os experimentam. Mas Ross afirma que pelo menos dois deles.  Nos meus quatro anos como psicóloga vi muitos casos. Há pessoas que viram compulsivas.  
Lembro de um paciente em luto, em estado de entorpecimento, uma alma visivelmente esvaecida pela tristeza. Um dia ele chegou ao consultório dizendo que tinha surtado. Em uma fila de banco, explodiu. Distribuiu bolsadas, e disparou berros desatinados. Teve que ser retirado do local por seguranças e ainda teve uma espécie de convulsão nervosa, de alguma maneira o cara magrinho conseguiu se desvencilhar dos seguranças fortões e foi embora. Depois disso ele parecia mais forte, deixou de ser controlado pela dor. 
Eu nunca cheguei a esse ponto, não sabia se chegaria. Eu sabia dos conceitos psicológicos para situações como aquela, mas não tinha certeza se conseguiria evitar. Meu pai terminou o mosaico e o expôs para as pessoas, minha mãe se elevou em espiritualidade e calma. E eu me calei, recolhi-me em silêncio. Foi o que fizemos.  Quando se está em uma tormenta, e sua mente oscila no mar de sentimentos pesarosos e doloridos não adianta lutar contra isso, tentar se levantar quando ainda está tonto. Tempos difíceis não passam assim.  


 Nos meados de dezembro os primeiros dias de verão eram de 40 graus e sensação de cinquenta. Eu só me dei conta de que passara pouco mais de um mês porque as ruas estavam decoradas no espírito natalino. Ao mesmo tempo tinha a sensação de que fora ontem, recente demais, e que fazia muito tempo, distante demais. Porém em algum momento essa confusão de tempo havia começado a mudar. A mudança chegou sem aviso, mas eu logo a notei.  
 Daqui a duas semanas ocorreria o campeonato de surfe, meus pais e eu não precisamos discutir. Nós seguiríamos os mesmos planos que fizemos com o vovô. Competiríamos. Há uns dias fomos à praia à noite, caminhamos os três pela orla pela primeira vez desde a morte do Vô Antony. Conversamos cheios de tristeza, mas tentando. Entre nós, a falta dele nos encara co seus olhos sobressaltados e horrorosos, um vácuo, ferida sangrenta e latejante, um rombo negro, nos afrontando com seu vazio.  Falamos sobre as notícias do campeonato, muitos surfistas de outros países já estavam chegando, e era possível encontra-los pela praia a qualquer hora. Eu estava totalmente por fora, e durante toda a conversa tive que me esforçar muito para prestar a tenção. No entanto desde essa noite minha percepção de tempo voltou. 
 Quatro dias antes do Natal. Saí da clínica após mais um dia de trabalho muito dedicado, e notei a outra mudança; em vez de ir direto para casa peguei um desvio. Fui à praia. Se o vento ainda estivesse forte ia ser bom subir nas pedras e ver o mar. Como sempre, eu estava incapaz de pensar. Fiquei olhando o horizonte até ele quase sumir de vista ao prenúncio da noite. No horário de verão esta chega uma hora mais tarde, então levantei, caminhei até o carro e fui para a universidade pois já eram 19hrs mesmo ainda faltando um pouco do crepúsculo para sugar.
 Cheguei em casa por volta das 22hrs, e na biblioteca corrigi parte dos trabalhos dos alunos. Meu trabalho era a única coisa que eu fazia, estava absolutamente compenetrada. Demorei a adormecer e na manhã seguinte acordei de sobressalto, ás seis e meia.  A janela estava aberta por causa do calor, eu sempre preferi o ar da noite ao ar condicionado, assim posso ouvir o mar. Uma claridade pêssego atravessava a cortina imóvel pela falta de brisa. Levei um tempo para lembrar que era sábado, desmanchei na cama e fitei o teto até adormecer novamente. Quando acordei de novo era tarde, conferi 11h46 no rádio relógio.  
 Levantei tonta, com os movimentos pesados e fui ao banheiro. Tomei um banho rápido e vesti shorts jeans e camiseta branca. Com os cabelos embaraçados e gotejantes sentei a mesa da cozinha. D. Maria terminou o almoço e me serviu, comi duas vezes, faminta. Talvez eu não estivesse comendo muito, não lembrava de ter jantado ou comido qualquer outra coisa antes. 
 Zapeei a TV e joguei controle por cima do ombro. Fui para a varanda, sentei ao sol, apreciando a sensação do calor queimando minha pele e secando meu cabelo. Pensei em minha capacidade de sentir e temi o que aconteceria quando finalmente acontecesse. Observei a praia cheia lá embaixo, o verão carioca estava a todo o vapor. Levantei e fui ao quarto, voltei com o celular e uma pequena caixa de veludo vermelho – a mesma que Santiago me deu com bombons. Pus a caixa sobre a mesa e estendi as pernas sobre ela. Conferi as mensagens no celular,  que eu manuseava muito raramente agora.  Amanda, Julia me chamando para barzinho, quem sabe uma volta pela cidade? 
 Hm, não. Desculpe, amiga. Não quero sair. Preciso descansar. Eram as minhas respostas para todas as tentativas. Para todos eles. Eu não conseguia evitar, não sentia ânimo algum para sair, até mesmo para conversa. Gostaria de poder ser mais fácil de lidar e permitir que meus amigos me ajudassem mas a dor que e u sentia ainda me afastava do mundo. Um imenso vazio em meu peito que nada podia suprir. E nenhum deles poderiam entender o que eu sentia, e todos eles de alguma forma conseguiram superar, mas eu não queria. Eu não queria esquecer, eu não queria aceitar, eu não queria deixar o vovô para trás. 
 Sua imagem toma minha visão de assalto e instantaneamente lágrimas brotam em meus olhos, olho ao redor e vejo o quanto é real, que ele não está mais aqui e isso engole meu coração. Todas as vezes que lembro de sua voz sinto vontade de gritar, e trazê-lo de volta, é impossível alcança-lo.  
 Suspirei cansada e larguei o celular na mesa sem responder as mensagens. Peguei a caixa de veludo e abri a tampa. Dentro dela tinha uma trouxa de maconha, algumas folhas para enrolar fumo, um isqueiro e um baseado pronto.  Acendi e morri por algumas horas. 
 Mais tarde, ainda chapada, entrei para casa. A noite caía lá fora, ouvia-se música ao longe. Na cozinha enchi um copo d’água, fui para o quarto e morri outra vez. 
 Pela manhã de domingo, no entanto, deparei-me com um pelotão armado na minha sala de estar. Na verdade já era passado das onze mas eu acabara de acordar, e estavam todos sentados no meu sofá e conversando na minha varanda. 
 — Olha quem acordou! — Julia exclamou assim que me viu. Eu parei no tapete felpudo, o puxando com os dedos de meus pés descalços.  
 Pigarreei — oi, nossa... Olhei pela sala e acho que estiquei um pouco os lábios, de maneira um tanto deformada. Michael, Victor, Amanda e Julia, todos olhando para mim com um ar difícil de descrever. 
 — Já que você não sai de casa nós viemos aqui! — Disse Amanda com um sorriso, abrindo os braços. Havia uma pontinha de reprimenda em sua voz, eu meneei a cabeça. 
 — É — Mike exclamou mais explicito em seu aborrecimento. 
 — Hmm — murmurei. Sentia-me constrangida e desconfortável. Fui até o sofá e sentei ao lado de Victor, ele me beijou na bochecha e Mike passou os dedos por meus cachos e beijou o outro lado do rosto. 
 — Trouxemos uns filmes — Julia falou. 
 — E lasanha! — Mike exclamou sorrindo. 
 E silêncio. Ficamos olhando um para a cara do outro. 
 — Como você está? — Victor perguntou baixinho. 
 — Bem. — Subitamente minha voz estava embargada e isso me surpreendeu. — Estou... sabe? 
 Michael me envolveu o ombro e encostou a cabeça na minha. E eu quis me sentir tranquila mas o que sentia por dentro era penas incômodo. E parecia que nada o pudesse dissolver. Senti-me profundamente grata, entretanto, pelos amigos que tenho. Olhei no rosto de cada um com amor, à beira do choro.  
 — Vou pegar as coisas pra pentear o cabelo — falei após pigarrear.  
 Fui para o quarto, pigarreei um sem fim de vezes e voltei para a sala com escova e creme nas mãos. Amanda e Michael se reversaram na escovação dos meus cabelos e fizeram tranças. Julia voltou da cozinha com a lasanha quente e refrigerante, nós assistimos a um clássico de terror e em sequência um lançamento. Comentamos sobre os filmes, os personagens e houve conversas paralelas sobre acontecimentos do dia a dia. Eu não falei muito, o que não era incomum agora. Apenas uma parte superficial de mim estava ali, o restante estava perdido em algum lugar. Eu queria a mim de volta, e meus amigos não conseguiam me alcançar.  




 



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