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História Moe Uhane Aloha - Um Sonho De Amor - Cap. 26 - Os pés oscilam na linha


Escrita por: Minejas

Notas do Autor


*-* Boa leitura, e ao final, comentem. ;) Mahalo por lerem. <3

Capítulo 70 - Cap. 26 - Os pés oscilam na linha


Fanfic / Fanfiction Moe Uhane Aloha - Um Sonho De Amor - Cap. 26 - Os pés oscilam na linha

Capítulo – 69 Os pés oscilam na linha

Los Angeles, 23h05 pm.

๗BRUNO

 Ela estava estranha, a luz que emanava dela parecia ofuscada. Ela já não sorria, e quando digo isso não me refiro a distorcer os lábios em uma careta, falo sobre ser feliz. Jasmin sofria e isso me destruía.

         §
—Alo?
—Oi amor, sou eu. – Passei a mão no cabelo molhado e olhei pela janela do quarto, lá embaixo a rua estava tranquila.
—Bruno, oi! Estou chegando em casa agora.
—Como você está, como foi seu dia?
—Ah, eu estou morta de cansaço, foi um dia muito quente e ai?
—Aqui também foi um dia quente, acabei de tomar banho. Onde trabalhou hoje? Como andam os preparativos para o seminário? – Ultimamente estamos muito ocupados.
—Acabou de tomar banho é? Oh, Céus! – Sussurrou maliciosa, eu dei uma risada. Ela continuou. – Estou vindo da Clínica, estamos expandindo, eu preciso conversar isso com você. Depois que vendi o quiosque cogitei fazer outras mudanças...
Sim, Jasmin comentara comigo que pensara em vender o consultório, ou passar o ponto, eu me lembrava. Depois ela não tocou mais no assunto, e eu fui envolvido na maré de compromissos e trabalho. Eu precisava conversar muito com Jasmin, ouvir seus planos, compartilhar os meus, porém eu precisava mais ouvir o que ela tinha a contar. Abri a geladeira, servi um copo de suco de pêssego e prendi o telefone entre o ombro e a orelha para montar um sanduíche.
—Podemos conversar agora.
—É que... Você espera eu tomar um banho? Preciso mesmo!
Meus olhos se moveram com uma centelha de malicia. – Tá tirando a roupa agora?
—É já estou até sem roupa. – Deu risada.
—Oh, meu Deus... Tá bom. Não demore muito.
—Hm... Não vou demorar, estou morrendo de saudade, eu já volto. Beijo.
—Beijo. – Jasmin desligou e continuei com o telefone na orelha porque minha mão estava suja de mostarda.
 Sentei a mesa e comi, deixando que meus pensamentos se afogassem nas lembranças. Sorri com nostalgia visualizando Jasmin no quintal da casa da minha mãe. Um dia eu a levaria lá de novo, meus sobrinhos me perguntavam dela praticamente todas as vezes em que nos encontrávamos, minhas irmãs pediam que eu a trouxesse para Los Angeles. Eu tinha uma foto daquele dia, do luau lá em casa, estava ali na estante. Refleti chegando a percepção de que nós dois já tínhamos vivido muitas coisas, muitos momentos intensos que pareciam ter acontecido há muito tempo. A essa altura já tínhamos um relacionamento mais maduro, o que me fazia sentir reservado contentamento. 
 Fui para a sala e deitei no sofá ligando a TV, passava um Faroeste, fiquei assistindo. Segunda-feira. Amanhã eu tinha compromisso com o programa de rádio Barry Sleier às 11h00, depois iria para o estúdio continuar a produção. Não tinha um dia que eu não fizesse nada, quando eu não estava no estúdio com os rapazes estava em algum evento, festa, lançamento, apresentação, ou era uma sessão de fotos, ensaio, entrevistas ou programas de TV e rádio. Sempre tinha alguma coisa para fazer, algum lugar para ir.
Jasmin retornou a ligação.
—Pronto, agora deixa eu te contar em que estou pensando. – Pelo tom, Jasmin parecia se aconchegar na cama.
—Ainda quer vender o escritório?
—Sim. E mais. Na verdade eu quero contratar alguém pra assumir meu lugar no consultório, será como uma filial e o lucro dividido em 50%. Eu pensei e acho essa a melhor opção. Agora, em relação a expansão da Clínica, eu quero uma ampliação de espaço. Mais salas de atendimento, mais um dormitório e um jardim maior também. – Fez uma pausa. – Já te expliquei como funciona lá?
—Sim, um pouco. Não é um asilo pra permanência, mas os pacientes ficam por um tempo em reclusão pra tratamento. – Recordei.
—Isso, é... E o espaço é muito bom. Não tem as paredes todas brancas nem corredores cubículos como hospitais, hospício nem coisa do tipo.
Dei uma risadinha pelo jeito dela falar.
—Conhecendo você, eu já sei disso.
—Quando você vier aqui eu te levo lá. – Prometeu. – É um prédio amplo e panorâmico, tem jardins e cores, quadros e coisas bonitas. Uma arquitetura e decoração projetada para insimular a apreciação. Eu quero ampliar isso, ter capacidade para mais pacientes, contratar mais alguns enfermeiros e psicólogos.
—De quanto é o seu pessoal?
—Nove ao todo, ah e dois faxineiros. Tenho uma psicóloga e quatro enfermeiras assistentes, não são como as de hospital, elas acompanham e auxiliam os pacientes nas atividades, são responsáveis pela observação. — Depois de expor a ideia que lhe animava, Jasmin fez um breve silêncio pensativo. – Vai ser bom sabe? É o meu foco principal, já está na hora de investir mais.
—Entendo. E eu acho que é isso que você tem que fazer. – Concordei avaliando seus planos. — O consultório foi o primeiro passo, você abriu a Clínica e não se pode comparar. Vai ser um grande investimento! E quanto a sua função na empresa do seu pai?
—Ah, ele não tem me dado muito trabalho mais não. Ainda mais agora que estou estudando tanto pro seminário.
—Tá sempre estudando... – Sorri ao recordar de seu santuário de livros. – Parece que está mais leve pra você agora.
—Sim. Estou me dedicando mais a isso, a palestra, a Clínica... Não dá pra eu me dedicar 100% a tudo, posso ter muito trabalho na psicologia, mas é só ela que me consome e não um monte de coisas me puxando cada uma pra um lado.
—Quando é a palestra?
—Semana que vem.
—Tá nervosa?
—Hum... Ainda não. Na verdade não consigo visualizar como vai ser.
—Gostaria de poder ir, me desculpe.
—Fico triste por isso, mas não o culpo.
—Seus pais vão não é? Alguém tem que aplaudir você por mim, e eu vou estar torcendo por você meu amor.
Ouvi ela sorrir. – Eu sei.
Tive uma súbita ideia. Mas disse algo nada a ver parar chegar onde eu queria. – Você ensaia na frente do espelho e essas coisas?
Jasmin riu. — É, pensando bem, sem perceber eu faço isso.
 —Legal! Ás vezes também faço isso.
—Maluco.
—Você pode ensaiar comigo.
—Tá, mas e se você não entender?
—Preciso entender? Eu não contava com isso, pensei que só precisava ouvir.
Jas riu de novo, baixinho. — E você?
—Eu? Não tenho nenhuma novidade, só muito trabalho. Hoje só quero te ouvir...
—Bruno... – Hesitou.
—Hm?
—Não. Nada...
O nada era o beijo que daríamos se estivéssemos juntos.
—Eu sei que ultimamente eu tenho estado muito ocupado, mas um segundo não passa sem que você passe pela minha cabeça. Faz tanto tempo que não temos tempo, vamos tirar um dia de folga e fazer tudo certo.

§
 Um homem saiu da loja a passos largos, subiu na bicicleta criando um efeito visual interessante. A bike brilhava refletindo as luzes dos postes e seus sapatos lustrosos combinavam com o terno. Ele equilibrou o ramalhete de rosas vermelhas na cestinha azul-claro e saiu pedalando pela calçada desviando de hidrantes.
 Senti um sorriso delicado brotar em meus lábios e entrei na floricultura.

—Bruno! – Em casa. Phil apareceu na janela da sala. — Vai sair que horas?
—Daqui a pouco... – Murmurei concentrado no laço de fita.
—Tá, me chama!
—Aham... – Quando olhei a cabeça de Phil não estava mais ali. Vi Ever e Ryan atravessarem o gramado, os ouvi abrir a porta e entrarem.
 Coloquei a caixa de presente entre as almofadas e sentei pegando o Marlboro na mesinha.
—Eu já disse a ela! – Ever sussurrou energética. – Mas vai enfiar isso nos ouvidos dela até chegar ao cérebro! – Ouvi seus passos em direção a cozinha, liguei a TV e comecei a zapear os canais.
 —Isso tá me irritando... Na boa. O pior é que Erin fica enchendo agente. – Ryan se manifestou. Identifiquei o ruído de compras sendo tiradas da sacola e armários sendo abertos e fechados.
—É eu sei. Também acho nada a ver essa implicância, é quase uma obsessão. Ela nem a conhece.
 Fiquei intrigado com o diálogo sussurrado, eles falavam de uma de nossas colegas de equipe, Erin era quem cuidava das redes sociais e alguns aspectos de publicidade para mim. Eu podia perguntar a eles do que se tratava, mas se os dois quisessem explanar não estariam sussurrando.
Esgueirei-me no batente da porta.
—O que ela fez hoje, é verdade? – Ryan indagou divertido.
—O que?
—O lance de bisbilhotar.
—Ah, é.
—Cara...
—Deixa pra lá Ryan... Você acha que isso vai dar em alguma coisa? Eu acho que não. E uma hora Bruno vai acabar percebendo...
—Oi. – Dei as caras, as mãos nos bolsos, a expressão despreocupada. Se eles não queriam que ninguém ouvisse eu não ia me intrometer, apesar de citarem meu nome meus pensamentos estavam voltados para outra coisa.  — Compraram iogurte?
—Ahan, ta aí. – Ryan ergueu o queixo para a geladeira, ele comia um sanduíche.
Abri a geladeira e servi um copo cheio de iogurte de morango, eles enchiam a boca com sanduíches, deixando o assunto morrer.
—Tá indo buscar Jasmin agora? – Ever engrolou a voz mastigando.
—Vou. – Conferi a hora no pulso, ansioso. — Tá na hora.
—Me dá uma carona. Só vou fazer xixi, é rapidinho. – E saiu correndo a passos curtinhos e ligeiros, o copo de leite dela intocado sobre o balcão.
—Maneiro. – Ryan balançou a cabeça positivamente. – Queria ver a ruiva, faz um tempão... – Examinando o ultimo pedaço do sanduíche.
—Cai fora antes de eu chegar com ela. – Sorri, sentando a sua frente.
—Tá, tá beleza seu tarado... – Deu uma risada. — Quanto tempo ela vai ficar?
—Vai embora amanhã à noite.
Ryan virou o copo de suco e ficou pensativo. —Que foi? — Perguntei.
—Cara, tu gosta dela. – Franziu a testa.
Concordei com um gesto.
—Como é que vocês conseguem fazer isso?
—Fazer o que?
—Esse lance de cada um em um continente. Quando eu namorava com Cindy só queria ficar com ela, precisava ficar junto, conviver...
—Eu sei, também me sinto assim...
—E então?
—E então o que?
—Por que não dá um jeito nisso?
Refleti por um instante. — To entendendo o que quer dizer. É complicado cara... Não posso agir sem pensar, nem cedo demais.
—Po, mais complicado é esse vai e vem... – Deu de ombros. – Tu não acha que uma hora vai cansar? Os dois...
—Eu me envolvi sabendo de tudo isso... – Sorri.
—Você que sabe brother, só to te dando um toque. – Levantou e deu um tapinha no meu ombro.
—Tá beleza. — Ergui o copo de iogurte.
Ever voltou. — Vamos lá.
Levantei pegando as chaves no bolso. — Vamos Vy, - sorri.
—Tchau Ryan. – Ever deu um beijo nele.
—Valeu cara. – Ryan deu um soco na minha costela. — Manda lembranças a ruiva.
Eu assenti. —Valeu. E cai fora daqui antes de eu chegar! – Falei por sobre o ombro.
 Phil me acompanhou até o aeroporto, ele foi em direção ao pavilhão de desembarque de Nova York para a Claire e eu de encontro a Jasmin.

§






๗JASMIN
 Na atmosfera dele.
 Eu pousei lá e corri para sua porta, fomos sonâmbulos em Hollywood, perdidos na cidade dos anjos. Lá no conforto dos estranhos me encontrei nos alpes queimados, na terra de um bilhão de luzes. Times Saquare e Central Park, por cima dos alpes de esperança e sonhos arranha céu mais uma vez dizemos até breve.


 Rio de Janeiro, cinco dias após o casamento de Júlia.

 Fechei as mãos cerrando os punhos, meu peito doeu, não senti a pele de Peter na minha. Antes imaginar e recordar ele ao meu lado amenizava a falta... Abri a porta do apartamento e acendi o interruptor, Julia me esperava e um jantar em sua nova casa com familiares e amigos íntimos para ver as fotos do casamento e da breve lua-de-mel, mas eu não ia. No quarto desfiz rapidamente a mala e fui tomar banho.
 Passou muito rápido, mas Peter fez aquilo de novo. Ele me fez feliz enquanto estive com ele, ao olhar em meus olhos e beijar minha boca, ao correr comigo no Central Park e dirigir feito louco pela Times Square. Ele me abraçou tanto, me beijou tanto e me amou tanto! Era triste ter que deixar isso, eu precisava tanto dele! Ter que me afastar, toda vez meu coração se quebrava um pouco mais.
 Esta noite eu queria ficar em casa, no meu quarto vendo as fotos que tiramos, e também todas as outras fotos que tínhamos juntos. Eu queria abraçar o urso banda imenso que ele me dera no Natal e admirar o imenso quadro com nossa foto no Hawai’i. Deitar na cama e segurar a sensação recente de seu abraço.
 Após o banho fui a cozinha para comer alguma coisa, não tinha apetite, mas meu corpo precisava de açúcar e proteínas. Enquanto esperava a comida esquentar o interfone tocou, Guilherme perguntou se poderia mandar pelo elevador um envelope destinado a mim, autorizei. Fui até o corredor esperar o elevador subir, era um envelope pardo com um maço de fotografias do casamento de Julia. Tão atenciosa! Na manhã seguinte eu ligaria para ela.
 Voltei à cozinha e recostada na pia comecei a examinar as fotografias, uma com os noivos na mesa do bolo e as demais comigo em foco. Desconfiada revistei o envelope, não tinha nada escrito no exterior, mas dentro dele achei um bilhete.


 Sabia que não viria ao jantar então achei que gostaria que as fotos fossem até você, ai estão os momentos mais marcantes do casamento, é um presente meu.

Ps. Por favor, não suma assim outra vez sem avisar, senti sua falta. 
Sonhe comigo cariño.

Salazar


 Reli o bilhete manuscrito algumas vezes, a respiração ficando pesada, um monstro crescendo em meu peito, um vulcão entrando em erupção. Soltei um grito rouco com todo o folego de que dispunha dando início a uma série de urros enfurecidos e socos no armário de louças. Eu liberei um pouco do que há muito tempo vinha suportando, lidando com tudo isso sozinha, sem desabafar com ninguém, sozinha, tentando entender, sozinha. Gritei de raiva, acostumada a me conter, peguei uma panela e bati repetidas vezes contra a parede, o cabo se partiu e eu gritei vendo o sangue escorrer da minha mão.  Senti minha garganta arranhar e disferi socos e tapas nos armários, na parede, perdendo completamente o controle, surtando desequilibrada, farta. Quanto mais eu praguejava mais sentia vontade de gritar mais alto, lágrimas quentes e profundas começaram a correr por meu gosto, e ainda assim tudo que eu sentia era fúria.
 Parei, ofegante recobrando a visão, olhei em volta vendo a destruição e sujeira que causei. Sai apagando o fogão, fui para a sala e sentei no sofá. Meu cérebro latejava, chorei cansada, permitindo que meu coração explodisse.
 Drene o sangue das minhas veias.

§
 No dia seguinte.

 Depois de sair da Clínica passei no correio e fui à praia, lá encontrei com Anny, a hippie, e nós duas caminhamos da praia de Copacabana até Ipanema. Passamos horas a fio juntas de frente ao mar, ela me ajudava a esquecer de tudo. Fizemos algumas pulseiras tendo conversas serenas, nós não falamos de nada pessoal. Afora Anny eu não falei com ninguém, evitei entrar em redes sociais, não respondi mensagens ou ligações que não fossem profissionais.
 Eu precisava refletir, no entanto não pensei em muita coisa.
 Voltei para casa caminhando com Anny, ela era uma boa companhia, nós entramos em um bar bebemos algumas doses de martíni mais tarde nos separamos na esquina.
 Pela manhã eu fui a cafeteria do quarteirão, aquela que abria às 5hrs da manhã. Santiago estava sentado a uma mesa nos fundos, trajando camisa de botões azul-marinho dobrada até os cotovelos, calça jeans preta e óculos escuros.
—Recebi o envelope. – Sentei a sua frente, segurando minha xícara de café.
—Bom dia. – Santiago sorriu suavemente. – O que achou? Foi uma pena você não ter ido ontem, foi uma recepção muito agradável.
—Você foi?
—Claro que sim, fui o fotografo. – Sorriu. – Gostou das fotos?
—São muito boas. — Afirmei sincera.
—Você também fotografa muito bem, ou não foi você que capturou aquelas imagens do mural na parede?
—Que mural? – Minha voz estava carregada, eu ainda não estava desperta, eram 6hrs.
—O do seu quarto. – Apoiou os cotovelos sobre a mesa e sorveu o café.
—Como é? Do meu quarto! – Baixei o tom, olhando ao redor e sussurrei aborrecida. — Como é que você sabe seu...
—Desculpe, é que até achar você eu tive que procurar em alguns cômodos. – Falou serenamente. — Não tive a intenção de invadir sua privacidade, mas uma observação: Não gostei daquele quadro lá na cabeceira da sua cama. – Comprimiu os lábios movendo a cabeça negativamente.
Semicerrei os olhos por detrás dos óculos escuros. — Ótimo.
 Santiago sorriu e pousou sua xícara no pires de porcelana, a imagem de Peter veio a minha mente e eu lembrei de tudo que temos. Pensei se eu deveria ter contado sobre quem estava sentado diante de mim agora. Mas estragar o tempo que eu tinha com Peter? Ele reagira muito mal mesmo da daquela vez, recordei da primeira vez em que Santiago me apareceu. Quando Peter chegou ele me mandou entrar no carro, os dois apertaram as mãos e trocaram algumas palavras. Bruno dissera que Santiago há um tempo o queria como noticia, e lembrei de eu ter brincado com a possibilidade de sairmos na capa de alguma revista de fofoca.
—Você está aqui por causa do Bruno?
—O que? Não. – Fez um gesto negativo com a cabeça.
—Por favor... – murmurei.
—Estou sendo sincero.
Silêncio.
—Eu tenho que ir trabalhar, você me dá licença?
 Pediu com cordialidade, eu fiz um gesto com a cabeça.
—Até mais...
—Não. – Tirei os óculos e levantei. – Santiago, não me procure mais.
Ele me fitou um instante, assentiu e virou as costas andando seguro até a saída.

§
 Semanas de intensa pesquisa e reclusão para estudo, noites de sono já precárias foram irrequietas e insones. O convite para conduzir a palestra no seminário foi uma surpresa, e seria uma grande oportunidade, a oportunidade pela qual eu sempre esperei. A partir daquela noite meu nome seria posto nos outdoors da psicologia, isto porque Jean Mancini, francês fundador da sociedade e universidade Ghantenner de psicologia seria um dos presentes, e porque Augusto Cury também estaria na primeira fileira para me ouvir.
 Quando, finalmente, eu cheguei ao dia do evento, após atravessar essa jornada de preparação e expectativa, meus nervos estavam a flor da pele. No entanto, me mantive em uma armadura estável, com compostura de tranquilidade e confiança, eu estava concentrada. Sentia-me no piloto automático, tão grande era meu arrebatamento.
 Meus pais e o vovô sentaram na segunda fileira, logo atrás dos Drs.
 E foi como se não fosse eu lá encima do púlpito gesticulando com maestria e enunciando minhas ideias, respondendo a perguntas com confiança. Era um eu desconhecido até então, a cada palavra proferida peças de minha personalidade eram firmadas e explodiam resolvidas. Senti minha alma arder na pele, a vida em mim. Uma águia cortando a atmosfera, dando o impulso e subindo muito alto! Eu furei o céu! Gritei o que meu coração acreditava! Foi o meu momento, a minha luta individual, e no fim os aplausos também foram meus.
 Apenas uma fatalidade me chocou e fez captar além daquela noite que parecia transcorrer como um sonho.
 Um rosto se destacou entre centenas no auditório, sua avidez e expressão de calorosa admiração me atravessou como uma espada de dois gumes em um golpe desferido com força visceral, removendo meus órgãos e mudando de lugar.
 Fui envolta pela cintura, o Dr. Mancini me cumprimentou, em seguida o Dr. Cury e outros. Fotografamos, a secretária anunciou a Orquestra como encerramento da cerimônia, após um pequeno pronunciamento do promotor do evento.
 Agora eu estava mais desperta, o nervosismo disperso pela sensação de missão cumprida. Eu sabia que pela minha expressão arrebatada Santiago não percebeu que eu o tinha visto, pois se retirou do auditório sorrateiramente, mas eu o vi. E sua expressão foi como a espada que me cortou. Ele me aplaudira de pé, ávido e comovido, eu vira claramente.

§

Los Angeles, 18h31.





 A música estava ficando muito boa! Muito boa mesmo. Phil batia as mãos nos joelhos ao ritmo da melodia e sorria para mim fazendo um gesto positivo com a cabeça, cantei o refrão mais uma vez e estendi a mão para sinalizar ao Mark, o produtor o momento de finalizar a gravação. Nós dois nos sincronizamos, levantei o dedo; um, dois, três.
Silêncio.
Mark levantou o polegar, tudo saíra bem.
Tirei os fones de ouvido. —Yeah, cara! Ficou muito bom! – Phil se levantou vindo em minha direção.
Eu ri e dei um tapinha no ombro dele, nós caminhamos até o outro lado do vidro, para conferir o resultado. Nós usamos baixo, teclado e acrescentamos uma batida envolvente com a bateria eletrônica Lynn Drum, direto dos anos 80, para uma música sensual e contagiante. Ouvimos a balada R&B inteira e ficamos satisfeitos.
—É isso ai! – Sorri jogando as mão para o alto.
—Haha, vamos pra próxima! – Phil brincou se pondo de pé, eu e os rapazes rimos.
 O ritmo do trabalho estava empolgante, já tínhamos duas músicas prontas e dezenas para laborar. Ainda estudávamos melodias e combinações de instrumentos, acordes. Nossos amigos produtores, Mark Ronson, Jeff Bhasker, Emile Haynie e The Supa Dups a cada dia nos acrescentavam novas ideias e sugestões, analisávamos tudo juntos e o trabalho que tínhamos nas mãos crescia.
 Nós os desafiamos no que eles podem nos dar de diferente, para onde pode nos levar, para limites que sozinhos não exploraríamos... Têm um que de experiência científica nisso, poderia acabar explodindo na minha cara enquanto eu penso estar brincando de montar a banda dos sonhos, era um risco e eu esperava que desse certo.
 Demos replay na música recém pronta e sentamos para discutir sobre a próxima, gravamos uma demo com o refrão, fizemos algumas modificações na letra e revisamos a melodia. Peguei na guitarra e comecei a tocar, Jhon entrou com teclado, usamos o sintetizador Juno para testar novos sons.
 Partindo do discofunk dos anos 80, o grupo de synth funk Cameo, fundado nos anos 80, mas que só estourou na metade da década seguinte, era minha grande influência. Mas Prince para mim é o melhor, Prince & The Revolution! Eles partiram do que os anos 70 tinham, adotando novas tecnologias, sugerindo novos teclados, sintetizadores, baterias, e nós tínhamos todos esses instrumentos para nos divertir neste disco.
 A gravadora sabia que se eu não gostasse do que estava fazendo, não iria fazer. Então acertamos que eu entregaria o disco do jeito que eu queria e eles não sugeriram nada, decidimos que seria assim e tudo bem. A ideia foi trazer a festa para casa mesmo. Tínhamos começado o dia bem cedo, e como sempre eu e os rapazes fomos embora só depois da meia-noite.

 Fui para casa e liguei para Jasmin, ela estava nervosa pelo seminário no dia seguinte, nós conversamos madrugada a dentro, mas não muito sobre o trabalho dela ou meu, nós falamos tantas coisas banais e sem sentido que no dia seguinte eu nem me lembrava mais. Falamos até nossas vozes ficarem roucas de sono e eu cantei para ela o refrão da minha nova música até ela aprender e cantar comigo. Quando finalizamos a ligação ambos estávamos tranquilos, mais felizes.
 De manhã cedo fui para o estúdio, sendo engolfado novamente no trabalho. Infelizmente perdi duas ligações de Jasmin a tarde e quando retornei seu número deu fora de área. Eu ligaria mais tarde para saber como fora a palestra.
 Meu pai, Pete, mora aqui em Los Angeles perto de mim e meus irmãos, ele nos fazia visitas frequentes ao estúdio. Em uma ocasião em especial, quando eu estava deitado no sofá de casa, e nós assistíamos um jogo de beisebol, Eric, meu pai e eu, ele me indagou sobre Jasmin. Como quem não quer nada acabou me informando que ela enviava lembranças como fotografias, bombons e artigos brasileiros ao Hawai’i, para mim mãe.
—É você não sabia... Jasmin é realmente honesta, não faz por status. – Refletira meu pai.
 E eu ficara surpreso com essa novidade, mas ele me fez perguntas e insinuações que me fizeram pensar que para ele Jasmin e eu não estávamos bem. Eu não entendia bem o que meu pai queria dizer, estava tudo bem.
 Eu estava me dedicando a produção, praticamente acampando no estúdio, cheio de compromissos, a agenda para sempre cheia. Jasmin trabalhava muito e também se compenetrara e mergulhara no objetivo de ampliar sua carreira. Ambos estávamos muito ocupados, sabíamos que seria assim, assumimos esse risco, tínhamos ciência das dificuldades, mas nos amávamos e mesmo que fosse tarde demais para fazer uma ligação ou que não pudéssemos nos deslocar para encontros nós tínhamos certeza de nosso amor. Eu entendia e Jasmin também. E além disso há dois dias ela viera a Los Angeles e passamos um dia maravilhoso juntos. Claro que estava tudo bem.
—Não se preocupe. – Eu disse ao meu pai com convicção. Ele assentiu sem insistir mais e nós continuamos assistindo ao jogo numa boa.

§
 Depois de presenciar a conversa estranha e vaga de Ever e Ryan a respeito de nossa colega de trabalho passei a prestar mais a atenção nela.
 Certo dia em que o trabalho foi na gravadora e eu fiquei até tarde como de praxe. Erin estava lá, acompanhada por Susana, uma das assessoras de imprensa, as duas planejavam o marketing para o Photoshoot que eu fizera naquela semana. 
—Boa noite garotas – aproximei-me com três copos descartáveis de café.
—Oi Bruno! – Susana, descendente de japoneses sorriu. – Obrigada, é de um cafezinho mesmo que eu preciso.
—Oi Bruno. – Erin me deu um sorriso suave, quase tímido. — Obrigada. Você também vai ficar?
—De nada... Vamos ficar. Phil, Ari, Mark e eu ainda temo algumas coisa pra fazer. Tem que ser hoje se não, eu não durmo. – Dei um sorriso cansado e beberiquei o café, sentado em uma das cadeiras giratórias do escritório.
—Semana que vem você tem sua última sessão de fotos para a Billboard, depois poderá se retirar integralmente para as produções. – Susana mexia no mouse do computador concentrada.
—Assim espero, - suspirei. – Se importam? – Peguei o Marlboro no bolso da camisa.
—De boa... – Disse Susana distraída.
 Eu acendi o cigarro e recostei na cadeira relaxando um pouco antes de voltar ao trabalho. Percebendo Erin olhar para mim de canto de olho, sentada de lado na cadeira. Ninguém que eu conhecia era muito intimo dela, ou simpático. Eu não tinha me ligado nisso até o momento e queria saber o porquê.  Erin não parecia uma má pessoa.
 Ela era pequena, dos pés à cabeça, parecia inofensiva. Típica garota californiana, pele bronzeada, cabelos loiros lisos, curtos aos ombros. Mas ao contrário das praianas, seu modo de vestir era sempre básico, não saindo do tênis, jeans e camiseta. No entanto isso não me dizia muito, por sua aparência eu não tinha como saber sua personalidade verdadeira poderia?
 Ever dissera que eu acabaria percebendo... O que?
E eu estava tentando perceber, mas não estava captando nada. A fim de mim Erin não estava, mal falava comigo. Talvez não fosse nada demais e... Bip bip!
 Chegou uma nova mensagem. Peguei o celular no bolso, era de Jasmin.
—Estou indo garotas... – Levantei dolorido e sonolento, mas com a mente sempre agitada. - Boa noite e bom trabalho ai...
—Tá bom, boa sorte. – Sempre a primeira a se pronunciar Susana sorriu para mim igualmente cansada e agitada pela cafeína.
—Tchau Bruno... – Sempre em tom suave Erin sorriu acenando de leve.
—Tchau. – Olhei para ela, Erin devolveu o olhar em meus olhos e eu desviei para a tela do celular.

 

 


Notas Finais


Conti-nua! ;D


Ah, agora os pés dos personagens estão desequilibrando na corda bamba. O que está acontecendo de fato? Onde esses acontecimentos levarão?
Eu não sei o que se passa na sua cabeça, comente e comentaremos. lol

Obrigada por lerem e voltem sempre! :* Honi


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