História Mon Petit Soleil (Larry Stylinson) - Capítulo 6

"Somos jovens, perdidos e tão apavorados ...''   In Joy And Sorrow - HIM
 

Louis

 

  Estou a um mês e duas semanas longe de casa, sem saber sobre a faculdade, ou sobre minhas irmãs, mas eu sei que preciso disso, a ficha que eu tive uma overdose ainda não caiu totalmente, eu nunca pensei que isso fosse acontecer comigo, nem pensava nessa possibilidade na verdade, eu me achava inatingível, mas eu não sou, e tive que quase morrer e quase matar todos de preocupação para saber disso, não consigo me sentir menos idiota por isso.

- Então a moça esta fumando escondidinho aqui, sinceramente você acha mesmo que não vão te achar aqui? - uma voz feminina diz próxima a mim, no meio da grama, bem afastado do grande casarão.

   Minha colega de quarto Perrie, de primeiro eu achei meio estranho me colocarem pra dividir o quarto com uma garota, mas Perrie não é qualquer garota, no seu lado do quarto ela vez quase um santuário a atrizes francesas dos anos 40, e ela fuma como uma chaminé, uma coisa boa daqui é isso nos deixam fumar, acho que não é só por conta do vício difícil de largar, como também pra ajudar a passar o tempo, o tédio é um grande problema daqui, não temos internet, e a televisão só somos autorizados a ver os filmes da grande coleção da clínica, não temos contato com o mundo lá fora, tirando uma visita ou outra em algum final de semana, quando estamos bem o suficiente pra isso, e a terapia pessoal e em grupo é de enlouquecer, aqui fazem de tudo para a gente falar, pelo que parece isso ajuda no tratamento.

   Estou esse tempo todo limpo, limpando meu organismo, até minha dieta mudou, em uma tentativa de ser mais saudável, mas é difícil pois como não tem muita coisa pra fazer, pensamos muito em nossas próprias vidas, o porque de estarmos aqui, é inevitável.

- Você sabe que não pode fugir pra sempre, e por mais merda que seja, tem algum resultado. - ela diz pegando um cigarro e se sentando próxima a mim.

Perrie é uma mulher muito bonita, e nunca tentou me forçar a falar qualquer coisa que seja sobre mim, e por alguma razão que desconheço me faz falar muito mais do que qualquer médico, conversando mesmo qualquer coisa que seja, se mostra atenta ao que eu digo, ela só ergue uma de suas sobrancelhas bem feitas como se dissesse “sério? continua” e raramente faz comentários, mas da risadas, risadas altas e acaba me fazendo rir junto, é uma boa companhia, apesar de nunca falar de si mesma, mas conversa sobre qualquer coisa gesticulando suas mãos delicadas com suas enormes unhas, acho que ainda não surtei por isso, ela tenta me manter ocupado, mas quando fala sério, sua postura toda muda como agora.

- É uma merda ainda mais no começo, é, mas é algo que você precisa passar, você pode tirar o melhor disso, tem gente de merda aqui? Tem, mas quem sabe você não pode tornar tudo mais divertido? - ela diz com tom travesso, soltando a fumaça.

- Eu sei, eu sei, o que você pretende, caminhoneira?

- Vá para a terapia em grupo amanhã, e descubra docinho. - ela diz e pisca pra mim.

 Encrenqueira, ela tem essa fama aqui, e bom eu não tenho nada melhor pra fazer na verdade, e esse lugar precisa de um agito, boa parte dos moradores é pessoal de meia idade podre de rico e de nariz em pé, não seria tão ruim pregar uma pequena peça neles, até que não é uma ideia muito ruim concluo sorrindo.

- Sinto saudades da Jade, mas do que qualquer coisa do mundo lá fora. - ela diz pra si mesma, olhando para frente, como se estivesse vendo além do que esta na sua frente.

  Não é a primeira vez que ela fala algo desse tipo ligado a esse nome, não faço ideia de quem seja, mas essa Jade deve ser importante pra ela. Aqui, eu me pego pensando várias vezes que eu queria ter alguém lá fora, alguém me esperando, alguém por quem sentir saudades, mas não tenho, eu nunca tive alguém.

 Sempre tive parceiros de sexo, parceiros de bebidas e drogas mas não alguém de verdade, Harry foi a única excessão, mas é bem provável que eu nunca mais o veja, foi apenas uma noite e nada mais.

   Mas gosto de pensar em seus grandes e expressivos olhos verdes, tão bonitos, brilhando tão sinceros.
 

******

Harry

    De frente ao espelho do meu quarto, encaro meu corpo branquelo, pernas e braços finos, meu rosto ainda com traços infantis, mas até que bonitinho, com uma espinha aqui e ali, mesmo depois de um mês e pouco ainda me pergunto como Louis ficou comigo, o cara parece um anjo de tão bonito, mas bom pra mim.

  Pode ser coisa da minha cabeça, muito possivelmente seja mesmo, me sinto diferente, não me sinto o mesmo de antes do show, tudo o que aconteceu não para de rodar na minha mente, e me tira um sorriso, por mais precipitado e irresponsável que possa ter sido, eu amei cada minuto.

   Eu sei que tem acontecido alguma coisa com meu corpo, eu não sei dizer exatamente o que, mas esta, e todo mundo acha que eu estou grávido, a verdade é que eu realmente não sei se sou capaz de engravidar, tudo bem que isso é meio que comum e na minha família tem histórico de homens grávidos, nunca nem me preocupei em saber se eu tenho essa chance, mas nesse último mês tenho pensado muito nisso.

  Eu não quero estar grávido nesse momento, não só pela minha idade, mas porque eu tenho planos a muito tempo, uma vida depois que acabar a escola, que não seria possível com um bebê junto, tem tantos lugares que quero conhecer, a minha tão sonhada faculdade de psicologia, meus planos pro futuro, minha independência, minha vida, eu não me sinto preparado para cuidar de outra pessoa.

   E isso são coisas que eu não divido com ninguém, são coisas minhas, eu não quero outras pessoas me dizendo o que fazer, me dizendo o que sentir sobre isso, essa é a minha vida, é o meu corpo.

  Sem falar do óbvio, ser pai solteiro, não faço ideia de quem realmente seja o Louis, não sei como encontra-lo, por mais que saiba que ele mora e estuda em Oxford, não posso simplesmente ir até ele e chegar com um bebê na barriga e falar que é dele, ele pode muito bem falar que não é e me humilhar, e eu não quero isso.

- Harry, Ed já chegou

   Sou tirado dos meus pensamentos pelo grito da minha mãe, ainda bem, estava em um campo bem perigoso, saio do meu quarto e vou até o Ed, Niall teve que ir até a Irlanda por conta de uma tia bem próxima estar no hospital, e não sabe quando volta, deixando assim eu e seu urso sós, por mais doido e pentelho que ele seja às vezes, ele faz falta, e olha que só tem dois dias que ele foi viajar.

 Mas eu estou gostando de passar esse tempo com Ed falando sobre tudo e nada, um filme que já vimos várias vezes passando na televisão, enquanto papeamos jogados no sofá, com preguiça de viver, e ficamos assim por horas.

  Já perdi a conta de quantos filmes já vimos, já esta escuro lá fora quando olho de relance para a janela, e eu estou a horas tentando conversar com meu amigo, sobre minha possível gravidez, mas eu sempre travo, parece que se eu falar tornar tudo mais real, uma real possibilidade e isso me assusta porque não é algo que eu realmente queira que aconteça.

    Olhando ainda pra televisão, tomo coragem e digo em alto e bom som.

- Acho que estou grávido. - digo e começo a ficar inquieto esperando uma resposta dele.

- Finalmente você admitiu, pena que Niall não esta aqui para filmar esse momento, eu sou seu amigo desde sempre me deixa te ajudar sobre isso, por favor. - Ed diz paciente olhando pra mim, enquanto eu continuo olhando para a televisão.

 E tudo que eu estava guardando somente pra mim, se rompe de uma vez só e eu não aguento mais, começando a chorar e Ed me abraça, minha cabeça em seu ombro, e eu choro meus olhos para fora, meu corpo sendo sacudido por soluços e choro e choro.

   Fico ali abraçado a Ed, pelo que parece horas me acabando de chorar, coisa que eu não me permitir fazer esse tempo todo, e ele fica ali do meu lado, em silêncio, esperando eu me recuperar e falar alguma coisa.

- Eu não sei o que fazer sobre isso Ed, eu não sei o que vou fazer se for verdade, eu não to pronto pra isso, ser pai solteiro, eu não sei o que fazer. - digo chorando baixinho e com a voz falha.

- Você não esta sozinho Haz, você tem a mim, Niall, sua mãe, Gemma e não vamos deixar você passar por isso sozinho, mas antes de tudo precisamos saber se você está realmente grávido. - ele diz devagar mexendo nos meus cachos.

- Não não Ed, eu não quero, eu não quero saber, por favor. - digo debilmente, segurando sua camiseta com força.

- Senão soubermos, essa dúvida vai te machucar mais ainda e vai te paralisar de fazer qualquer coisa pensando nela, por mais que a verdade doa, ela te da a chance de fazer alguma coisa, de pensar em algo, eu estou aqui com você, e na minha mochila tem 3 testes de gravidez de marcas diferentes, os testes com mais precisão. - falou sério, ainda me abraçando.

 Eu posso não estar grávido, como também posso estar, mas não tem como eu saber senão fizer esses testes, a maior parte de mim esta morrendo de medo, e uma menor esta me falando pra fazer e saber a verdade, o que esta acontecendo comigo, uma virose não dura tanto tempo, eu não posso mais continuar passando mal sem saber o que está acontecendo, não vai fazer parar.

    Repetindo tudo isso na minha mente a todo o momento, tomo coragem e me levanto, olhando para meus pés digo, parando de chorar aos poucos.

- Tudo bem, eu faço os testes. - nunca estive com tanto medo, como estou nesse momento, mas é agora ou nunca.

- Isso, vamos lá H, eu vou até o banheiro e vou deixar os testes em cima da pia, você vai falar e os faz, eu te espero aqui, e assim que der o tempo de sair o resultado lemos juntos, uh? - ele diz pegando sua mochila e dando um sorriso mínimo.

 Balanço a cabeça em concordância, respiro fundo fechando meus olhos, Ed passa por mim e desarruma meus cabelos no caminho até lá, fico um tempo de olhos fechados tentando me acalmar e afastar as lágrimas insistentes, abro meus olhos aos poucos e encontro meu amigo na minha frente sorrindo encorajador e se balançando de frente pra trás infantilmente, não consigo evitar e sorrio minimamente de volta.

- Eu vou lá. - digo com aparente calma e me viro em direção ao banheiro rápido, antes que eu desista.

  Chegando lá, fecho a porta e vejo os três testes em cima da pia, assim como Ed falou, e os observo por alguns minutos, mas não leio nenhuma das instruções, já é demais ter que faze-los e o Ed com certeza os leu, cansado de ficar os olhando, resolvo que finalmente chegou a hora, vamos lá Harry, você consegue.

  Os faço sem pressa, até que chega um momento que percebo que já fiz os três, fiz tão automaticamente, tentando não pirar, que já foram, lavo minhas mãos e aproveito e jogo um pouco de água no meu rosto e seco. Me olho rapidamente no espelho, e meus olhos pousam na minha barriga, que esta normal e logo desvio o olhar e saio do banheiro com os três testes.

 Chegando na sala, encontro Ed sentado balançando o pé de nervoso, ele me vê, tira os testes das minhas mãos, os colocando na mesinha de centro da sala e me abraça forte, seu famoso abraço de urso, e murmura no meu ouvido para ser forte, engulo em seco e tento o máximo não chorar novamente, funciona, ele me solta e nos sentamos no sofá, fico olhando lá fora pela janela, e Ed senta do meu e canta baixinho, até der o tempo dos testes, resolvemos esperar 5 minutos a mais, e são minutos intermináveis, olho pra janela, pra televisão, e novamente pra janela, sinto Ed se mexer do meu lado, deu o tempo.

  Eu não quero olhar, e começo a morder meus lábios, escuto Ed respirar fundo e soltar o ar, um silêncio se instala, continuo olhando para a janela como se visse um arco íris lá fora, até que ele finalmente fala.

- Positivo, todos deram positivo.