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História Monocromático - Capítulo Nove


Escrita por: invisibleusagi

Notas do Autor


Ainda estou viva.
Como sempre estou cheia de problemas, e realmente sinto muito por demorar tanto. Mas eu não tenho a intenção de abandonar a fanfic, e agradeço de coração aqueles que compreendem e permanecem aqui comigo. Estou tendo mais tempo agora por conta da quarentena, então talvez saia mais um ou dois capítulos em pouco tempo. Ou assim eu espero.
Enfim, obrigada por ler e espero que goste!

Capítulo 9 - Capítulo Nove


Sasuke se sentia ridículo. Caminhando pelos largos corredores da empresa de seus pais, seus sapatos sociais ecoando levemente pelo piso em porcelanato branco. Ele percebia alguns olhares e ouvia os cochichos de quem passava por ele, e ignorava-os friamente. O que realmente o fazia se sentir ridículo, era a estúpida sacola de papel em sua mão, com uma caixa embrulhada para presente dentro. Apesar de toda a parede de auto controle e concentração que o envolvia, Sasuke as vezes podia ser bastante impulsivo. Impulsivo o bastante para entrar em uma loja e comprar um secador de cabelos para Naruto, em um momento tomado de nervosismo pelo seu próximo encontro com o escritor. E ele sequer entendia o motivo de seu nervosismo, tendo em vista que já vira Naruto várias vezes e estava acostumado com o próprio trabalho.

Já haviam se passado alguns dias desde que Sasuke cuidara de Naruto, e lembrar-se disso fazia seu corpo inteiro estremecer de constrangimento. O que ele estava pensando quando tornou sua relação com um de seus escritores tão pessoal? E agora carregava um secador de cabelos como uma suposta forma de quebrar o gelo. O que ele não pensou é que isso traia à tona o fato de que estivera na casa de Naruto cuidando dele durante um resfriado.

Seu corpo estremeceu mais uma vez com a lembrança, pensando em como foi difícil para ele permanecer impessoal, ainda mais com Naruto o convidando para passar a noite em sua casa. E mais difícil ainda era admitir o quanto a proposta lhe parecia tentadora, simplesmente porque a ideia de ir embora e ficar longe de Naruto naquele momento era incômoda.

Ele chegou a própria sala, abrindo a porta e passando por ela, então finalmente soltando um suspiro cansado. O relógio em seu pulso dizia que Naruto chegaria em poucos minutos para a reunião. A última antes que finalmente escolhessem o projeto para que fosse aprovado, finalmente.

Sasuke deixou a sacola de papel sobre a mesa e sentou-se em sua cadeira de couro. Ele se sentia mais frustrado do que nunca consigo mesmo, com seu trabalho e principalmente, estava furioso com Itachi. Ele ainda não compreendia o motivo de seu irmão escolher um escritor inconstante e com vendas meia boca para ser publicado, mesmo sem ter alguma ideia do que iria publicar, quando tinham dezenas de escritores veteranos na editora e milhares de escritores amadores cheios de ideias mandando seus livros todos os dias. E pior ainda, ele não entendia o motivo de ser ele o responsável por Naruto. Itachi vinha ignorando-o quando o assunto era Naruto, deixando todas as decisões para o editor, que começava a pensar que tudo aquilo era apenas uma grande provocação do irmão mais velho.

As batidas fortes na porta de madeira fizeram o coração de Sasuke disparar, e buscar fundo por auto controle. Ele temia ficar mudo ou gaguejar quando tentasse conversar com Naruto. Num ato desesperado, ele recolheu a sacola de papel e escondeu-a embaixo da mesa. Se queria que sua relação com Naruto fosse estritamente profissional, dar presentes não era exatamente uma boa forma de manter isso.

— Pode entrar – ele disse da forma mais firme que conseguiu.

Naruto passou pela porta, parecendo um pouco tímido olhando ao redor cada detalhe do escritório de Sasuke. Ele parecia bem melhor do que na última vez em que Sasuke o vira. Vestia calças jeans e moletom, e um par de coturnos desbotados.

— Naruto, sente por favor – disse Sasuke, apontando uma das cadeiras em frente a mesa.

O escritor apenas caminhou até lá e se sentou em silencio, porém, suas mãos logo escorregaram para o porta retrato sobre a mesa, pegando-o e olhando de perto. A foto parecia ter alguns anos, e mostrava um homem pouco maior do que Sasuke o abraçando pelos ombros. Os olhos e cabelos também pretos, e aura de poder que parecia irradiar mesmo através de fotos fez com que Naruto reconhecesse Itachi Uchiha, irmão mais velho de Sasuke e atual dono da editora. Ambos sorriam na foto, pareciam relaxados, o que era bastante estranho e adorável para Naruto. Ele devolveu a foto sem fazer qualquer comentário, causando em Sasuke alívio e decepção simultaneamente. Naruto era sempre muito curioso, então talvez ele não tivesse mais a intenção de tentar conhecer Sasuke. Talvez ele também estivesse com a ideia de ter uma relação profissional e nada além disso.

O problema de cruzar essa linha invisível que existe entre o trabalho e a vida pessoal, é que se torna bastante difícil voltar atrás e fingir que nada aconteceu. Ainda que eles tivessem cruzado a linha naturalmente, sem se dar conta. A linha fora cruzada, e agora pareciam estar recuando em câmera lenta. Se olharam por alguns segundos, sem saber o que dizer, como se estivessem pensando as mesmas coisas.

— Bom dia – Naruto finalmente disse, percebendo como um simples cumprimento se tornara difícil.

— Bom dia – respondeu, decidindo ir direto ao assunto e tornar aquele encontro o mais breve possível – Então, eu estava analisando alguns daqueles contos e outras coisas que você me mandou, acho que alguns deles tem potencial para se tornarem histórias longas, até mesmo mais de um livro. Só precisamos escolher qual deles, e eu separei alguns...

Ele teria continuado, mas se calou ao reparar o olhar perplexo que Naruto mantinha sobre ele.

— O que foi?

— Você acha que aquele prólogo que eu mandei não estava bom? – Naruto perguntou, baixando os olhos para tentar esconder a decepção – Então é melhor deixar para lá?

— Como? – agora era Sasuke quem estava perplexo – Mas que prólogo?

— O que eu te mandei por e-mail há dois dias!

— Como?

Os dois se encararam, ambos perguntando a si mesmos do que diabos o outro estava falando. Foi quando Sasuke percebeu que estivera tão absorto em ler e escolher os contos, e ignorar qualquer outro pensamento sobre Naruto que não estivesse relacionado ao trabalho, que esquecera de olhar o seu e-mail por alguns dias.

Ele abriu a boca e piscou várias vezes, desconcertado, enquanto ligava os pontos. Agora ele se sentia ainda mais ridículo, e com um gemido frustrado ligou o computador e abriu rapidamente seu e-mail e lá estava, no topo de sua caixa de entrada: um e-mail de Naruto cujo assunto era “possível livro”.

— Você não leu? – Naruto perguntou um pouco alto, expondo toda a sua indignação.

— Você devia ter avisado que iria me mandar algo assim!

— Você devia checar os seus e-mails!

— Eu estava ocupado e sempre estivemos trocando mensagens! Por que você enviaria um e-mail?

Se encararam por em silêncio por um momento. Aparentemente eles não conseguiam ter uma conversa sem discussões. Naruto devia estar com raiva da negligência de Sasuke, mas naquele momento, sua expressão era de tristeza, e antes que percebesse, seus olhos estavam marejando e tímidas lágrimas corriam por seu rosto. Ele olhou para baixo, limpando-as rapidamente com a manga do moletom, enquanto Sasuke permanecia encarando sem saber o que dizer.

— Eu achei que – Naruto começou a dizer com a voz baixa e oscilante – Eu achei que você olharia o e-mail e sequer pensei em te avisar, me desculpe – ele olhou para Sasuke por um breve momento, dirigindo-lhe um sorriso apático – Tantas coisas passaram pela minha cabeça em apenas dois dias... Desde que o que eu escrevi era tão ruim que você preferia não dizer nada, até que você estava ignorando ou só queria conversar pessoalmente – ele parou, respirando pesadamente ao que tentava limpar as lágrimas que caiam uma após a outra – Me desculpe, eu não sei por quê estou chorando.

— Naruto... – a voz de Sasuke sumiu.

Ele sentiu como se cada lágrima de Naruto fosse um tiro em seu peito, disparados por ele mesmo. Ele não pensou em nada quando pegou a sacola de papel escondida embaixo da mesa, e se levantou indo para o lado da cadeira de Naruto. Ele não sabia o que dizer, então apenas se inclinou um pouco para que estivessem na mesma altura e balançou a sacola na frente dos olhos azuis.

— Eu comprei uma coisa para você – ele disse, a voz abafada, quase dolorida.

Naruto ergueu os olhos azuis e marejados, encontrando os de Sasuke. Ele pareceu confuso por um momento, antes de segurar a sacola e tirar o embrulho azul celeste cuidadosamente feito pelo próprio Sasuke. Naruto o abriu em silêncio, soltando cada pedaço de fita adesiva para não rasgar o papel, e então fazendo uma expressão ainda mais surpresa ao constatar que se tratava de um secador de cabelos. Encarou Sasuke como se esperasse respostas.

— Você disse que não tinha um – Sasuke disse, esquecendo completamente da impessoalidade – E a minha mãe sempre dizia que precisa secar bem o cabelo antes de dormir então... Se você resolver lavar o cabelo a noite outra vez, não ficará resfriado por dormir com ele molhado.

A risada suave de Naruto realmente o surpreendeu.

— Obrigado Sasuke, não precisava ter se importado com isso.

— Eu me preocupo com a saúde do meu escritor – Sasuke respondeu automaticamente e corou em seguida, ao que um enorme sorriso se formava nos lábios do escritor e o editor se viu vencido – Olhe, me desculpe por não olhar o e-mail. Foi negligência minha como seu editor, e eu prometo que não irá se repetir – Naruto pareceu completamente surpreendido com aquelas palavras – E eu juro que não o estava ignorando, eu apenas realmente fiquei muito focado nos contos e me esqueci de checar o e-mail. Foi um erro meu pensar que você poderia não querer tentar algo novo.

Naruto assentiu lentamente, assimilando as palavras que acabara de ouvir. Ele abraçou o secador de cabelo, sentindo que poderia voltar a chorar, mas dessa vez de alívio e felicidade. Sasuke realmente se importava com ele, pensava no seu bem estar. Ele estava sendo acolhido.

Eles já estavam há algum tempo se olhando intensamente nos olhos, Sasuke, o Demônio Uchiha pedira desculpas olhando em seus olhos. Ambos pareceram perceber a curta distância em que estava, e Naruto se sentia vulnerável, por algum motivo. Involuntariamente os olhos negros desceram para os lábios avermelhados de Naruto, e ele umedeceu os próprios lábios por instinto. Se Naruto notou algo, não demonstrou, apenas soltando um grunhido constrangido pela proximidade, fazendo com que Sasuke deixasse seus pés o levarem de volta para o outro lado da mesa, onde se sentou em sua cadeira.

O prólogo de Naruto não era muito longo, mas Sasuke pareceu levar uma eternidade para ler. Seus pensamentos sempre se desviavam para a fresca lembrança de momentos atrás, onde ele precisara de todo o seu esforço mental para resistir a vontade de tocar a pele de Naruto e beijar os seus lábios, que pareciam implorar por sua atenção. Ele estava ciente dos olhos azuis sobre ele o tempo todo, e isso também não facilitava o processo de leitura.

Principalmente quando ele percebeu que toda a tenção flutuando no ar o deixara com uma ereção.

Sasuke gostaria de poder desaparecer naquele momento, xingando a si mesmo e ao seu corpo por reagir como um adolescente na puberdade pela simples – ou não tão simples – proximidade com Naruto.

 Ele finalizou a leitura, constatando que era realmente diferente do que Naruto já se permitira escrever antes, embora os traços da escrita fossem semelhantes, apesar de mais densos, carregados de emoção. O editor não conseguiu conter um sorriso, embora estivesse lutando por concentração e buscando pelas palavras certas.

— Isso é realmente ótimo Naruto! – disse, sem esconder sua empolgação. Ou ao menos a empolgação com o que acabara de ler – Você sabe como dar continuidade a história? Me diz o que está pensando.

Naruto sorriu tímido.

— Eu nunca sei como realmente dar continuidade a história – admitiu – Mas tenho algumas ideias, e acho que você pode me guiar através delas já que bem... A ideia veio de você.

— De mim?

— Sim.

Naruto se levantou. Parecia prestes a admitir um grande segredo, e sua voz quase não saia da garganta. Ele deu alguns passos perdidos pelo escritório, parando atrás da mesa de Sasuke para olhar através da enorme janela que ali tinha. Sasuke girou a cadeira para olhá-lo, mas Naruto não retribuiu, mantendo os olhos presos na paisagem de prédios.

— Você disse algumas coisas bem duras sobre o meu trabalho, sobre a forma que eu escrevo e bem... Eu nunca me considerei um grande escritor, ou ao menos um bom escritor. Sempre me perguntei o motivo que levaria alguém a querer ler algo que eu escrevi – ele suspirou, olhando Sasuke rapidamente e voltando-se novamente para a janela – Mas ainda assim foi muito difícil perceber que tudo o que você disse é a verdade. E eu não poderia perder a oportunidade de fazer algo do que eu pudesse me orgulhar enquanto trabalho com uma editora tão grande e um editor tão bom.

— Você não devia ser tão duro consigo mesmo – Sasuke também se levantou, parando ao lado de Naruto, encarando a face séria do escritor, consternado pela mistura de melancolia e maturidade no que dissera.

E o que antes era pretendido a ser uma breve reunião, se estendeu por algumas horas. Horas repletas de honestidade e vulnerabilidade. E quando despediram à porta, Sasuke percebeu que ele e Naruto jamais poderiam manter uma relação estritamente profissional e de forma impessoal. E se perguntou se Naruto sentia o mesmo. 


Notas Finais


É isso por enquanto, espero que tenham gostado!


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