História Moonshine - Você é como minha irmã menor

Destravei o freio de mão, pisei na embreagem e no acelerador e engatei a primeira marcha, arrancando rapidamente meu carro dali.

— E então, como estão as coisas com Selena? - perguntou.

— Péssimas. - fui sincero. Ashley era amiga de Selena. Apesar de não ir muito com a cara da loira e achar que ela deveria ter um algum tipo de informação sobre eu e Selena, não via problemas em dizer a verdadeira situação de nossa relação. – Selena é bem complicada. - complementei, sem tirar minha visão da estrada. Haviam poucos semáforos naquela área, não foi difícil me concentrar na direção e em nosso diálogo ao mesmo tempo. 

— Hm, compreendo. - murmurou. – Nenhum cara consegue atura-la por muito tempo. - meus olhos viraram-se para ela e franzi o cenho totalmente fora de acordo com sua frase.

— Eu não sou como eles. - meu tom fora firme. Gostei da maneira como soou.

— Eu sei. Você é especial para ela. Só não quero que Selena se machuque. - resolvi deixar de lado minha implicância com Ashley e ouvi-la. Ela parecia estar sendo sincera. Sabia que Selena e ela eram amigas há muito tempo e assim como eu, ela queria apenas o bem de minha namorada. Creio que Selena ficaria feliz se eu e sua amiga tivéssemos uma boa convivência. 

— Ela já está machucada. - contei assim que o semáforo indicou que deveríamos parar. – Literalmente. - completei.

— Como assim? O quê você fez? Você a magoou, não é? Eu sabia que isso ia acontecer. Eu sabia! - vociferou irritada.

— Não, não é isso. Acalme-se. - assegurei. Acho que não me expressei como deveria inicialmente. – Selena está mal. Ela não te ligou? - Ashley negou com a cabeça.

— Não. Estamos um pouco afastadas ultimamente. - disse cabisbaixa. Aquela afirmação pareceu ter a afetado de alguma forma. – Você sabe, desde que você entrou na vida dela, tudo mudou. - eu não soube definir se sua revelação com relação a mim e Selena era algo ruim. Seu tom baixo e triste usado ao pronunciar aquela frase encheu-me de dúvidas.

— O que mudou, por exemplo? - questionei, desejando prolongar o assunto pois ele realmente me interessou.

— Ela não é a mesma. - suspirou, sem me olhar. – Ela costumava ser mais divertida, mas desde que vocês estão juntos ela parece ter se isolado do mundo. - meus olhos tremeram um pouco e pisquei posteriormente. Aquilo era realmente verdade? Eu não entendia.

— Ela anda meio estranha. - afirmei, relembrando-me do comportamento de Selena nos últimos dias. Não concordei com o quê Ashley disse, apenas coloquei em palavras meus pensamentos momentâneos.

— Ela está se privando na companhia de todos. Isso está fazendo mal à ela.

— E isso é culpa minha? - apesar de estar dirigindo, uma boa porcentagem da minha concentração estava voltada para a nossa conversa onde o foco principal era minha namorada. Um assunto que vinha sendo minha pauta rotineira nas últimas semanas.

Ashley orientou-me para qual direção deveríamos seguir e logo em seguida me respondeu:

— Não estou dizendo que a culpa dessa mudança de comportamento de Selena é inteiramente sua. Apenas acho que esse relacionamento não faz bem a ela. - demorei alguns segundos para esboçar algum tipo de reação pois aquilo havia me pego de surpresa, totalmente desarmado e sem nenhum tipo de argumento que pudesse me defender. 

Apesar de não saber se o que Ashley dizia era verdade ou não, me calei. Não protestei nem me defendi. Apenas dirigi.

— Não fique bravo comigo. Eu só estou dizendo o que eu acho. - murmurou após um tempo em silencio. Ela parecia querer continuar com aquela conversa pois fazia de tudo pra prosseguir com a mesma. 

— Não é como se a sua opinião importasse. - só ao virar meus olhos para Ashley pude notar o quão grossa minha fala havia soado.  – Me desculpe. Eu não quis dizer isso. - pedi, um pouco arrependido.  – Mas é que todos ficam o tempo todo querendo se interferir entre nós e isso me aborrece. - expliquei. Aquilo era realmente verdade. Era impressionantemente aborrecedor a maneira como todos tentavam de todas as maneiras nos afastar. Devo admitir que, de certa forma, estavam conseguindo. 

 — Tudo bem. Eu entendo. - falou cabisbaixa. 

Virei a direita e Ashley traçou oralmente a trajetória que teríamos que fazer ate chegar em sua casa. Até que chegamos.

Destravei o carro e não me dei ao trabalho de desligar motor. Esperei Ashley sair, mas não fez.

 — Você quer entrar? Parece tão nervoso. Poderíamos continuar com nossa conversa. - propôs. Pensei bastante antes de responde-la. Ryan e Lily provavelmente não estavam em casa. Eu não conseguiria e não queria dormir. Não teria companhia para esta noite e no momento era o que eu precisava. Ashley não era a minha primeira opção, mas era considerável.

— Ok. - murmurei. Ela sorriu e saímos do carro. Meus pensamentos impróprios com Ashley voltaram assim que vi seu corpo todo rígido a poucos metros de mim. Tentei não prestar atenção em seu corpo excepcional e concentrar-me em andar até a entrada de sua bela mansão.

A casa interiormente era ainda mais bonita e detalhada que a fachada. Não pude prestar muita atenção ou aprofundar meu olhar perante a extensão do comodo principal pois logo minha mão foi delicadamente puxada e subimos o lance de escadas juntos, praticamente correndo. Não entendi sua ação muito menos a pressa.

— Sinta-se a vontade. - sorriu de canto enquanto adentrávamos em seu quarto. Ela jogou sua bolsa que até então eu não havia notado em cima do enorme e bonito sofá revestido de couro e me analisava com atenção. – Você parece tão tenso, Justin. - ressoou ela, se aproximando e pondo suas mãos em meus ombros contraídos. Não me movi. Não conseguia. Ashley começou uma suave massagem naquela região e eu fui obrigado a concordar que eu realmente estava tenso. – Você precisa relaxar um pouco. - ela continuava a massagear meus ombros e tremi quando senti suas mãos passarem por baixo da minha camisa larga.  – Você quer brincar um pouco? - seu tom fora coberto por malícia e desejo. Seu olhar fervia. Sua língua transpassou entre seus dentes e naquele momento eu tive certeza que entrar ali fora uma péssima ideia. – Prometo que não vai se arrepender. 

Tarde demais. Eu já havia me arrependido.

POV Selena

 — Beba isso. - Lily me entregou o copo de vidro que transbordava água. Desde que ela chegou tentou me acalmar de todas as formas possíveis e estava tão nervosa quanto eu. Lily era uma ótima amiga. Gostaria de ter a conhecido antes.

Me levantei vagarosamente e beberiquei um pouco da água. Respirei fundo e tentei olhar nos olhos de Lily, mas era quase impossível pois ela os desviava a cada minuto. Certamente não sabia o que dizer. Já havia dito tudo o que deveria, creio eu. Suas cordas vocais já deveriam estar desgastadas de tanto gritar comigo.

Assim que Lily chegou, e me viu tai devastada, não tive escolhas a não ser contar-lhe tudo o quê aconteceu nas últimas horas. Desde a minha noite esplêndida com Justin as mensagens que recebi de Ashley. Lily ouviu do começo ao fim e ficou tao boquiaberta quanto qualquer um que ouvisse tais palavras surpreendentes saírem de meus lábios momentaneamente trêmulos. Ela se exaltou, pediu para que eu explicasse novamente e estávamos em silencio há bastante tempo. Não suportava mais isso.

 — Obrigada. Por tudo. - me senti na obrigação de agrade-la; não só pelos sermões, conselhos e conforto recebido, mas sim por toda a ajuda que venho recebendo dela por todo esse tempo. 

A ruiva soltou um leve suspiro acompanhado de um sorriso fraco, porem sincero, e acariciou minha panturrilha esquerda posteriormente. 

 — Acho que agora só posso contar com você. - falei, abandonando o copo de água  – que ainda estava na metade  – e escorei meu corpo da cabeceira da minha cama. Os lençóis estavam manchados com o meu sangue e eu evitava reparar nesse detalhe. 

 — Você sempre terá a mim. Você é como minha irmã menor. - permiti que uma expressão um pouco menos obscura estampasse minha face e finalmente os olhos claros e intensos de Lily pousaram em mim. Ela se aproximou, colando nossas mãos. Sua mão estava tão quente. Aquilo me passou segurança. – Mas quem deveria estar aqui era Justin. - afirmou. Meu fraco sorriso desmanchou-se. 

 —As mensagens, Lily. Eu não podia. - relembrei. Volto a dizer que ela estava á par de tudo o que havia acontecido.

Lily soltou minha mão. Senti aborrecimento em seu ato. Sua transferência de humor era quase tão repentina quanto a de Justin. As vezes eu me flagrava pensando em como eles tinham coisas em comum.

— Claro que podia, Selena! - quase gritou. Tremi meus olhos. Eu não aguentava mais ouvir gritos. Por quê todos gritavam comigo como se eu tivesse culpa? Eu já estava farta, mas não tinha forças o suficiente para repreende-los. Não tinha forças para nada além de respirar. – Caramba! Você deveria ter contado! Nada iria te acontecer. Você é muito burra, garota. - ela falava tao rapidamente que quase tropeçava nas palavras. 

 — Tenho medo que machuquem Cher. - minha voz saíra de maneira trêmula, baixa, amedrontada. Horrível. Lamentável.

— Nada irá acontecer com ela. Isso é só um plano baixo e estúpido daquela loira fingida. Não caia nos golpes dela mais uma vez. - ela falava tudo tão segura de si. 

Lily se levantou, recolhendo seu casaco e o vestindo posteriormente. Tirou o edredom que cobria parte das minhas pernas e novamente, vi seu olhar diante a mim modificar-se.

 — Levante-se. Vamos atrás do Justin e explicar essa merda toda. - disse ela, mantendo seu tom sério e convicto.

Neguei com a cabeça. Não queria sair daquele quarto. Eu sentia medo.

 — Vamos lá, Selena. - apressou-me. – Eu não quero mais te ver chorar. 

Cheguei a conclusão de que ela não iria sossegar enquanto não me tirasse daquela cama e enquanto eu não fizesse o quê ela pedia, que, devo admitir, era o certo a se fazer.

[...]

O dia já estava amanhecendo. Eu não fazia ideia de onde estávamos ou para onde estávamos indo. Apenas dedilhava os vidros fumês do carro de minha amiga e desenhava círculos e formas geométricas em meio as gotículas de água que caíam ali. 

Permiti que meus olhos se fechassem por meros dez segundos. Eu gostaria que aquele dia nunca tivesse acontecido. Gostaria de apagar tudo da minha memória ou que tudo não passasse de um sonho. Queria voltar a ter sete anos e acordar para a realidade com um beliscão em meu braço. Mas não seria possível. Não dessa vez.

O carro foi estacionado. Abri meus olhos e olhei para Lily, que entregou-me algumas notas em dinheiro e desativou as travas do veículo em segundos.

Levantei minhas sobrancelhas ao contar os cinqüenta dólares agora em minhas mãos.

— Compre café para nós. Precisamos ficar acordadas. - disse ela. Lily como sempre, pensando em tudo e sempre com a razão. Anuí com a cabeça e sai do carro. Estávamos no estacionamento de um café que funcionava 24 horas. Era algo inovador e útil. 

Adentrei na cafeteria e pedi dois Frappuccinos Mocha. O lugar estava praticamente vazio. A não ser pelos funcionários que pareciam ter acabado de chegar pois ainda se organizavam. 

Paguei a quantia gasta e sai do café, voltando ao estacionamento. Meus olhos percorreram por toda a extensão do lugar. Andei por todos os lados possíveis. Chequei o interior do café e os arredores também, mas nada de Lily. 

Seu Ford Escape preto não se encontrava em lugar nenhum. Liguei incontáveis vezes para seu celular mas não obtive retorno algum. Imaginei que ela pudesse ter ido dar uma volta ou ido comprar algo, mas, onde? Nenhum dos poucos comércios existentes estavam abertos e eu não demorei comprando nossas bebidas ao ponto dela se cansar de esperar e me deixar ali. Não fazia sentido. Havia algo de errado ali e tive certeza disso ao deslizar meu celular pelo bolso de minha calça jeans justa e ler em consecutivos sibilos a seguinte frase:

"Você acaba de perder a única amiga que lhe restava."