História Moony Eyes - Madrinha?

Impossível. Era para a alma gêmea de Neji estar morta.

Isso foi tudo o que Fuu conseguiu pensar por quase um minuto. Tenten estranhou e perguntou à amiga se estava tudo bem, mas ela enrolou dizendo que o zíper tinha travado. A esverdeada esfregou os olhos e se aproximou mais do dorso da madrinha para ter certeza de que não estava enxergando errado. Era bem visível a forma escura de uma pequena lua crescente na lateral do tronco de Tenten, a mais ou menos dois dedos de distância do seio esquerdo, um lugar que sempre ficava coberto ou pelos tops ou pelas faixas que a Mitsashi usava em volta do busto. Fuu desviou o olhar de volta para o espelho boquiaberta e encarou a outra pelo reflexo.

— Ah não! Não me olha com essa cara você também, não. Já basta o Neji!

— O...O Neji já te viu? — Tenten assentiu — E o que ele disse?

— Nada, ele ficou com essa mesma cara de boba que você tava agora. Não conseguiu dizer nenhuma palavra... Eu levei como um elogio! — respondeu com um sorriso enquanto dava de ombros.

A cabeça de Fuu estava girando. Como aquilo era possível?

Analisando mais uma vez a marca, a noiva percebeu o detalhe que logo mudaria a vida das três pessoas.

— Ten... E você, pensa em casar algum dia?

— Sim, mas só quando encontrar minha alma gêmea — respondeu com a expressão adquirindo um tom sonhador.

Essa era a confirmação de que ela precisava. Diferente de Neji, a morena sabia que o amor de sua vida estava vivo. Fuu achava curioso o fato da marca de Neji ser uma lua porque era característico dos Hyuugas terem os olhos da cor do astro. Não daquela vez. Esta lua refletia os olhos de Tenten.

Na pele extremamente alva do noivo o desenho aparentava ser mais escuro do que realmente era, mas comparando com o que via na derme da amiga, pôde notar que na verdade a marca era de um castanho muito denso, o mesmo das íris de Tenten.

Agora tudo fazia sentido; o porquê nunca tinha realmente se sentido em primeiro lugar na vida de Neji. Acreditava que tinha que dividi-lo com a Mitsashi, quando na verdade era a ela que ele pertencia. Em todas as vezes que Fuu conversou sobre com o Hyuuga ele expressou não ter nenhum desejo de procurar por sua alma gêmea, mas agora ela compreendia a razão. Neji nunca precisou procurar porque Tenten sempre esteve ali, ao lado dele.

Nas vezes em que Neji precisava de algo, era a Tenten que recorria e não a sua futura esposa. Quando as duas conversavam era perceptível que a kunoichi da Folha conhecia o prodígio dez vezes melhor que qualquer um, até mesmo o tio e as primas. Os dois eram quase inseparáveis. Neji tinha inclusive pedido para entrar com Tenten na igreja porque, segundo ele, “não conseguia se ver entrando com mais ninguém”. Fuu achava que era só porque ele tinha perdido a mãe e ela era a mulher que o conhecia a mais tempo — desde que eram pequenas criancinhas — mas era muito mais que isso. E eles nem percebiam. Agora ela podia ver com clareza.

Seu casamento com Neji era um importante primeiro passo para uma conexão entre a poderosa Vila da Folha e a pequena Vila da Cachoeira. Ambas as famílias, Hyuuga e Takire, são influentes nomes políticos em sua região e Fuu sabia que essa união poderia transformar a vida das pessoas de seu povoado.

Fechou com força o zíper e viu a madrinha agradecer e deixá-la a sós com seus pensamentos conturbados mais uma vez.

Mas como poderia casar-se agora que tinha descoberto a marca? Seria capaz de privar Tenten de sua própria felicidade ao fazer Neji continuar acreditando que sua alma gêmea estava morta?

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Depois de seu pequeno momento com a noiva, Tenten desceu as escadas e se dirigiu ao jardim do lado de fora do castelo que os Hyuugas tinham alugado para o casamento. Apesar de ser da família secundária, Neji ainda estava recebendo uma cerimônia de primeira qualidade. Foi um pouco estranho para ela, no começo, pensar que a alma gêmea do prodígio era a Takire visto que eles não tinham absolutamente nenhuma química, mas quando soube dele que sua cara metade já havia falecido, não entendera se seu coração estava triste pela perda do melhor amigo ou aliviado por ele não ser destinado a ficar com Fuu.

Percebeu que o espaço estava quase vazio, provavelmente todos os convidados estavam alocados dentro do salão onde seria o casamento. Viu um dos organizadores reunir os outros seis padrinhos em uma fila: Kiba e Hinata, seguidos por Lee e Sakura e depois Gaara e Matsuri. Todos casais de almas gêmeas. Engraçado que por último entrariam ela e Neji, ambos sem seu par perfeito.

O moreno se aproximou e ela não conseguiu conter um suspiro. Neji estava simplesmente encantador. Zombara dele, mas ela também tinha ficado sem palavras ao vê-lo com aquele terno pela primeira vez, quando os dois foram juntos à loja de roupas finas.

— Quem diria que um dia eu seria sua madrinha de casamento, hein?! — ela riu enquanto pegava o broche com pequenas flores que ele lhe estendeu e prendia na lapela do paletó — Na verdade, quem diria que você ia acabar casando antes de mim. O famoso bloco de gelo Hyuuga...

— Você sabe que eu não sou assim — Neji respondeu com um pequeno sorriso debochado.

— Eu sei, eu te conheço bem...

As portas de ferro ornamentado se abriram para os padrinhos entrarem. Tenten reparou nos olhares ansiosos que o público presente lançava na direção da entrada, tentando dar uma espiada no noivo antes das portas voltarem a se fechar. Sentiu um nó na boca do estômago com toda aquela expectativa. Neji estava mesmo a caminho de mudar sua vida e, infelizmente, não do jeito que deveria ser. O Hyuuga sempre fora uma das pessoas mais especiais de sua vida, se não a mais especial, e a felicidade dele era extremamente importante para a Mitsashi. Não era justo, depois de tudo pelo que ele havia passado, ainda não poder ficar com sua alma gêmea.

— Eu sinto muito, Neji. — sussurrou olhando fundo nos olhos perolados dele.

— Pelo quê? — respondeu também baixinho.

— Você sabe... — claro que sabia; Neji era um mestre em decifrar seu olhar.

— Ten, eu sei que parece trágica a perda de quem quer que fosse a pessoa destinada a mim, mas eu tenho tudo que posso precisar bem aqui.

Ele tentou proferir a frase casualmente, como se não dissesse nada de mais, mas Tenten sentiu cada palavra sensibilizar o âmago de sua alma. Juntou os corpos num abraço extremamente apertado e apoiou a cabeça em seu tórax. Ouviu as batidas fortes de seu coração e segurou as lágrimas para não sujar a roupa do noivo.

— Eu amo você.

Não, não era a primeira vez que Neji ouvia as três palavras saírem da boca da ninja. Então o que foi a corrente elétrica que atravessou seu peito dessa vez?

— Eu também amo você.

Foi um suspiro, quase imperceptível, mas Tenten estava perto demais para não ouvir. Apertou-o mais forte contra si, mas logo soltou quando ouviu a música da entrada do noivo.

— Pronto?

Neji apenas assentiu com a cabeça e os dois entrelaçaram os braços e caminharam juntos pelo portão. Olhando para os presentes a Mitsashi via tantos de seus amigos que, não fosse pelo altar vazio, se sentiria em seu próprio casamento. Naquele momento, um pensamento lhe ocorreu: quando fosse sua vez, pediria para Neji acompanhá-la na entrada; também não conseguia se imaginar cruzando aquele corredor com outro ao seu lado que não ele.

Caminhando a passos lentos ao som do belo solo de piano, Tenten precisou de muita força de vontade para manter a visão no altar e não desviar para observar Neji e correr o risco de tropeçar no próprio vestido. Chegando aos degraus os dois se viraram um para o outro e a morena segurou as mãos do Hyuuga e o puxou ligeiramente para baixo até depositar um suave beijo em sua testa, por cima da faixa que escondia o selo da casa secundária. O shinobi tentou olhá-la mais uma vez nos olhos, porém ela já começava a rumar para o banco onde os outros padrinhos estavam reunidos.

Tenten se virou espantada quando sentiu Neji não soltar sua mão e impedi-la de se afastar. Por um segundo, se encararam tão intensamente que mal perceberam todo o salão cair em um silêncio sepulcral vendo o noivo segurando outra garota no altar que não sua futura esposa. A madrinha viu o melhor amigo abrir a boca e soltar um suspiro como fazia nas vezes em que queria muito dizer algo, mas não sabia como.

Em um piscar de olhos, saindo do transe, Neji desvencilhou as mãos e assistiu Tenten partir.