História Morangos - Capítulo 3

Peguei a ficha e sentei no meu lugar novamente. Ele pegou uma cadeira e pôs ao lado da minha.

- Você cresceu Hoseok...

- O que?

- A ultima vez que vi você... Você falou que eu cheirava a morango... Não sei se você lembra... - falei baixo e receoso, com medo de ele não lembrar e eu fazer papel de idiota.

- Ah! Eu lembro claro! - olhei para ele. Ele sorria e estava...corado? - desculpa por falar aquilo... - coçou a nuca.

- Faz tempo, não tem problema... - ri fraco.

Aparentemente ele não mudou tanto assim, porque constantemente ele me cutucava e dizia que não conseguia fazer tal questão.

- Você vai ter que usar regra de três... Sacou? - ele afirmou.

Depois de já ter terminado todas as atividades, olhei para o lado e o vi olhando concentradamente para a ficha, enquanto mordia o lábio inferior. Tenho certeza de que ele não conseguiu fazer quase nada.

- Hoseok.

-Hum.

- Tu tá precisando de ajuda né? - perguntei com um meio sorriso. A cara que ele fazia era muito engraçada.

- Não, não. Tá tudo bem. Tô de boa.

Dei de ombros e apoiei minha cabeça na mesa, afim de descansar, porque convenhamos... Se você dorme mal a noite, as probabilidades de você ficar com um puta sono durante a manhã é grande.

Acho que fechei os olhos por uns minutinhos, e quando tava' quase cochilando, senti alguém cutucando a minha costela.

- O que foi Hoseok? - tentei parecer o menos irritado possível.

-Será que você pode me ajudar Min Yoongi?

Suspirei pesadamente e botei minha melhor cara de tédio. Ele pareceu se arrepender de ter perguntado aquilo, porém peguei o lápis de sua mão e fui tentando explicar de forma mais amigável possível.

* * *

- Mas não é possível uma coisa dessas!! - olhei incrédulo para o garoto com cara de táxi ao meu lado.

- Já disse que sou péssimo em matemática Min Yoongi. Mas se não quiser ajudar... Eu entendo... - tentou fazer cara de coitadinho, que teria funcionado se eu não fosse Min Yoongi.

- Ah! Me dá logo essa porcaria! - peguei a ficha que repousava na sua mesa. Resolvi responder por ele.

- Olha não precisa...

- Precisa. Eu ia enlouquecer se você continuasse tentando. - ele deu uma risadinha, e com o canto do olho, percebi ele me analisar por um momento, o que com certeza me deixou desconfortável.

Bem, eu terminei até que relativamente rápido e devolvi a folha pra ele, que recebeu agradecido e sorrindo de forma calorosa. Por que diabos ele está sempre sorrindo?

No final da aula, ele voltou ao seu lugar e eu cochilei durante as aulas restantes. 

Levantei a cabeça meio assustado por causa de um barulho não identificado por mim, e barulho de gente falando, rindo e gritando: era o intervalo.

Peguei meu celular e o fone. Dei uma olhada envolta da sala e ele não tava lá, ou seja, já tinha saído.

Admito que fiquei com uma pontinha de decepção, esperava que ele fosse, sei lá... Perguntar: "cê' deve tá sozinho né? Quer passar o intervalo comigo?". 

Percebi que estou sendo um pouquinho idiota e até ri internamente. Dei de ombros e peguei meu lanche com a moça do lanche. O dia tava frio de mais para eu ir ao pátio, então comi no refeitório mesmo, que a propósito tem cheiro de fritura e comida gordurosa. Além de que tinha gente gritando pra cacete.

Depois que eu terminei o meu (nem tão) delicioso lanche, e como eu realmente tava com muitíssimo sono, me levantei e cruzei is corredores para voltar à classe.

Me sentei e coloquei uma play liste de lo-fi aleatória. Olhei para a janela. O céu estava cinza é caia uma garoa, que estava deixando riquinhos fininhos de água na janela.

Aquilo me deu vontade de fazer xixi. No caminho para o banheiro, podia ouvir o som da chuva (além da gritaria daqueles diabinhos), eu tive que apertar o passo, se não ia me mijar ali mesmo.

Senti um alívio enorme. Enquanto tava lavando as mãos, ouvi uma discussão, e como sou uma pessoa direita, sai antes de ouvir algo pessoal.

Dei play na música que estava ouvindo antes e observei os alunos entrarem e começar novamente aquela baderna. Hoseok entrou meio cabisbaixo, até pensei em perguntar se tinha acontecido algo, mas acho que não me diz respeito né? 

As últimas aulas eram de filosofia e história. Só pra lembrar: eu ainda estou com bastante sono e essas aulas quase gritam "dormir".

Tentei ao máximo ficar acordado, mas aquele professor falando "Eu existo porque penso, ou se penso porque existo" era absurdamente entediante e aquela mesa estava quase me chamando para usa-la como travesseiro.

Desculpa professor... Mas a mesa é bem mais interessante que a sua aula.

* * *

Eu acordei no finalzinho da aula de história, e eu não tava entendendo era nada. Só despertei de verdade quando ouvi o sinal extremamente estridente.

Peguei minha mochila e quando cheguei no portão da escola, vi aquele céu cinza e aquela chuva que de longe a gente já sabe que estava gelada.

Comecei a caminhar e eu estava muito puto comigo mesmo. Por que caralhos eu não trouxe um guarda-chuva? E então eu lembrei... É porque não comprei nenhum ainda. E por falar em comprar, tenho que arrumar um emprego logo. No mínimo vou me dar ao luxo de esperar ter um dia de sol para sair e procurar.

Um pouco mais na frente, vi um garoto alto, segurando um guarda-chuva em uma parada de ônibus. Hoseok.

Enquanto caminhava, eu o observava. Na minha cabeça ele nem ia olhar para mim mesmo. Porém ele olhou e eu senti um calafrio, culpa dessa chuva maldita. Passei por ele e continuei meu percuso.

Cheguei em casa bem molhado. Tirei meu celular da mochila e chequei se tinha sobrevivido. Ele tava' bem.

Meus livros e cadernos estavam secos, mas minha mochila estava um pouco molhada. Coloquei minha mochila e as roupas na área do apartamento.

Tomei um banho quente. Hoje eu tava cansado até para me mecher é pegar um copo d'água. Fiz macarrão instantâneo e chequei os armários.

Tinha alguns potes de macarrão instantâneo e alguns biscoitos. Na geladeira tinha algumas frutas e iogurtes.

Maravilha. Preciso mesmo arrumar uma merda de emprego.

Eram entorno de uma sede da noite. Estava revoltado com tudo, então resolvi dormir. É como eu digo, se você está triste, com raiva ou outra porcaria qualquer, dorme porque é sono.