História Morangos - Capítulo 17

– O que tem de tão especial nesse livro em?.... Yoongi? Yoongi, eu tô’ falando com você!

– Tira a mão da minha cara Hoseok! Ficou doido por acaso? – fechei o livro e virei-me em direção ao garoto. – qual o motivo de você estar berrando em?

– Já faz uma semana que você só ler esse livro! No intervalo, nas aulas de educação física, e até mesmo na floricultura! Pra’ que serve um amigo, se ele nem conversa com você direito? – mordi os lábios para tentar segurar a rizada, mas não aguentei e gargalhei alto. – tá rindo do que, idiota?

– Inacreditável... – falei ainda sorrindo. – tá com ciúmes de um livro?

– O que? – ele fez uma careta. – claro que não. Só estou cansado de não ter ninguém para conversar.

– Ai mais quanto drama! – pus o livro no colo. – o que você quer conversar?

– Sério isso? – ele arqueou uma sobrancelha.

– Eu deixei de ler um livro incrivelmente bom, apenas para conversar com você. Aproveita que isso não vai acontecer sempre não.

– Tá bem... Você já viu o novo filme da Mar- o sinal estridente começou a tocar. – Mas que droga!

– Vamos logo. – ele parecia chateado. – tira essa cara feia vai.

– Cala a boca.

– Ah qual é? Ficou chateado por causa do sinal? – ele assentiu – pare com isso... Vamos, mostre-me seu sorriso, sim? – levantei-me.

– Tô afim de sorrir não...

– Só um.... te pago um doce.

Num instante, um sorriso encantador formou-se no seu rosto, o iluminando por completo.

– Vou cobrar pelo meu doce.

Sentei-me na carteira e joguei-me de bruços nela. Estava cansado pois na noite anterior tive que fazer hora extra no trabalho.

Temo dizer que o dinheiro que recebo trabalhando na floricultura não é suficiente. Consigo pagar o aluguel e algumas outras contas, mas mal sobra dinheiro para outras despesas.

Pensei que seria fácil, mas estava enganado. É muita coisa para eu administrar. Estudar para escola, trabalhar e pagar contas... sem contar com problemas pessoais.

Faz poucos meses desse que me mudei e acho que não vou dar conta de tudo isso.

Infelizmente terei que contar a minha mãe a situação que me encontro, e sinto que será uma conversa longa e cansativa.

– Sr. Min. – olhei assustado para o professor de geografia. – abra o livro na página 126. Terei que falar novamente com o senhor? – neguei, abrindo o livro na página indicada.

– Como todos sabemos, o processo de globalização.... – o professor voltou sua atenção para o quadro.

Meus olhos pesavam e eu não conseguia prestar muita atenção na aula, a brisa que entrava pela janela apenas me fez ficar mais sonolento...
Despertei quando uma bolinha de papel acertou minha cabeça. Apanhei-a do chão e desamassei.

“ você tá bem?”

Olhei para o Hoseok, assenti enquanto forçava um sorriso.

Comecei a anotar as coisas que foram escritas na lousa, afim de me manter acordado.

– Você tá com uma cara péssima. Tem certeza que está bem?

– Eu tô ótimo. Não está vendo? – tentei forçar mais um sorriso.

 x x x

– Não, e isso tá parecendo mais uma careta de dor do que um sorriso. Olha, se quiser ir pra casa, eu aviso ao Namjoon que vou cobrir seu horário.

– Não precisa, sério.

– Sendo assim... Quero meu doce agora, obrigado.

– Tipo, agora agora?

– É. Agora agora.

– E o que você quer comer, Hoseok? – ele sorriu.

– Quero uma fatia de torta de chocolate.

– E onde tem?

– Deve ter numa cafeteria aqui por perto.

Ele me arrastou por dois quarteirões até chegarmos em uma cafeteria, que não tinha um cliente sequer. Era horário de almoço, não me surpreende que o lugar esteja em tal estado.

Sentamos em uma mesa e em poucos instantes, uma moça de cabelos loiros veio nos atender. Hoseok pediu sua torta e eu apenas pedi um café pequeno, precisava me manter acordado.

– Vai tomar café numa hora dessas? – ele me olhou incrédulo.

– Sim, e você? Vai comer torta na hora do almoço? – ele deu de ombros.

Não demorou para ambos, a torta e o café chegarem.
Hoseok comia aquele doce sorrindo, como uma criança. Se eu fosse rico, provavelmente iria à falência, pois iria dar tudo o que o Hoseok pedisse, apenas para vê-lo animado assim.

Após pagar, nos despedimos, eu precisava ir para casa ates de ir à floricultura.

Subi os quatro lances de escada quase que me arrastando. Abri a porta e adentrei o apartamento. Joguei a mochila no sofá e fui direto para a cozinha, aquela xícara de café não foi suficiente para dissipar meu sono.

Aproveitei que a água estava esquentando e corri para o banheiro. A água gelada devolveu um pouco da energia que era preciso eu ter. Não demorei muito no chuveiro, pois o tempo era curto e eu precisava estar na floricultura em uns 30 minutos.
Após vestir minhas roupas, observei meu reflexo no espelho. Minha pele parecia mais pálida do que de costume, a não ser pelas olheiras abaixo dos olhos, e meu cabelo estava desbotado, num tom estranho de loiro e verde.

Suspirei despontado com minha aparência e fui para a cozinha.

Um vento gostoso entrava pela janela e fazia um barulho agradável ao chocar-se com a mesma. Se alguém me perguntasse qual coisa mais gosto nesse bairro, provavelmente iria responder que é o clima, um clima muito agradável. Sem contar o quanto aqui é calmo.

Após terminar de beber o café, enchi uma vasilha com água e despejei na Hortência, que de uns dias para cá, parecia um pouco murchinha.

Apanhei o casaco e fui em passos largos para o meu tão calmo trabalho.

Como sempre, ele já estava lá.
Hoseok fazia um belo arranjo de lírios com algumas outras flores de cores igualmente claras.

– Oi Yoon, você tá melhor?

– Estou... para quem são essas flores?

– Um cliente pediu, falou que pegaria mais tarde... Vejo que não trouxe seu livro hoje.

– Não trouxe por causa dessa sua birra com ele. Sabia que estou numa parte importante da história?

– Qual nome desse livro que você diz ser tão legal? – ele parou ao meu lado.

– Dom Quixote.

– Fala sobre o que? – ele me olhava sério.

– Pra que você quer saber?

– Apenas fiquei interessado ué. – deu de ombros

– É um romance de cavalaria, conta as aventuras de Dom Quixote e Sancho Pança.

– Nossa... parece ser um saco. – ele zombou.

– Um saco é aquilo que você joga na aula de educação física. Um bocado de marmanjo correndo que nem idiotas atrás de uma bola.

– Eu não sou marmanjo não, tu me respeita. – ele apontava o dedo para o meu rosto.

– Vai me bater por acaso?

– Não, mas bem que você tá merecendo uns socos, nerd.

– Vai encarar pirralho? – dei um leve soco no seu ombro.

– Não vou bater em você, um murro meu e você iria se partir todinho.

– E por que?

– Você é pequeno e magrinho.

– Nossa, mas falou o arranha céu!

Essa nossa briga poderia durar o dia todo se não fosse pelo Taehyung, que adentrava a loja com um sorriso enorme. Hoseok não demorou para abraça-lo. Parecia um flash back; os dois sorrindo e se abraçando.

– E aí Yoongi! – o olhei dos pés à cabeça e desviei o olhar.

Aparentemente o Kim era o cliente que pedira o tal arranjo. Ele não se demorou muito na floricultura, apenas pagou pelo buquê e foi embora.

– Vem cá, você tem algum problema com o Tae?

– Não?

– Tem certeza?

– Podemos voltar a falar sobre batermos um num outro?

x x x

Finalmente o fim do expediente chegou, e o Taehyung não saía da minha cabeça, ou melhor, ele abraçando o Hoseok não saía da minha cabeça. Não sei se aqueles dois tem algo ou tiveram algo, mas essa proximidade toda me irrita.

– Tá afim de dar uma volta hyung?

– Humrum.

Caminhamos até uma praça pouco movimentada e sentamos um pouco na grama.
Conversamos sobre coisas diversas; filmes, livros e até mesmo sobre esporte. Não acho que ele saiba, mas essas conversas são essenciais para meu dia ser completo. É um momento onde relaxo, onde descubro ainda mais coisas sobre ele e isso me contenta.

– Será que Min Yoongi tem algum talento escondido hm?

– Tenho. Adivinhe.

– Pintar.

– Não.

– Cantar?

– Não.

– Velejar?

– E isso lá é talento?

– Eu desisto, desembucha.

– Eu sei tocar piano.

– É sério?!

– Sim.

– Você tem que me mostrar um dia. – assenti. – promete?

– Sim Hoseok, eu prometo. – meu coração rapidamente acelerou.

Ele sorriu, logo apanhou o celular.

– Olha Min, eu tenho que ir.

– Certo. – levantei e limpei minha calça.

Subitamente a lembrança daquele sonho esquisito me veio a mente.
Tenho certeza que não conseguiria falar para ele sobre meus sentimentos. Eu tinha que fazer alguma coisa, eu queria fazer alguma coisa. Mas eu tinha medo e estava nervoso.

O olhei diretamente nos olhos, e os mesmos olhavam para os meus. Se ele não sente o mesmo que eu, então porque sinto como se ele me olhasse da mesma forma que eu o olho?

A luz dourada contrastando com sua pele só o deixava mais bonito.

Eu queria beija-lo.

Só a possibilidade disso acontecer, me fazia estremecer.

Desci meu olhar para os seus lábios, e automaticamente me coração saltou, minhas mãos estavam geladas e eu sentia minhas pernas amolecerem.

Como um gesto de coragem, me aproximei mais dele, a cada passo eu ficava mais nervoso e mais convicto de que iria beija-lo.

Parei a poucos centímetros de seu rosto, pouco me importando se alguém estava olhando, pois tudo o que importava ali era ele.

Vagarosamente, aproximei-me ainda mais de seu rosto e selei nossos lábios. Um selar um tanto desengonçado. Seus lábios eram quentes e macios, e sinto que poderia senti-los nos meus para sempre, mas por causa da vergonha me afastei.

Seu rosto estava rubro e ele parecia surpreso.

– Tchau Hoseok... até amanhã.

Me afastei do moreno e fui em direção a minha casa.

Queria me enfiar num buraco. Como que eu iria explicar isso amanhã?