História More Than This - Good mood.

HARRY POV

Voltei ao hospital para ver como Niall estava, queria lembrá-lo de que teríamos de trabalhar daqui há alguns dias, à essa altura do campeonato ele já devia ter esquecido. Queria também ver se Beatrice estava bem, quero dizer, bem ela não está, mas poderia ser pior... Entrei no hospital e não vi câmeras aparentes me perseguindo por onde eu andava, suspirei aliviado. Segui até o quarto de Beatrice, sabia que iria encontrar meu amigo lá. E como pensei, ele estava lá, mais uma vez lá. Estava sentado em frente ao quarto, olhos presos ao chão e corpo imóvel como uma pedra. Seus joelhos sustentavam seus cotovelos e braços, com as mãos entrelaçadas logo a frente. Me aproximei devagar sem dizer nada, esperei ele me perceber e me sentei ao seu lado. Sua expressão não era boa, havia algo de errado.­

— O que aconteceu agora? — suspirei sem o olhar.

— Por onde quer que eu comece? — murmurou.

— Pela pior parte, se tiver. — assim disse.

— Bom, então qualquer parte está valendo — ouvi um barulho abafado do seu peito indo e voltando, conduzindo um suspiro longo. — O médico disse que... o coração dela está piorando. Ela precisa de um transplante, Harry, e rápido.

Meu coração gelou por um momento. Pensei na hipótese de perdermos ela, foi a única coisa que passou pela minha cabeça na hora.

— Mas ela está desacordada há dias, isso é possível? — questionei com uma pontada de preocupação.

— Ao que tudo indica, é sim. — Niall me olhou.             

Encarei o chão, pensando no que dizer para confortar Niall e talvez a mim mesmo.

— Já existe algum doador? — indaguei.

— Não... — respondeu-me Niall, abaixando a cabeça outra vez. — Não posso doar, mas se pudesse eu...

— Você não iria de qualquer maneira. — o interrompi. — Niall, você ia arriscar sua vida assim? Você tem fãs que te amam e que precisam saber que você está vivo todos os dias, tem uma família linda que se preocupa e tem a gente, que não iríamos saber lidar com a sua ausência. — argumentei um pouco indignado.

— Harry, você tem certeza que vai arriscar sua vida assim? — ele repetiu minhas palavras exatamente da forma que eu as pronunciei. — Você não percebe? Viver nesse mundo é suicídio, pessoas hipócritas e egoístas passam pela nossa frente todos os dias, isso está um caos e a única saída é a morte! — completou sério.

— Se esse mundo é tão ruim assim, porque quer deixar Beatrice vivendo nele? Por que quer dar sua vida para ela? Isso sim é egoísmo, Niall. — falei o encarando, Niall me olhou por mais de vinte segundos e abaixou a cabeça. — Além disso, o mundo não é tão ruim assim como você disse. Certo, esse mundo está uma porcaria, mas ainda existem pessoas boas que podem salvá-lo. Existe você, existe Beatrice e todo mundo que acredita num futuro melhor. — sorri fraco, tentando animá-lo.

Niall se calou por alguns instantes, mas logo disse:

— Me desculpe, Harry. É que eu me deixei levar... eu me sinto tão mal — suspirou. — Eu só queria ter a capacidade de ajudar minha namorada, mas eu não tenho. — completou, sua expressão era de frustração agora.

— Ei, não pense assim. Você está sendo o namorado que eu nunca fui para nenhuma garota — sorri. — E confesso que nunca vi ninguém sendo. Cara, quem fica dias dentro de um hospital cuidando da namorada, esperando qualquer notícia, qualquer sinal de esperança, qualquer ameaça de alegria? Tenho certeza que Beatrice vai ficar muito orgulhosa de você, irmão. — segurei seu ombro.

— Harry... — o modo como Niall pronunciou suas falas abaixou totalmente o nível de alacridade do momento. — Eu pensei que poderia me dedicar mais à ela, o que me levou a pensar em ter uma pausa como cantor — senti hesitação em suas palavras, mas mesmo assim aquilo me chocou.

— O-o que? — gaguejei, não sabia o que dizer. — Niall, você não pode fazer isso agora. Nós precisamos de você! — parecia suplicar.

— Harry, eu percebi que não tem como cuidar de duas coisas importantes para mim ao mesmo tempo. Nesse momento, ela precisa de mim... — respirou fundo.

— Mas eu e suas fãs também — o encarei sério. — Sabe o que elas irão pensar? Irão pensar que você desistiu delas. Elas vão chorar, vão se machucar e talvez até mesmo se matar. Isso será o fim para elas, eu lembro muito bem da história do fim dos Beatles. — tentava de qualquer maneira convencê-lo.

— Mas esse não é o nosso fim — retrucou.

— Niall, nós não sabemos quando Beatrice acordará. Não sabemos se algo pior acontecerá ou alguma coisa boa venha a ocorrer nos próximos dias, não sabemos de nada. Se você se importa com a gente e com suas fãs que sempre estiveram aqui por você, não faça isso, Niall...

Niall esfregou seu rosto com sua mão esquerda e disse:

— Está bem, isso é um erro imenso — me senti abrandecido. — Eu... eu vou tentar dar o máximo de mim para as duas coisas. Isso não vai me derrubar, sou mais forte com vocês. — virou para mim e deu um meio sorriso, um sorriso vazio e seco.

Retribui seu sorriso e fiquei em silêncio, pensando no que poderia acontecer agora. Niall fez o mesmo, mas dessa vez o clima não estava pesado.

— Niall... — murmurei e o olhei. — Por que você não volta pra casa, toma um banho, descansa e tenta esvaziar a cabeça? — sugeri, ele parecia tão exausto.

Niall olhou para a porta do quarto de sua namorada, para então cruzar seus dedos e apoiar seu queixo nos mesmos, dando uma leve inclinada em seu corpo. Era como ver aqueles empresários ricos e famosos tomando uma séria decisão que mudaria sua vida.

— Eu não vou sair daqui nem para ir ao banheiro, eu juro — sorri e fiz um desenho imaginário da forma que representava o ''infinito'' sobre meu peito esquerdo, encenando um juramento. — Pode ir. — sorri largo, lhe passando segurança em minhas palavras.

— Se acontecer alguma coisa não pense duas vezes antes de me ligar, entendeu? — disse-me se levantando. Niall disse com um tom agradável, mas que ao mesmo tempo demonstrava preocupação e responsabilidade.

— Sim, senhor! — fiz continência e sorri, fazendo Niall soltar um sorriso fraco também. O que eu mais queria era aumentar o bom humor dele outra vez. Nunca pensei que diria isso, mas eu estou com saudade das piadas irlandesas sem graça desse cara.

Niall então saiu e desapareceu entre aqueles corredores, me deixando sozinho no lugar onde enfermeiras passavam para lá e para cá e me encaravam com rabo de olho. Parecia que eu não era bem-vindo ali, ou, talvez, bem-vindo até demais.