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História Morituri - Quinto


Escrita por: Kashi_

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 6 - Quinto


Quinto

 

Harry Pov

 

 

Eu me lembrava da mansão Malfoy. Mas ainda assim foi um choque horrível assim que entrei ali. O charme, o prestígio e o luxo não estavam presentes. Tudo ali estava fechado e empoeirado, como se ninguém entrasse ali há muito tempo.

Draco não pareceu se incomodar enquanto atravessávamos o local, entrando finalmente numa biblioteca enorme. A biblioteca Malfoy possivelmente só não ganhava de Hogwarts.

Foi impossível não sentir certa compaixão assim que chegamos ao hall principal da biblioteca e eu pude ver um sofá com cobertores jogados sobre ela, uma pequena mesa ao lado com alguns copos e um cinzeiro. A bagunça de livros ao redor do sofá indicava claramente que alguém andava acampando ali dentro.

De repente minha forma de olhar para Draco mudou. Prestei-me a olhar para a forma como mesmo que ele andava ereto, seu corpo parecia querer se curvar. Os passos eram quase arrastados e vencidos. O rosto continha uma linha quase inquebrável de preocupação.

Segui ele entre as prateleiras, vendo curiosamente, em uma delas um grande buraco no meio da prateleira. Com certeza parecia ter sido feito com um feitiço, e ali dentro havia alguns livros.

– Lugar curioso para guarda livros! – Não deixei de comentar ouvindo um som de escárnio abandonar os lábios dele, enquanto o mesmo negava quatro e praticamente jogava nos meus braços, recolhendo mais quatro ali dentro.

Seguimos de volta para o acampamento improvisado de Malfoy. Pude vê-lo fazer um gesto com a varinha, fazendo tudo se organizar para que pudéssemos nos sentar ao redor da mesa grande ali disposta.

– Não que eu esperasse que você soubesse disso, mas famílias tradicionais costumam ter segredos dentro das mansões.

– Tipo objetos enfeitiçados, livros das trevas... – Comentei num tom irônico e ele revirou os olhos.

– Essas coisas o ministério destruiu depois do julgamento. – Resmungou baixo – De qualquer forma, livros que crianças não podem ver.

– Mas se ficam escondidos, você não deveria saber onde fica ao invés de destruir a parede?

– Geralmente os pais contam aos filhos quando se casam – Explicou se sentando de forma elegante na cadeira – Meu pai já estava morto quando casei... – Completou – Só me lembrei dos segredos da biblioteca há poucos dias. E demorei a localizar.

– Sobre o que são esses livros?

– É o que o ministério costuma chamar de arte que pode ser perigosa.

– Por quê?

– É o limite entre a magia negra e a branca, por assim dizer. Incomoda-se sobre isso? Pedi para que viesse já que pode entender melhor o que pode se útil, já que é medimago.

– Não, tudo certo. É pelo bem de Scorpius.

Acomodei-me frente a ele, abrindo o primeiro livro empoeirado e velho, que não tinha nada na capa. Era apenas negra, um pouco velha, sem autor ou qualquer outra coisa.

– Você gosta do Scorp – Falei após alguns instantes em silêncio, vendo-o erguer o rosto para mim com o cenho arqueado, em uma expressão intimidadora – Certo. Foi uma frase idiota. – Admiti vendo-o bufar – É só que... Vocês não parecem ter uma boa convivência.

– E muito provavelmente Scorpius é um garoto incrível por isso. Eu era muito apegado ao meu pai. – Resmungou seco, e eu finalmente consegui pegar a essência da mente estranha de Malfoy.

Ele era grudado ao pai. Um perfeito sonserino que vivia nas assas de Lucius Malfoy. E isso havia tornado ele aquele menino mimado insuportável.

– Mas essa não é a melhor forma... Quero dizer... Scorpius sente sua falta. – Pensei ter visto algo cintilar nos olhos dele, mas logo ele voltou a me fitar com indiferença.

– Eu prefiro não arriscar.

– Mas podia fazer bem a ele. Colocá-lo isolado não faz bem. Ele merece brinquedos, aprender a ler, a se divertir, ouvir histórias. Acho que Scorpius é o único garoto da idade dele que não sabe nada sobre as guerras. Crianças gostam de ouvir do que os pais participaram.

– Não quando os seus pais perderam a guerra.

– Você não perdeu a guerra, Malfoy. Está vivo e fora de Azkaban.

– Eu era partidário dele, Potter.

– Porque foi obrigado a isso! – Rebati.

– Ainda assim, eu não quero piorar a imagem que Scorpius tem de mim.

– Você não deu imagem alguma para ele. Scorp já me contou que não se lembra da ultima vez que você ficou perto dele.

– É complicado. – Se limitou a dizer.

– Por que não me conta?

– Não somos amigos, Potter. Pode parar de tentar se intrometer amigavelmente na minha vida? Está carente? A amizade dos pobretões não é mais suficiente?

– Eu não tenho mais contato com os Weasleys. – Dei de ombros – E eu queria entender porque só consigo te julgar por não dar atenção ao Scorpius. Eu queria entender o porquê.

Lentamente ele ergueu os olhos para mim, me fitando ainda sério, mas com sombra de algo no olhar. Parecia remorso. Banhado em culpa, talvez?

– Você já salvou o mundo bruxo, Potter. Pare de achar que pode salvar todo mundo.

– Eu não quero salvar o mundo bruxo, Malfoy. Eu quero salvar o mundo do Scorp – Rebati deixando de bom grado ele encontrar a verdade nos meus olhos.

Depois de bons instantes me encarando, finalmente ele olhou para o teto, sério com a expressão mais dura que o normal. Eu podia estar enganado, mas sabia não estar. A ação era para claramente tentar prender as lágrimas dentro dos olhos. Ele suspirou, negando com a cabeça.

– Esse é meu papel, Potter.

– Mas não pode fazer isso sozinho. Scorpius é um garoto incrível, Malfoy. E eu sou um profissional e adulto maduro. Pelo bem dele. Pela vida dele. Eu posso te ajudar – Estendi a mão, vendo-o encarar a mesma e finalmente voltar a me fitar. – Pareceu automática a forma que ele trocou um aperto breve comigo.

– Eu andei pesquisando – Comecei a falar assim que quebramos o contato – Não tem nada de errado com o sangue de Scorpius, nem em com o físico. Então seja lá o que ele tem, é algo além disto.

– Acha que pode ter algo errado com a magia dele? – Questionou e eu assenti.

– Pode ser. Nos relatórios sobre ele que me mandou, mencionou que após a primeira demonstração de magia dele algum tempo depois a saúde dele decaiu.

– Pode ser que a magia esteja instável – Comentou com um olhar sério – Nunca ergueram essa possibilidade. Sempre falaram que o erro devia estar em alguma doença.

– A magia está ligada ao corpo. Ela é essencial para o bruxo. Se tem algo errado com ela, vai ter com o corpo.

– É uma boa hipótese. – Falou de má vontade, provavelmente por eu ter pensado em algo que ele não havia imaginado – É bom ver que alguém aprendeu alguma coisa.

– Ah, Malfoy, eu nunca fui ruim para aprender! – Bradei e ele arqueou o cenho, e instantaneamente me lembrei de Snape – Poções são uma exceção – Resmunguei e ele riu em escárnio.

– Poções são requisitadas para Medimagia. Como fez?

– Eu estudei. Ter Hermione como amiga e professora foi uma coisa muito boa – Dei de ombros, vendo-o me fitar com um riso de deboche.

– Você já parou para pensar que em tudo o que faz recebe muita ajuda?

– Você já parou para pensar que eu salvei sua vida muitas vezes?

Ele fez uma careta que me fez rir baixo, e voltar a atenção aos livros. Por um bom tempo nos mantivemos ali, por volta do horário do almoço um elfo apareceu perguntando onde deveria servir o almoço. Após sibilar algo para o elfo, o mesmo desaparatou e eu fitei o loiro, que pretendia voltar a ler.

– Porque a mansão está assim?

– Assim como? – Resmungou com os olhos pregados no livro.

– Você sabe como. – Rebati e ele suspirou.

– Após meu pai ser preso e morrer em Azkaban, minha mãe se suicidou. – Contou e eu arregalei os olhos – As mulheres são criadas para cuidar dos maridos e filhos. Eu já estava grande e ela se sentiu inútil. Aconteceu. Depois me casei com Astória, e ela costumava cuidar daqui. – Seus olhos vagaram pela biblioteca – Mas quando Scorpius decaiu eu passei a viajar pelo mundo com ele atrás de médicos. No final a mansão ficou abandonada até eu decidir voltar, há cinco meses. Eu não gosto muito daqui, não sinto necessidade de cuidar – Deu de ombros.

– Sua mulher não cuida mais?

– Astória e eu não vivemos juntos. – Explicou e eu arregalei os olhos – Digo, ela mora aqui, mas no outro lado da mansão. Ela cuida dos cômodos que vive.

– Mas por quê? Digo, não são casados?

– Tecnicamente sim. Mas não, não somos. Deixamos de viver juntos depois que Scorpius adoeceu. Ela ficou aqui e eu fui viajar com ele.

– Ela não é... Apegada a ele, não é?

– Para Astória, Scorpius é algo que deve morrer ou viver com ela. – Explicou lentamente, como se pensasse nas palavras.

– Por quê? – Bradei começando a sentir irritação.

– Ela se casou por causa da herança. – Explicou suspirando – Meu avô deixou a herança dele para mim. Meus pais não mexeram nela, então é minha. Transferi para o nome de Scorpius assim que ele nasceu. Ela quer a herança, a casa, os empreendimentos...

– Ela quer tudo?

– Sim. E enquanto Scorpius estiver vivo, ele é a pedra no caminho dela. Por isso não faz muita questão de vê-lo.

– Por que não se separam?

– Eu só consegui me livrar do ministério da magia me seguindo depois que casei. Eles exigiram que eu me casasse e mostrasse que podia ser um bom cidadão. Astória sabe disso, e usa como pauta para me incentivar a não me separar. De qualquer forma, isso não seria bem visto pela sociedade.

– Entendi. E o que você fazia enquanto viajava com Scorp que não ficava com ele?

– Trabalhando. – Falou arqueado o cenho.

– Trabalhando?

– O ministério ficou com mais de metade dos fundos Malfoy depois da guerra. Claro que isso ainda me deixa na posição do homem mais rico do país. Ainda assim, quero deixar fundos suficientes para Scorpius. Não vou deixar a fonte secar. E tem Astória, desde que me casei provavelmente trabalho para que ela não desfalque o que resta do nosso dinheiro. – Torceu o nariz – E os tratamentos de Scorpius... Bem, houve vários medimagos que nos prometeram a cura dele se alguma quantia de dinheiro lhes fosse cedidas, e eles sumiam depois de pegar o dinheiro.

– Sua vida é complicada. – Resmunguei e ele deu de ombros.

– Todas são.

– A minha não. Ao menos não agora. Eu praticamente moro no hospital, só trabalho e não tenho que me preocupar com mais nada.

– Não casou?

– Não. – Dei de ombros – Não é algo que me interesse. Pelo menos não por enquanto. Prefiro perder meu tempo trabalhando a mimando mulheres chatas e enjoativas. – Disse e ele sorriu de forma fraca com a indireta dada.

– Quer me questionar sobre mais alguma coisa? – Neguei com a cabeça, vendo-o sorrir.

– Ótimo. Agora volte a ler. De tantos medimagos, meu filho tinha que depender justamente da sua capacidade. – Resmungou e eu ri, me deixando voltar a prestar atenção nos livros.

Era um clima estranho, mas era estranhamente bom. O Malfoy não era assim tão irritante, pelo menos não o Malfoy de agora.

 


Notas Finais


Até o proximo <3


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