Baekhyun se movia lentamente. Ele estava guardando as últimas peças de roupas em sua mala para ir embora daquela casa no final do dia.
Foi até a escrivaninha e pegou a única coisa que ainda estava em cima dela: seu notebook. O guardou rapidamente, evitando olhar para o nome de Chanyeol ainda escrito na parede.
A campainha tocou e Baekhyun achou que fosse o motorista do caminhão de mudanças, mas mesmo que a voz da pessoa fosse grave, parecia jovem demais.
Ele, no entanto, não se importou, e se esforçou em fechar a mala, pressionando o corpo sobre ela até conseguir fechar o zíper.
Estava na metade quando ouviu sua mãe chamando seu nome, o pedindo para descer. Terminou o que fazia e saiu rapidamente do quarto, também evitando olhar para a mensagem escrita na porta.
Ao descer, viu dentro de sua casa um rapaz que parecia ter a mesma idade que si. Definitivamente não parecia um motorista de caminhão de mudanças.
Ele era alto e precisava inclinar a cabeça para baixo enquanto falava com a mãe de Baekhyun.
— Filho, ele veio buscar o resto das coisas no sótão, você pode ajudar? Já terminou de arrumar suas coisas, não é?
Baekhyun assentiu com a cabeça sem expressão alguma no rosto, e guiou o rapaz que olhava animadamente para todos os cantos da casa.
— Faz bastante tempo que não venho aqui. — o rapaz comentou, provavelmente tentando puxar assunto, mas Baekhyun estava num estado inerte desde o início da semana e apenas fez um pequeno barulho indicando que o ouvira, sem realmente responder alguma coisa.
Não demorou muito para que chegassem no cômodo com a escada que levava ao sótão, e Baekhyun subiu logo atrás do outro garoto. Era desconfortável estar naquele lugar novamente.
O outro, porém, parecia impressionado com tudo que via. Baekhyun pegou uma das caixas quase vazias e a segurou enquanto andava atrás dele, os dois não trocando palavras enquanto o mais alto selecionava alguns objetos que pareciam em bom estado e os colocava cuidadosamente dentro da caixa que se enchia lentamente.
— Olha só, nunca tinha visto uma dessas! — ele exclamou e Baekhyun sentiu o coração palpitar brevemente para então parecer não estar batendo mais. O garoto estava em frente à caixa com as coisas de Chanyeol.
O maior pegou a máquina de código Morse e a colocou com cuidado dentro da caixa. Baekhyun evitou olhar para ela.
Ele continuou analisando os objetos ao redor do cômodo, mas Baekhyun percebeu ele o olhando disfarçadamente algumas vezes.
— Qual o seu nome? — ele o perguntou com uma voz baixa enquanto colocava um prato de porcelana decorada dentro da caixa.
— Baekhyun. — o menor respondeu rapidamente, sua voz não demonstrando emoção alguma.
O outro o encarou, e normalmente Baekhyun se sentiria desconfortável com isso. No entanto, parecia estar numa ressaca emocional enorme e não sentia nada.
— Baekhyun... — ele repetiu para si mesmo e continuou o fitando por um momento, antes de voltar a tarefa à qual fora designado. — Já nos conhecemos? — a voz grave se fez ouvir novamente enquanto os olhos de Baekhyun pousavam inconscientemente na caixa com as partituras de Chanyeol, no canto do sótão.
Ele olhou para o outro garoto tentando ver se o reconhecia de algum lugar.
— Não.
O maior assentiu devagar e tirou a poeira que cobria uma moldura vazia aparentemente de ouro, que precisaria ser polida.
Ele a guardou na caixa, e ambos continuaram em silêncio pelos minutos seguintes.
Passou-se um tempo e Baekhyun apenas o seguia ao redor do cômodo, quase se sentindo como um daqueles objetos antigos dispostos ali, quando percebeu que o maior cantarolava uma melodia.
Não deu muita atenção de início, até que começou a reconhecê-la. Ele encarou a nuca do maior enquanto este estava virado de costas para si, tirando poeira de alguma coisa, e de repente Baekhyun se sentiu mais atento ao que acontecia ao seu redor.
Olhou novamente para a caixa no canto do cômodo e lembrou-se de onde conhecia aquela música.
Era uma das melodias que Chanyeol havia escrito.
Uma das favoritas de Baekhyun, mas que nunca haviam sido publicadas, e era apenas ele que a conhecia.
Seu coração pareceu voltar a bater e o sangue circulava de volta para seu cérebro em uma velocidade incrível. Estava prestes a perguntar ao outro de onde ele conhecia aquela canção, quando o maior pareceu encontrar algo.
— Olha! É um álbum de fotos! — ele tirou de uma caixa o álbum marrom e limpou a crosta de poeira que o cobria. Por fim o abriu, começando a folhear enquanto olhava as fotos uma a uma, e Baekhyun se sentiu tentado a ver junto com ele, dando alguns poucos passos para ficar de pé ao seu lado.
— Esta aqui era a minha avó. — o maior indicou, mostrando uma moça com o rosto sério numa foto em que o papel estava desgastado nas laterais .
— Era bonita. — Baekhyun comentou sincero, se sentindo confortável e distraído ao lado do outro.
— Aqui é a minha tataravó segurando meu bisavô. — o maior comentava alegremente, e Baekhyun se perguntou quantas vezes ele já havia visto aquelas fotos para reconhecer aquelas pessoas tão facilmente.
Ao virarem a página, o outro exclamou animado.
— Olha só, esse aqui é o irmão dela!
Apontou para um rapaz sozinho numa foto. Sua expressão estava séria, mas o rosto jovem parecia sempre prestes a dar um sorriso. Baekhyun percebeu como seus olhos pareciam suaves e bondosos.
Ele então sentiu já ter visto aquele rosto em algum lugar.
O menor olhou mais uma vez para o garoto em pé ao seu lado, e reconheceu. Seus olhos se estreitaram quando notou que o mais alto era idêntico ao rapaz da foto.
— Parece com você. — Baekhyun comentou numa voz baixa, quase num sussurro, como se falasse aquilo para si mesmo também.
— É o que todos dizem. — o maior sorriu. — Temos até o mesmo nome.
Era como se alguma coisa despertasse dentro de Baekhyun, e seus olhos se abriram cada vez mais, parecendo incapazes de olhar para qualquer outro lugar além do rosto do maior.
— Chanyeol. — falou devagar com a pronúncia perfeita, para que Baekhyun entendesse seu nome.
Ele começou a respirar pesado enquanto assimilava o que aquilo significava.
O mais alto, ou melhor, Chanyeol, sorriu e olhou para o lado, vendo o rosto surpreso de Baekhyun o encarando. Seu sorriso foi se desfazendo enquanto absorvia a intensidade do olhar sobre si e seus olhos se fixavam no menor.
Ficaram assim pelo que pareceram horas, até que o sussurro de Chanyeol se irrompeu no cômodo silencioso.
— Tem certeza de que não nos conhecemos?
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