-*- Ruggero Pasquarelli -*-
Nós dois estávamos parado na frente do quadro grande, mas Karol não estava mais aqui. Ela parecia estar perdida em suas próprias lembranças, e pela terceira vez eu vi aquela menina que parece ter uma vida tão triste quanto a minha... Mas eu não me deixaria ser vencido assim.
- Como eu já lhe disse, essa é a minha mãe. Maria Rosa, mas este ao lado dela não é o meu pai. – Ela deu um passo à frente fazendo com que eu não pudesse mais enxergar o seu rosto. Ela se inclinou mais para ver o quadro, como ele fosse uma obra de arte. Seus braços estavam cruzados acima de seus seios. Sua roupa agora não era mais de uma famosa, e sim de uma garota de sua idade, na verdade de perto ela parecia realmente somente uma menina de 17 anos. – Mas minha história começa muito antes do meu nascimento. Minha mãe conheceu Pietro na escola, na verdade segundo ela, eles se apaixonaram a primeira vista, e não se separaram mais. E quando terminaram o colégio se casaram no mesmo instante. O casamento foi bastante feliz, até ela ficar grávida de mim. Com mais um para alimentar, o trabalho aumentou também, minha mãe sempre foi ótima cozinheira, e assim fazia comida em casa e vendia na rua. Meu pai por outro lado, era construtor, e com isso um trabalho muito duro, e passava bastante tempo fora de casa. Quando eu nasci os dois já tinham 20 anos, mas com almas já de pessoas muito mais velhas e desgastadas, mas mamãe nunca deixou sua luz se esvaziar, e isso começou a irritar o meu pai.
- Karol... – eu já não queria mais ouvir a história, estava percebendo o que estava por vi, e não queria que ela se machucasse. Eu segurei o seu ombro, para se virar, e quando o fez vi seus olhos já cheios de lágrimas. Eu ia dizer que na queria ouvir mais, porém ela se afastou, e foi para a janela mais perto, e se sentou no parapeito, a luz que vinha de fora clareava, como uma aura, a garota.
- Eu já tinha dois anos de idade, e me lembro bem vagamente das brigas. Elas começavam quando papai chegava tarde, e começava fazer um escândalo, minha mãe falava que eu já estava dormindo, e não admitia esse tipo de ação. Ele dizia que quem era dono daquela casa era ele, quem era pai daquela menina era ele, e quem era dono da minha mãe também era ele. – Karol agora olhava para um ponto fixo na parede atrás de mim, parecia que eu ao existia mais, somente suas lembranças. – Pouco tempo depois a bebida entrou, e foi aí que nós já sabíamos que teria mais volta, ele não era mais o Pietro que amava Rosa, mas um homem que só pensava em si mesmo. Quando os dois começavam a discutir eu já me escondia em baixo da cama, pois sabia o que estava por vi, os gritos da minha mãe, dela pedindo que ele parasse. Ele batia nela todas as noites, o sangue dela já fazia parte da decoração da casa. Com meus quatro anos de idade, eu sai do meu esconderijo, e este foi meu maior erro. Quando eu vi a cena, meu pai veio atrás de mim, dizendo que eu era culpada que sua vida tinha se tornado um inferno, ele iria me bater, mas minha mãe se pôs em minha frente, e recebeu todo ódio. Na manhã seguinte, nós finalmente saímos de casa. Fomos passar um tempo com minha vó, porem meu avô não achou uma boa idéia, por minha mãe já ser uma mulher solteira e com filha, daria o que falar. E assim nos deu um prazo de dois meses para ir embora. Mas meu pai não tinha nos esquecido, ele ia de manhã pedir perdão, e de noite nos xingar de Deus sabe o que. – Karol deu uma risada fraca enquanto se recordava das palavras, e eu já poderia imaginar do que se tratava. – Minha avó vendo o que estava por vim, que eu e minha mãe voltaríamos para as mãos do crápula do papai, ela pediu ajuda a sua irmã. Que no caso é a minha madrinha, ela trabalhava em uma mansão em Cancún, e disse que era a casa de férias, a família morava nos EUA, só vinha para cá poucas vezes ao ano, e por pouco tempo. A casa precisava de uma cozinheira, ela pagava bem, e nós poderíamos morar lá. Um dia depois nós já estávamos dentro de um ônibus. Eu minha mãe dormíamos no mesmo quarto, e na mesma cama de solteiro, nossa vida estava recomeçando. Minha mãe era a pessoa mais otimista do mundo, e dizia que um dia nós conseguiríamos ir a todos os lugares no mundo, e todas as noites ela me contava nossas aventuras pelo o mundo. Tempo depois a Senhora Brandon foi morar com seus filhos na casa, segundo minha madrinha o marido dela trabalhava muito, e por isso ele viajava pelo mundo, e não podia morar aqui. Os filhos dela eram pouco mais velhos do que eu, e você já conhece um deles, Gabriel. – ela me olhou nos olhos, percebi onde eu errei no avião, porque ela amava Gabriel, mas não do jeito que eu pensava. Mas eu deixaria terminar. – E Sarah, eles eram gêmeos. Brandon era uma pessoa linda, seus olhos eram como os de Gabriel, como um refletor do mar, sua pele eram claras como as nuvens do céu, ela era uma pessoa doce, sempre que minha mãe saia, ela me chamava para me sentar com ela, Gabriel e Sarah. – eu sabia que já tinha ouvido esse nome em algum lugar, Karol já tinha dito esse nome enquanto dormia, mas deixaria terminar. Eu presumia que a foto da mulher com duas crianças era a senhora Brandon. – Os dois se tornaram mais do que amigos, eles se tornaram meus irmãos, todos os dias passávamos na praia. E cada dia mais, Senhora Brandon passava dentro de casa, ela parecia mais fraca, as olheiras aumentavam ao redor dos seus olhos, eu perguntava a Gabriel e Sarah, e eles me respondiam que a mãe deles estava se preparando para algo grande. O senhor Brandon nunca havia aparecido em casa, e para mim isto era mais que estranho, eu tinha medo que ele fosse igual meu pai, um dia eu falei isso com minha madrinha, a única coisa que ela fez me foi mandareu parar de pensar nestas besteiras. Minha mãe e Senhora Brandon começaram há passar bastante tempo juntas, eu até mesmo me lembro que quem cortou o cabelo da Senhora Brandon foi a minha mãe, e jamais havia visto uma mulher raspar o cabelo, eu perguntei a minha mãe, e ela disse que isso era algo importante para ela. Como eu fui tola na época, um dia eu estava procurando a minha mãe, e pude ouvir sua conversa com a Senhora Brandon, ela falava que seu marido não vinha porque sabia que ela não passaria de mais alguns meses, e tinha medo de se despedir, minha mãe dizia que isso era horrível, e que ele deveria vim, a Senhora Brandon simplesmente deu uma risada fraca, ela já estava deitada, e minha mãe estava sentada na ponta da cama, a Senhora Brandon disse que tinha pedido para que ele não sofresse, pois sabia que ele não a amava quanto ela o amava. E ela fez minha mãe prometer cuidar de Gabriel e Sarah, eles iriam perder a mãe, e o pai já estava perdido em si próprio. Falou também que no testamento havia pedido que os filhos terminassem seus estudos em Cancún, e que arcaria com as despesas minhas, de acordo com os estudos. E essa foi uma das ultimas vezes que eu pude ouvir a voz dela. - agora Karol já chorava, mas parecia que ela nem mesmo percebia. Eu queria confortá-la, mas minha dor podia ser maior do que da menina. – Uma coisa é bastante estranha, para sempre você poderá lembrar-se das feições de uma pessoa, dos gestos, do modo de vestir, mas a voz sempre será a primeira a ser esquecida, e me sinto muito culpada por ter esquecido a dela. Quando a Senhora Brandon morreu, eu já havia completado 10 anos de idade, Sarah não saiu de seu quarto por vários dias, e Gabriel tinha a tristeza que eu jamais acreditei que veria nele. Foi quando eu vi o Senhor Brandon pela primeira vez, eu já havia visto por fotografias, mas nunca pessoalmente, ele era produtor musical. Ele parecia ser uma pessoa seria, mas ele foi o único que conseguiu tirar Sarah do quarto, ele começou a morar na mansão de Cancún, mas não no mesmo quarto que sua falecida esposa dormia. Certa noite eu encontrei com ele a noite na cozinha, ele estava sentado comendo um bolo de chocolate, eu nunca havia dirigido a palavra a ele, na verdade eu tinha medo dele. Mas eu me sentei com ele, e nós comemos o bolo de chocolate, eu disse que minha mãe iria me matar, já que ela me deixavaeu comer doces somente no final de semana, então ele disse que seria nosso segredo. Eu percebia que ele tinha começado a freqüentar a cozinha com mais, deveria ter passado mais ou menos alguns meses desde a morte da Senhora Brandon, e eu percebia que ele estava melhor, não parecia mais tão cabisbaixo, assim como Gabriel e Sarah, o Senhor Brandon era uma pessoa muito legal, ele obrigava seus filhos terem aula de canto, de violão e de piano, cesta vez ele me viu espionando atrás da porta, e começou a pagar para mim. Minha mãe achou um absurdo, e foi reclamar, ela disse que não achava justo, já que pagava escola, moradia e comida. Ele disse que era somente uma cortesia. Meu gosto pela a música começou a falar mais alto, assim como o Senhor Brandon, ele disse que eu tinha um talento incrível, e deveria começar a pensar em uma carreira. Minha mãe disse que era algo que era impossível, mas o Senhor Brandon disse que poderia ajudar. Eu percebia que o Senhor Brandon e minha mãe estavam cada vez mais próximos, tinha dias que eu chegava da escola, e o via sentado na mesa da cozinha, enquanto a via cozinhar. Eu já podia perceber os olhares um do outro, cada vez mais inegáveis o sentimento, certa noite eu percebi que minha mãe não estava no quarto, e fui atrás dela, quando eu desci as escadas, vi que o Senhor Brandon estava a beijando, e pela primeira vez, e muito tempo eu pude ver minha mãe sem preocupação, somente sentindo o seu coração, mas eu como sempre, sem querer, joguei um vazo no chão, os dois se afastaram, minha mãe me olhou, e se virou para ele horrorizada, ela pegou minha mão, e fingiu que nada aconteceu, os vários dias, eu podia ver que ela estava se escondendo, já que ela pedia agora a minha madrinha para colocar a comida a mesa, ela ia com mais freqüência ao supermercado, ela havia me proibido de fazer aulas de canto e música. Foi quando um dia eu pude ouvir a discussão dos dois, mas não era como a dela com o papai, ele estava exasperado, foi quando o tempo parou, ou ar não existia somente as três palavras que rodavam no ar, o eu te amo. Alguns minutos haviam passado, e eu, Sarah e Gabriel não sabíamos mais o que fazer, mas minha mãe sim, ela saiu da casa correndo, ela foi direto para o mar, e eu me lembro como se fosse ontem ele indo trás dela, era uma cena de filme, minha mãe disse que estas três palavras não resolviam nada, ela nunca foi amada, e nunca aprendeu o que é isso, mas o Senhor Brandon disse que estava disposto a ensiná-la. Minha mãe não era cozinharia da casa, ela cozinhava por prazer, ela havia pedido para minha madrinha também parar, mas ela era muito teimosa, e disse que se parasse de trabalhar, ela morreria por tristeza. Eu e minha mãe não dormíamos mais no mesmo quarto, eu havia ganhado um quarto somente para mim, como eu nunca imaginei. Eles se casaram pouco tempo depois, e eu já havia completado meus doze anos, meu pai, como ele pedia para ser chamado por mim, disse que agora eu daria continuidade a minha carreira, eu comecei a ter aulas mais intensivas. Gabriel queria seguir os passos do pai, e então ele se tornou muito mais do que um irmão, ele se tornou quem eu queria como meu empresário. Sarah havia voltado para os EUA, ela queria fazer sua faculdade por lá, seu sonho era trabalhar com moda. Mas nós continuamos por aqui, até que Sarah voltasse, e me apresentasse a Roller Band, a banda onde tudo começou.
Karol pela primeira vez saiu do transe, e agora olhava fixamente para mim, eu havia percebido que eu tinha cometido um erro terrível com ela. Ela não era uma patricinha soberba, ela era uma pessoa que sofreu muito nessa vida. E ela merecia um pedido de desculpas, mas ela não deixou dizer uma única palavra.
Ela desceu do parapeito da janela, e parou ao meu lado, ela não me olhava mais, olhava para o mar que estava nas portas de vidro ao meu lado. Ela engoliu o seco, e pude ouvir a mesma menina de dentro do avião.
- Você me julgou antes de me conhecer, e isso não me importa. Agora você sabe que eu não sou uma pessoa que precisa de atenção, Ruggero. – ela engoliu o seco, e ficou mais ameaçadora. – Se você contar sobre minha história para alguém, não pé só ela que vai cair no ventilador, pois a da Maya também cai.
Eu fiquei horrorizado, como ela sabia sobre Maya, ninguém sabia, somente Sophia e Chiara. Porém não tive tempo de lhe perguntar como ela soube, pois ela já havia saído da sala.
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