História My Angel - Padackles - Confie em Mim

Assim que Jensen acorda o seu peito aperta em culpa. Castiel tinha razão, ele sempre teve razão, um dos motivos para o anjo mais velho ser o seu mentor no céu.

Mentir é errado, e mentir para quem se ama pode ter consequências drásticas para ambos. Jensen não quer encontrar motivos para machucar Jared de modo algum, suas vidas foram ligadas no momento em que Jensen sentiu o solo áspero em que caiu, no momento em que a dor ardente de perder a sua graça se instalou em seu ser.

Motivos existiam em sua cabeça para esconder essa verdade, mas agora parece tão egoísta esconder algo de vital importância pra ele, e para o relacionamento que construíram.

Jensen ainda não entende bem o que sente em relação a Jared, talvez jamais chegue a entender com clareza, Jensen não foi criado para sentir tais sentimentos em devidas proporções, ele foi criado para não sentir absolutamente nada. Jensen sabe porém que chegou a sentir algo por Jared, algo forte, algo digno de grandeza, de beleza e pureza.

Algo bom.

Entender isso porém lhe é um mistério, mas isso não o impede de sentir e apreciar.

Castiel sempre lhe ensinou que a maior beleza no ser humano e a capacidade de amar a todos e não a apenas um, de espalhar sentimentos belos por seus semelhantes, isso os torna humanos, e isso era o que Jensen sempre quis sentir.

Porém isso lhe custou caro. Jensen perdeu a sua casa, perdeu os seus irmãos, e Jensen achou que ficaria sozinho para todo o sempre.

Mas então surge o primeiro humano que viu durante toda a sua existência depois de Dean, a primeira pessoa que viu depois de cair, e aquela pessoa foi a sua estrela guia, ele o ajudou e o cuidou.

Apenas a idéia de perde-lo faz Jensen preferir a dor de cair duas vezes mais, pois ele prefere deixar de existir a não ter Jared por perto.

Dizer a verdade pra ele pode fazer com que Jared o odeie, mas mentir pode fazer Jared perder a sua confiança, seus sentimentos que criou por Jensen.

É um conflito interno e Jensen só quer que acabe.

Então o faça acreditar.

Jensen precisa fazer o certo não apenas para o seu próprio bem, mas para o de Jared, para o de Dean. Pro bem de todos.

Sua determinação some porém quando Jared adentra pela porta da frente rápido com um olhar sombrio. Medo se instala em seu interior e logo ele está correndo até o homem maior.

— Tudo bem? — Jensen pergunta com medo na voz. Jared não costuma ser o humano mais sorridente, mas esse olhar escuro em seu semblante causa um arrepio em sua coluna.

Jared passa por ele e sobe as escadas com paços apressados. Jensen encara os movimentos do homem com confusão e medo e logo o segue para onde Jared está indo.

Assim que ele chega no quarto que Jared dormia Jensen vê o homem agarrando sua mochila e enfiando brutalmente suas roupas na mesma. Jensen permanece sem ação por algum tempo, sem saber o que falar, sem saber se deve falar.

— Jared...

— Temos que sair daqui, precisamos sair agora antes que seja tarde — É tudo o que Jared responde sem manter sequer meio segundo de contato visual.

Algo está terrivelmente errado pra Jared agir tão friamente assim, Jared costuma ser totalmente carinhoso e compreensivo com Jensen, e foi esse carinho que fez Jensen amar o humano alto, agora porém está tudo errado, aquele olhar seco não deveria estar nas feições dele.

— O que aconteceu? — Jensen implora agoniado — Eu preciso saber, Jared.

Jared empurra as mãos na mochila assim que a fecha e suspira profundamente. Logo ele está esfregando a mão esquerda nos cabelos demoradamente, seus olhos fechados.

— Algo pegou Bobby.

Jensen sente todo o ar escapar de seus pulmões. Oh pai, não deixe nada machucar o homem que Jared ama como um pai. Por mais que Bobby não tenha confiado em Jensen, o ex anjo nota que ele é um homem bom, uma pessoa honrada e fiel, ele não merece sofrer nas mãos desses seres de alma escura que caminham por entre humanos.

Jensen quer consolar Jared, dizer que vai ficar tudo bem, que Deus jamais permitiria algo assim, mas nem ele mesmo sem certeza sobre isso agora. Seus irmãos mais velhos sempre dizem que o pai sumiu, que ele preferiu se afastar de sua obra, que os abandonou, então em que Jensen pode acreditar?

— Eu sinto...

— Eles querem você — Jared resmunga, seus olhos fitando Jensen com estranheza e dúvida, Jensen engole em seco, seus membros paralisados pelo medo, sua língua pesa em sua boca mas mesmo assim ele consegue sussurrar.

— Quem me quer? O que querem comigo? — Jensen parece incrivelmente assustado, quase beirando o pânico, mas ele não deixa isso transparecer, não agora.

— Não faço ideia, tudo o que eu sei é que Bobby me ligou, disse que algo o levou e que busca por você.

"— Bobby? Já encontrou o que foi buscar em...

— Jared, eu preciso de sua ajuda, algo me apagou e agora estou preso em algum tipo de galpão velho. Pelo cheiro de enxofre são demônios.

— Bobby, você está bem? Está machucado?

— Nada que eu não possa resolver. Presta atenção. Esse lugar fede a peixe, e a única fábrica que transposta peixe pra cidade é a Sea Fish no sul de Nebraska. Não posso dar as coordenadas, eles estão me observando o tempo todo, preciso que venha e traga o garoto.

— O que? Do que está falando? O que Jensen tem a ver com isso?

— Eles o estão caçando, Jared, eles o querem mas obviamente não me deram pista nenhuma de porque. Não tem nada a ver comigo, o negócio é com Jensen.

— Bobby, não faz sentido.

— Eu disse que tinha algo de errado com esse garoto, ele... NÃO. Jared, corre.

Bip. Bip. Bip.

— Bobby? BOBBY!"

— Jared, eu juro que não sei quem são essas pessoas — Jensen tenta se explicar, dizer a verdade, pois ele realmente não sabe que intensão essas coisas tem com ele. Ele está tremendo agora, medo ganhando a melhor dele, o olhar acusatório de Jared está piorando tudo — Não sei o que querem comigo.

Jared olha pra Jensen por alguns segundos, buscando a mentira em seu olhar, logo ele aperta o maxilar e agarra a mochila a jogando pelo ombro.

— Vamos descobrir assim que chegarmos lá.

《...》

Jared não sabe o que está acontecendo agora, tudo deu uma volta o deixando tonto e sem chão. Jensen parece perdido e assustado no banco do passageiro, seus olhos focando na estrada lá fora como se não soubesse se deveria estar ali.

Jared sabe que agiu duro demais com o menino, foi seco e superficial, desconfiou dele, mas como ele pode pensar que Jensen não é nada mais que a melhor coisa que aconteceu na sua vida? Sua luz, sua melhor metade, aquilo que faltava pra completar seu coração.

Jensen se tornou mais que apenas o garoto que precisava proteger para se sentir em paz mentalmente, Jensen se tornou o amor da porra da sua vida, o garoto que roubou seu coração sem sequer se esforçar demais.

Não existe meios fisicamente possíveis de Jared desconfiar dele, por mais que ele tenha tentado quando Bobby o acusou de não ser humano, de estar tramando contra eles, Jared simplesmente não pôde acreditar que Jensen faria um mal assim.

Não existe maldade naqueles belos olhos verdes, não existe mal algum em todo o ser do garoto, Jared ama Jensen pelo seu lado doce, gentil e adorável, o ama por ser sincero e altamente fiel, mesmo tendo posto a sua vida em risco para seguir Jared, ama que Jensen tenha preferido confiar em um estranho que ir embora e viver a vida livre como qualquer adolescente quer.

Jensen se tornou pra Jared tudo o que ele sempre sonhou em alguém pra fazer parte da sua vida, mesmo que por muito tempo ele tenha descartado que essa pessoa existia.

Agora como ele pode se quer pensar que Jensen não é nada mais que a pessoa mais perfeita que já pisou na terra? Jensen é o seu pequeno anjo, e ninguém jamais vai machuca-lo. Nunca. Não se Jared poder evitar.

Antes que Jared possa evitar o movimento ele puxa a mão de Jensen na sua, seus olhos desviando rapidamente da estrada para aquela imensidão esverdeada, e beija as juntas da mão menor do garoto, um pequeno toque de lábios suave, apenas para que Jensen saiba que tudo vai ficar bem, que Jared não planeja abandona-lo.

Que vai ficar tudo bem.

《...》

Jensen se lembra quando seu ser rodeado de luz viu a existência pela primeira vez. Salpicos de graça voavam pelo espaço simultaneamente de acordo com que o mundo foi imergindo diante de sua frente.

Nada era realmente palpável, mas a luz o preenchia e ele podia sentir os vestígios delicados o tocando como as mãos divinas de Deus em seu ser. Sua graça recém nascida era tão pura e clara, quase invisível mas estava ali, se remexendo por dentro e fora o marcando como único, uma nova criatura de seu pai.

Pedaços do mundo foram surgindo como peças divididas prontas para se unirem. Uma parede branca em sua frente apareceu, a luz adentrando por ela tocando a sua face, e pela primeira vez Jienseniel pôde sentir a luz tocar a sua graça e se misturar alegremente.

Jensen focou em tudo o que pôde ver a sua frente com curiosidade, seu pequeno ser totalmente aberto a desvendar tudo e qualquer parte desse novo mundo em que foi posto, ele era realmente curioso para um querubim tão jovem, curioso demais para alguém de sua espécie.

Jensen sempre foi diferente dos demais, ele sempre quis saber mais e mais, sempre esteve disposto a aprender tudo o que pôde sobre o céu, e então a terra. As criaturas magníficas criadas por seu pai, humanos. Isso não era um comportamento comum de um soldado do céu, para alguém que tinha único e principal dever com seu lar, o paraíso.

Jensen sempre quis mais, desde que surgiu como nova adição no céu, desde que viu pela primeira vez sua nova casa. Desde que sentiu a mão protetora de seu irmão mais velho o tocar e desperta-lo para uma eternidade de devoção.

Sua curiosidade o levou a queda, e a queda o levou ao amor. O sentimento mais puro entre os humanos, o sentimento que um anjo jamais sentiria.

Jensen não quer perder a faísca que corre por dentro sempre que o sente. Ele não quer esquecer como é.

Jensen é um anjo que ama, um anjo que pode amar, ele não quer perder isso.

《...》

— Quando... quando prendemos você no porão do Bobby, e fizemos todas aquelas perguntas, você disse que não podia responder, que não entenderíamos. O que quis dizer com isso? — Jared olha para Jensen, que está sentado na cama a sua frente, a mais distante da porta. O garoto parece diferente, como se algo causasse um conflito por dentro dele. Jared não quer aborrece-lo mais do que ele já está, mas eles estão se aproximando de Nebraska e tudo o que tiver de ser dito deve surgir agora.

Ele ainda confia em Jensen com a sua vida, mas se existe algo dentro dele que o está machucando apenas por estar preso, Jared quer ajuda-lo a se abrir e resolver agora, enquanto podem.

— Eu não sei — Jensen murmura, suas mãos abraçando as suas pernas perto do peito se tornando tão pequeno quanto consegue ser. Jared não quer nada mais que correr até ele e abraça-lo pra sempre, mas isso não vai resolver nada agora, algo está acontecendo e eles precisam dar um jeito.

— Jensen, preciso que seja totalmente sincero comigo, se precisa me dizer algo...

— Não confia em mim — Jensen sussurra, sua voz quebrada, seus dedos apertando o tecido de sua calça de moletom com força num movimento nervoso. Jared morde o lábio, ele realmente não sabe como agir, como fazer melhor pra Jensen.

— Claro que eu confio em você. Merda, acho que confio mais em você do que em mim — Jared tenta brincar mas existe tanta tensão em sua voz que aquilo acaba saindo como uma acusação. Jensen se encolhe e Jared se chuta mentalmente — Olha pra mim, Jen, você é incrível, já devo ter dito isso um milhão de vezes, porque é verdade. Você é a melhor coisa que aconteceu na porcaria inútil da minha vida.

Jensen o encara com largos e molhados olhos verdes, Jared não tem a pele de ferro e o coração de lata, logo ele está caminhando até a cama de Jensen, subindo nela e puxando o menino enrolado nos braços. Sua pele quente junto a sua se tornou um conforto que Jared não sabia que precisava antes.

— Você quer mesmo dizer isso? — Questiona Jensen com esperança explícita. Jared sorri e o beija no topo de sua cabeça, antes de pôr seus dedos no queixo de Jensen gentilmente até que o garoto esteja com o rosto de frente ao seu. Jared encosta seus lábios juntos, a delicadeza do beijo é como um furacão por dentro dele. Jensen ainda não sabe beijar, e é tão adorável como ele tenta para que seja o melhor possível pra Jared.

Suas bochechas sardentas coram e Jared não evita de beijar a pele quente e todo o rosto do menino com amor.

— Sim, eu quero mesmo dizer isso. Eu te amo, Jensen, tanto que apenas imaginar um mundo sem você parece insuportável demais pra aguentar.

Jensen cora novamente e começa a brincar com os botões da camisa de Jared para disfarçar isso. Jared sorri antes de perguntar baixinho.

— Acha que me ama também?

Jensen sorri, amor evidente em seus olhos, mesmo que Jensen não dissesse nada, Jared veria a verdade claramente, e ele sente os fogos de artifício estourarem por dentro de sua cabeça.

— Acho que sim — Jensen sussurra, e para a surpresa de Jared, Jensen o beija sem que ele o incentive, foi casto mas fez o coração de Jared pular. Seus narizes se tocam e Jensen o enruga fazendo Jared sorri carinhosamente.

— Você é lindo — Jared roça o seu nariz no de Jensen como elefantes fazem com a tromba, suas testas juntas, seus hálitos frescos se fundindo. Jared toca seu polegar na bochecha de Jensen e encosta de vagar seus lábios nos dele gentilmente, com carinho, com cuidado, como se fosse o seu primeiro beijo — Eu te amo tanto.

— Você confia mesmo em mim? — Jensen olha pra ele, seus dentes apertando o lábio inferior com força. Jared traça seu polegar pelo local fazendo Jensen parar de se machucar — Eu sei que é difícil com tudo isso mas...

— Eu confio totalmente em você, agora você precisa confiar em mim também — Jared segura o lado da cabeça de Jensen enquanto diz cada palavra.

— Eu confio, Jared, eu confio 100% em você. Confio totalmente...

— Ei, tudo bem — Jared rapidamente interrompe suas palavras nervosas, é como se ele sempre quisesse orgulhar Jared em tudo, em relação a qualquer coisa — Está tudo bem, Jensen. Você precisa relaxar.

— Sinto muito.

Jared suspira, e não diz mais nada antes de largar outro beijo na testa de Jensen demoradamente. Os dedos de Jensen ainda agarrando a sua camisa com força como se precisasse ter certeza de que Jared está mesmo ali ao seu lado.

Eles permanecem em silêncio por algum tempo, Jared abraçando Jensen perto enquanto que a cabeça de Jensen fica aninhada na dobra de seu pescoço. Nenhum deles está realmente dormindo, apenas apreciando suas presenças para acalmar antes da verdadeira ação começar.

Jared obviamente não pretende levar Jensen junto quando for resgatar Bobby, mas também não pode deixa-lo pra trás desprotegido, principalmente com essas coisas atrás dele. Jared pretende descobrir o que está acontecendo, lidar com os demônios, mas também proteger Jensen todo o tempo. Ele jamais se perdoaria se... bem.

— Jared — Jensen quebra o silêncio de repente.

— Hmm?

— Você já... fez sexo antes?

Os olhos de Jared grelam tanto que suas órbitas doem, ele engasga com a própria saliva enquanto se levanta com Jensen ainda agarrado a ele. Jared ainda surpreso com a pergunta encara Jensen que parece confuso com aquela reação.

— Disse algo errado? — Jensen questiona com a cabeça virada para o lado em confusão.

— Uh... Não, apenas fiquei surpreso com essa pergunta — Jared tosse brevemente sem saber exatamente como responder aquilo — E sim, eu já... já fiz... antes.

— Ah — Jensen abaixa o olhar, parecendo triste com aquela resposta. Jared franze a testa e levanta cabeça de Jensen para olha-lo nos olhos claramente.

— Tudo bem?

— É só que... eu li que as pessoas só fazem sexo quando estão apaixonadas, então quer dizer que eu não sou a primeira pessoa que você amou na vida — Uma lágrima escorrega pelas bochechas de Jensen e um biquinho triste se forma nos lábios do menino.

Se Jared já não amasse Jensen antes, ele com certeza começaria agora. Jensen é simplesmente perfeito com essa sua ingenuidade, mesmo sendo triste que Jensen pense algo assim de algo tão comum quanto sexo.

— Algumas pessoas fazem sexo mesmo quando não se amam, Jen. As vezes esse ato é feito quando as pessoas precisam relaxar, ou apenas esquecer os problemas. Eu já fiz sexo antes mas eu não amava a pessoa com quem fiz, eu nunca amei ninguém antes como amo você — Jensen tenta falar algo mas Jared o interrompe — Lembra que eu disse pra confiar em mim? Preciso que confie nisso também.

Isso parece ter o efeito desejado em Jensen que suspira e volta a se encostar em Jared, seu rosto escondido no ombro do homem mais alto. A próxima pergunta de Jensen não é muito melhor que a primeira:

— E quando vamos fazer sexo juntos? Se nos amamos, temos que fazer sexo, certo?

Jared morde o lábio mas consegue dar uma resposta pro menino — Em breve, quando você estiver pronto. E quando tudo isso estiver resolvido