História My Angel - Exchange.

Luna estava abalada e não fazia nem ideia de como poderia ajudar o amigo. Matteo inclinou a cabeça para trás e aos poucos o sangue parou de escorrer por sua boca. O garoto tossiu algumas vezes antes de recuperar a fala e também a cor, havia se tornado pálido.

-Matteo! -Luna abraçou o garoto sem se importar com todo o sangue. -Você está bem? Temos que ir ao médico. Voc...

-Luna! -Matteo segurou os braços magricelos da amiga, apertando-os sem muita força. Logo ele atraiu a atenção da menina, que o observava com precisão. -Eu deveria ter imaginado que isso aconteceria. Eu era um anjo, não como há muitos anos, não sei mais digerir tudo isso. Não será um médico que irá me ajudar.

-Mas se não comer, vai...

-Morrer. Mas esse não é nem de longe o pior dos nossos problemas.

-Claro que é, mauricinho! -Luna levantou-se, ela mantinhas os braços cruzados e a expressão nada amigável. -Não vou perder você nem ferrando. Eu quero ver minha mãe novamente e você precisa de ajuda, acha que se ela for um anjo poderá nos ajudar?

-Ela é um anjo. -Matteo sorriu brevemente limpando a boca com a barra da camisa. Luna arregalou os olhos e logo um sorriso gigantesco surgiu em seus lábios rosados.  -Faremos o seguinte, iremos comprar algumas roupas, porque não tenho nenhuma aqui, mas primeiro iremos ao banco...

-Matteo, não tenho uma conta no banco!

-Mas eu tenho. Descobri que meus pais não desativaram minha antiga conta, pelo contrário, antes de morrerem, depositaram todo o dinheiro que tinham lá, pois não queriam doar a ninguém! -o ex-anjo revirou os olhos, mas no fundo estava agradecido pelo egoísmo dos pais, ou do contrário, não teria dinheiro.

-Como vai provar que é um Balsano? -Luna perguntou curiosa.

-Se lembra quando te contei sobre a morte dos meus pais? -Matteo questionou e a menina assentiu, incentivando que ele prosseguisse. -Bom menina delivery, eu descobri sobre essa conta há muitos anos, quando eu ainda era o anjo da sua mãe. Eles morreram exatamente no dia em que sua mãe começou a namorar seu pai, fiz questão de ir até minha casa antiga e buscar o cartão que me dava direito a acessar a conta no banco, mas não me servia de nada. Então, sua mãe o guardou para mim, e quando ficou grávida de você, prometi que deixaria todo esse dinheiro para você, mas vejo que precisarei dele agora.

-Por que a mim? A Nina veio primeiro! -Luna franziu a testa tentando assimilar todas as palavras do anjo.

-Não faço ideia, só senti que devia fazer isso! -o garoto balançou os ombros enquanto a amiga o encarava com um sorriso brilhante. -Acha que podemos ir até o quarto da sua mãe? Sei exatamente onde está.

-Claro, papai só não pode nos ver! 

[...]

-Mauricinho! -Luna gritou assim quem entrou no quarto, não havia ninguém em casa, poderia falar o quão alto quisesse.

Quando escutou o barulho do chuveiro, percebeu que Matteo se banhava. Ótimo, ela já havia comprado diferentes tipos de roupas para o amigo de acordo com sua recomendação, havia retirado uma boa contia de dinheiro na conta de Matteo, não foi tão difícil pegar o cartão no quarto da falecida senhora Valente.

Luna estava tão feliz que as vezes até esquecia das preocupações e problemas que teria que enfrentar a frente. Ela sentia-se mais segura tendo Matteo ao seu lado, mas sabia também que em breve o amigo se sentiria fraco por falta de alimentação.

-Luna, está ai? -o recém-humano respondeu-lhe algum tempo depois ao desligar o chuveiro. 

-Não demore! Comprei tanta coisa! -a garota gritou de volta sem conter a animação. 

-Quer dizer que funcionou mesmo? 

Quando a menina ergueu os olhos para mirar o amigo que acabara de sair do banho, teve a surpresa de encontrar a altura de seus olhos, o peitoral musculoso de Matteo. O menino secava seus cabelos com uma das toalhas enquanto mantinha a outra amarrada em sua cintura deixando seu peito totalmente nu. 

Luna sentiu-se envergonhada por fitar o corpo de Matteo por tanto tempo, o que fez com que ela abaixasse a cabeça e começasse a retirar algumas peças de roupas da sacola.

-Eu já vi você sem roupa, está corando apenas por ver meu tronco? -Matteo questionou achando graça da cena. Luna atirou no amigo uma calça de moletom sem nem olha-lo, e por esse motivo, não acertou seu alvo. -Mira ruim. -ele comentou. -Olhe para mim, precisamos conversar.

-Se troque primeiro mauricinho! -ela exigiu o fazendo rir.

-Coisinha chata! -ele exclamou. Em seguida, Matteo pegou a calça vestindo-na ali mesmo, bem na frente da amiga, que revirou seus olhos sem erguer a cabeça. -Me dê uma camisa, antes que surte apenas por olhar para o meu peito.

-Ah, cale a boca! -Luna reclamou jogando uma camisa verde na direção do seu antigo anjo. Ela observou seu braço musculoso por um tempo até criar coragem para perguntar: -Quando fez uma tatuagem?

-No meu aniversário de dezesseis, três meses antes de morrer! -ele sacudiu os ombros para menina enquanto ajeitava a camisa no corpo. -Muito bom gosto, menina delivery.

-Eu sei, mauricinho. -se gabou. -O que está escrito na tatuagem?

-Não sabe ler em italiano? -ele debochou, lembrando-se que a garota fazia aulas de italiano. Luna fuzilou o amigo que acabou dando risada novamente. -Scopo, significa propósito.

-Qual o seu propósito como humano, mauricinho? 

-Fazer você feliz, Luna. 

A menina o encarou em silêncio enquanto admirava seus olhos que brilhavam ao encara-la. Luna deveria agradecer aos céus todos os dias por ter Matteo ao seu lado. Ele lhe dava proteção, carinho e amor. Não precisava de mais nada, de mais ninguém.

-Bom... -o anjo pigarreou, terminando o silêncio constrangedor. -Acho que alguém está nos ajudando.

-Quem seria?

-Sua mãe.

-O quê? -a menina se levantou, espantada com a notícia. -Como minha mãe? No que ela ajudou?

-Documentos, Luna. -Matteo sorriu mostrando a garota um envelope pardo que estava sobre seu criado mudo. -Apareceram aqui, de repente enquanto eu escovava os dentes no banheiro. Você estava no shopping e...

-Acha que foi minha mãe? -a menina perguntou sorridente. -Acha que podemos vê-la, ou falar com ela talvez?

-Acho, Luna. -o anjo garantiu. -Aliás, acho que ela poderá nos ajudar com essa história do sangue e a comida... como você havia sugerido.

-Isso é o máximo!

-Sim, mas tem uma coisa que preciso te mostrar. -ele comentou retirando alguns dos documentos de dentro do envelope. Luna caminhou até o amigo, ao parar ao seu lado, sentiu seu cheiro forte e completamente alucinante exalar junto ao calor de seu corpo, o qual sempre fora sem vida. -Ei, menina delivery, está ai?

-Ah, sim, estou. -ela gaguejou sacudindo a cabeça, logo voltando sua atenção a Matteo. 

-Minha identidade marca dezoito anos! -ele mostrou e a garota arregalou os olhos pela segunda vez naquele dia. -Presumi que seja porque só me tornei anjo dois anos após a minha morte.

-Uh, quanto tempo. -ela fez careta e Matteo riu. -Bom, poderá dirigir, e fazer coisas para maiores de dezoito, afinal, tem muita grana na sua conta.

-Qual a graça se você não poderá ir comigo?

-Vou sempre estar com você, Balsano. Nós sempre damos um jeito, se lembra?

-Vem, vamos dormir, já são quase meia-noite! -ele riu. -Você demorou no shopping. 

-Apaga a luz e cala a boca, anjo fajuto.

-Onde vou dormir, irritante? -o anjo perguntou apagando a luz do quarto, deixando que apenas a luz iluminasse o mesmo.

-Na minha cama, comigo, vem logo.

Matteo sorriu de imediato, não havia nada que ele desejasse mais que passar a noite abraçado com a pessoa que ele mais amou em toda a vida.

[...]

No dia seguinte, Luna acordou bem cedo para ir ao colégio e acabou deixando o amigo dormindo. Ao encontrar Marco e Simón conversando, a garota parou e cumprimentou os dois. Ela estava bastante constrangida devido ao beijo que Marco havia lhe dado, mas tentou não transparecer isso. 

Simón contou a garota a real versão da história na qual ele "traira" Âmbar e lhe disse também que mesmo explicando tudo a Ambar, ela havia lhe dito que não queria mais o namoro, que estava farta das brigas no fim e que isso acabou sendo um pretexto inesperado para o término. Era óbvio que Simón estava arrasado e precisando do consolo da amiga, mas Luna não pode ficar muito tempo, tinha aula em cinco minutos. 

Depois de cinco aulas entediantes as quais Luna passou pensando em maneiras de solucionar os problemas de Matteo, o sinal bateu e todas as turmas foram liberadas. Como sempre, a garota foi direto ao encontro de Simón, que sempre a esperava no portão da escola para irem juntos para casa.

Ao passar correndo pelos corredores, a amiga de Matteo sentiu os olhos arderem ao ver Marco e Ambar se beijando bem na frente do armário da menina Benson. Ela quis chorar, mas tudo o que fez foi correr sem ser vista para o portão de trás do colégio, não queria dar explicações a Simón que a esperava no portão frontal, afinal, ele ainda amava a loira, e seria doloroso para ele saber do ocorrido. 

Não demorou muito para que Luna estivesse em casa, seu objetivo era correr para o quarto e contar tudo ao anjo, que sempre arrumava uma maneira de distraí-la quando estava chateada. Mas quando estava nas escadas, foi parada por Miguel, que alegava querer conversar.

-Está tudo bem, filha?

-Sim, papai. -ela mentiu, balançando a cabeça enquanto torcia para que seus olhos não estivessem vermelhos.

-Estou atrasado e vejo que você está com pressa. -Miguel deu risada e Luna sorriu amarelo. -Bom, só queria te informar que receberemos um garoto que virá fazer intercâmbio aqui, irá cursar Psicologia na Havard, parece ser muito inteligente.

-Que legal, de onde ele vem?

-Da Itália, querida. 

Luna sorriu instantaneamente ao escutar a palavra "Itália", lembrando-se de Matteo. 

-E qual o nome dele?

-Um lindo nome a propósito. -o pai sorriu pegando o celular no bolso e checando alguma coisa no mesmo. -Oh, aqui está, o nome dele é Matteo Balsano.