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História My Brother's Best Friend - Open Night


Escrita por: ferebuzzi

Notas do Autor


Capítulo grande para compensar a demora! <3

Capítulo 9 - Open Night


POV Alexandra

Uma semana tinha se passado desde a festa da Delta Phi. Depois de investirmos meia hora em um amasso de tirar o fôlego, Edward e eu voltamos à festa. Bebemos mais, conversamos mais, rimos muito e dançamos também. Vez ou outra eu via o Jason pela festa, e seus olhos sempre estavam grudados nos meus de forma sugestiva.

Depois de um tempo eu tive certeza que Edward tinha percebido e não se incomodava. Vai ver aquilo era comum, vai ver eles eram parceiros de foda e sabiam que quem divide multiplica, ou vai ver ainda Jason só me encarava daquele jeito porque eu era a única caloura dos últimos dois anos a participar daquela festa.

O que quer que fosse, eu também não estava nem um pouco incomodada.

Edward me apresentou vários caras da fraternidade, e todos eles foram bem legais comigo e pareciam saber quem eu era. Eu já estava acostumada a virar assunto em qualquer lugar que eu fosse, mas como eu amo ser o centro das atenções, nunca me incomodei.

Peguei o telefone de Edward, ele me disse que eu era sempre bem vinda na Delta Phi, e que seria avisada da próxima festa que eles fizessem. Mas foi Jason quem me surpreendeu.

Flashback POV Alexandra

— Alexandra — ouvi a voz de Jason me chamar — Ia embora sem se despedir? — ele perguntou com uma das sobrancelhas arqueada e aquele mesmo sorriso prepotente e sedutor que ele manteve a noite inteira.

Dei de ombros: — Não te vi por aí.

Sua feição não mudou nem por um segundo enquanto ele se aproximava de mim. Eu já estava virando a esquina da área onde ficavam as fraternidades, indo em direção à saída da Universidade. Meu uber chegaria em cinco minutos, o tempo exato que levaria para eu chegar à porta de entrada do campus.

Fiquei parada vendo Jason chegar cada vez mais perto, até que a distância entre nós diminuiu o suficiente para que eu conseguisse sentir o cheiro de álcool, cigarros e perfume que vinham dele.

— Gostou da festa? — ele perguntou sugestivo.

— Foi agradável — respondi.

Uma das sobrancelhas dele voltou a se arquear, e vi que eu o divertia.

— Tenho certeza que o Edward foi um bom anfitrião.

— Não tenho do que me queixar.

— Claro que eu gostaria de ter te recepcionado eu mesmo, mas às vezes até mesmo a hierarquia se submete às regras comuns.

Assimilei o que tinha por detrás daquelas palavras: Edward tinha me encontrado perambulando pela fraternidade, ele tinha me convidado para a festa. Tecnicamente, e imagino que a não ser que eu quisesse de outra forma, ele tinha prioridade comigo.

Eu já tinha ouvido falar que fraternidades e irmandades são grupos antigos, leais entre si e muito bem organizados, com regras que todos os membros precisam obedecer. Imaginei que era disso que Jason falava.

— Então o semestre ter apenas começado é uma ótima notícia — falei — A vida é feita de oportunidades.

— A vida é feita de oportunidades — ele repetiu, concordando, e se aproximou de mim.

Por um momento pensei que Jason ia me agarrar, mas o que ele fez na verdade foi pegar meu celular do bolso traseiro da minha calça, sem desgrudar os olhos dos meus. Estendeu o aparelho para que eu colocasse a minha digital e o destravasse, e um minuto depois o devolveu para o mesmo lugar.

Sua mão se demorou um pouco enquanto ele colocava o celular no meu bolso, e seu sorriso pretencioso aumentou.

— Tenho certeza que Edward já te disse isso, mas você é bem vinda na Delta Phi. Você aparecer no meu último ano parece uma surpresa — ele se aproximou do meu ouvido e sussurrou com a voz rouca — deliciosa.

E então, me deu um beijo na bochecha e voltou à casa. Vi que meu uber tinha chegado, liguei para o motorista avisando que estava a caminho e fui para a saída, não sem antes conferir: Jason tinha colocado seu número de celular na minha lista de contatos.

Fim do Flashback

Não tinha visto nenhum dos dois desde então. Os dois me mandaram uma mensagem ao longo da semana. Edward, para quem eu tinha passado o meu telefone, me convidou para ir à feira de fraternidades e irmandades que teria no sábado à tarde, onde as pessoas poderiam dar uma olhada no que cada uma delas tinha a oferecer e decidir se iam se aplicar para alguma delas e qual.

Eu não tinha nenhum interesse em participar de seita nenhuma, por mais legal que fosse, porque valorizava muito o meu tempo livre e eu não era lá uma das pessoas mais expansivas do mundo. Era muito leal quando confiava em alguém, mas era quase impossível que a coisa chegasse a esse ponto.

Eu podia ser extrovertida, andar em grupos grandes e gostar de atenção, mas a ideia de fazer parte de uma irmandade, obedecer regras e jurar lealdade a pessoas que eu nem conhecia me parecia um pesadelo. Mesmo assim, falei que ia tentar passar por lá para vê-lo.

Jason, que provavelmente conseguiu meu número com Edward, me mandou uma mensagem escrito “dux”. Respondi com um ponto de interrogação, e achei que ele tinha me mandado aquilo bêbado, porque foi às seis horas da manhã da noite da festa, mas ele respondeu “caso você queira se encontrar comigo na Delta Phi”. Imaginei que era alguma espécie de senha para quando se queria marcar um encontrinho com o presidente.

— Bom dia — falei para Justin e meu irmão que estavam na cozinha comendo.

Tinha descoberto que Justin, no dia da festa do Delta Phi, saiu em um encontro com a Layla — sim, aquela mesma que eu empatei a foda na minha festa de boas-vindas. Descobri isso vendo a própria com um sorriso vitorioso na cozinha no dia seguinte usando uma blusa grande do Justin.

— Bom dia, Bela Adormecida — Tuc falou no presente. — Ainda vamos naquele negócio da faculdade hoje à tarde?

— Uhm... - murmurei, sem saber — Acho que sim.

As duas primeiras semanas de faculdade tinha sido fantástica, mas eu mal tinha passado tempo com Justin, meu irmão ou Lily. Justin e eu continuamos a sondar territórios, conhecer pessoas, fazer um marketing pessoal, e o casal-mela-cueca estava lá espalhando mel pela Universidade.

Por isso, naquele sábado tínhamos combinado de sair para um barzinho e compartilhar os acontecimentos interessantes dos últimos dias.

— Vou com vocês, tudo bem? — Justin perguntou, olhando para mim.

Apenas dei de ombros como resposta e continuamos a tomar nosso café da manhã — que era quase um brunch, considerando o horário.  

POV Arthur

Depois que comemos, tomamos banho e nos arrumamos, saímos para a Universidade. Como minha irmã não perdia uma oportunidade de causar torcicolo nos homens, estava usando um short jeans claro cintura alta e curto (bem curto, na verdade), uma blusa cropped amarela e tênis brancos.

Ela me deixava exasperado. Tudo bem que ela era bonita e tudo o mais, e responsável pelas próprias decisões e atos, mas será que precisava dela sair vestida como se quisesse causar um acidente de trânsito? Seu sermão tinha me traumatizado e eu nunca mais expressaria em voz alta, mas quando via ela saindo de casa linda daquele jeito eu ficava com ciúmes, sim.

E mesmo sabendo que ela comia corações partidos no café da manhã e era fria como gelo, eu não conseguia não morrer de medo e imaginar que talvez um dia quem tivesse o coração quebrado fosse ela.

Isso tudo era bem involuntário, eu não conseguia evitar de me sentir assim. Mas num nível racional, eu já estava acostumado, então soltava o ar pesadamente e deixava para lá.

Chegamos na feira da faculdade com quinze minutos — o trânsito estava milagrosamente bom em LA. Estávamos apenas eu, Justin e Lex. Nenhum dos três tinha interesse de ingressar em fraternidade nenhuma. Gostávamos de morar no nosso próprio apartamento, Justin e Lex odiavam a ideia de obedecer regras e de uma hierarquia na qual eles não estivessem no topo, e eu não ficava nem um pouco fascinado pelos supostos benefícios de estar em uma fraternidade.

Ser humilhado por uma semana inteira para poder beber até cair, pegar várias mulheres e talvez, só talvez, ganhar uma mãozinha lá na frente e um boost na minha carreira? Não, obrigado.

— Vou ali dar um olá para o Ed. Vocês vem? — Lex falou.

Neguei com a cabeça: — Vamos dar uma olhada por aí.

Justin apenas olhou para mim, sem falar nada. Lex deu de ombros e saiu andando (a palavra certa era rebolando) daquele jeito sugestivo em direção à maior mesa da feira, onde estavam as casas Delta Phi e Alpha Theta.

— Vocês são esquisitos — Justin falou quando ela tinha se afastado — Eu aqui imaginando que você ia querer sondar para ver quem é o cara que ela já está pegando com uma semana aqui dentro.

Fiz uma careta.

— Se você tivesse crescido com a Lex, você entenderia bem. Não vale a pena. E além do mais, ela sabe se cuidar.

— Isso é bem verdade. Na hora da divisão você ficou com a habilidade de ser trouxa toda para você — ele brincou comigo, bagunçando o meu cabelo.

— Não tenho nem coragem de negar — ri de leve.

Vimos de longe quando Lex cumprimentou os caras da Delta Phi. Todos eles pareciam babar nela de um jeito que dava pena, menos os dois mais próximos do centro com quem ela conversava, e imaginei que um deles era Edward.

Mas não soube dizer qual, porque para o meu choque ela flertava com os dois, e os dois flertavam com ela de volta. Balancei a cabeça, porque não queria fornecer nenhum combustível para o meu ciúmes fraternal, e arrastei Justin para perto de um grupo que cantava — imaginei que uma fraternidade dessas de coral.

Cerca de meia hora depois, Lex nos encontrou.

— Tá legal — Justin falou quando ela se sentou na mesa onde estávamos — Preciso perguntar, e encare isso da forma mais respeitosa que conseguir: como é que as pessoas não falam mal de você?

— Quem disse que elas não falam mal de mim? — Lex perguntou, pegando uma das nossas batatinhas.

— Ela só não se importa — falei, ante a expressão confusa de Justin.

— Isso eu consigo entender. Seu ego é do tamanho do mundo. Mas não foi isso que eu quis dizer. Perguntei errado. Como é que as pessoas respeitam tanto você?

Achei que Lex ia explodir um sermão de cinquenta minutos na cara do Justin, porque eu já tinha feito uma pergunta parecida para ela no ensino médio e ela teve uma conversa longa e séria comigo que durou o mesmo tanto que o E O Vento Levou.

Mas acho que na mente de Lex ela só pensou que a pergunta de Justin estava ligada a sua limitação como homem, então ela respirou fundo e respondeu bem calma:

— Porque eu não dou espaço para ninguém me desrespeitar. A liberdade sexual pode ser uma realidade distante e utópica, coletivamente falando. Mas a minha experiência individual é diferente.

Justin murmurou, como se estivesse processando a resposta.

— Você me respeita, Justin? — ela perguntou.

— Claro. Não foi isso que eu...

— Por que você me respeita? — ela tornou a perguntar, pegando mais uma batatinha.

— Você é minha... Ahm... Sei lá. Você é irmã do meu melhor amigo. E não acho que está fazendo nada de errado, ou pelo menos nada diferente do que eu e outros milhões de caras fazemos por aí.

— Não — ela falou, ainda comendo a batatinha — Você me respeita porque você não tem opção. Vou pegar um refrigerante, esperem aí — ela completou e saiu.

Como se a gente fosse para algum lugar.

Justin olhou para mim sem entender nada.

— Eu não sou a melhor pessoa para te explicar, mas em resumo: a sociedade não aprova a personalidade e as decisões liberais da Lex, porque, ahm, a liberdade sexual das mulheres não é real, não a nível geral. Mas para o bem ou para o mal, a personalidade da minha irmã define a experiência individual que ela tem. Além dela ser uma ótima manipuladora de pessoas, e isso dificulta muito que as coisas saiam diferente do que ela deseja, ela não te deixa opção.

— Cara... — ele falou, e vi que ele ainda estava confuso.

Então decidi contar a Justin um caso que aconteceu no ano em que ele esteve no Canadá, no nosso antigo colégio:

No segundo ano, um cara saiu espalhando pelo colégio que minha irmã era... Ahm, não muito respeitável. Quando a Lex descobriu, ela foi atrás dele. Hora do almoço, todo mundo no refeitório, e o cara contando detalhes de como foi transar com a minha irmã para os amigos, com um sorriso babaca na cara.

Ela apareceu e foi andando até a mesa dele, e o lugar ficou em um silêncio mórbido. Lex se sentou na mesa de frente para o cara e pegou uma batatinha dele, como se estivesse ali para falar do tempo. “Lexy?”, ele perguntou, e ela olhou para a cara dele com toda a calma do mundo e abriu um sorriso.

“Me conta uma coisa, Greg” ela falou com ele, “você gostou de transar comigo?” e antes que ele pudesse responder, ela continuou “claro que gostou, foi uma pergunta retórica. Desde então, você me mandou quantas mensagens perguntando quando a gente se veria de novo?” ela comeu mais uma batatinha e fingiu que pensava na resposta, e depois deu de ombros como quem deixa para lá.

“Não vamos nem entrar no mérito de que você só anda me chamando de, ahm, quais foram mesmo as palavras que você usou?” mas Greg não ousou repetir, não ali na cara dela “pois bem, não vamos entrar no mérito de que você só anda falando essas coisas pouco agradáveis porque você sabe que a sua performance foi tão, tão decepcionante que eu, com a minha respeitosa sinceridade, te disse que não ia acontecer mais” — ela pausou para ver Greg engolindo a seco — “mas vamos deixar uma coisinha bem clara: se você quer me deixar com vergonha, ou fazer com que eu me sinta mal, essa foi uma tentativa bem patética.”

“Porque acontece, Greg, que nada do que você pensa ou diz sobre mim é sequer um reflexo da verdade. E qualquer outro cara que escute suas babaquices” ela passou os olhos pelos amigos de Greg na mesa “repita o seu discurso, ou use ele como base em uma tentativa de transar comigo, vai ficar incrivelmente frustrado.”

“Transar comigo não foi um mérito seu. Não aconteceu porque você é tão irresistivelmente lindo que eu precisei ir para a cama com você. E com certeza não valeu a pena” — ela fez uma careta e pegou outra batatinha — “e se você tentou me magoar porque se sentiu rejeitado, você devia estar mais preocupado com o futuro da sua vida sexual, porque se você não passar dos dez minutos eu prevejo que ele vai ser bem triste.”

Então ela pegou uma última batatinha, se levantou da mesa, e agachou para que seus olhos ficassem da altura dos olhos dele e disse: “agora, Greg, da próxima vez que você achar sábio expor a sua vida sexual e a de outra pessoa para o colégio inteiro, eu me certificaria antes de que nada na situação seja prejudicial à sua imagem, se eu fosse você” e então ela sorriu e foi para a mesa onde sempre sentava e onde eu, Ashley, Lily e outros amigos a encarávamos com um misto de orgulho, respeito e admiração.

— Você entende agora o que ela quis dizer quando disse que você e as outras pessoas respeitam ela porque não têm opção? — perguntei para Justin.

Ele balançou a cabeça afirmativamente. No mesmo momento, Lex chegou reclamando que só tinham coca diet na lanchonete e nós mudamos de assunto. E eu tive a certeza que o Justin tinha aprendido a mesma lição que eu aprendi com o sermão dela anos atrás.

POV Justin

Eu me senti meio estúpido por uma meia hora por fazer a pergunta, principalmente porque ela não saiu do jeito que eu queria nenhuma das vezes. Mas valeu a pena para ouvir o “negócio do Greg”. A verdade é: fiquei fora do colégio por uns três anos enquanto morei no Canadá. Quando sai de lá, Lex era só uma menina esquentada, mordaz e que não levava desaforo para casa.

Quando voltei, vi que era quase como se ela fosse uma espécie de mito no nosso colégio. Uma única vez um dos meus amigos me disse, quando questionei porque as pessoas falavam na Lexy com tanta admiração: “cara, se você estivesse aqui durante o negócio do Greg, você saberia.”, mas ninguém nunca me contou exatamente a história.

E eu quase conseguia imaginar a Lexy falando todas aquelas coisas, com aquela cara dela de quem acha meio absurdo perder tempo com uma pessoa tão boçal.

De qualquer forma, meu próprio respeito por ela aumentou, e eu passei a entender melhor a dinâmica entre ela e o Arthur. E admito: uma parte de mim sentia pena dele por ter crescido com a Lexy como irmã, e uma parte o invejava muito.

Às sete da noite, estávamos todos nos arrumando para sair. Vi que Layla tinha mandado uma mensagem, mas coloquei o celular no silencioso e ignorei. Lexy e Arthur tinham me explicando as regras da open night, que era como eles chamavam nossa saída: ninguém podia levar celular, não era aberto a convidados e era proibido dizer qualquer coisa além da verdade.

Se eu achei estranho e meio psicótico? Claro que achei. Mas àquela altura eu já tinha me acostumado com Lexy e Arthur e as tradições esquisitas que eles tinham. Uma coisa não dava para negar sobre eles: eles eram excêntricos, mas eram autênticos.

Saímos a pé mesmo, para um bar que ficava na esquina do quarteirão do nosso prédio. Estávamos eu, o casal e Lexy — ela tinha colocado um short jeans (para minha infelicidade, um pouco menos curto que o que ela usou para ir à faculdade), um body (o Arthur me corrigiu, porque para mim era uma espécie de maiô) preto que deixava as costas dela nuas, um tênis cinza simples e tinha pegado uma jaqueta de couro preta que eu sabia que ela não ia usar.

Um resumo aqui para vocês: ela estava gostosa como sempre. Era mais do que o jeito como ela se vestia, era a forma como ela se portava. A confiança dela era mais sexy que qualquer roupa que ela usasse.

Chegamos ao bar e Lexy já pediu quatro doses de tequila. Nem Arthur, nem Lily reclamaram para a minha surpresa, e imaginei que aquilo fizesse parte da tradição também.

— À nossa noite — Lexy disse quando as tequilas chegaram. Todo mundo brindou, viramos os copos e depois cada um pediu a bebida de sua preferência: Lexy e eu pedimos whisky, Arthur pediu uma cerveja, e Lily pediu um Martini.

— Bom, Justin, como é a sua primeira vez fazendo parte dessa tradição dos Bachman, é meu prazer te fazer um resumo de como a nossa noite será — Arthur falou olhando para mim.

Lily tinha um sorriso grande no rosto, e imaginei que ela amava aquela tradição específica de Arthur e Lexy. E eu estava prestes a descobrir a razão.

— Como você já sabe, não são permitidos celulares, mentiras ou acompanhantes não aprovados pelo grupo.

— Ou como eu gosto de chamar: personas non gratas ­— Lexy disse.

— Eu e Lex fazemos isso pelo menos uma vez por mês desde que nos mudamos para LA. Na maioria das vezes, vamos só nós dois.

— É minha segunda vez — Lily concordou sorrindo.

Preciso admitir: apesar de saber que eles falavam brincando, eu só achava eles mais esquisitos a cada segundo. Mas esquisitos de uma forma que me fazia desejar ter um Arthur ou uma Lexy na minha vida.

— É a nossa oportunidade de nos colocarmos a par do que acontece na vida um do outro. Em algum momento, fazemos um jogo de perguntas e respostas só porque é legal e porque nem sempre as pessoas compartilham informações espontaneamente — ele olhou para Lexy e percebi que se referia à ela —, e sempre que uma pessoa nova é convidada a participar, jogamos um Eu Nunca.

— Parece bom para mim — foi o que eu falei. E então, como se eu tivesse dado o sinal verde, Lexy chamou a garçonete e pediu mais quatro shots de tequila e também quatro garrafas de água.

— Ah — Arthur se debruçou na mesa e falou baixo — É regra também que todos os convidados precisam ficar completamente bêbados. A sobriedade não é aceita nessa tradição. Entendido?

— Sim, senhor — falei usando o mesmo tom de brincadeira que ele.

— À primeira vez do Justin na open night! — Lexy propôs o brinde e todos nós bebemos.

 

Já tinha se passado um tempo desde que chegamos no bar. Começamos a noite tranquilamente — se você ignorar as duas doses de tequila logo nos primeiros cinco minutos — e conversamos normalmente. Então, de repente fui avisado que o jogo de perguntas e respostas começaria.

Era bem simples: a pessoa que começava escolhia alguém para fazer uma pergunta, e a pessoa só poderia beber se respondesse. A bebida era como um brinde pelo sofrimento, porque pelo que percebi o jogo tinha duas opções: responder ou responder. A medida que você vai bebendo, vai ficando mais fácil ligar o foda-se e responder qualquer merda que te perguntam.

— Claramente, eu começo — Lexy falou e em seguida apontou para Lily — Amiga, seja sincera: se você pudesse reencarnar sendo um de nós dois, quem você escolheria? — Lexy indicou ela e Arthur.

Pelo que eu tinha entendido, a ideia era fazer perguntas pessoais e, por falta de palavra melhor, pesadas. Mas Arthur comentou baixo comigo que quando não estavam só os dois, Lexy sempre começava de forma mais sutil, como um predador que calmamente se prepara para o bote.

— Amor, eu te amo — Lily falou para Arthur — Mas com certeza eu reencarnaria como a Lexy.

Lexy abriu um sorriso de quem diz “resposta certa, parabéns!”. Lily já estava toda vermelha, e dava para ver que dentre nós três, ela era a mais alterada.

— Até eu reencarnaria como a Lex — Arthur falou.

— Eu reencarnaria como você — falei para Arthur, dando de ombros.

— Claro — Arthur revirou os olhos — Você já é a versão masculina da Lex. Que graça teria?

— Eu teria peitos. Abri mão dos peitos para reencarnar como você, seu ingrato.

— De fato. Essa é a prova de uma amizade real — Lexy falou, rindo.

Seguimos com algumas perguntas bobas, até que, quando eu menos esperava, entre uma risada e outra, Lexy começou a soltar suas bombas:

— Justin — ela disse, me escolhendo — De zero a dez, como foi o sexo com a Layla?

— Seis.

— Acima da média — ela fez uma expressão de quem diz “melhor do que eu esperava”.

— Lexy — eu disse, dessa vez a escolhendo. Pude ver Arthur revirando os olhos no canto da mesa, mas ignorei — De zero a ménage, o que aconteceu entre você e aqueles dois caras da fraternidade?

Ela deu um sorriso.

— Ninguém chegou à segunda base — respondeu — Tuc, você já perdoou a Lily por ter ido embora?

Arthur olhou para Lexy e pude vislumbrar o ódio nos seus olhos por alguns segundos. Mas não durou muito, talvez porque ele já estivesse esperando pela pergunta ou porque conhecesse sua irmã muito bem, e também porque soubesse que, mesmo que doesse na hora, ser sincero fosse sua melhor opção.

— Não. Não completamente — ele admitiu, e ignorou a cara de chocada que Lily fez, assim como fingiu não ver que os olhos dela ficaram marejados — Justin, você está comendo a minha irmã?

Tinha tomado um gole de água (água era liberada a qualquer momento) e quase engasguei.

— Ahm... — pensei em uma forma educada de responder — Não exatamente.

— Mas vai comer — não era uma pergunta.

— Arthur — Lexy disse revirando os olhos, como se aquilo tivesse tirando ela do sério.

Mas ele deu de ombros e falou simplesmente: — Só queria que ele admitisse na minha cara. Talvez assim vocês param de se esgueirar pelos corredores e se afastar de repente quando eu me aproximo, como se eu fosse idiota.

Lexy não respondeu, só revirou os olhos de novo, e achei melhor não insistir no assunto. Fiz uma pergunta para Lily mais leve, tentando atenuar o clima ruim que de repente estava instalado na mesa do bar. Algumas rodadas depois, e mais duas perguntas pesadas entre Lexy e Arthur, e eles declararam o fim da brincadeira.

E então, como se a gente não tivesse partido mil pedaços de torta de climão, eles simplesmente pediram dezoito doses de tequila para a garçonete e falaram que era a hora de jogar Eu Nunca.

Era uma ordem inteligente: conversar no bar, como um aquecimento, um jogo completamente destrutivo cujo único objetivo era fazer as pessoas admitirem coisas que elas não queriam falar em voz alta, e por fim um jogo feito para se falar de putaria e dar risada.

Eu estava gostando daquela tradição.

— Três doses para cada um, todo mundo tem direito a falar três coisas que nunca fez. Não vale coisas específicas, como “nunca tive um irmão gêmeo” ou “nunca morei no Canadá”, etc. Perguntas?

— E se eu beber as minhas três doses logo na primeira rodada?

— Você repõe as doses com aquelas ali — apontou para as seis de reserva, separadas no canto.

— Acho que entendi. Vamos lá.

— Cada pessoa precisa falar suas três coisas de uma vez, e você não pode falar algo que já tenha feito e beber. Ok? — Lexy acrescentou e então disse: — Arthur, você começa.

— Muito bem. Eu nunca fiz um ménage — Arthur disse e apenas eu bebi. — Eu nunca fiz sexo com uma estrangeira ou estrangeiro — eu e Lexy bebemos — e eu nunca trai — apenas a Lily bebeu, deixando todo mundo chocado.

— Não foi você — ela disse rápido, olhando para Arthur.

— Eu não sabia que você tinha namorado alguém antes do Tuc — Lexy falou, surpresa.

— Não é uma boa lembrança, digamos assim.

Eu ainda estava um pouco chocado que a doce e inocente Lily era a única pessoa da mesa a ter traído alguém. Pude ver que Arthur estava igualmente surpreso, e Lexy era a única que conseguia disfarçar bem — ou não estava nem aí.

Lexy olhou nossos copos, e como eu tinha menos, apontou para mim e disse “Justin, sua vez”.

— Eu nunca namorei — Lexy, Arthur e Lily beberam.

— Nunca? — Lily me perguntou, chocada.

— Nunca.

— Isso explica porque você nunca traiu ninguém — Lexy brincou — Próxima.

— Nunca fiz sexo em um avião — apenas a Lexy bebeu, e eu fiquei meio surpreso. Achei que avião era um lugar alternativo o suficiente para ninguém beber.

Lexy já não tinha nenhuma dose e pegou mais três para repor. Arthur tirou uma caneta preta do cu — não literalmente, apesar de ter parecido isso na hora — e marcou um “x” na mão de Lexy.

— Em um avião? — perguntei chocado.

Lexy deu de ombros.

— Ex-namorado com jatinho particular — Arthur disse, explicando a situação.

Claro.

— Bem, eu nunca beijei alguém do mesmo sexo — finalizei. Lexy e Arthur beberam.

Fiquei alguns segundos meio sem reação. Aquilo era completamente sem precedentes.

— Você já beijou um cara?!

— Não foi isso tudo que você está imaginando, não — Lexy quem respondeu — Foi em uma peça da escola. Tuc foi o único cara com confiança o suficiente na própria sexualidade para aceitar o papel. Além do mais, aquilo nem conta direito como um beijo. Não teve língua e durou menos de dez segundos.

— Eu fiquei bastante orgulhosa — Lily falou, olhando de forma amorosa para Arthur, que só deu de ombros quando viu o quanto eu estava... abismado?

— Uau. Se conviver com vocês não quebrar os meus paradigmas e fizer de mim um cara desconstruidão, nada nessa vida fará.

Lexy deu um sorriso de canto de boca. Eu não me esqueceria de provocar ela depois com essa história dela ter beijado uma mulher.

— Certo — ela disse — Lily, sua vez.

— Tudo bem — ela falou. Antes mesmo de começar, Lily já ficou vermelha igual um pimentão — Eu nunca fiz sexo anal.

Lexy e eu bebemos. Claro que eu não fiquei surpreso com essa. Lexy pegou as três doses restantes e colocou no centro da mesa. Vendo o ritmo do jogo, aproveitou para pedir mais cinco doses para a garçonete.

— Eu nunca transei com mais de uma pessoa.

— Em uma noite? — perguntei.

— Na vida — ela respondeu, corando ainda mais.

Fiquei surpreso mais uma vez. Não devia ter ficado, mas vai saber não é mesmo. Eu, Lexy e Arthur bebemos. Peguei uma das doses do centro da mesa e Arthur desenhou mais um “x” na mão de Lexy (ela tinha acabado mais três doses) e desenhou um “y” na minha.

— Então você traiu seu ex-namorado como? Beijando outro cara? — Lexy perguntou, como se estivesse meio confusa.

A pergunta era retórica. Acho que ela estava confusa em como Lily classificava um “simples beijo” como traição — não concordamos nessa, Lexy.

— Eu nunca fiz sexo em um elevador — Lily terminou sua rodada.

Lexy e Arthur pegaram as duas doses restantes do centro da mesa, e como mágica, a garçonete apareceu bem na hora com as outras cinco que Lexy pediu. Ela tornou a distribuir as cinco doses no centro da mesa, enquanto Arthur desenhava um “z” na própria mão.

— Pois bem — Lexy disse — Eu nunca participei de uma orgia — ninguém bebeu e ela continuou —, eu nunca transei na cama de um terceiro ou terceira.

Dessa vez todo mundo bebeu: eu, Lily e Arthur. Lily acabou com sua última dose, e eu e Arthur retiramos duas doses das cinco dispostas no meio.

— Espero que a terceira não tenha sido eu — Lexy falou, apontando para Arthur e Lily.

— Não — Lily falou rápido.

— Foi na dos pais dela — Arthur complementou, fazendo com que Lily subisse mais uns três tons de vermelho, se é que era possível.

Lexy e eu rimos, e ela continuou: — Eu nunca transei com alguém que era compromissado com outra pessoa.

E mais uma vez ninguém bebeu. Eu pude ver que ela me olhava como se achasse que eu estava mentindo, mas eu tinha falado a verdade.

— Não pego mulheres compromissadas — falei simplesmente.

Ela não falou nada, mas pude ver que ganhei alguns pontos com ela bem naquele momento.

— Bom, Lexy — Arthur falou — Quando você quiser — ele apontou as três doses restantes de tequila.

E então me explicou que quem tinha mais letras na mão, ficava encarregado de virar a quantidade de doses que tivesse sobrado. Caso mais de uma pessoa tivesse duas letras na mão, a decisão era feita por ordem alfabética.

Ou seja: se eu tivesse ganhado mais um “y”, empatando com Lexy em quantidade, ela ainda beberia as três doses restantes porque “x” vem antes no alfabeto — ela tinha sido a primeira a vencer as três doses.

Enquanto ela virava as três doses restantes, tive a impressão de que não era a primeira vez que ela bebia as doses que sobravam.

POV Arthur

— Preciams joar verds ou consesia na prozim veeeeeeez — Lex falou, com um sorriso que agora não saia da sua cara.

Ela estava claramente bêbada. Lily até tinha competido com ela por um tempo, mas depois de vários copos de água, ela estava bem mais sóbria. Mas Lex precisaria mergulhar no rio Mississipi para ficar remotamente sóbria de novo.

Não que alguém esperasse algo diferente. Ao todo ela tinha bebido doze doses de tequila e ainda dois copos de whisky enquanto a gente conversava. Me surpreendia que ela estivesse viva.

— Posso confiar em você para colocar ela na cama? — perguntei para Justin.

— Claro que pode — e ante o meu olhar, ele acrescentou: — Não vejo graça nenhuma em transar com uma pessoa semiconsciente, Arthur. Relaxa.

E então Justin pegou Lex no colo, porque ela mal conseguia andar sozinha, e a levou até o quarto. Puxei Lily pela mão e a levei para o meu quarto. Quando entramos, tranquei a porta.

— Arthur — ela falou triste — Você não me perdoou ainda.

Respirei fundo e me sentei ao lado dela na cama.

— Não é algo que eu consiga controlar muito, Lils. Eu amo você, eu sou louco por você, mas eu sei que não te perdoei completamente. Isso não tem nada a ver com a sua decisão, ou com o que aconteceu. Eu só não consigo me esquecer de como foi passar meses no escuro, perdido.

— Me perdoa — ela pediu pela milésima vez, as duas mãos no meu rosto.

Ela chorava.

— Eu estou tentando, Lils. Eu juro que estou — falei, colocando minhas mãos sobre as dela.

Então Lily aproximou o rosto do meu e me beijou. Passei uma das minhas mãos no meio dos cachos dourados dela, e com a outra, busquei a mão de Lily e entrelacei nossos dedos. Quando paramos o beijo, limpei as lágrimas que tinham caído no rosto dela.

Ver a Lily chorando me partia o coração. Eu devia ter imaginado que a Alexandra soltaria uma pergunta dessas. Ela vivia falando que sinceridade era a coisa mais importante em qualquer relacionamento, que eu precisava parar de ser medroso e ficar em cima do muro.

Mas, e aí é onde eu e Lex éramos o mais diferente possível, Lex não conseguia ver que a sinceridade fora de hora machuca, tanto se você esperar demais quanto se você esperar de menos. Ela era tão inteligente para algumas coisas, era corajosa, independente, autoconfiante, e ao mesmo tempo tão obtusa quando o assunto era amor.

— Lils — falei baixo, e ela me abraçou, chorando enquanto o meu peito abafava seus soluços.

Ficamos daquele jeito por um tempo, chegando à percepção de que o nosso relacionamento já não era mais o mesmo, por mais que nós quiséssemos que fosse.

Lily levantou o rosto e me olhou, e me puxou para um beijo forte, mas dessa vez com mais agressividade. Eu sabia bem onde aquilo ia acabar, mas meu coração não ficou menos apertado. Porque mesmo naqueles momentos, quando éramos só nós dois e nenhuma barreira, eu ainda não conseguia ver nos olhos dela a mesma coisa que eu via antes. A nossa sintonia, aquela conexão, e aquela paz que nós dois sentíamos quando deitávamos um do lado do outro depois de todas as vezes que fizemos amor... Não estava mais lá.

E de alguma forma, do meio em diante, mesmo que ela não admitisse em voz alta, eu sabia que a própria Lily não estava mais lá.  


Notas Finais


Eu amei tanto escrever esse eu nunca que nem sei <3
Se você ficou confus@ lendo, eu também fiquei!!! hahaha precisei ir anotando e marcando os pontos enquanto escrevia pra não ficar perdida hehe :D

Acho que segunda volto com o próximo capítulo!
Como sempre vou tentar escrever antes, mas nunca se sabe quando que a gente vai ficar atolada de trabalho, não é mesmo :(
*ser adulto é um saco. quem foi que disse que era divertido mesmo?*

beijos e queijos pra vocês! <3
e um final de semana de muito amor! <3


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