História My dear foster brother - Nosh - Carta

Uma semana depois...

31 de dezembro (Ano novo)

Josh P.o.v

- Noah! A campainha! - Grito de dentro do chuveiro. Taylor e sua irmã, Reese estão vindo passar o ano novo com a gente. Vai ser completamente diferente, o primeiro sem nossos pais, mas também o primeiro como casal. É uma grande mistura de sentimentos.

- Tô indo! - Abre a porta do banheiro minimamente. - Termina logo esse banho, vamos te esperar lá na sala - Pisca pra mim. Mais uma vez a campainha é apertada. - Já vai! Mas que caralho... - Fecha a porta resmungando. Sorrio pequeno.

Desligo a água um tempo depois, indo pro quarto apenas enrolado numa toalha e me arrependendo amargamente por não ter deixado uma roupa separada antes, pra uma pessoa programada, eu estou falhando constantemente nessa missão. Lembro de uma camiseta florida branca com detalhes em rosa e tenho quase certeza que está em uma das caixas, mesmo morando aqui a meses, ainda temos algumas caixas fechadas em cima do guarda roupa por pura preguiça de arrumar. Coloco uma cueca e um short, pegando o banquinho para conseguir alcançar.

E como eu imaginava, ela realmente estava lá, apenas um pouco mais amassada do que o normal, porém isso não é relevante. Na tentativa de colocar as roupas de volta da caixa, acabo fazendo mais bagunça e decido jogar tudo na cama pra poder arrumar melhor. Além das roupas, um envelope lacrado também cai da caixa. Arqueio a sobrancelha.

- Joshua! - Já conseguia ouvir a risada das nossas convidadas, decidimos chamar apenas elas porque nossos outros amigos já tinham seus próprios planos.

- Já vou! - Pego o envelope procurando algum remetente. Uma letra pequenininha rabiscada no canto do verso me chama a atenção, forço a vista pra conseguir ler.

"De mamãe e papai, para Noah e Josh"

Jogo a carta na cama novamente quando leio, não pode ser... Como? Quando? Por que isso agora?

- Josh... - Noah aparece na porta e me apreço pra começar a guardas as roupas, incluindo a carta. - Tudo bem? Tá passando mal? Sua cara tá branca, até parece que viu um fantasma - Riu.

- Nada não, só estava procurando uma camiseta. Como estou? - Finjo um sorriso normal.

- Lindo como sempre - Me olha dos pés a cabeça. - Mas agora vem, vamos nos divertir muito hoje e não quero perder nenhum minuto sequer! - Saiu. Noah está realmente muito animado, não quero estragar a noite dele, pelo menos não agora.

Volto a caixa pro seu devido lugar e coloco o envelope em cima da mesinha de cabeceira, lidaremos com isso mais tarde. Respiro fundo antes de sair do quarto, tentando arrumar a postura.

Noah tinha razão, talvez eu realmente tenha visto um fantasma.

Noah P.o.v

- Olha ele aí! - Taylor se levanta do sofá para abraçar o amigo, ainda tinha alguma coisa estranha no seu olhar... Acho que não devo me preocupar, hoje é um dia difícil, deve ser isso.

- Você tá linda, todos estão lindos - Olhou principalmente pra mim.

- Essa é a minha irmã, Reese. - Apresentou a mais nova.

- Oi, muito prazer - Se cumprimentaram.

- Caralho, ela é uma mini você - As duas reviraram os olhos ao mesmo tempo, não deixando de sorrir.

- Todo mundo diz isso. Já até pensaram que éramos gêmeas, acredita? Deus me livre ser gêmea da Taylor - Rimos.

- Mas com essa genética é difícil não achar parecido, até o olho é igual... -

- Tá bom, Noah, chega de falar da gente. Eu trouxe o meu Just Dance e você vai ser obrigado a dançar com a gente - Faço uma careta. - Nem vem, da última vez você nos passou a perna -

- Ok, ok, é justo. -

- Claro que é justo, quando que Taylor Hatala não é justa? -

- Depois me perguntam porque eu não quero ser gêmea dessa guria - Gargalhamos com o comentário de Reese, era uma adolescente com a língua afiada.

- Vou pegar alguma coisa pra gente beber, você bebe? - Pergunta pra mais nova que assentiu. Saindo até a cozinha, não que seja muito longe.

- Reese, pode ir conectando os cabos, por favor? -

- Posso - Pega o jogo da mão da irmã e vai até a televisão, sem precisar de nenhuma instrução.

Puxo Taylor para um canto.

- Que foi? - Perguntou abaixando o tom de voz.

- Percebeu alguma coisa de errado com o Josh? Sei lá, ele parecia meio estranho - Olhou pra cozinha para verificar se não estava voltando.

- Achei que só eu tinha percebido, ele saiu do quarto com um semblante meio estranho, né? - Concordei. - Será que aconteceu alguma coisa? -

- Acho que sim, mas não tá querendo me contar pra não estragar a noite. Eu o conheço. - E como conheço...

- Ou porque talvez não seja nada demais e ele não quer te preocupar, se fosse algo mais sério, ele te contaria -

- É, pode ser isso - Ainda não estou completamente convencido.

- Quatro taças de espumante saindo! - O vejo entregando a bebida pra mais nova.

- Não se preocupa com isso agora, aproveita a noite. Vocês conversam mais tarde - Taylor fez um carinho mas minhas costas antes de voltar pra perto dos outros dois.

- O que vocês tanto sussurram? - Perguntou me entregando uma das taças.

- Estamos bolando um plano pra acabar com você e a Reese no Just Dance - A garota se apressou a falar jogando uma piscada discreta, a agradeço mentalmente por isso.

- Então as duplas sou eu e o Josh, você e o Noah? - Reese pergunta pra irmã que concorda. - Vamos acabar com eles, Beauchamp - Termina a sua bebida.

- Vai com calma aí, Hatalinha. Não quero ninguém bêbada em casa - Gargalhamos.

Na metade da noite já estávamos cansados de tanto dançar, no meu caso, de tanto perder. Reese e Josh nos deram uma grande surra, a baixinha é boa pra caramba. Taylor tentou de tudo pra me fazer acertar os passos e confesso que até fui bem em alguns, mas definitivamente a dança não foi feita pra mim.

- Foi mal, Tay -

- Relaxa, a gente não foi tão mal assim - Encaramos o placar. Dez a dois. Nos entreolhamos antes de gargalhar.

- Vocês foram péssimos! - Os outros dois se juntaram na risada.

- É por isso que eu canto, não preciso me mover - Sento no sofá, meu namorado sentando do meu lado.

- Não precisa se mover e é muito bom no que faz - Deixa um beijo na minha bochecha. Ele já estava mais leve e relaxado, bem melhor do que no começo da noite. As duas taças de espumante devem ter ajudado também.

- Te amo - Deixo um selar delicado em seus lábios.

- Te amo também -

- Ei, casal. O que vamos comer? - Penso um pouco, nada me vem na cabeça.

- Podem escolher -

- Eu voto por comida japonesa - Reese se manifestou.

- Comida japonesa no ano novo? Essa não é a tradição... - Encaro Josh.

- E desde quando somos tradicionais? - Ele concorda. - Por mim pode ser isso mesmo. -

- Então vou pedir, por nossa conta - Taylor pega o celular.

- Não, a gente paga o nosso -

- Não, já paguei. - Olhamos feio pra ela. Elas são as convidadas aqui, não deveriam pagar por nada. - Relaxa, vocês já fizeram muito de nos chamar aqui e proporcionar essa noite maravilhosa pra gente -

- É, a Tay tem razão. Deixa a gente retribuir de alguma forma, nem que seja só pagando a comida - A mais nova sorriu pra nós. Acabamos ficando sem saída e aceitando, isso não vai nos matar.

- Quanto tempo falta pra dar meia noite, afinal? - Olhamos no relógio pela televisão. Ainda falta uma hora.

- Podemos assistir alguma coisa enquanto isso, tô morta pra continuar dançando -

- Boa ideia, vê se já tem algum filme passando aí - Começam a rodar os canais em busca de alguma coisa interessante. Josh se aproxima mais de mim no sofá, deixando sua cabeça em meu peito.

- Posso ficar assim o filme inteiro? - Pergunta baixinho.

- Uhum - Se ajeita fechando os olhos por alguns segundos. - Ei, não dorme não. Tá tudo bem? - Começo um cafuné nos seus cachos loiros.

- Estou bem, só um pouco cansado - Agora com uma perna em cima da minha, parecendo um bebê encolhido. Não é só cansaço.

- Tá legal, conversaremos mais tarde sobre isso - Deixo um beijo na sua cabeça, ele concorda.

As meninas escolhem um filme de super herói que eu honestamente não conheço muito, nunca fui chegado em filmes se ação, mas Josh parece se animar mais um pouco. Só consigo pensar no que ele está sentindo e o que está o machucando nesse momento, não gosto de vê-lo assim.

- Essa cena é tão bonita, ele tá todo machucado por causa da briga e ela não pensa duas vezes antes de ir ajudá-lo, quero ter um relacionamento assim - Reese comentava sonhadora, limpando duas lágrimas.

- Acho que é isso que pessoas fazem em um relacionamento, ajudam um ao outro e se apoiam independente da situação. Se é amor de verdade, não importa quantos altos e baixos tiver, tudo sempre vai se concertar no final - A mais nova prestava atenção em todas as palavras que saíam da minha boca. - Você vai encontrar uma pessoa que te completa e quando encontrá-la, não a deixe escapar nunca - Josh nos apertou mais encaixando a cabeça no meu pescoço, não nos importamos em estar com mais pessoas na sala, elas podem conviver com o nosso amor.

- Quero muito achar a pessoa que me complete, igual o Josh te completa e igual você completa o Josh. É bonito ver vocês dois - Sorrio tímido. Não estou tão acostumado com elogios sobre o meu namoro.

- A Reese tem razão. Olhar pra vocês me da esperança, me faz acreditar que o amor ainda existe e ainda pode ser cultivado. Obrigado por isso, casal - Sorrimos.

A última cena do filme começou, o herói lutava contra o vilão e o derrotava, mas ficava a beira da morte. O amor da vida dele chega e pede pra ele não a deixá-la sozinha, milagrosamente ele volta a respirar e tudo fica bem no final.

- Baby, tá chorando? - Josh tenta fungar para esconder as lágrimas, mas só acaba chamando mais atenção.

- O Josh tá chorando! Não acredito que você tá chorando com esse final, ele nem morreu! - Começou a rir em meio ao choro.

- Cala a boca, pirralha - Se levantou para jogar uma almofada em Reese, porém acabou atingindo Taylor, bem na cara. Alguns segundos de silêncio esperando ela dizer alguma coisa.

- Eu nem estava na discussão, Beauchamp - Gargalhamos.

- A comida vai demorar muito? Faltam só dez minutos pra meia noite... - Pergunto, estou começando a ficar com fome. Me olham como se eu fosse a pessoa mais estranha do universo.

- A comida chegou tem uns vinte minutos, Noah - As olhei confuso. - Você estava entretido no filme e em fazer cafuné no seu namorado, por isso não percebeu. E pela cara de tonto dele, também não se deu conta - Começo a rir sozinho da minha falta de atenção.

- Cinco minutos! Podemos olhar os fogos da sacada de vocês?! - Concordamos indo até a sacada. Josh me abraçou por trás enquanto Taylor mantinha as mãos no ombro de uma Reese anciosa e animada.

- O que vocês esperam do próximo ano? - Quis saber.

- Eu espero que seja um ano de descoberta, quero descobrir o meu caminho e entender o motivo de eu estar aqui, qual é a minha missão. Encontrar a razão que vai me fazer evoluir como pessoa -

- Que lindo, Hatalinha - Passo a mão pelo cabelo loiro dela.

- Josh? - Taylor passou a vez, ou apenas cedeu seu espaço.

- Eu não sei direito ainda, mas quero que seja um ano de paz. Quero que eu me sinta em paz com todas as minhas escolhas e desejos. - Finalizou simplesmente.

- Taylor? -

- Vou pro mesmo caminho da minha irmãzinha. Eu já descobri a minha missão, porém ainda quero continuar evoluindo como pessoa. E você, Noah? - Me encararam.

- Pra ser sincero, eu não espero nada. Eu gosto de mergulhar no escuro e resgatar o que tem de colorido nele, mesmo que seja difícil, estou disposto a enfrentar qualquer coisa para conseguir e sinto que já fiz um grande progresso. - Olho de relance pro meu namorado que tem um sorriso estampado no rosto.

- Estão esteja pronto a partir de agora porque a contagem regressiva vai começar! - Todos os vizinhos também estavam em suas devidas sacadas esperando os fogos de artifício e gritando os números em ordem decrescente.

- Cinco!... quatro!... três!... -

- Eu te amo - Josh me vira pra si juntando nossos lábios.

- Dois!... um! -

- Eu te amo, feliz ano novo -

- Feliz ano novo! - Reese juntos nós quatro em um abraço apertado e me senti completo novamente, como se toda a angústia do ano passado tivesse ido embora em um estouro, o estouro do primeiro fogo de arificico brilhando no céu. Fico mais feliz quando percebo que Josh está se sentindo da mesma maneira, o seu grande sorriso diz tudo.

Foram oito minutos de queima de fogos e a mais nova fez questão de assistir tudo enquanto arrumavamos a mesa de jantar improvisada, tivemos a ideia de colocar os pratos na mesa de centro, já estamos tendo um ano novo nada tradicional, isso não vai mudar em quase nada.

- Vem comer, Hatalinha -

Foi um momento de bastante silêncio, todos aproveitando a comida e provavelmente pensando em todos os seus desejos e promessas para o próximo ano.

• • •

- Gente, muito obrigada pelo convite, de verdade, acho que foi o nosso melhor ano novo - Taylor disse com um olhar sincero, nos abraçamos.

- Foi muito legal, vocês são legais. Não sei como a Tay conseguiu arrumar amigos como vocês - Reese não perdia uma oportunidade de provocar a irmã mais velha.

- Eu estou vendendo a minha irmã mais nova, vocês querem comprar? - Rimos. Checaram o celular.

- Nosso carro chegou, vamos? - Nos abraçamos uma última vez.

- Obrigado por terem vindo, até daqui uns dias no trabalho -

- Até... Noah! Não esquece de contar pra gente quando começar na gravadora - Sorrio pras duas.

- Pode deixar, vai ser mais em janeiro -

- A gente pode marcar outra coisa! Dessa vez vai ser na nossa casa -

- Tá legal, Hatalinha -

- Vamos logo, o carro vai ir embora - Taylor puxou Reese pelo braço. - Tchau, casal. Amamos vocês! -

- Tchau! - Fechamos a porta quando as portas do elevador delas fecharam.

Sem falar nada, muito pelo cansaço, começamos a arrumar as poucas coisas que faltavam, até porque as meninas fizeram questão de nos ajudar com algumas coisas antes de saírem.

- Amor, você vai tomar banho? - Concordo. - Pode ir então, eu termino de lavar a louça - Vou até a bancada da cozinha me apoiando lá, o relógio já marcava quase duas da manhã.

- Queria tomar banho com você... - Engoliu em seco. - E depois você me conta o que tá te incomodando dês do início da noite - Sorrio amigável pra ele que retribui.

- Tá bom, então vai secando isso aqui pra ir mais rápido - Jogou um pano de prato pra mim.

- Não podemos fazer isso amanhã? - O olhei cansado.

- Ambos sabemos que não vamos ter energia pra fazer isso amanhã, é melhor já deixar tudo organizado, senhor preguiça - Deixa um selinho nos meus lábios antes de voltar a lavar os pratos.

Terminamos tudo em vinte minutos e fomos quietos pro banheiro, dentro do box cada um focava no seu próprio banho com alguns carinhos no meio do processo. Josh começa a desligar o chuveiro me fazendo rir.

- O que foi? - Riu também.

- Ainda têm shampoo no seu cabelo, baby - Liga a água de novo e eu o ajudo a tirar. Me puxa pra um beijo.

- Eu te amo - O olhar vago dele estava me matando, parecia perdido, como o Josh de seis meses atrás e eu não gosto de lembrar aquela época.

- Eu te amo, mas vou amar ainda mais se você me disser o que está se passando aqui - Apontei pra sua cabeça. - E aqui - Apontei pro seu coração. Desviou o olhar com os olhos já marejados.

- Tenho uma coisa pra te contar, pra te mostrar na verdade, mas eu não queria estragar a noite, desculpa... -

- Tá tudo bem, baby. Eu já desconfiava que era isso, mas você não estragou a noite, ok? Foi perfeita e vai ficar mais perfeita quando você estiver feliz também - Beijo a ponta do seu nariz e ele concorda. - Vamos nos secar e nos vestir -

Josh continua no banheiro pra terminar de se secar enquanto eu vou pro quarto procurar alguma coisa pra vestir, lembro de ter deixado a minha samba canção na mesa de cabeceira dele. Depois de vestir paro pra reparar no que realmente estava em cima da mesa, uma carta. Minha curiosidade mais uma vez falou mais rápido e me culpei por isso após ler sobre o que se tratava.

- Noah... - O olhei com o papel nas mãos tremendo levemente.

- Era isso, não era? - Concordou levemente. - A quanto tempo tá escondendo isso de mim? - Arregalou os olhos.

- Não estou escondendo de você! Nunca faria isso, eu achei essa carta hoje procurando a minha camiseta, estava na caixa junto com as outras coisas e... Eu não tô escondendo, eu juro, por favor acredita em mim - Com todo o desespero dele me sinto um idiota por ter sequer pensado nessa questão.

- Eu sei, Josh, respira. Desculpa, não estava desconfiando de você, desculpa - Se acalmou um pouco, respirando fundo.

Passo as mãos pelo meu cabelo nervosamente e depois volto a encarar o meu namorado, está com a cabeça baixa, trêmulo e fungando baixinho. Corro pra dar um abraço forte nele, ele está sendo tão forte agora...

- Respira, não precisamos abrir isso agora e talvez nunca precisaremos, tá? - Me olhou.

- Eu quero abrir, eu tenho que saber o que está escrito - Limpou duas lágrimas.

- Então vai beber um copo d'água, te espero aqui - Concordou e saiu.

Caralho, nós estávamos tão bem, tudo estava correndo perfeitamente maravilhoso...

Josh se deitou comigo na cama quando voltou, nós dois a milímetros de distância um do outro para tentar passar qualquer tipo de apoio.

- Você quer ler? -

- Quero -

- Tem certeza? Não quero que você fiquei mais triste ou que isso desencadeie alguma crise... -

- Eu tô bem, Noah. Consigo fazer isso, mas me prometa que se eu não conseguir mais, você continua lendo -

- Prometo - Beijo sua bochecha e o entrego a carta. Abre o envelope tremendo e com uma lentidão absurda, desenrola a carta e passa os olhos por ela rápido.

- Ok... vamos lá - Respirou fundo.

- Você consegue - O abraço de lado também olhando pro papel, sem ler.

- Joshua, eu tenho quase certeza de quem está lendo essa carta é você. - Sorrio sem muita força. - Não chore pois ela te tornará mais forte, mais forte do que você jamais achou que seria. - Uma pausa. - Noah... realmente espero que vocês estejam lendo essa carta juntos. Noah, dê o apoio necessário para o seu irmão e mostre pra ele que juntos vocês vão conseguir superar essa fase ruim que a nossa partida deixou. - Um soluço escapou da boca de Josh.

- Quer que eu continue? - Negou voltando a ler.

- Primeiramente, nos perdoe... Pensamos muito e concordamos que isso foi o melhor a se fazer, talvez vocês não entendam os nossos motivos agora, porém espere o tempo os mostrar pra vocês. - Olhou pra cima controlando as lágrimas, as minhas já escorriam. - Caso não tenha ficado claro, nós fomos embora... A ideia foi minha, não culpe a mãe de vocês por isso, ela não queria deixá-los sozinhos, mas não teve escolha.... Eu não consigo! - Jogou a carta na cama se entregando ao choro.

- Baby... -

- Não consigo fazer isso, não consigo mais ler, esse filho da... - Estava revoltado, suando.

- Josh, não diga nada que você vá se arrepender depois. Respira, eu vou continuar lendo - Seco minhas próprias lágrimas com um vazio enorme no peito. - Nós estávamos lotados de dívidas, pessoas nos cobrando, ameaças... Não queríamos preocupar vocês então escolhemos a opção mais desesperada de todas, escolhemos deixar vocês sozinhos... ao invés de tentar encarar isso de frente como pessoas normais. -

- Eles... eles... -

- Também estou aqui pra dizer que meus olhos enchem de lágrimas quando penso em como falhamos como pais... como falhamos como seres humanos... Nós vamos sentir falta das músicas do Noah, das piadas sem graça do Josh e até das brigas de vocês... - Paro pra respirar, estamos nos derramando em lágrimas. Josh agarrado em mim com todas as suas forças tremendo incontroladamente. - Nosso único consolo é que mesmo separados, ainda vamos estar com vocês nos seus pensamentos, nós desejávamos ficar, nós desejávamos fazer mais por vocês... Mas o destino une e separa pessoas. - Fungo duas vezes antes de continuar a ler. - Agora me façam um favor, se nós procurarmos vocês, ignore. O melhor que vocês podem fazer é nos esquecer, vai demorar, vai doer e por muitas vezes irá fazer vocês chorarem, mas talvez isso possa ser o ponto de partida da vida de vocês. Com amor, Ron e Ursula. Desculpa... - Abaixo a carta. Viro ela de ponta cabeça procurando mais alguma coisa, é isso? Só isso?!

- Que porra foi essa? - Josh perguntou baixinho se densvinciliando do meu abraço.

- Eu não sei, eu estou perdido - Confesso.

- Foi isso? Eles não tiverem a merda da coragem de enfrentar isso como adultos e decidiram simplesmente abandonar dois jovens?! Que puta de uma sacanagem! E nem funcionou porque agora eles estão mortos! - Gritou. Ele precisava disso, precisava colocar toda a sua angústia pra fora.

- Isso não faz nenhum sentido na minha cabeça, primeiro foram as mentiras e depois o egoísmo. É muita hipocrisia pra mim. - Mesmo que estejamos parecendo firmes, estamos quebrados por dentro... fomos deixados pra trás por um motivo completamente idiota.

- Isso parece um sonho - Voltou a mesma posição, tremendo menos agora. Deixo um beijo na sua cabeça.

- O que faremos agora? O quanto isso te afetou? Seja sincero - Espero a sua resposta.

- Muito. - Voltou a chorar. Preciso ser forte por ele agora e quando ele estiver melhor, pode ser forte por mim.

- Voltaremos pro psicólogo toda semana e se você precisar tirar férias... Eu posso até cancelar o meu contrato com a gravadora porque você pode precisar de mim e... -

- Noah, você não vai fazer isso, ponto final. - Me olhou com um olhar vazio, porém sério.

- Mas... -

- Sem mas. É o seu sonho e como o Ron falou ou tentou, vamos esquecer. Vai demorar, vai doer muito, mas ainda é o melhor a se fazer. Devemos seguir em frente, porra, eu te amo muito e faria qualquer coisa pra ficar do seu lado o resto da minha vida, porém nunca me perdoaria se você desistisse do seu sonho apenas para ficar comigo. Vamos passar por um tempo complicado novamente e isso vai exigir muito da gente, mas eu acredito no nosso amor e acredito que somos capazes de passar por mais esse desafio juntos. Você acredita no nosso amor? - Não demoro nem dois segundos pra concordar freneticamente. - Então é isso. Vamos fazer as pazes com nós mesmos e recomeçar com as nossas cicatrizes - Selo nossos lábios em um beijo calmo, porém muito significativo.

Estão vendo esse ser humano? Foi ele que me deu motivação para continuar quando pensei que não tinha mais forças, foi ele que me levantou do chão quando eu pensei que não tinha mais saída, foi ele que salvou a minha vida e nunca vou conseguir expressar em palavras o quanto eu o amo.