História My Dear Pianist - Musical Memory

Estava nevando forte aquela noite, quase uma nevasca, então Tina não poderia ir para casa naquele tempo. Não que ela quisesse, era melhor ficar na mansão aonde pelo menos havia mais do que ela e o piano para lhe fazer companhia. Seus pais estavam em algum lugar na Europa e não chegariam em tempo para o Natal, mas estava tudo bem. Tina não ligava mais, mesmo que por dentro ela estivesse gritando como uma criança, porque ela havia preparado uma surpresa, um presente de Natal, desde que eles disseram que iriam voltar a tempo, apenas para ligarem uma semana antes da semana de Natal dizendo que não poderiam. Seu presente não seria apreciado, semanas de trabalho não valeriam nada no final, mas estava tudo bem. Ela estava bem. Mesmo que doesse, cutucasse aquela velha ferida que nunca conseguia ser cicatrizada, estava tudo bem.

Ela estava caminhando pelos corredores da mansão como um fantasma quando encontrou a sala de música. Foi completamente instintivo, mas quando Tina viu, ela estava sentada no banco do piano, com as mãos prestes a erguer a tampa das teclas.

Ela parou e mordeu o lábio. Talvez ela não devesse, não era dela, ela não tinha essa liberdade, mas... Mas fazia dias que ela não tocava, não desde que recebeu a notícia sobre seus pais não poderem vir para o Natal. Ela sabia bem que não era culpa deles, eles precisavam trabalhar afinal. Tina não poderia monopolizá-los como uma criança mimada. Mesmo que praticamente todos que conhecia tivessem histórias legais de infância aonde seus pais os levavam para passear e ela não tivesse nenhuma que não envolvesse festas entediantes da alta sociedade. Havia uma realmente, mas aquela havia sido uma noite de tragédia, a noite em que John e Mary Grayson caíram para a morte.

Não era exatamente uma história para se contar para os amigos.

Balançando a cabeça, Tina levantou a tampa silenciosamente para não fazer barulho e arrastou os dedos pelas teclas. Este piano, apesar da aparência impecável, tinha uma história. Tina podia ver, se fechasse os olhos, poderia ouvir. Melodias atrás de melodias, ecoando pela sala em que estava e pelos corredores sombrios que antes eram cheios de vida. Ela se lembrava bem, alguns meses antes da morte de Jason, ela espiou para descobrir de onde vinha o som, e o encontrou tocando. Havia sido mágico, ela se sentiu maravilhada. Robin tocava piano. Ela compartilhava um hobby com Robin. Tina havia se sentido no céu, e guardou a lembrança da melodia e da expressão serena de Jason em sua mente.

Mas esta noite, ela não iria tocar a melodia de Jason. Não, alguém precisava ouvir sua música especial, a que ela mesma preparou para seus pais. Mesmo que seja ela mesma.

Tina posicionou os dedos e respirou fundo. Então ela começou. Um inicio lento e acelerando. Um "Jingle Bells" subindo e descendo em cadencia de velocidade, envolvendo-a na magia da música e no deslizar de seus dedos nas teclas.

Quando a música acabou, sem uma pausa, ela iniciou a música que ela sempre tocava quando se sentia particularmente nostálgica. A música de Jason, a mesma que ele tocou naquela noite. Piano Man ecoou na sala, mergulhando-a na memória, como em um flashback de filme.

* * *

Ela observou Jason tocar, os olhos arregalados em maravilha. Era Robin. Ele tocava piano, como ela. Um grande sorriso tomou seu rosto, sendo escondido por sua mão.

A música acabou e Jason olhou diretamente para ela. Tina congelou, se escondendo atrás da porta.

- Eu sei que você está aí. Saia.

Fechando os olhos fortemente, se repreendendo, Tina respirou fundo. Recompondo-se, ela parou de se esconder e entrou na sala.

- Olá - ela disse, mas soou como um sussurro.

- Oi - ele acenou brevemente com a mão, não se movendo de seu lugar no piano.

- Você toca bem - Ótimo, muito sutil, realmente. O que mamãe e papai diriam se a vissem agora?

Jason ergueu uma sobrancelha.

- Obrigado.

Eles ficaram em silencio, o olhar de Tina seguindo aleatoriamente para o piano e novamente para os sapatos.

Jason pigarreou. Tina o olhou.

- Você quer... tocar? - ele perguntou, parecendo em dúvida.

Tina sorriu um pouco, antes morder o lábio, olhando novamente para os sapatos. Timidamente, mas convicta, Tina se aproximou do piano e sentou no lugar que Jason deixou para ela.

Ela tocou algumas teclas em uma das melodias que ela mais gostava. Era de um filme que ela assistiu uma vez, cuja melodia ficou em sua cabeça desde então. Agora, A Noiva Cadáver não deveria ser um filme que lhe tocou tanto, mas as músicas no piano ficavam sempre interessantes.

No fim da parte de Emily, Tina parou, hesitante. Normalmente ela tocava a música inteira sozinha, mas parecia errado. A parte de Victor se iniciou, e Tina olhou para Jason, observando-o tocar. Um sorriso surgiu em seu rosto. Quando ele pausou, ela continuou, e assim, eles entraram no ritmo da melodia e seguiram até o fim. Quando Tina finalizou a parte em que a mão de Emily seguia sozinha pelas teclas, ambos riram.

- Você não é nada ruim nisso - disse Jason. E Tina sentia que isso era um elogio honesto disfarçado, então sorriu.

- Obrigada - ela disse, iniciando a melodia do tema de Pantera Cor de Rosa, um de seus favoritos secretos - Você também não foi nada mal.

Jason sorriu de canto atrevidamente quando notou o que ela fazia, mas a seguiu no dueto.

* * *

Tina sorriu enquanto tocava. Ela sentia falta de Jason, imensamente. Tocar era uma forma de se sentir bem e menos sozinha quando Tina começou, mas depois daquela noite fatídica aonde descobriu um gosto em comum com Robin, se tornou um meio de se sentir mais próxima dele.

Então, enquanto recomeçava Piano Man, ela fechou os olhos e, ignorando tudo em volta, Tina se deixou sonhar. Se deixou sentir e em sua mente, ela viu novamente o sorriso de Jason quando tocavam. E quando as lágrimas ameaçaram vir, ela as deixou ir.