História My Dear Stupid Brother - Four

-Porra Camila! - gritou. - Que caralho você tá fazendo aqui?!

-E-Eu... a Dinah... - tentei falar, porém meu cérebro era incapaz de formular algo, com a tamanha bagunça que estava por lá.

-A gente vai pra casa agora. - falou entredentes, pegando meu braço e me puxando casa a fora.

Não o confrontei, estava atordoada demais pra falar alguma coisa.

Shawn entrou no carro dele, batendo a porta em seguida, e eu entrei me sentando ao lado.
O silêncio que seguia ali era constrangedor, como se ambos não soubessem o que fazer, e precisassem procurar alternativas de saída daquele embaraço psicológico.

- Que merda deu em você pra sair de casa no meio do castigo?! - disse um pouco surtado, apertando o volante agressivamente com as mãos.

- A mesma merda que você! - retruquei -Eu não vou ficar levando a culpa por uma coisa que nós dois fizemos.

Ele pareceu buscar paciência, demorando alguns minutos até me responder.

- Se você não tivesse -

-Se você o caralho - o interrompi. -Você também saiu, você também beijou, você também desobedeceu nossos pais, tem tanta culpa quanto eu.

O garoto apenas continuou a encarar o trânsito pouco movimentado, já passavam das duas da manhã.
Encostei minha cabeça na janela do vidro do carro, deixando que as lágrimas que eu segurei durante daquela festa surgissem.

Meu peito doía, minha respiração sooava pausada e difícil.
Um soluço escapou de minha boca, e então senti que o carro estava diminuindo lentamente, até encostar.

-Hey Mila. - Shawn falou segurando meu rosto, mais eu permaneci com os olhos fechados. - Vai ficar tudo bem, isso não aconteceu, ok?

- Eu ainda vou continuar com esse peso aqui, Shawn. - abri os olhos, finalmente encarando aquele infinito castanho esverdeado, e ele secou meu rosto.

- Não sei como eu passei tanto tempo ao seu lado sem te beijar. - confessou, e eu o encarei perplexa, totalmente sem reação. Agora tudo parecia se encaixar e finalmente fazer sentido na minha cabeça. - E bom, vejamos, era pra isso acontecer. Uma hora ou outra. Um dia ou outro.

- Shawn, não. - me afastei, tirando as mãos dele do meu rosto, e ele se virou pra frente, encarando as ruas. -Somos irmãos, eu não quero isso.

- Não somos irmãos. - retrucou, ligando o carro e dando partida pra casa, e ninguém disse mais nada.

.... dias depois.

- Não mãe, eu já decidi. - escutei a voz de Shawn lá da sala, e me aproximei do topo da escada, pra escutar melhor.

- Você não vai conseguir ficar muito tempo no Canadá, filho, pensa. - a voz de minha mãe se fez presente, e eu fiquei por ali mesmo, esperando que a conversa deles acabassem.

- Eu também não vou conseguir ficar aqui. - retrucou. A mulher se sentou no sofá com as mãos enfiadas entre o rosto, e Shawn se sentou ao lado dela, a abraçando.

Então é isso? Shawn vai embora?
Parabéns Camila, a culpa é totalmente e exclusivamente sua.

Minha mãe parecia estar muito abalada, pelo jeito ela não queria que Shawn fosse embora, e, vejamos, eu também não.

Por mais que ele me deixasse irritada ao extremo, me tirasse do sério todos os dias, e também me ferrava pros nossos pais, eu não queria que ele fosse.

Shawn além de meu irmão era meu amigo, uma amizade perturbada, mais ainda sim uma amizade.

-Vamos Mila, para de ser medrosa. - meu papa falou tentando me encorajar, mais minha vontade era de jogar a bicicleta no chão e sair correndo.

- Eu não acredito que você ainda não sabe andar de bicicleta. - Shawn falou parado com a bicicleta dele do meu lado.

Não deve ser tão difícil. Vamos lá.

Coloquei meu pé no pedal, começando a andar. Começou a ir rápido de mais, e eu havia me esquecido de perguntar onde era o freio.

-Papa! - gritei mais eu já estava no chão, e meu joelho ardia muito. Maldita hora que eu desobedeci meu papa e não coloquei as proteções que ele mandou.

-Mila? - Shawn jogou a bicicleta no chão, se agachando ao meu lado. -Machucou? - assenti com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, meu machucado estava doendo muito. - Eu vou chamar o pai Alê, me espera aí?

- Não. - pedi o segurando. -Não me deixa sozinha.

-Tudo bem. - me abraçou, fazendo com que meu coração batesse forte, e eu não entendi aquilo. Acontecia mais quando estávamos perto. - Vai ficar tudo bem. Pai Alê já tá vindo, Mila. Não chora.

Sorri triste me lembrando desse dia, a partir dali eu nunca mais subi em uma bicicleta na vida, peguei trauma.

Shawn deu um beijo na testa de nossa mãe, vindo em direção às escadas. Corri de volta pro meu quarto, sentindo meu coração bater mais louco do que escola de samba.

Vai conversar com ele sua besta.

Não, não vai.

Vai logo.

Essa luta interna comigo mesma entre ir, e não ir, estava fazendo com que minha cabeça doesse.

Abri a porta do meu quarto, saindo dali e parando na frente da porta dele.
Levei minha mão até a maçaneta, decidindo entre abrir e não. Acabei por ficar com a primeira opção.

- Shawn. - chamei o mais novo, que estava concentrado em jogar algumas peças de roupa em uma mala.

Senti uma sensação estranha, como se já tivesse vivido essa cena, mais não me recordava nada isso.

-O que? - me respondeu sem nem mesmo se virar pra mim.

- Não vai embora, vai? - indaguei, recebendo de volta uma risada sarcástica.

-Vou. - respondeu ainda de costas pra mim. Dei a volta, parando na frente do garoto, que mantinha o olhar firme no meu.

- Por favor não vai. - pedi me sentando na cama dele, e ele ignorou meu pedido.

- Eu vou, Camila. - disse decidido. - Eu fiz uma burrice. Vai ser melhor pra todo mundo se eu for embora de vez.

-Isso não é verdade. - retruquei, fazendo com que o moreno se sentasse ao meu lado. - Eu passei quase minha vida inteira com você, e não estou acostumada a ficar sozinha.

- Eu também, mais eu não consigo esquecer daquele dia, e isso tá acabando comigo. - suspirou cansado, deixando o peso do corpo pra trás.

- Eu sentiria a sua falta, Shawn. - confessei, sentindo o meu orgulho ir ao chão. Me arrependendi no mesmo instante.

Senti seus braços em torno do meu corpo, e me aninhei ali. Porém meu subconsciente gritava pra mim me separar dele, até um simples abraço parecia errado.

O empurrei assim que ouvi a voz de meu papa me chamando, e arregalei os olhos. Shawn riu anasalado, e meu papa parou nos encarando no batente da porta, com um sorriso divertido.

- Ah, vocês estão aí. - sorriu. - Shawn, espero que você mude de idéia, não queremos essa casa tão vazia sem você aqui. - disse e Shawn me olhou, voltando a atenção pro meu pai e mordendo o lábio com vergonha.

- Eu estava de cabeça cheia, não deixaria vocês. Me desculpem a preocupação. - falou e meu coração pareceu parar.

Então ele não vai?

-Esse é o meu garoto. - meu papa fez uma careta, e nós rimos. -Sua mãe está te chamando pra ajudar com o jantar Kaki. - saiu, e eu pude ouvir seus passos pesados ao descer as escadas.

-Fico feliz que você não vá mais embora. - mordi o lábio olhando pro chão, eu havia mesmo ficado feliz por ele não me deixar.

- Eu vou ficar sim. - sorriu apertando minha cintura. - Mais eu vou ficar por você.

Minhas pernas bamabearam com o tom de voz dele, e ouvi minha mãe me chamando lá em baixo.

-Tenho que ir. - sorri me levantando, e correndo até a porta sem olhar pra trás.

Quem diria, Camila. Seu lugar no inferno tá reservado.