Eu estava a espera de Meliodas há algum tempo e por algum motivo que desconheço, o mesmo está atrasado.
Solto o ar ruidosamente e tento sem sucesso parar minhas asas inquietas, que denunciam minha ansiedade em vê-lo, pelo que parece ser a enésima vez fico na ponta dos pés e olho a minha volta procurando por ele, tento não me decepcionar e me sento balançando minhas pernas no ar.
Recordo do passeio em que o loiro me levou na aldeia dos humanos apenas para que eu parasse de somente achá-los interessantes e passasse a interagir com eles, foi divertido ter crianças e adultos redeando-me apenas para tocar minhas asas ou para falar, em total espanto, que meus olhos são diferentes.
Realmente eles são interessantes.
Olho para baixo assustada ao ouvir um grunhido insatisfeito e encontro o loiro que bagunça seus cabelos molhados, aceno quando ele ergue a cabeça e sorri para mim.
Pulo do galho onde estava e caio de pé ao seu lado silenciosamente.
- Você se atrasou - Digo e ele encolhe os ombros.
- Eu precisava tirar a sujeira do cabelo - Meliodas murmura e chacoalha a cabeça novamente bagunçando ainda mais - se é que seja possível - seus cabelos.
- O que você estava fazendo para se sujar?
- Nada demais - Ele responde sério e cruza os braços sobre o peito - Você não deveria estar treinando?
- Ah é - Olho para meus pés constrangida - Eu deveria.
- Vamos para um lugar melhor.
Meliodas passa e eu observo curiosa a forma como ele olha por cima de seu ombro e respira fundo parecendo aliviado.
★
- Você tem que canalizar uma emoção e utilizá-lo como base para seu ataque.
O loiro explica e se senta em uma pedra alta enquanto aponta com o dedo o local onde devo me concentrar em atacar, esta já era a terceira vez que ele repetia a mesma frase.
Cansada e chateada por não conseguir fazer algo tão simples cruzo os braços sobre o peito e o observo séria.
- Eu não consigo.
Ele revira os olhos e quebra um galho pequeno de um arbusto, com a postura relaxada Meliodas aponta para o meu ponto de ataque e move a mão.
Um zunido alto ecoa e eu fecho os olhos com força ao sentir o vento chocar-se contra meu rosto, quando volto a olhar em minha volta, fico espantada ao ver a árvore de porte grande partida ao meio.
- Você usou um galho! - Exclamo espantada - Isso foi incrível... Meliodas?
Hesitante dou dois passos para trás quando a expressão fria do mesmo me assusta, ele ergue o punho novamente e eu grito apavorada ao mesmo tempo que estico as mãos em frente meu rosto.
- Meliodas? - Abro os olhos e procuro pelo loiro, olho para trás assim que ouço um riso suave.
- Achou que eu iria atacá-la?
Coloco a mão sobre o peito e sinto meu lábio inferior tremer levemente pelo nervosismo.
- Você me assustou - Sussurro e ele se desculpa enquanto empurra seus cabelos para trás deixando a marca visível.
- Você me atacou - Ele diz satisfeito e aponta para o caminho que meu poder fez.
Observo admirada e arregalo os olhos quando Meliodas ergue a mão novamente, porém desta vez em minha direção, ele move o punho e eu grito em espanto ao pular para trás.
- Elizabeth! - Ouço o grito dele assim que perco o equilíbrio e rolo pela grama antes de cair da beira do penhasco onde estávamos.
Engasgo surpresa quando sou agarrada pela cintura e curiosa abro os olhos, as asas negras de Meliodas projetam-se de suas costas e as manchas encobrem quase todo seu peito, suavemente ele chega ao chão e me põe sentada encarando-me sério.
- Você está bem?
Desorientada tombo minha cabeça em seu ombro e respiro fundo tentando me acalmar.
- Um pouco machucada - Resmungo e Meliodas põe a mão em meu ombro.
- Você tentou se matar?! - Ele exclama raivosamente enquanto me deita na grama.
- Foi sem querer - Murmuro e ele revira os olhos.
Percebo constrangida a proximidade que o rosto dele está do meu e observo as íris completamente negras. Meliodas bufa e se senta ao meu lado.
- Você está sangrando - Ele murmura e aponta para o corte em meu braço.
Coloco a mão sobre a ferida e imediatamente ela cicatriza, continuo em silêncio ao seu lado e não me afasto mesmo depois de perceber que não há espaço entre nós e o calor de seu corpo irradia para o meu.
Rio baixo e tombo a cabeça em seu ombro sem deixar de fitar minhas mãos.
- Você é um desastre natural - Ele ri sem humor e eu o acompanho.
- Foi sem querer.
- Você teria se machucado seriamente. Meliodas reclama e se levanta resmungando sobre minha quase queda.
(...)
Um silêncio confortável havia se instalado entre Meliodas e eu desde o momento que ele me salvou.
Sentada sobre minhas pernas encaro o loiro deitado a apenas alguns centímetros de distância.
- Você está me encarando a tempo demais - Ele vira o rosto para me olhar e com as bochechas vermelhas olho para o baixo - fale de uma vez.
Timidamente mexo na grama e olho de esguelha para ele.
- É apenas curiosidade.
- Sobre?
- Sempre falaram que demônios são conhecidos por serem cruéis e se alimentem de nosso medo, que são desprezível, mas você...
Meliodas deixa de encarar o céu e se vira de bruços para me fitar.
- Você acha que sou como dizem em seu clã?
Balanço a cabeça em negação e mordo meu lábio inferior.
- Você é diferente?
- Assim como todos os demônios, sou instável, Elizabeth. Mas não somos tão desprezíveis assim.
- Eu sei.
Um sorriso fraco desenha seus lábios e ele apóia a cabeça nos braços sem deixar de me olhar, ergo minha mão para tocar em sua marca porém hesito, o que o faz bufar.
Meliodas segura meu pulso e encosta minha mão em seu cabelo.
- Eu não vou infectá-la se me tocar, Elizabeth - Ele resmunga ácido.
Com meu rosto ardendo acaricio os fios macios de seu cabelo e suavemente escorrego as pontas dos dedos sobre o símbolo em sua testa, Meliodas fecha os olhos e a suavidade em seu rosto me faz sorrir.
- Seu toque é suave - Ele murmura - Me dá sono.
- Pode dormir, eu estarei aqui quando acordar.
Ele boceja discretamente e agarra minha mão.
- Eu sei que vai estar.
Observo sua mão junto da minha e lentamente escorrego para deitar ao seu lado, minhas asas nos cobre e eu observo o rosto dele em silêncio.
Meliodas não é cruel como todos acham que demônios são.
Mas eu deveria confiar em dormir ao lado dele?
- Eu cuido de você - Meliodas murmura e segura minha mão com mais intensidade.
Fecho meus olhos e aproveito a sensação de paz que ele transmite para mim, lentamente minha respiração se torna mais lenta e Meliodas acaricia meu pulso lentamente.
- Eu sempre irei.
Seu sussurro alcança meus ouvidos e eu sorrio fraco, embriagada demais pelo sono para conseguir respondê-lo. Realmente eu gosto de ficar ao lado dele.
★
Ainda sob efeito letárgico do sono, estico meu corpo dolorido e bocejo sonolenta sentindo alguns ossos estalar no processo. Viro o rosto para o lado e respiro fundo pronta para dormir novamente, porém a sensação de estar sendo observada me obriga a abrir os olhos, resmungo baixo irritada pelos raios de sol que atravessam as folhas das árvores e batem diretamente em meus olhos, coloco a mão na frente e me sento devagar para não ter tontura.
- Até que enfim acordou - Olho para Meliodas sentado ao meu lado enquanto analisa minuciosamente a lâmina de sua espada - Espero que sua supervisora não fique irritada, mas acabamos por passar a noite toda aqui.
- O quê? - Exclamo assustada e ele sorri de lado.
- Estou brincando, mas está anoitecendo acho melhor você ir.
Esfrego meus olhos e volto a me deitar na grama, estico minhas asas e observo o pequeno pedaço do céu que é visível entre as copas das árvores.
- Ei! - Exclamo surpresa quando o loiro agarra minha asa e escorrega os dedos entre as penas - O que está fazendo?
- Nada demais - Ele encolhe os ombros e em seguida solta suavemente as penas.
- Estou indo - Digo e me levanto do chão chacoalhando as asas inquietas no processo - Te vejo amanhã?
- Claro. - Ele responde sério e em seguida se levanta também.
Sorrio aliviada e pulo tomando impulso necessário para voar, olho para trás surpresa ao ver Meliodas me seguir de perto, diferente do normal seu rosto não exibe emoção nenhuma e mesmo assim, não tenho mais receio em me aproximar dele.
Porque sei que posso confiar nele.
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