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História My Enemy, My Ally - Twenty-four;


Escrita por: Torix

Notas do Autor


Caravana das corujinhas acordadas a essa hora da noite~
Pega uma pipoca, um suquinho de maracujá e se prepara pro drama!
Boa leitura!

Capítulo 24 - Twenty-four;


DUAS HORAS ANTES.
 

O sol estava prestes a se pôr. O céu era uma mistura de cores se assemelhando à uma aquarela. Haera gostava de ter uma janela tão grande no escritório, a luz natural sempre estava lá e a dava um senso de tranquilidade não obtido com lâmpadas incandescentes.

– O que você tanto faz nesse computador? – Haera perguntou, colocando de lado os papéis assinados e encarando Chanyeol que estava sentado não muito longe de sua mesa. Estava curiosa e com razão, ele esteve a tarde toda encarando a tela de seu notebook. Ele riu.

– Eu fiz progresso com o meu novo livro… – Respondeu com um sorriso travesso. Ela arregalou os olhos, um sorriso ainda maior tomando conta de seus lábios.

– Ai, meu Deus. Finalmente! – Exclamou. Estava quase tão – se não, tanto quanto. – feliz quanto ele. Sabia como o bloqueio criativo o afetava. Ainda mais quando se arrastava por meses. Se levantou, caminhando até ele. Chanyeol fechou o notebook em um pulo, o colocando de lado. Haera franziu o cenho, levemente ofendida por suas ações. – Eu não posso ler?

– Ainda não… É muito cedo, eu não revisei nada ainda. – Respondeu, a puxando para seu colo. Haera fez bico, chateada por ser deixada de lado em um momento tão crucial. Chanyeol sempre a deixava ler seus rascunhos e sempre pedia ajuda. No começo, ele insistia até que ela desistisse e cedesse aos seus desejos, mas depois de um tempo, ela se acostumou com sua posição no processo criativo do rapaz. Ele até dava crédito nas dedicatórias, com um nome falso, obviamente. – Eu prometo que te deixo ler assim que terminar os rascunhos. – Ela torceu o nariz.

– Nem uma espiada? – Perguntou. Ele riu, beijando sua testa.

– Não.

– Aigo, chato. – Deu um tapa em seu peito. – Pelo menos pode me falar sobre o que é? – Arqueou a sobrancelha esquerda. Chanyeol parou para pensar por um segundo.

– Hmm… Posso. – Ela levantou a cabeça como um filhotinho curioso, ato que o fez rir. – É um romance. – Rolou os olhos.

– Você sempre faz “romances” – Fez aspas com os dedos. Não estava errada, todas suas obras até agora continham “romances”, um eufemismo censurado para que seu erotismo pudesse ser vendido nas livrarias.

– Dessa vez, é realmente um romance. – Riu. Haera arregalou os olhos.

– Sério?! – Era estranho imaginar Chanyeol escrevendo qualquer coisa que não fosse o bom e velho pornô, ainda mais romances enjoados e “fofos”.

– Mhm. – Afirmou. – Eu andei falando com Angelique… E isso despertou em mim uma inspiração que eu achei que tinha perdido. – Um sorriso genuíno estampou o rosto dela. Talvez finalmente ele iria subir na lista do Naver e ultrapassar seu arqui inimigo.

– Eu fico feliz… De verdade. – Suspirou, dando um tapinha no rosto do rapaz. Antes que ele pudesse responder, se levantou.

– Aonde você vai? – Perguntou, acompanhando-a com os olhos enquanto pegava sua bolsa do sofá e caminhava até o casaco jogado na mesa.

– Vou encontrar minha mãe. – Ele fez uma careta dolorosa e ela riu. – Acho que eu vou acabar por dormir lá. Os meninos querem fazer uma noite de filmes de terror e o Jungmin ficou de ligar no skype. – Comentou com um sorriso. Não podia esconder o fato de que sentia falta do sobrinho.

– Boa sorte. – Chanyeol riu. Haera rolou os olhos.

– Obrigada. – Correu até a porta, acenando. – Te vejo amanhã, se eu sobreviver. – Eles riram. Assim que ela fechou a porta, ele suspirou. Ela estaria fora por tempo mais do que suficiente para que ele pudesse executar o que estava na cabeça, seja o que for.

Se levantou, pegando suas coisas. Enquanto colocava o casaco, discou o quarto número na discagem rápida. Ela atendeu rapidamente para seu alívio.

– Yoora, sou eu. Hyung está em casa?



 

Respirou fundo antes de apertar a campainha. Pôde ouvir passos apressados vindo da sala de estar em direção à porta. Jogou o cigarro no chão e o apagou com a ponta do tênis. Em alguns segundos, a porta da frente foi aberta, revelando a silhueta feminina.  

– Eu… Eu não estava esperando que você viesse hoje… – Ela sorriu, abrindo a porta para que ele pudesse entrar. Chanyeol riu soprado, a seguindo para dentro da casa os resquícios da fumaça química de seu cigarro de dissipando atrás de si. – Eu vou me trocar… Prometo que não demoro. – Sussurrou, se inclinando para brincando com a gola do rapaz,e ele concordou com a cabeça e a assistiu desaparecer no quarto principal. Se livrou do casaco pesado, o pendurando cuidadosamente no cabideiro ao lado da porta.

A casa havia mudado significativamente para o período de um mês. Boa parte da mobília havia sido trocada e o layout havia mudado. Preferia a antiga decoração, mas quem era ele para julgar.

Saiu do quarto com um sorriso safado no rosto. Estava usando um conjunto de lingerie estranhamente familiar. Ele franziu o cenho tentando se lembrar onde havia visto aquelas peças antes. Ela caminhou até ele, envolvendo-o com seus braços e selando seus lábios. Seu perfume cheirava à cereja, mas não suave como mousse e sim. como essências artificiais feitas para balas.

Retribuiu o beijo. Era molhado e necessitado, mas não mutuamente. E ambas partes sabiam disso. Lentamente, se moveram até o quarto. Ao alcançar a cama, já haviam perdido todas as camadas de roupa que lhes restavam pelo caminho. Os beijos trocados ficariam marcados na mente da garota. Somente na presença de Chanyeol, se sentia completa. Somente com ele, seus sonhos se tornavam verdade e por alguns minutos, vivia um conto de fadas inalcançável.

Gritava seu nome com orgulho, as sílabas rolando de sua língua com uma facilidade surpreendente, como se a palavra fizesse parte de seu vocabulário rotineiro. Teve certeza que seus vizinhos ouviram seu clamor.

Terminaram rapidamente. Rápido até demais para o gosto do moreno. Mas não tinha muito o que fazer depois de tê-la desfeita embaixo de si mais de duas vezes em menos de vinte minutos. Jogou o preservativo em cima de seus sapatos no chão, fazendo um lembrete para jogá-lo fora ao sair e se esticou para pegar um cigarro do maço na mesa de cabeceira. Puxou seus jeans e os vestiu, permanecendo sentado na beira da cama.

– Eu soube que sua esposa está grávida… – Comentou quietamente. Ele murmurou em concordância, olhando para a janela. – Parabéns ao amante dela. – Sorriu arrogantemente. Chanyeol riu soprado.

– Wow, você soa como se fosse próxima dele. – Soprou a fumaça com um suspiro. Como sentia falta de seus cigarros de menta, odiava essa marca barata. Ela o encarou, se ajeitando em seguida.

– Eu me mantenho informada, só isso… – Dispensou o assunto. – Está mais do que na cara que ela tem um amante… Você sabe como ela é… – Quando ria, exalava um ar de superioridade que o fez Chanyeol segurar o riso. Se apenas ela tivesse uma visão de si mesma através dos olhos das pessoas ao seu redor, não tornaria a agir de tal maneira.

– E como ela é? – Arqueou a sobrancelha, uma expressão desafiadora tomando conta de seu rosto. Ela deu de ombros.

– Você sabe… Mimada, arrogante, egoísta, fria, interesseira… – Suspirou. Seu incômodo era transparente na maneira em que falava. Um coisa era certeza; Não gostava nem um pouco de Kim Haera.

– Essas são várias acusações… O que te faz dizer isso? – Sorriu de canto.

– E precisa de um motivo? Olha bem pra ela… O jeito como ela tem tudo o que quer… – Suspirou, correndo os dedos pelos fios castanhos de seu cabelo. – Ela age como se fosse superior a todos.

– Soa como se você a odiasse. – Ela manteve-se quieta. Já havia ido longe demais, quem em sã consciência elaboraria um discurso odioso sobre alguém justamente para seu marido? – Tudo bem. Você pode me contar. Eu não vou dedurar. – Ele riu, devolvendo o cigarro à sua boca.

Hesitou, brincando com a beirada do lençol. – Eu só… Não vou muito bem com a cara dela.

– E por quê?

– Porque eu a odeio. – Afirmou, o encarando. – Era isso que você queria ouvir? Não tem nada de errado em não gostar de uma pessoa…

– Tem quando você planeja algo contra ela. – Riu alto.

– Eu nunca– Chanyeol levantou o dedo indicador como para silenciá-la.

– Há quanto tempo você esteve planejando isso? Deus, qual era seu plano? – Ele rolou os olhos, esperando sua resposta. Ela engoliu seco, desviando o olhar.

– Desde quando você acha? Desde sempre. – Respondeu, claramente irritada.

–Você realmente achou que enganaria qualquer um com essa? – Era um desabafo e uma pergunta genuína, para qualquer um aquilo soaria como um filme besteirol dos anos 80.

– Enganei sua queridinha esposa. Ela nem me reconheceu. – Afirmou com confiança. Admitia que não aprofundou muito seu plano, mas foi mais do que suficiente

– Isso porque você nunca importou! Ela nem se lembrava que você existia. – Exclamou, rolando os olhos. – Eu não entendo essa fixação sua com ela… Por que você a odeia tanto?

– Porque ela me irrita! – Estapeou o colchão. – Minha vida era perfeita até ela chegar! Ela tirou tudo de mim, tirou meu pai, o nosso negócio foi à ruínas…

– Não foi por culpa de Kim Haera que seu pai foi preso. Ele fez isso consigo mesmo. – Chanyeol suspirou pesado. – Você realmente defende ele nessa situação como se ele fosse inocente? Eu sei que ele é seu pai… Mas o que ele fez com aquelas garotas– Se interrompeu. Odiava lembrar do que aconteceu e de como sempre esteve debaixo de seus narizes, mas ninguém foi atento o suficiente para perceber. E o fato de que ele planejava fazer o mesmo com Haera apenas o deixava ainda mais furioso.

– Claro que não. Para de defender ela. Eu achei que fosse diferente… – Exclamou, sua respiração ficava mais e mais apressada com a raiva que sentia. Como ele pôde defendê-la assim. – Ela tirou você de mim. – O encarou. Chanyeol pode ver que lágrimas se formavam nos cantos de seus olhos. – Eu nunca vou perdoá-la.

Ele riu de escárnio, encarando o cigarro entre seus dedos. – Eu nunca fui seu. E nunca vou ser.

– Não diga isso… Você veio até mim, não veio? Isso significa que eu ganhei dela. Mesmo que por uma noite, você é meu. – Riu, esticando a mão para tocá-lo. Chanyeol desviou, puxando um trago do cigarro e esperando a nicotina acalmar seus nervos. Precisava manter-se calmo.

Algo clicou em sua mente, o que o fez rir. É claro que aquela lingerie era familiar. Era um dos designs do Luhan que Haera havia modelado. Se perguntava se já haviam chegado às lojas. Como o tempo voa.

– Você nunca vai ganhar dela. Haera tem milhares de qualificações, se ela é arrogante, é porque tem motivo. – A jovem suspirou, fechando os olhos.

– Você não vai falar isso por muito tempo… – Sorriu, colocando uma mecha de seu cabelo castanho escuro atrás da orelha. Chanyeol arqueou a sobrancelha esquerda. – Quando ela não estiver mais aqui, eu finalmente estarei onde pertenço…

– O qu– Respirou fundo. – O que você fez?

– O que eu não fiz? – Riu arrogantemente, jogando o cabelo para o lado. – Não se acostuma com o nome dela, porque logo, estará estampado em um memorial.

– Foi você, não foi… O carro…

– Que cortou os freios do carro? Sim. – Sorriu. – Se aquela maldita gangue não tivesse interferido, seria o corpo dela sendo puxado daquela vala. – Riu baixo, brincando o anel em seu dedo. – Sabe, ela é bem sortuda… Conseguiu se safar do carro e até mesmo do veneno nos chocolates… É como dizem, vaso ruim não quebra fácil.

– Por que você tá fazendo isso? – Ele se virou para encará-la. Recebeu um riso alto que não parou por trinta segundos.

– Porque eu não vou descansar até vê-la em um caixão.

O rapaz se levantou, pegando sua camiseta do chão e a vestindo rapidamente. Se virou para encará-la. Ela tinha um olhar desafiador em seu rosto.

– Obrigado por essa confissão. – Chanyeol sorriu, tocando na peça em sua orelha. – Hyung. Eu consegui. – Ela arregalou os olhos, assustada. Tentou sair da cama, mas antes que pudesse processar, estava cercada. Dois policiais entraram no quarto enquanto outros três esperavam na sala. A policial se aproximou dela, a puxando da cama enquanto a jovem segurava no lençol com todas suas forças.

– O que é isso?!

– Kim Hyerin, você está presa por fraude, furto e tentativa de homicídio. Você tem o direito de permanecer calada, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal.

– Eu sou Bang Hyerin. Não me misture com aquele plebeu. – Murmurou nervosa.

– Ora, não fale assim do seu marido. Tenho certeza que ele ficaria muito chateado em saber o que você falou. – Chanyeol riu, assistindo ela ser escoltada até a viatura no lado de fora.

– Você estava certo. Os resultados do carro chegaram e os freios realmente foram alterados e encontramos o veneno usado na cozinha. Bom trabalho, Chanyeol. – Chanyeol se virou para o homem que se aproximava dele. Sorriu.

– Obrigado, Hyung. Eu não conseguiria fazer isso sem sua ajuda. – Taejoon riu, dando um tapinha no ombro do cunhado e se virando para acompanhar seu parceiro na viatura. Enquanto eles levavam Hyerin para o departamento, os outros três policiais procuravam pelas evidências na casa. Chanyeol voltou ao quarto para pegar o resto de suas roupas.

– Sr. Park. – A senhora chamou. Ele se virou. – Achamos isto na gaveta do quarto, acho que pertence à sua esposa. – Chanyeol sorriu, fitando o colar de pérolas em sua mão.


 ✖ ✖ ✖

 

– Haera! Haera-yah! – HeeJin exclamou, abrindo a porta do quarto de hóspedes e correndo até a cama. – Você precisa ir embora, agora.

– O que foi? – Se levantou na cama, olhando para a janela. Julgando pelo céu, o sol havia acabado de sair. HeeJin a entregou seus sapatos e casaco.

– Sua mãe. Ela mandou os empregados virem atrás de você. Minseok está enrolando, mas eu não sei quanto tempo ele consegue. Você precisa sair daqui e rápido. – Arregalou os olhos, saltando da cama e vestindo o casaco com pressa. HeeJin a ajudou. Antes que ela pudesse sair pela porta, a mais velha a impediu. – Minji tá lá embaixo com uma escada. Toma cuidado. Me liga quando estiver longe daqui. Eu pedi pro Jaemin sair com o seu carro, ele vai te esperar no fim do quarteirão. Se cuida. – A mais jovem agradeceu, abrindo a janela e encarando a queda de pelo menos três metros. Respirou fundo, tentando mentalizar as consequências de ser pega por sua mãe e desceu pela escada de metal que tremia demais para seu gosto.

Colocou os sapatos e saiu pelo portão de trás, por sorte, o vizinho de Minseok havia deixado o portão aberto, possibilitando que ela cortasse pelo menos dois minutos de sua fuga. Como esperado, seu sobrinho estava parado na frente do carro, segurando suas chaves.

– Tia! – Ele chamou, assistindo enquanto ela corria os últimos metros até chegar a ele.

– Obrigada, Jaemin-ah. Agradece sua mãe por mim. – Apressou enquanto pegava as chaves e entrava no carro. Deu a partida e só voltou a respirar quando deixou o condomínio de alta classe. Não havia notado o quão descompassado seu coração estava.

Agora que podia finalmente pensar, os sentimentos foram despejados como um balde de água fria. Estava confusa, nervosa e principalmente magoada. Não foi suficiente o que sua mãe fez no dia anterior? O machucado não havia nem parado de sangrar. Ela realmente estava disposta a levá-la para Austrália e arruinar o resto da vida que ela ainda tinha controle sobre.

Não conseguiu controlar as lágrimas que teimaram a descer. Exausta, manobrou e estacionou na frente de uma lojinha qualquer. Sucumbindo às emoções. Ficou ali por pelo menos dez minutos. Levou três minutos para se recompor, removeu o que sobrou de maquiagem da noite anterior que escorria por suas bochechas e colocou os óculos escuros que guardava no porta-luvas para emergências.

Teve que procurar pelos contatos de seu celular, algum lugar para que pudesse fugir e ficar por um tempo já que sua casa estava fora de cogitação. Até visitaria Mirae, mas sabia que sua mãe provavelmente havia mandado alguém para lá. Qualquer pessoa da família também teve que ser excluída da lista e isto a deixava com apenas uma pessoa de confiança que iria ligar para a cadeia antes de deixar alguém invadir sua casa.

Ao estacionar a frente da casa, foi recebida pela senhora que tinha bobes no cabelo, um roupão de seda e um olhar muito preocupado.

– Haera, o que aconteceu? – Caminhou até ela, olhando o curativo e torcendo para que fosse alguma tendência de moda estranha que ela nunca entenderia. A jovem suspirou, oferecendo-a um sorriso simpático. Antes que Angelique pudesse colocar fogo em alguma coisa, a puxou para dentro.

Explicou com o máximo de detalhes possíveis toda a história, desde que deixou a empresa até os últimos trinta minutos caóticos. Teve que impedir que a senhora corresse atrás de Sunhee com uma vassoura. No final, decidiram que Haera ficaria por ali até a poeira abaixar ou até que Minseok desse um jeito de fazer sua mãe desistir da ideia maluca.

Depois de tomar um banho quente e trocar o curativo, roubou uma muda de roupas da senhora – que tinha um excelente estilo, diga-se de passagem. – e desceu para a cozinha, onde Angelique já havia retirado os bobes do cabelo. Sorriu ao vê-la no batente e puxou outro copo do gabinete. Haera caminhou até ela, puxando uma torrada do prato. Não havia percebido o quão faminta estava. Angelique serviu um pouco de suco de laranja e pegou uma garrafa de whiskey da bancada, derramando um bocado no copo.

– Eu sei que isso não vai resolver seus problemas, mas leite também não. – Haera riu, pegando da sua mão o copo estampado com uma princesa da Disney. Apesar de suas maneiras maluquinhas, Angelique sabia como consolá-la como ninguém.

Depois do café, Angelique subiu para seu escritório para trabalhar – Afinal, agora precisava supervisionar seus funcionários em Paris e Londres e ajudar Haera com os preparos para o lançamento.

Haera estava no andar de baixo, brisando enquanto encarava o programa de variedades na TV. As últimas 24 horas pareciam surreais, se não tivesse o curativo em sua bochecha, acharia que tudo fora um sonho maluco e que devia parar de lanchar tão tarde da noite. Mesmo que tentasse impedir, as palavras de seus irmãos continuavam a tocar em repetição como um disco arranhado. O que Jongdae a explicou naquela noite teve um impacto muito maior do que queria.

Estava tão imersa em seus pensamentos que o ringtone de seu celular a fez pular e quase cair do sofá. Colocou a mão sobre o peito, sentindo as batidas aceleradas e se esticou para pegar o aparelho plugado na parede. Seu estômago deu um nó ao ler ‘Kai’ na tela. Contemplou por um segundo ou dois não atendê-lo. Queria apagar o contato de uma vez por todas e torcer para que o removê-lo de sua agenda eletrônica também o eliminaria de suas memórias.

Respirou fundo, fechando os olhos e pressionando o botão verde. Ouviu sua voz quase que imediatamente, talvez isso realmente fosse urgente.

Hae. Eu preciso falar contigo… Pessoalmente se possível. É urgente.  – Aquilo realmente havia a tomado de surpresa, não esperava que Kai estivesse tão sério.

– O-Okay. – Limpou a garganta.

Você pode vir ao café que a gente costumava ir? – Perguntou. Haera xingou baixo. Não poderia nem em um milhão de anos ser vista desse jeito. Conseguia imaginar os rumores absurdos que iriam surgir. E até esclarecer tudo, Chanyeol provavelmente iria para a cadeia.

– Eu… Me encontra no endereço que eu vou te mandar. – Ele murmurou um “Okay” tímido antes de desligar. Haera digitou rapidamente um SMS com o endereço da casa afastada e esperou.

A ansiedade já havia tomado conta dela quando Kai chegou, trinta minutos depois. Ao entrar, a primeira reação do rapaz foi encarar o curativo.

– O que aconteceu com você? – Ele tirou a mão esquerda do bolso e apontou para a própria bochecha enquanto a olhava. Haera suspirou.

– Foi um acidente. – Dispensou o resto do assunto. Ele riu de deboche. Como se ela pudesse realmente ter um acidente e se safar com só um cortezinho na bochecha.

– ‘Acidente’ minha bunda. Quem fez isso? – Deu um passo para frente, ficando ainda mais próximo dela.

– Ninguém que importa. – Afirmou. – Não. Não foi Chanyeol. – Interrompeu ao vê-lo abrir a boca, o que fez Kai rir.

– Eu sei que não. – Haera franziu o cenho. Kai era a última pessoa que ela esperava defender Chanyeol. Ele rolou os olhos com sua expressão de questionamento. – Olha, eu posso odiar o cara, mas eu sei que ele não faria algo assim…

Ela agradeceu a ausência de comentários inadequados ou acusatórios. Deu espaço para que entrasse e o acompanhou até a sala de estar.

– Sente-se. – Gesticulou para a poltrona à frente de si, esfregando a palma das mãos no jeans escuro. Ele acenou com a cabeça, tomando um assento. – O que aconteceu?

– Hyerin foi presa.

Demorou dez segundos para processar exatamente a frase. Arregalou os olhos, piscando várias vezes para tentar compreender toda a informação. – O quê?!

– E a culpa é do seu marido. – Ele afirmou, dando de ombros. A expressão amarga em seu rosto não passou despercebida. Haera abaixou o olhar. – Ele se encontrou com ela noite passada… – Ela engoliu seco. – E conseguiu que ela fosse presa. Agora eu preciso de dinheiro para a fiança… E você é a única pessoa pra quem eu posso pedir ajuda.

– E você vem pedir ajuda à pessoa que ela mais odeia nesse mundo? – Riu.

– Por favor, Hae...

– Eu vou precisar de mais detalhes do que isso. O que aconteceu exatamente? – Se ajustou em seu lugar, pensando que precisaria de suporte para os acontecimentos que estava prestes a ouvir.

– Não consegui pegar muita coisa, sabe… Acharam os cartões de créditos, as coisas que ela roubou e… – Suspirou. – Hyerin confessou pro Chanyeol sobre ter tentado te matar. – Haera franziu o cenho.

– Ela ainda tá nessa? – Ele deu de ombros. – Quanto tempo ela pegou?

– A audiência foi marcada pro fim do mês, mas… Pelo o que me disseram, ela vai ter que servir dezesseis anos… – Kai fechou os olhos, massageando-os. Estava exausto. Não conseguiu pregar os olhos na noite passada com tudo o que aconteceu. Precisava pensar em uma maneira de ajudá-la. E depois de dar uma olhada em sua poupança, foi à sua última esperança, sua ex. Haera pressionou os lábios em uma linha reta. Não conseguia imaginar como ele devia se sentir agora. – Quando ela sair… Eu vou ter cabelos brancos. – Ele levantou a cabeça, rindo fraco. Pôde ver as lágrimas se formando no canto de seus olhos.

– E a fiança? – Ele piscou várias vezes, tentando se desfazer das lágrimas enquanto procurava no bolso um papel amassado. Havia um bocado de contas rabiscadas naquele panfleto de academia.

– Eu fui ver um amigo meu que é advogado… E ele disse que pode ser até maior que isso. – Colocou o dedo sobre o número sublinhado. Haera arregalou os olhos. Mal conseguia processar a quantia ali naquele número, mas era bem acima de ₩1,000,000,000. Se perguntou quantas acusações ela tinha para que acumulasse tanto dinheiro assim. Jongin bagunçou o cabelo, suspirando pesado.

Antes mesmo de tudo isso acontecer, eles já tinham dívidas. Desde empréstimos para a faculdade até as compras mensais que Hyerin gostava de fazer. Mas, mesmo que a quantia fosse grande, ele conseguiria pagá-la aos poucos em alguns anos. Trabalhava turnos extras, fazia bicos, mas era possível.

Mas agora, estava completamente e totalmente fodido. Ou ficava enterrado em dívidas até o pescoço e provavelmente, sem-teto ou só veria sua esposa novamente em quase duas décadas. Não tinha crédito no banco para um empréstimo tão grande, até pensou em agiotas, mas acabaria indo para a cadeia junto com ela caso o fizesse. Como ele iria sair dessa?

– Mesmo se… Mesmo se eu conseguir que Chanyeol retire as queixas e o dinheiro da fiança… O que você vai fazer? – Ele desviou o olhar. – Eu a conheço. Você a conhece. Isso não vai impedir que ela faça isso novamente e te enterre em mais dívidas.

– Eu não ligo, okay? Eu só… Não quero que ela vá para a cadeia.

– Jongin-ah… – Haera se inclinou, tocando seu braço. – Hyerin não é capaz de te dar o amor que você merece… – Ele riu soprado, se livrando de seu toque.

– Não me chama assim. – Pausou. – Você não tá exatamente em um lugar onde pode me dar lições. – Abaixou a cabeça, Kai se arrependeu de suas palavras, mas era tarde demais para se desculpar.

– Desculpa… Eu– Suspirou. – Ela tá tão obcecada com o Chanyeol que ela não consegue mais olhar pra ninguém… Você não merece isso…

Enterrou a cabeça entre as mãos. Ouvir isso de Haera apenas concretizava o problema. Não queria pensar nisso, talvez, se ignorasse, tudo iria desaparecer e Hyerin finalmente se apaixonaria por ele.

– Há algumas semanas, ela estava tão feliz e carinhosa comigo… – Fixou o olhar no chão, não fazendo esforços para esconder a mágoa em seu rosto. – Eu achei que… Finalmente, a gente ia dar certo. – Levantou a cabeça, olhando para Haera.

– Foi por isso que você terminou comigo? – Ele acenou com a cabeça, percebendo somente agora o quão patética sua vida soava. Quem em sã consciência trocaria a herdeira de uma empresa multimilionária por uma mulher que só o amava quando tinha um cartão de crédito na mão?

– Mas no final, ela me contou que havia começado a dormir com Chanyeol… – Soluçou. O nó em sua garganta só ficava mais e mais apertado com as palavras que saíam. – Ontem, quando eu cheguei em casa… Eu pude ouvir… Ela gritava o nome dele como nunca iria fazer comigo…

Haera suspirou, se jogando no sofá. Era informação demais para ela absorver. Além dos acontecimentos em sua vida pessoal, agora também tinha a prisão de Hyerin e o envolvimento de Chanyeol nisso.

– Ela nunca teve olhos para o garoto desajeitado e baixinho que trabalhava pro pai dela... – Ele fechou os olhos, brincando com a linha desfiada em seu sweater. – Mas talvez ela tenha olhos para “Kai”. – Fez aspas com os dedos, um sorriso melancólico estampando seus lábios.

– Você sabe que ela nunca teve interesse até você se vestir melhor, se portar como um verdadeiro Chaebol… – Riu fraco. – As coisas não vão mudar, Jongin. Sai dessa.

Passou os últimos anos da sua vida se dedicando à ela e não era agora que ia parar.

– Estamos no mesmo barco, Hae. – Ela levantou o olhar. – Ou eu preciso te lembrar de quanto você gritou o nome dele? – Franziu o cenho, o ameaçando com o olhar. Eles haviam prometido a nunca falar sobre aquela noite.

Mesmo que já houvesse aceitado seu destino miserável e sem amor, Kai era a última pessoa de quem queria ouvir conselhos. Sua situação não era exemplar, mas pelo menos seu esposo não estava na cadeia.

– Você pode tentar se enganar e dizer a todos, mas não vai me enganar. – Ela desviou o olhar, envergonhada demais para encarar sua vida. – Você nunca me amou. – Haera respirou fundo, fechando os olhos e aceitando aquela dolorosa verdade.

Nesta trágica história de amor, Kai nunca fora o protagonista.


Notas Finais


Obrigada por ler~!
Até o próximo capítulo! Beijinhos >3<
*se esconde*


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