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História My Escape - A visita de dezembro


Escrita por: ArumGirl

Notas do Autor


Oioi, lindos e lindas!!❤
Como passaram as festas de fim de ano? Espero que bem.❤
Sei que demorei, outra vez, mas atualizar todas as fanfics e ainda lidar com a vida social e familiar ao mesmo tempo é um mega desafio.
Agradeço a todos pela paciência, comentários e favoritos até aqui. O cap de hoje é diferente, narrado nas visões do Cebola e do Xaveco, respectivamente.
Amo cada um de vcs e espero que gostem!!! 💖

Capítulo 41 - A visita de dezembro


Fanfic / Fanfiction My Escape - A visita de dezembro

Um dia você vai encontrar o homem da sua vida. Seu melhor amigo, sua alma gêmea, aquele que você poderá contar seus sonhos. Ele vai tirar seu cabelo dos olhos. Ele vai ficar admirando você sem falar nada. Ele vai te ligar para dizer boa noite só porque ele sente sua falta. Ele vai olhar no fundo de seus olhos e dizer: ‘’Saudades de ti.’’ E pela primeira vez em sua vida, você vai acreditar.

                              Nicholas Sparks




Cebola


Faz dois dias que despertei.

O médico me disse que eu poderia ir para casa daqui a alguns dias, e desde então não paro de pensar nisso. Remexo na cama, um tanto incomodado com o ambiente. Não gosto de hospitais, nem agulhas e jalecos me dão calafrios.

 O que é uma grande ironia, visto que estou apaixonado por uma enfermeira.

 Olho para minha coxa enfaixada, observando a plaqueta de apoio bem fixada ao pano para me dar melhor mobilidade, por mais que eu ainda não esteja autorizado a sair da cama.

 Mamãe está ao meu lado, lendo uma revista qualquer que foi deixada na mesinha ao lado da minha cama para entreter os visitantes dos pacientes. Ela passara a noite comigo, naquela velha cadeira do papai que estava encostada à parede, e mesmo sob meus protestos, não saiu dali um único minuto nem para se alimentar melhor. A comida do hospital era boa, mas sinceramente, não era justo ela comer coisas específicas como eu, já que não podia comer todo tipo de alimento; eu era o doente aqui, não ela.

 Mas a teimosia da minha irmã vinha da nossa mãe, e então não consegui convencê-la a ir embora, mesmo que Eduardo tenha mando mensagem dizendo que estava quase chegando. Ele renderia a minha mãe por hoje, e amanhã provavelmente Cascão viria ficar comigo. Ainda não sei como poderia agradecer a cada um deles por tudo que fizeram por mim quando mais precisei.

 Eu era um baita sortudo. Na família, nos amigos e no amor.

- Licença. - uma voz conhecida diz, adentrando no quarto.

Meu coração fica saltitante no minuto em que ela empurra a cortina verde claro para cima, cumprimentando o paciente no leito ao lado do meu antes de se voltar para nós.

- Bom dia! - diz Mônica com simpatia, parecendo um pouco mais séria que o de costume em um jaleco rosa claro e os cabelos presos num coque baixo.

- Bom dia! - respondo, visivelmente animado com sua presença.

- Bom dia, querida! - mamãe a cumprimenta, se levantando da poltrona para ir abraçá-la. - Como foi a reunião com seus superiores?

Alterno meu olhar entre as duas.

- Como assim reunião?

Mônica menea com a cabeça enquanto respondia:

- Eu meio que briguei com minha chefe durante o período que você estava desacordado e ela não gostou muito disso.

Franzo o cenho.

- Por que vocês brigaram?

- Ela iria injetar uma substância que poderia te trazer muitas complicações e eu simplesmente não poderia deixar. Mesmo ela sendo uma médica e estando muito acima da minha influência aqui. - explicou, fazendo meu peito inflar ainda mais, se é que era possível.

Eu estava prestes a pedir esta mulher em casamento aqui mesmo.

- Então eles te aceitaram de volta? - mamãe pergunta, ansiosa.

Ela anui, com um sorriso de ampla felicidade emoldurando os seus lábios.

- Sim, sim. O Dr. Timóteo e outros médicos se reuniram na bancada a meu favor e conseguiram reaver o meu caso com o diretor e o restante da gestão do hospital.

Minha mãe a puxa para outro abraço, agora mais eufórico e ela o retribuiu na mesma intensidade.

- Graças a Deus! que bom, minha linda, fico muito feliz por você!

Também não consigo tirar o sorriso do meu rosto, e ele expande-se quando ela se aproxima de mim para pegar em minha mão. Como estamos no seu local de trabalho, compreendo que não podemos ter contatos além desses.

- Parabéns, minha linda! estou muito, muito feliz por você.

Sua mão está gélida, percebo que ela esteve passando algum tempo nervosa.

 - Obrigada, Cê! - responde tão doce que tenho que me segurar para não pedir-lhe um beijo na frente das câmeras e da minha mãe.

- Acho que estou sobrando aqui. - minha mãe diz e então ri, recolhendo seu cobertor espalhado pela poltrona na qual passara a noite. - Vá jantar conosco qualquer dia desses, Mônica. - minha progenitora convidou - Afinal, você já é da família, certo?

A enfermeira ruboriza, meio sem jeito por nunca termos oficializado nossa relação e mesmo com todas as coisas pela qual tínhamos passado, aquilo merecia uma atenção especial.

- N-nã…

- Sim. - cortei-a, atraindo o seu olhar surpreso - Não oficialmente por enquanto, mas isso será mudado em breve.

- Se quiser que eu disponibilize algum lugar, meu filho, é só falar. - mamãe se inclina para me dizer com um piscar de olho.

Não evito rir, sendo seguido por sua risada divertida.

- Você é demais, mamãe.

D. Cebola se baixa para beijar o topo da minha cabeça e fecho os olhos para o carinho.

- Se cuide, ouviu? - me diz - nada de fazer esforços desnecessários.

Assinto, tendo consciência de que precisava ficar quieto se quisesse sair logo dali; Eu também não queria deixar meus pais e amigos ainda mais preocupados do que já estiveram nesses últimos dias.

- Me cuidarei. Eu te amo, tenha cuidado ao voltar para casa. - digo a ela.

- Amo você também, meu garoto sapeca. Muito, muito mesmo. - responde, puxando minhas bochechas de uma maneira que me faz reclamar e Mônica ri.

Mamãe se afasta de mim para ir embora, segurando sua bolsa no ombro. Ela para em frente a Mônica para se despedir da minha quase namorada.

- Bom trabalho, querida. - as duas beijam as bochechas uma da outra, e não consigo deixar de sorrir para o bom relacionamento que as duas construíram.

Isso seria muito importante num futuro próximo.

Depois que elas terminam de se despedir, com risadinhas e cochichos sobre alguma coisa que me deixa curioso, minha mãe sai do quarto e Mônica se aproxima mais da minha cama.

- Sobre o que riam?

Ela sorri, coçando a ponta do nariz.

- Coisas de garotas.

Dou de ombros, sabendo que não vou descobrir mesmo que queira muito. Quando as mulheres são aquele tipo de resposta, fica claro que não irão compartilhar o conteúdo da conversa com você.

- E o Nimbus? Ele ficou bem? - pergunto, mudando de assunto.

- Sim sim, nenhum arranhão no nosso herói honorário. - brincou - Quer saber de uma novidade? - me olhou com animação e eu assenti, incentivando-a a prosseguir - Ele decidiu morar aqui em São Paulo.

- Sério? Que bom. Vou gostar de conversar mais com ele e sem sequestros ou mortes envolvidos dessa vez hein.

- Sim. - responde em concordância com o que eu digo, ela fica tão linda quando está empolgada, não consigo desviar os olhos de seu rosto. - O perguntei se iria ficar até o Natal, eu sei que ainda faltam muitos meses e tals, mas como ele está atolado de trabalho por aqui e os processos tendem a demorar, pensei que eles iriam embora depois das comemorações de fim de ano.

Sinto minhas sobrancelhas irem de encontro ao couro cabeludo.

- Não pensei que ele desistiria tão fácil do Rio. Pelo jeito as pessoas daqui são mais legais do que as de lá. - comento em tom de brincadeira, fazendo-a sorrir.

- Sabe, eu fico muito feliz que vocês tenham se dado bem mesmo na minha ausência, apesar de tudo. - diz, olhando para nossos dedos entrelaçados - Nimbus é uma pessoa muito importante para mim, como um irmão mais velho que eu nunca tive.

- Eu sei, também me sinto bem em ter conseguido uma boa interação com ele. O cara parece ser muito gente boa. - concordo com segurança para que ela não pensasse que eu estava tendo ideias equivocadas de sua relação com o irmão do ex-noivo.

- Meus antigos sogros virão também, mas só para nos visitar e se inteirar melhor sobre o caso do Maurício. Eles querem me rever e também te conhecer.

Ok, confesso que eu não esperava por aquilo.

- Você está de bem quanto a isto?

Assinto em resposta, enquanto a palma de Mônica escovava o meu rosto com delicadeza, ajudando o medicamento intravenoso no processo de aumentar minha sonolência.

Seus dedos gentis pararam no meu queixo, brincando de desenhar o formato sem pressa alguma.

- Então por que seu semblante está demonstrando tanto assombro?

- Foi só uma notícia que me pegou desprevenido e meio que não é uma coisa muito comum. Eu admiro de verdade, o bom relacionamento que você tem com os pais do Maurício, mas não esperava que eles fossem querer algo do tipo. Afinal, eu sou - ergo os dedos para fazer sinal de aspas - “o outro”.

Minha vizinha assente em compreensão, guardando uma mecha solta de seu cabelo atrás da orelha.

- Se você não se sentir à vontade com essa situação eu posso conversar com eles, não tem problemas. - me explica com sua gentileza de costume.

 Mônica morde o lábio inferior, me distraindo no mesmo instante.

- Vou ser obrigado a te beijar se continuar a fazer isso. - aviso, e estou falando sério.

Ela me olha surpresa, todavia o seu lábio inferior volta a ser capturado pelos dentes, o que me faz rir.

- Estou morrendo de saudades dos seus beijos.

- O mesmo para mim. - responde com um suspiro de desânimo. - Quando você sair deste quarto, prometo te dar todos os que perdeu enquanto estava aqui.

- Tô começando a ver benefícios em estar internado.

Mônica me empurra de leve no ombro, tomando cuidado com o tubo de soro fixado em minha veia, mas deposita um beijo na minha testa logo após.

- Seu bobo!

Olho para ela que acabava de se afastar e arrodear a cama, pegando a sua prancheta de cima do balcão.

- Você já vai? - não disfarço o desânimo, eu gostaria muito que ela ficasse por pelo menos mais alguns instantes.

Aparentando ser refém de um sentimento parecido com o meu, ela assente com a cabeça, dando alguns passos até que estivesse ao meu lado.

- Tenho mais uns treze ou quatorze curativos para fazer hoje. Queria poder ficar mais, mas você precisa descansar e outros pacientes também precisam de mim.

Estico um braço, capturando seus dedos outra vez. Poderia ser um pouco estranho para alguém de fora, mas esse contato simples era capaz de acalmar qualquer tempestade que ousasse se formar dentro de mim; lentamente, de pouco a pouco, aquela enfermeira que era tão linda por fora quanto era por dentro, tornara-se  o meu ponto de equilíbrio. E agora eu não tinha mais, e nem queria, voltar atrás.

- Você volta mais tarde?

- Com certeza.

Me sinto um pouco mais reconfortado pela sua resposta. Apesar de me sentir melancólico de um jeito infantil se comparado a toda situação, eu entendia que ela precisava trabalhar e que amava o que fazia.

Eu a admirava por isso também e, céus, cada vez mais me era perceptível o quão maravilhosa aquela mulher era.

- Tudo bem, minha enfermeira, eu acho que posso te liberar por enquanto. - olho em seus olhos enquanto falo e ambos rimos.

Ela leva dois dedos em direção a sobrancelha, prestando uma continência informal mas ainda assim, charmosa.

- Sim senhor, capitão.

Alcanço sua mão assim que ela volta à lateral de seu corpo, trazendo-a para os meus lábios.

- Mas sabe a melhor parte? - pergunta de súbito, observando-me selar o dorso de sua mão.

Nego com a cabeça, distraído com a beleza estampada em cada canto do seu rosto. Me sinto como se não a visse há anos, e então preciso contemplá-la muito para recuperar o tempo perdido.

- Eu sou a sua enfermeira de novo. - responde à sua própria pergunta. - Ah, e não precisa ficar com medo, eu juro que não terei que te dar outra injeção daquela. Eu acho. - ela acrescentou, me provocando quanto ao meu pavor de agulhas.

Quanto mais compridas, mais as quero longe de mim.

Sorrio, sendo atingido por uma certa onda de nostalgia. Eram lembranças importantes de pequenos momentos inesquecíveis.

- Você já sabe que eu prefiro dinossauros a carrinhos. - digo, lembrando do dia em que nos conhecemos e ela me pediu que escolhesse a estampa do meu Band Aid.

- Certas coisas nunca mudam, né?

 - Como por exemplo: eu continuo achando você a enfermeira mais bonita deste hospital.

Ela dá risada, segurando minha mão um pouco mais forte antes de baixar a cabeça para beijar as saliências entre meus dedos.

- Ainda me lembro da Maria me dizendo isso no dia em que nos conhecemos.

Arregalo os olhos ao ouvi-la dizer aquilo, eu não tinha conhecimento daquele fato. Minha irmã e sua infinita capacidade de me impressionar.

- O que ela disse?

- Que você tinha falado muito na “enfermeira bonita” que atendeu você quando esteve internado aqui. - responde, achando graça na expressão tímida que surgiu em meu rosto, sei que estou ruborizado diante de sua revelação.

Desvio os olhos dos dela, balançando a cabeça.

- Aquela garota é impossível.

Minha vizinha toca o meu cabelo com a mão direita, se espalhando entre as mechas rebeldes para dar início a um sutil cafuné. Seus dedos deslizando entre os fios do meu cabelo me deixam sonolento.

- Mônica? - chamo, após segundos silenciosos nos quais me permiti aproveitar sua demonstração de carinho com um sorriso enorme no rosto.

- Hum?

Ela murmura e suas pálpebras se erguem para fitar-me. O amor explícito em suas íris castanhas estremece cada milímetro de minhas terminações nervosas.

- Eu amo você.

O sorriso dela era tão bonito e reluzente, que poderia muito bem roubar o brilho das estrelas ao meu ver.

- Também amo você, Cebolinha. - responde, lembrando-se do meu apelido de infância que Titi tinha comentado no dia da festa dos Jovens Adultos.

Sorrio para isso, ela me faz feliz até nesses minúsculos detalhes.

Por isso e muito mais infinitos dentro de dia após dia do que sou capaz de descrever, se almas gêmeas realmente existem, não duvido nem um pouco que tenha finalmente encontrado a minha.



                     ***


Xaveco


- Oi, meu gatinho! - a voz animada de Denise ecoa pelo cômodo quando ela abre a porta, trazendo sua bolsa e mais algumas escolas em mãos.

Ergo a cabeça para olhá-la um milésimo de segundo antes de baixá-la outra vez.

- Oi, linda!

Ela fecha a porta atrás de si e tira as sapatilhas cor de vinho, chutando-as para um lado qualquer.

- Você comprou os balões que te pedi?

Assinto para ela, distraído no meu Trivia 360. Eu estava ali há cerca de quarenta minutos e ainda não conseguira subir de nível. Era de impressionar como um joguinho de celular poderia te manter fora do mundo real por até mesmo horas e você mal percebê-las passar.

Fala sério, como eu iria saber que as Escadarias da praça da Espanha ficavam na Itália? Esse jogo estava claramente me avacalhando.

Ouço o barulho do metal de suas chaves em atrito com a madeira da minha cômoda.

- E os salgadinhos? Pegou na padaria do seu Joaquim?

- Uhum

Denise tivera a ideia de fazer uma festa surpresa de bem-vindas para nosso amigo que sairia do hospital dentro de alguns dias, e desde então estava para lá de empolgada com as coisas da festa, mesmo que esta não fosse muito mais que uma comemoração entre amigos.

Sinto o espaço ao meu lado direito da cama afundar e segundos após, Denise põe a cabeça ruiva na frente do meu celular, me olhando de perto.

- Eu estou falando há um século e você não está me dando atenção por causa de um joguinho idiota?

Puxo o celular um pouco mais para a direita

- Só uns minutinhos mais, meu amor. - peço, mas sei que foi muito.

Mesmo estando com os olhos vidrados no celular, sou capaz de sentir seu olhar abrindo buracos por todo meu corpo.

Talvez eu tenha dito besteira.

- É sério isso, Xaveco? você me chama para vir aqui ficar te olhando jogar?

- É rápido, sério. - insisto, meus olhos atentos ao reloginho no topo da tela enquanto a rodada de novas perguntas começam.

Eu tenho cerca de sessenta segundos para responder dez delas.

- Hã, ok. - murmura, se jogando contra o colchão de modo despreocupado, mas sei que de "despreocupada" ela não tem nada.

No fim da primeira rodada rumo ao nível 5, me viro para ver o que ela está fazendo que permanece em silêncio. Seus dedos praticamente voam pela tela, enquanto o celular não para de vibrar, anunciando a chegada de novas mensagens no WhatsApp.

Sorrio para a próxima pergunta que brilha na tela do meu celular, sentindo que a vitória está próxima ao notar que é para marcar verdadeiro ou falso na afirmativa explícita dentro do quadradinho.

É claro que o vocalista do Evanescence se chamava Hayley Williams, essa pergunta era moleza.

Solto uma maldição ao ver que a resposta estava errada, lembrando em seguida que confundira as bandas. Hayley Williams era do Paramore.

Esse erro, sendo o terceiro da vez, faz com que a partida se encerre antes de chegar ao final, e sou obrigado a reiniciar as perguntas de forma automática. Estou realmente muito focado em subir de nível ainda hoje.

Denise ri de algo, mexendo um pé suspenso no ar por estar com uma perna apoiada no joelho flexionado.

Ela segura o celular próximo à boca, enquanto diz:

“Lindo é você, Cris, saudades!”

Cris? Quem é Cris?

Isso faz com que o jogo perca momentaneamente a importância.

Me aproximo dela, que de tão distraída na conversa com quem quer que seja, não me olha enquanto feito ao seu lado, espiando seu celular com curiosidade.

Um cara acabava de comentar a foto que postara no status, me chamando a atenção. Pelo que vi, ele comentara todas as três fotos que ela publicara hoje. 

Numa delas, um poema de Zack Magiezi, um dos amores da vida da Denise, ele disse que gostava muito daquele autor; na outra, que mostrava ela e Magali juntas durante o turno no hospital, ele comentara um “lindas” repleto de coraçõezinhos e “beijo para a Magá”. Não evitei me perguntar o que Cascão acharia daquilo; por último, na foto em que Denise estava com um longo vestido lilás, cheio de pedrinhas, lembrança da festa que tinha ido no final do ano passado, ele tinha sido um pouco mais ousado, dizendo que ela parecia uma atriz de Hollywood que ele adorava.

Estreito os olhos para aquilo, travando a mandíbula quase que inconscientemente.

- Quem é esse Crispiano?

Ela não se dá o trabalho de desviar os olhos da tela ao me responder:

- Um cantor amigo meu.

- Amigo seu? - repito, incrédulo por não lembrar daquele cara  - desde quando?

Outra mensagem surge na conversa aberta e leio um “o que acha de ir comigo à Cristal Drops depois do show? Ouvi dizer que lá é muito bom, e faz mó tempão que não te vejo, seria legal se você pudesse ir.

Denise ergue os olhos para mim de modo um tanto angelical, mas eu sei que esse adjetivo não era o correto para defini-la. Ela era a mistura perfeita de anjo e demônio e eu sabia disso desde o segundo em que me apaixonei por ela.

E não, não me arrependera um segundo sequer disto.

- O que você acha que devo responder para ele? Dizem que naquela nova boate servem umas bebidas bem legais. - indaga num tom provocativo, sabendo que eu chegaria ao meu limite.

Ok, pra mim já deu.

Ela grita em protesto quando o celular sai subitamente de suas mãos e até tenta pegá-lo de mim, mas o ciúme me deixa mais ágil do que nunca.

Aperto e seguro no ícone do microfone.

- E aí, cara, tudo bom? Aqui é o Xavier, noivo da garota que você acaba de chamar para sair. - dou ênfase no nome noivo - Para o seu próprio bem e manutenção da sua capacidade de cantar, sugiro que se mantenha longe da minha garota. Se quiser ser amigo dela e só, fique à vontade, mas nada de gracinhas e convites para sair. Espero que faça um bom show e não esqueça de mandar um autógrafo para mim depois. Até mais!

Os olhos dela estão arregalados e seu peito sobe e desce um pouco mais ligeiro que o normal.

Agora que toda a adrenalina do momento se assentou significativamente, sinto minhas bochechas esquentarem sob o seu olhar.

- O que foi? - ouso perguntar, sem fitá-la pois sei que sou capaz de enfiar o rosto num travesseiro se fizer isso.

- Você. - pausa - Não acredito que fez isso, Xaveco.

Engulo em seco, sabendo que está irada.

- Você está...irritada comigo?

- Irritada com você? - ela repete alterada e me encolho perante seu tom - você pega o meu celular sem a minha permissão para dar um fora no meu amigo e me pergunta se estou irritada com você?

Franzo o cenho, emburrado como um garotinho de nove anos que ficou sem o seu brinquedo preferido.

- Ele não estava querendo ser só o seu amigo.

Ela estreita os olhos para mim, seu olhar e voz estão igualmente afiados.

- E isso te dá o direito de ficar conversando com ele por mim?

Cruzou os braços sobre o peito.

- Não gosto de caras atirados, principalmente quando eles se voltam para minha irmã ou para você.

- Pensasse nisso antes de me trocar pelo seu joguinho idiota! - rebate.

- Eu estou perto de mudar de fase, amor, você não vê o quão fundamental isso é na vida de um garoto?

Seus olhos voltam ao tamanho natural e sua boca se mantém numa linha firme. Juro que prefiro ela brigando mano a mano comigo do que em silêncio, porque só aí percebo o quão irritada ela realmente está e isso não é nada legal de se ver.

Quando a vejo apanhar um travesseiro do seu lado da cama, sei o que irá acontecer.

Protejo minha cabeça com as mãos, mas sou derrubado no colchão no instante seguinte, sendo atingido por uma enxurrada de travesseiros e até bichinhos de pelúcia que mantenho de coleção nas pranchas, são alvos da minha noiva enfurecida.

Consigo prender seus pulsos com as mãos, pressionando seu corpo contra o colchão enquanto fico por cima. Ela não se debate contra mim como penso a prior, apenas me fuzila com o olhar, o que é bem pior do que qualquer tapa ou murro que tentasse me dar.

- Sai de cima de mim, Xaveco. - diz, e seu tom não é nem um pouco agradável.

- Não.

Denise respira fundo e então tenta se soltar do meu agarre, mas é inútil.

- Sai.de.cima. - fala pausadamente.

- Não. - repito, firme - Você precisa me ouvir.

Ela faz um bico irritado.

- Eu não quero.

Reviro os olhos, mas resolvo falar de uma vez por todas o que ela já sabe, porém precisa lembrar.

- Eu sinto ciúmes de você, ok? Não me peça para ficar bem vendo um cara dar em cima de você, porque isso não vai acontecer.

- Isso é tão infantil.

Ergo as sobrancelhas.

- Infantil? você quase voou naquela garçonete lá na Sweet Coffee's.

- Claro que não.

Ela não estava tão convencida, mas desviou o olhar, virando a cabeça para o lado com o semblante fechado.

- É diferente.

- Não é não. - insisto - Você estava com ciúmes e não gostou de ver ela dando mole pra mim.

- Ah, quer saber? Eu detestei mesmo ver aquela lambisgoia loira te comer com os olhos e me arrependo até hoje de não ter afundado as unhas nos cabelos cheios de aplique dela! - fala de uma vez, se soltando de mim para cruzar os braços. - Eu tenho sim ciúmes de você e parece que isso só aumenta a cada ano. Satisfeito?

Sorrio.

- De verdade? Ainda não.

Ela me olha com incredulidade, pronta para me mandar ao inferno ou para só onde Deus sabe, porém sou mais rápido e me inclino em direção ao seu rosto, juntando nossos lábios. A enfermeira não retribui o contato de primeira, ainda presa ao seu orgulho.

Aperto de leve sua cintura para intensificar o beijo, pedindo permissão para minha língua encontrar a sua e mostrá-la tudo que sinto através da junção de nossos lábios. Ela consente, fincando a mão em minha nuca para se aprofundar mais comigo e assim conseguirmos desbravar o oceano que há em cada um de nós.

Finalizo o toque com beijinhos de leve ao redor de sua boca e enterro o rosto na curva de seu pescoço, inspirando profundamente. Seu cheiro me lembra as pétalas de rosas do jardim de mamãe, um perfume doce misturado a noz-moscada, resultando numa combinação do doce e selvagem que me arrancam um suspiro.

Volto a olhá-la de frente, seus lábios vermelhos imploram para ser beijados outra vez, mas por enquanto tenho que me contentar em fitá-los.

 - Agora sim estou satisfeito.

Ela me encara séria por mais alguns instantes, e então a tensão em suas linhas faciais amenizam quando começa a rir.

- Isso é injusto, sabia? - resmunga, segurando em meus ombros com as mãos.

- O quê? - questiono, observando-a.

- Você fica um verdadeiro deus grego quando está com ciúmes. Fica todo machão e decidido, não dá para resistir. - assume, revirando os olhos para sua falta de controle sobre as próprias emoções.

Dou risada, beijando sua testa, e saímos desta posição, amontoando vários travesseiros para que eu me sente primeiro.

Ela está entre as minhas pernas abertas agora, descansando a cabeça no meu peito enquanto repouso o queixo entre seus cabelos. O perfume que emana deles é de um shampoo de uva tão gostoso que me deixam inebriado e ela sabe que eu amo quando o usa. Tudo sobre aquela garota sempre iria me deixar cada vez mais apaixonado.

- Vamos receber uma visita daqui a algum tempo.

Junto as sobrancelhas para a notícia repentina, observando o movimento uniforme de seus cílios enquanto ela pisca.

- De quem? - questiono.

- Uma pessoa muito especial, mas você ainda não a conhece.

- Essa pessoa é legal? - pergunto, curioso.

A enfermeira assente com a cabeça, levantando-se um segundo depois para fitar-me nos olhos.

- Bom, tenho certeza de que você vai gostar muito dela.

- É? E por que não diz quem é?

- Porque é surpresa, ué.

- Diz, amor. - peço com a voz manhosa, envolvendo a mais baixa num abraço que a fez fechar os olhos. Minha pele quente era o contraste perfeito com o clima frio lá de fora.

- Não senhor. - murmura, se aninhando em meu peito outra vez.

Baixo a cabeça para mordiscar-lhe o lóbulo da orelha. Sou capaz de perceber meu hálito quente causando arrepios em sua pele.

- Nem se eu pedir assim? - pergunto baixinho, com os lábios alternando-se entre falar e selar a pele sensível da região.

- N-nem assim. - gagueja com um suspiro.

- Diz, meu amor, por favor. - torno a pedir, já quase entrando em estado de desistência.

Mordo de leve seu pescoço, descendo a ponta dos dentes por todos a extensão da pele macia. Ela estremece em meus braços, fazendo meus próprios pelos se eriçarem quando percebo os efeitos que posso causar em seu corpo; nunca há constatação mais sensual do que esta.

Ela sai do meu agarre como um raio, abanando-se com a mão em seguida. A temperatura no quarto havia subido bruscamente em questão de segundos.

- Seus pais estão no quarto ao lado, Xaveco - balançou a cabeça de maneira negativa - eu realmente não quero ter que passar por circunstâncias constrangedoras outra vez.

Rio para a reação da garota, mesmo que estivesse numa situação semelhante à dela; estamos prestes a entrar em combustão. Malditos hormônios e sua capacidade de nos deixar insanos.

Fito-a, observando o cabelo ruivo bagunçado ao redor da face de um jeito extremamente sexy, os lábios entreabertos para ajudar a conter a respiração agitada, as bochechas coradas graças a descarga de ocitocina que seus neurônios enviaram por seu corpo, os olhos esverdeados mais lindos desse mundo. E então, só após finalizar minha análise, concluo que preciso tocá-la mais uma vez com urgência.

Eu não falo nada, apenas pego sua mão e levo-a aos lábios, depositando um beijo sobre o dedo cujo anel de esmeralda escarlate repousa com formosura. Denise acompanha meus movimentos com os olhos atentos, prendendo o lábio inferior entre os dentes num gesto característico seu.

Minha mão sobe pelo seu braço sem pressa alguma enquanto olhamos um nos olhos do outro, não importa quantos anos de relacionamento tenhamos, aquilo sempre será especial para ambos de nós; passo por sua clavícula, dedilhando o osso em evidência e subo para o seu pescoço, ouvindo um suspiro seu ao chegar ali, mas não pretendo terminar o carinho assim. Continuo a subir, passando por toda extensão de sua mandíbula, traçando do lóbulo à cartilagem da orelha, e voltando para os outros detalhes do rosto. Meu trajeto se encerra abaixo, nas linhas finas e desenhadas que compõem seus lábios tão chamativos.

Não demoramos para nos unir em um outro beijo, não tão agitado como o de antes, mas ainda assim desorientador o bastante para reacender as faíscas de desejo que tentavam se assentar.

Éramos loucos em tentar apagar o fogo jogando litros de gasolina, principalmente quando não poderíamos lidar com as consequências naquele momento.

Ela solta um pequeno gemido de frustração quando se afasta, balançando a cabeça para os lados.

- Não. - diz, mas seus olhos e corpo mostram o contrário.

Limpo a garganta, recuando para junto à cabeceira outra vez e passo uma mão no cabelo, coçando uma região indefinida do couro cabeludo.

- Vai mesmo ficar sem me dizer quem virá?

Ela desvia o olhar que estava fixo nos meus lábios inchados para algum ponto ao lado e ri, obstinada a me negar outra vez este tipo de informação.

- Juro que amo seu beijo mais que qualquer outro carinho no mundo, porém nem mesmo isso vai me convencer.

Solto um murmúrio desgostoso em resposta.

Denise inclina-se para depositar um selinho em meus lábios, dobrando as pernas abaixo do corpo antes de voltar à posição inicial, frente a frente comigo.

Fecho as mãos nas coxas para impedir-me de puxá-la para mim outra vez. Sei que é insano brincar com fogo e não queria começar algo que não poderíamos terminar.

- Mas não se preocupe, provavelmente no dia 19 ou 20 de dezembro a nossa visita estará chegando.

- Mas Dê, isso ainda é daqui a oito meses então por que… - a frase foi morrendo junto com sua voz enquanto diversos pensamentos o atingia de uma só vez.

A fito com os olhos maiores que o comum, arregalados de completa surpresa. O meu coração não parava de tamborilar dentro do peito, sendo claramente sentido por minha noiva, que mantinha a palma da mão direita sobre o ponto em que o músculo pulsante se localizava.

Um grande sorriso puxa seus lábios para cima à medida que o espaço abaixo de suas escleras enchem-se de lágrimas contidas.

Penso que não poderia ficar ainda mais imóvel do que já estava, mas como já era de se esperar, eu tinha me enganado; o anúncio a seguir me desestruturou, abalou o meu mundo, e me fez sentir as lágrimas espalhando-se por meu rosto sem meu consentimento.

- Você vai ser papai, amor.

Nunca em minha vida eu havia sido tão feliz.


Notas Finais


CHOREM
COMIGO


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